- Nesta entrevista exclusiva à Revista Regional, Adriane Galisteu fala sobre seu retorno como apresentadora, assumindo a lacuna deixada por Gugu na RecordTV
Apresentadora, atriz e modelo, Adriane Galisteu, por diversas vezes, já provou que gosta mesmo de desafios, de se entregar de corpo e alma àquilo em que acredita. Não à toa, aceitou a proposta da RecordTV para assumir o posto que era comandado pelo saudoso Gugu Liberato, que nos deixou de maneira repentina. À frente do “Power Couple”, ela vem construindo com muito orgulho e dedicação mais uma história como uma das grandes comunicadoras da TV brasileira. E tem mais: seu nome foi confirmado para assumir a edição 2021 de um dos reality shows mais famosos do país, “A Fazenda”, um grande feito, já que Adriane será a primeira apresentadora mulher a comandar o programa. Dona de uma carreira bem-sucedida, Adriane Galisteu bateu um papo exclusivo com a Revista Regional, mesmo com o ritmo de trabalho intenso. Dedicada, ela fez questão de responder as perguntas durante os intervalos de gravação do reality. Confira.
REVISTA REGIONAL: À frente do “Power Couple”, como você tem mantido o equilíbrio emocional em meio aos desafios que todos estamos passando? O trabalho te ajuda a amenizar os sentimentos em relação à pandemia?
ADRIANE GALISTEU: Sem dúvida, o trabalho ajuda em todos os sentidos, não só a mim, mas a toda equipe. Estamos tanto tempo enfiados em casa, ouvindo notícias ruins, preocupados, e de repente eu ganhei esse presente que é o “Power” e a gente começa a respirar melhor, começa a entender que o trabalho realmente nos salva de qualquer situação. Neste momento, estamos com todo cuidado do mundo, toda equipe superequipada, paramentada, todo mundo cuidadoso e zeloso pela saúde, mas exercendo a nossa função. Graças a Deus eu ganhei esse presente e estou super feliz.
Adriane, são muitos anos como apresentadora, apesar de o público da TV ter mudado devido à internet e às plataformas de streaming, você acredita no poder da televisão aberta enquanto veículo de entretenimento?
Como eu já fiz rádio na minha vida, me lembro muito de quando as pessoas diziam que agora que a televisão chegou, o rádio ia acabar. Não, o rádio não acabou, ele se adequou, e eu continuo fazendo rádio, sou apaixonada pelo veículo. Aliás, sou apaixonada por comunicação. Eu acho que a televisão também está se adequando com a chegada da internet, nada acaba, as pessoas e os veículos irão se adequar a uma nova situação, apesar de os públicos serem diferentes, é quase impossível você encontrar uma pessoa que só assiste à TV sem a internet na mão, as duas acabam se completando. Eu me reinventei na internet, tenho o meu canal no Youtube, tenho um trabalho muito forte nas minhas redes sociais, bem completo por sinal, fiz um programa no Facebook até pouco tempo atrás, e nunca tirei o meu foco da televisão porque realmente uma coisa completa a outra.
Já são 26 anos como apresentadora, desde o início no “Ponto G”, em 1995. Como você analisa essa evolução e esse amadurecimento profissional, levando em consideração que passou por inúmeros formatos de programas?
Foi no “Ponto G” o início de tudo na televisão, junto com o Billy Bond, que segue sendo meu amigo até hoje. Inclusive, eu fiz teatro (com ele) há bem pouco tempo atrás, fiz a minha primeira peça infantil com o meu filho Vittorio, foi uma grande emoção. Mas vamos lá, desses 26 anos posso dizer que aprendi muito, cresci muito, eu ainda tenho muito a aprender porque a televisão é sempre assim, cada equipe que você trabalha, cada emissora, cada projeto que chega ao seu colo é um novo jeito, um novo olhar, uma nova forma de se comunicar. Eu aprendi muito com tudo que fiz, com as coisas que deram certo, com as coisas que não deram tão certo assim, eu acho que tudo vale muito como aprendizado profissional, mas eu, sem dúvida, tenho a mesma alegria de sempre, eu me vejo muitas vezes entrando no palco aqui no “Power Couple” como se estivesse entrando na MTV, a mesma menina, porque gosto de fazer isso, me dá uma sensação e emoção que eu não consigo explicar, apesar de eu fazer muitas outras coisas com comunicação, mas a TV e o programa ao vivo me dão esse tipo de sensação. Uma vez eu estava entrando no palco com a Bibi Ferreira, com quem eu tive a honra de atuar, um privilégio, eu olhei pra ela e perguntei se estava nervosa, porque ela abria a peça, e a Bibi disse que sim e que o dia que ela não estivesse mais nervosa, não faria mais isso (teatro). Imagina você ouvir isso de Dona Bibi Ferreira, monstro sagrado do teatro brasileiro, diva total e absoluta, é óbvio que essa sensação da menina que começou no “Quiz MTV” existe dentro de mim até hoje e vai continuar assim, eu sinto isso, não importa o tempo que eu tenha de experiência, mas essas emoções, esse frio na barriga, essa vontade de aprender, não vão mudar nunca.
