- Todo o significado de paz pela cena do nascimento de Jesus se transformou em um amor gigantesco por esta arte, que levou as irmãs Maria Sofia e Maria Teresa Vidigal a se tornarem colecionadoras de peças de presépios ao longo da vida, que hoje encantam os ituanos por meio de uma exposição
Desde 2005, o Espaço Fábrica São Luiz, no Centro histórico ituano, realiza, anualmente, uma Exposição de Presépios, evento que nasceu pequeno e hoje é composto por mais de 450 presépios e imagens do Menino Jesus, oriundos de várias partes do mundo, em material rico e diversificado, com mais de 5 mil peças. Todas elas integram uma coleção particular das irmãs Maria Sofia Vidigal Pacheco e Silva e Maria Teresa de Oliveira Ribeiro Vidigal, a qual, a cada ano, aumenta em quantidade de presépios, seja por compra, seja por doações.
A ideia de transformar a coleção particular em exposição veio em 2004, quando Maria Sofia participava da administração da Igreja do Bom Jesus e fez uma exposição para angariar fundos. Na ocasião, todas as igrejas de Itu participaram e cada uma montou seu presépio. Havia também o de miniaturas, o qual foi cobrado um pequeno ingresso, mas teve adesão fraca, apesar da receptividade das pessoas ter sido grande. “Minha irmã (Maria Teresa), que é também é colecionadora de miniaturas, começou a montar quadros vazados com os presépios, utilizando prateleiras, gavetas, caixas vazadas. Fomos comprando novas peças, recebendo de amigos que voltavam de viagens, pessoas cujos pais morriam e, assim, se formou este acervo e chegamos na 16ª edição, com mais de 450 presépios, uns completos, outros somente a imagem do Menino Jesus, outros somente a Sagrada Família”, afirma Maria Sofia.
Em 2021, o acréscimo do presépio mecanizado foi cedido pelo construtor Milton Veronessi. É uma releitura do que era o grande presépio que ficava no Teatro São Domingos, atrás da Igreja do Bom Jesus, em Itu. O original era montado, nos anos 1980, pelo senhor Nicolino e pelo Padre Amirat e foi, segundo Maria Sofia, consumido por cupins.
AMOR PELOS PRESÉPIOS
Desde pequenas, as irmãs Maria Sofia e Maria Teresa vivenciam o hábito de montar presépios na época do Natal. De família grande – são em 11 irmãos, sendo que Maria Sofia é a sétima e Maria Teresa a terceira – os Natais sempre tiveram um significado especial para elas, que moravam em uma casa grande em São Paulo.
“No começo de dezembro, iniciávamos a construção do presépio, recolhendo vasos, pedrinhas pelo jardim. A cada dia, o presépio mudava de posição, com acréscimos ou decréscimos, para divertimento de todos. De noite, acendíamos a luz do presépio e da árvore de Natal natural comprada no Horto Florestal, rezávamos o terço e os mais velhos nos contavam dos Natais passados. Até hoje, às 23h30 do dia 24 de dezembro, rezamos o terço em família e à meia-noite, o Menino Jesus é colocado na manjedoura, isso com meus pais que hoje estão com 89 e 86 anos”, relembra Maria Sofia.
O presépio, com todo o seu significado de paz pela cena do nascimento de Jesus, acabou se transformando em um amor gigantesco por esta arte, que levou as irmãs a se tornarem colecionadoras de peças de presépios ao longo da vida. “A manjedoura, com sua simplicidade e delicadeza, acolhendo o Menino Deus; a doçura de Jesus; Maria e José. Ali está a essência do que precisamos no mundo: estar com Deus em nossas almas. Ele podia ter nascido em berço de ouro, mas escolheu a simplicidade para dar exemplo de humildade ao mundo”, acredita Maria Sofia.
Atualmente, as irmãs, juntas, possuem mais de 450 presépios, de diversos Estados brasileiros e de países como Argentina, Paraguai, Chile, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, EUA, México, Libéria, Alemanha, Polônia, Itália, França, Dinamarca, Rússia, Áustria, Inglaterra, Espanha, Portugal, Japão, Israel e China. Entre tantas peças, a predileção especial de Maria Sofia é pelo presépio de madeira que mandou fazer em Campanha, Minas Gerais, logo que se casou. Maria Teresa também considera o presépio mais especial o que montou na sua casa assim que se casou, quando vestiu Nossa Senhora, São José e o Menino Jesus e o colocou em um nicho. Daí nasceu a ideia de montar painéis com os presépios.
Com peças oriundas de tantos lugares, as histórias e memórias de cada uma são inevitáveis. Segundo Maria Sofia, uma das que mais chama a atenção, pela sua história, é o da cápsula de uma bala de fuzil. Foi doada pelo então comandante do Exército, coronel Fernando Fernandes, hoje general. Ele trabalhou na Força de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas) na reconstrução da Libéria, após a guerra civil travada naquele país entre 1999 e 2003. A Libéria pertence à África ocidental e foi fundada por escravos libertos americanos. Em certa ocasião, ele foi procurado por um soldado liberiano que lhe contou que, por obrigação ao ofício em guerra, teve que matar pessoas e que isso doía sua alma. A forma que ele procurou se redimir foi guardar as cápsulas das balas e, delas, fazer um presépio. Quando a peça foi dada de presente, o jovem pediu ao coronel que sempre que ele a olhasse rezasse uma Ave Maria. “E ao ceder a peça para a nossa exposição, o comandante solicitou que contássemos a história do presépio aos visitantes e que pedíssemos a eles que rezassem uma Ave Maria pelo soldado, o que sempre fazemos”, conta Maria Sofia.
Outros que encantam e têm um significado pessoal são o presépio de “neve dos bichinhos”, o qual Maria Sofia sempre monta em casa e é formado por pessoas e casinhas, peças essas trazidas dos EUA. Alguns itens são de uma coleção de miniaturas que ela tem desde criança e que foram para o presépio a pedido de suas filhas, que diziam que os bichinhos também tinham de ir ao nascimento de Jesus. Outro especial é o “presépio das crianças”, que comprou na Disney para as filhas brincarem. “A criançada entrava desesperada para mexer na exposição e ficava frustrada. Comprei o presépio de madeira nessa viagem e hoje pais e filhos adoram brincar com ele”, completa.
MAIS: A 16ª Exposição de Presépios do Espaço Fábrica São Luiz vai até o dia 08 de janeiro de 2022 e pode ser conferida à rua Paula Souza, 492, Centro, Itu, diariamente das 11h às 17h.
reportagem de ALINE QUEIROZ
fotos: MICHEL CUTAITH