- Com tantas incertezas migradas de 2020, será que conseguiremos acender a esperança de dias melhores pela frente e segurar a ansiedade que tanto nos impactou durante um ano inteiro de pandemia?
Todo início de ano é a mesma coisa e a gente traça metas, planos de ser feliz, emagrecer, fazer aquela viagem sonhada, comprar aquele carro zero e sair por aí com o cheirinho de novo no ar. E para 2021, quais são os planos depois de um ano tão atípico e repleto de notícias negativas como 2020? Como lidar com a possível frustração de planejar tanto e infelizmente repetir o ato de não conseguir concretizar nenhuma meta por uma questão que foge do nosso controle, como uma pandemia?
O sentimento que definiu 2020 com certeza já abre 2021: ansiedade. Nome grande, de consequências maiores ainda, a ansiedade deve nortear 2021 por um bom tempo, mas também pode, de certa forma, ser confundida com outra palavra grande, mas de significado completamente diferente: esperança.
A vacina que deve imunizar a todos contra o novo coronavírus já bate à nossa porta e reacende a esperança de dias melhores e saudáveis, mas também nos gera uma ansiedade por tais dias. Como saber quando estaremos incluídos no plano de vacinação, quando vamos poder voltar à normalidade ou se teremos que nos adaptar a mais “novos normais”? Quando abraçaremos nossos pais e avós novamente? Será que 2021 será um replay reforçado e sem nenhuma graça de 2020? Muitas perguntas em mentes do planeta inteiro seguem sem respostas e com muito receio do que ainda pode vir pela frente.
Freud, conhecido como pai da psicanálise, disse que a ansiedade é um estado emocional desagradável e que alerta as pessoas do perigo eminente e que muitas vezes causa um desconforto físico vago, difícil de descrever ou localizar. Definiu também três tipos de ansiedade: neurótica, moral e realística, que são desenvolvidas em diferentes fases da vida, mas que são experimentados por nós.
“Ele (Freud) afirmou que a nossa maior ansiedade foi gerada no nascimento, o que ele chamou de ‘grande trauma’, pois saímos de uma situação totalmente controlada, estável, segura e com todas as necessidades atendidas, para um mundo externo, bombardeados de sensações novas, como sons, luzes, temperaturas diferentes, toques dos pais e, principalmente, a alimentação que gera a satisfação, mas que a falta dela gera frustação. Se fizermos uma analogia simples, percebemos que antes da pandemia, tínhamos uma sensação de pertencimento, através do controle daquilo que preciso para me satisfazer. Depois, tudo mudou: o medo do vírus trouxe o desconhecido, o isolamento trouxe uma nova realidade ao estado natural das coisas e, com isso, a ansiedade aumentou”, afirma o psicanalista Valmir Genera.
Para ele, o novo causa exatamente um estado de mais ansiedade. Em função disso, metas não foram cumpridas em 2020 e a indagação agora é exatamente saber como fazer para formular os planejamentos pessoal, familiar e empresarial para 2021.
“A primeira dica é reavaliar os sonhos ou os objetivos para este ano novo, levando em consideração a nova hierarquia de valores em função das mudanças sofridas por todos
nós diante da pandemia. Esperamos a vacina para voltar ao normal, mas não podemos perder a alegria e o humor. Precisamos levar em consideração o que fomos capazes de aprender e realizar diante da nova realidade. Para os planos deste 2021, conexão e flexibilização são as palavras”, argumenta.
Segundo Valmir, é necessário que continuemos planejando ou sonhando, mesmo no meio da incerteza, pois foi mais ou menos isso que fizemos em 2020. É preciso conectar consigo, com amigos, clientes e com a própria saúde, além de com o mercado, sistema, concorrente, sempre monitorando os passos com muito mais frequência. “Se antes tínhamos muito certeza do que fazer, agora em 2021 temos que ser muito mais flexíveis e isso exige uma atenção muito mais focada nos objetivos que estamos traçando para o ano todo, sem perder essa nova capacidade adquirida e aprendida em 2020 de ajustar o caminho. Temos que planejar deixando as portas abertas para as mudanças que estão acontecendo no mundo, para nós e para os outros”, ressalta.
Já a psicanalista Katia Cunha afirma que quando adiamos tantos planos e sonhos, como fizemos em 2020, a sensação que vem é de tristeza e frustração. Para aceitarmos e seguirmos em frente, é preciso entender que não é um momento individual, mas sim coletivo. “Temos que ter a capacidade de entender que adiar não significa cancelar, apenas não acontecerá no momento planejado. Isso significa que esse sonho ainda será realizado e ser resiliente é entender que tal acontecimento não foi uma escolha. O sofrimento existe, pois nos dias atuais tudo está gritando nas nossas individualidades e é muito difícil pensar no coletivo”, explica.
Katia ressalta o quanto a pandemia tem causado estresse e ansiedade para milhares de pessoas. São inúmeras razões que fazem sentir medo do vírus, da paralisação, da perda do emprego e da renda. “O medo é mais maléfico do que o vírus, porque nos impede de responder com inteligência e provoca graves patologias sociais”, conta. E ainda completa que as suas sugestões para 2021 são cuidar da saúde física e focar e priorizar a saúde mental, manter a rotina, dormir bem, fazer exercícios e socializar-se com pessoas positivas, por meio de redes sociais, telefonemas e videochamadas. “Se estimular a mente quando perceber que o estresse está aumentando e o autocuidado não está funcionando, tente respirar, sentir gratidão, caminhar, cochilar e ouvir a sua playlist. Lembre-se de como você viveu a primeira onda e como superou o isolamento, e evite pessoas tóxicas, que te colocam para baixo”, finaliza.
texto: Aline Queiroz