Cada apresentador tem a sua característica. O Chacrinha, por exemplo, ficou conhecido por seus bordões; a Hebe, por sua espontaneidade. Quais características você gostaria de deixar marcada na memória das pessoas? Você consegue vislumbrar o seu futuro na TV daqui a dez anos?
Eu tenho algumas características, primeiro porque todo mundo que você citou são pessoas que marcaram época, marcaram histórias e são insubstituíveis, aliás, na TV tem figuras que fazem muita falta, o Gugu também é uma delas, mas eu tenho um jeito espontâneo de ser, e essa espontaneidade chama a atenção, o meu estilo chama atenção. Eu sou uma mulher que sempre colocou a coisa do cabelo e da roupa de uma forma importante, do meu lado junto comigo apresentando o programa, eu tenho uma questão do estilo. Eu ando nas ruas e as pessoas falam: “Eu adoro ver as coisas que você veste, adoro ver como você vai estar vestida hoje porque é sempre uma surpresa”. E pra mim também é sempre uma surpresa! Então, a minha equipe – tanto o Thiago Fortes que faz o meu cabelo; o Robson Almeida, o make; e o Thidy Alvis, que faz o meu estilo -, está sempre junto, estamos sempre pensando em surpreender, e trazer um pouco de moda, mesmo sendo um programa diário, é trazer essa informação da moda. É importante ter essa imagem comigo, e é uma característica muito minha na TV. Eu posso ser lembrada pela minha espontaneidade, mas também pelo meu estilo. Como eu me vejo daqui a dez anos? Viva e feliz com borboletas no estômago, agora, realmente não me faça perguntas sobre o futuro porque eu tenho dificuldades de responder. Eu sou uma mulher do presente, totalmente do presente, não consigo sonhar nem com o meu dia de amanhã porque já fico ansiosa, imagina daqui a dez anos? Não, não… (risos) Mas é assim que eu me vejo: feliz, cheia de saúde, com borboletas no estômago e no ar!
Estamos em pandemia há um ano, você acredita que de alguma forma foi possível desacelerar e cultivar a família, aproveitando de maneira mais intensa a vida, já que estamos falando de um número expressivo de mortes diárias?
É tão difícil falar desse momento pandêmico porque estamos há um ano… Eu trabalhei muito nessa pandemia, mas, sem dúvida, experimentei uma vida diferente, assim como todo mundo. Temos o privilégio de ter casa, o privilégio de ter família, comida em casa, mas quantas pessoas perderam essas possibilidades e se viram numa situação difícil? É complicado falar da pandemia porque não estamos no mesmo barco, nós estamos vivendo a mesma situação, mas cada um enfrenta de formas diferentes. O que eu posso dizer é que durante a pandemia fiz algumas lives, entrevistei o Pondé (filósofo Luiz Felipe Pondé), que eu admiro profundamente, ele falou pra eu não romantizar a quarentena, porque na minha cabeça achei que a gente pudesse sair melhor dessa situação, porque é assim que eu me vejo, me vejo melhor depois da pandemia. Hoje consigo priorizar a minha agenda com o que realmente importa, eu percebi que desacelerar é importante, percebi o quanto estar perto do Vittorio (filho) e do meu marido (Alexandre Iódice) é importante para o crescimento familiar. Eu senti muita falta da minha mãe que sempre foi muito importante pra mim, mas pela primeira vez, fiquei quase dois meses sem vê-la, só pela janela de casa. Experimentei o medo, a insegurança como todo mundo, ah que difícil falar disso… Mas vejo que hoje eu saio dessa pandemia, ou pelo processo dessa pandemia, uma mulher mais madura, uma mulher melhor, mas não quero romantizar, todos nós temos que estar atentos aos nossos sentimentos e às nossas prioridades. Eu tenho, como apresentadora e comunicadora, a obrigação de pontuar que precisamos dessa vacina o mais rápido possível, que a gente tinha que estar experimentando neste momento todo mundo já vacinado, ou pelo menos no caminho de, temos que entender que essa é a nossa saída, temos muito que aprender com a pandemia, por incrível que pareça. É assim que vejo, a gente segue com máscara e álcool em gel, mesmo com a vacina, seguiremos assim por muito tempo, mas torcendo por um mundo melhor.
Recentemente, eu li uma matéria na revista “Vida Simples” que dizia: “Se nos libertarmos de corresponder às expectativas dos outros e do que vão pensar, podemos viver com mais autenticidade e liberdade”. Filosofando sobre esta frase, de que maneira você enxerga os olhares dos outros sobre as suas atitudes?
Eu conquistei tudo que conquistei, inclusive a minha autoestima, sempre sendo mais honesta possível comigo, dentro da minha verdade, dentro do que me faz realmente bem. A minha lista de prioridades se transformou algumas vezes com a maturidade, mas ela nunca mudou. A minha família sempre foi prioridade na minha vida, o meu amor pelo trabalho e o meu amor-próprio, embora nem sempre ele esteja bem trabalhado porque sou humana como todo mundo, e tem dias que a gente está melhor com a gente mesmo e outros não, tem dias que estamos até cruéis com a gente mesmo, mas trabalhar o amor-próprio é um ganho enorme para as mulheres e para os homens, afinal a gente tem que aprender a se gostar, a ser o nosso maior amor. A partir do momento que isso acontece, os olhares dos outros perante as nossas atitudes se tornam bem pequenos. Eu vim de uma situação muito difícil, passei por poucas e boas, sou uma mulher que toco a vida na minha toada, sabe? Não vou falar que eu não me preocupo com o que os outros irão pensar, por eu ser uma pessoa pública e trabalhar com comunicação, é importante, inclusive, eu não ignoro a crítica do outro, mas não danço conforme a música que o outro toca, basicamente é isso! Pra mim, é importante o olhar do outro, a opinião, eu não tenho que agradar vestindo um terno que não é meu. Eu sou uma mulher que sempre pensei dessa maneira, hoje mais do que nunca, mais madura, mas sempre toquei a minha vida sem me preocupar demais com o que vem de fora.
Assim como boa parte das mulheres, você também foi vítima de machismo, que infelizmente ainda impera na sociedade. Levando em consideração a luta por liberdade, qual a discussão que o movimento feminista não pode deixar de ter para continuar avançando em busca de respeito e direitos iguais?
Eu venho de uma época cheia de verdades e regras, não que hoje não seja assim, a nossa luta vai continuar eternamente, a não ser que todo mundo se transforme, mas estaremos sempre na luta, buscando sempre. Já conquistamos muitas coisas, chegamos num momento da nossa vida que olhar para trás dá orgulho, sabe? Mas eu sou de uma época que a mulher não era amiga de mulher, que mulher quando fizesse 30 anos era bom cortar os cabelos, que mulher depois de certa idade não poderia usar roupas mais curtas, mais decotadas, enfim, umas babaquices sem tamanho, umas verdades que não têm explicação. Hoje eu tenho 48 anos, o meu cabelo continua na cintura, hoje eu compro o barulho de mulheres que eu nem conheço na internet, usando as hashtags delas, estando do lado delas, dando as mãos para essas mulheres. Nós somos unidas sim, conquistamos isso e a internet trouxe um pouco dessa união para essas mulheres, você vê isso acontecer, é uma mudança importante. Eu uso o que eu tenho vontade de usar, me sinto feliz assim, me aceito com a idade que tenho, me aceito me olhando no espelho, não vejo nenhum tipo de limitação na minha vida que tenha a ver com o machismo, com a verdade, com a idade, com as regras que um dia impuseram pra gente, por isso que eu falei sobre o amor-próprio. Então, meninas, mulheres, a primeira coisa que faz a gente se libertar de qualquer dedo masculino apontando para a nossa cara é a gente buscar a nossa independência, independência financeira, independência de alma, independência de vida, e para isso acontecer precisamos, antes de mais nada, de trabalhar a nossa autoestima e correr atrás dos nossos objetivos, não desistir dos nossos sonhos, quando você conquista a independência real, não tem dedo de homem apontando pra você que vai fazer valer.
Ainda sobre feminismo, diante das desigualdades sociais, você acredita que o empoderamento pode ser considerado essencialmente burguês e elitista? Como é possível chegar a essas camadas sociais menos favorecidas?
Eu vou dizer uma coisa, na minha família faltou tudo, menos amor, educação e respeito, todo o resto faltou, era tudo contado, a minha mãe é a mulher mais empoderada que eu conheço. Ser empoderada vem de dentro pra fora, vem de alma, ser empoderada é acreditar nas suas verdades, nas coisas que você acredita que vai transformar a sua vida, a vida da sua família, isso não tem a ver com o quanto de dinheiro você tem no banco, tem a ver com o quanto você acredita em si mesma. Quando eu falo dessa independência financeira é pra você não ter um homem pra pagar a sua calcinha, pra você não depender de um homem pra pagar o que você vai comer, quando depende desse homem, ele se coloca numa posição que sempre foi dele, de superioridade. Está na hora dele voltar para o lugar dele, de a gente andar um do lado do outro, seja o homem, seja mulher, seja quem faça esse papel, não estou falando de um relacionamento heterossexual único e exclusivamente não, estou aqui tentando falar do amor-próprio, porque pra mim, tudo está na autoestima, qualquer solução – seja ela de tomar uma decisão de largar um casamento falido, seja para ajudar você mesma a sair de uma situação que sabe que não está boa, de voltar a acreditar em si mesma, voltar a se amar – tem a ver com essa questão de buscar os seus valores lá no fundo, isso pode ser feito todos os dias antes de dormir, por exemplo, ou parar pra pensar em você na hora do banho, e começar a trazer essa verdade pra sua vida. Você vai se sentir mais forte, mais empoderada, mais amada por você mesma.
entrevista: Ester Jacopetti
fotos: Danilo Borges
stylist: Thidy Alvis
hair: Thiago Fortes
make: Alex Cardoso