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Post: O Pantanal pelas lentes de um veterinário saltense

O Pantanal pelas lentes de um veterinário saltense

A biodiversidade do Pantanal, com suas aves e mamíferos, foi o que mais encantou o fotógrafo e veterinário saltense
  • Num momento em que se faz urgente a discussão sobre a preservação do meio ambiente, Revista Regional prossegue com uma série de reportagens com profissionais da região que têm na fotografia uma ferramenta de conscientização sobre a importância da fauna e da flora para o futuro do planeta;
  • Na segunda parte da série, o fotógrafo João José Soares Júnior, que atua como veterinário, em Salto, relata sua experiência fotográfica no Pantanal, um dos maiores santuários ecológicos da Terra

O veterinário e empresário saltense João José Soares Júnior desde a infância foi fascinado pela natureza. Formou-se em Medicina Veterinária, especializou-se em atendimento de animais silvestres e exóticos e, no meio de toda essa trajetória de vida animal, incluiu a fotografia de natureza no seu dia a dia. Aos poucos, foi pegando gosto pelas imagens e há nove anos atua como fotógrafo da natureza.

Dr. João, como é conhecido em Salto e região, tem como objetivo usar seu hobby para mostrar as maravilhas naturais como uma composição fotográfica agradável aos olhos do outro. “Quero mostrar o que ninguém vê ou o que a ansiedade do dia a dia impede que a pessoa veja. Na fotografia das aves encontrei o principal portal para chamar essa atenção”, conta.

Outro hobby apaixonante é viajar. Em 2018, Dr. João uniu os dois, se reuniu com um grupo de fotógrafos e decidiu participar de um workshop fotográfico no Pantanal. As imagens, como podem conferir na galeria abaixo, falam por si só e nos fazem refletir sobre o atual momento que esse santuário ecológico está passando.

No ano passado, os incêndios no Pantanal alcançaram níveis nunca vistos antes. O número de focos de calor (temperatura acima de 47°C) – indícios de queimadas – aumentaram quase 100% em relação à média dos últimos dez anos. Já são mais de 8 mil incêndios registrados. O governo do Mato Grosso do Sul estimou a área total destruída em 1,3 milhão de hectares e decretou estado de emergência.

Onça pintada descansa à margem de um rio; o animal é um dos símbolos do Pantanal e um dos que mais sofreram com os catastróficos incêndios deste ano

Para Dr. João, apesar de as queimadas serem comuns em determinadas épocas do ano e das ondas de calor intenso, provavelmente derivadas do aquecimento global – já previsto há dezenas de anos pelos cientistas – o que acontece por lá agora é um resultado de décadas de desmatamento descontrolado, principalmente da região amazônica. “Infelizmente, boa parte das queimadas são propositais para formação de pastos, somadas a uma política desastrada referente a investimentos em brigadas de controle de incêndio e fortalecimento dos órgãos de fiscalização ambiental”, afirma.

Quanto à recuperação desse santuário, em sua opinião, é possível, mas impactada em atitudes e, principalmente, boa vontade das iniciativas públicas e privadas. “Nosso Brasil está muito descuidado, o lucro está acima de tudo, e isso me impede de dar muitas esperanças quanto à recuperação, mas a natureza é mais forte, de algum jeito ela cobrará essa destruição toda, e tentará se recuperar, mas dependerá de nosso movimento para que isso aconteça”, completa.

Biodiversidade encantadora

A experiência do Dr. João no Pantanal foi de apenas seis dias. Parece pouco tempo, mas foram momentos intensos de novidades e com a natureza se avolumando a cada passo. Para ele, o Pantanal é um celeiro de vida, que possui uma harmonia maravilhosa. Antes de estar lá, ele tinha uma imagem totalmente diferenciada da que possui hoje: “Depois dessa viagem, a minha paixão pelo bioma pantanal aumentou demais. Impressionante como o ecoturismo avançou, não só como uma forma de renda para milhares de pessoas, mas como proteção desse paraíso. De como está se transformando o lado extrativista para um lado de conservação. De como o povo pantaneiro é apaixonado pelo seu território. Mas, infelizmente, ainda tem muita gente irresponsável por lá”, comenta.

Aves típicas do Pantanal fotografadas pelo veterinário saltense

Mas, o que mais o encantou foi a biodiversidade. Dr. João relata que estava em alguns locais e mirava a máquina em uma ave e com o canto dos olhos ficava monitorando um jacaré que estava próximo. Logo, era vez de ser rondado por um beija-flor e ao mesmo tempo era presenteado por um voo raso de um tuiuiú, além de poder fotografar onças. “A oportunidade de conseguir fotografar algumas centenas de aves, alguns répteis e grandes mamíferos, como as onças e antas, é o auge para qualquer fotógrafo da natureza. Saí de lá com um gostinho de quero mais, de quero voltar e espero que seja em breve”, comenta.

Dr. João faz questão de ressaltar a conscientização sobre a importância de cenários tão encantadores e cheios de vida como o Pantanal. Atualmente, as pessoas são indiferentes com o meio ambiente e, para ele, ainda falta muito para que elas mudem o seu olhar para a natureza: “O mundo é um ecossistema complexo, e não cuidar dele está nos levando a um caminho sem volta. Nós sempre falamos que os jovens têm essa missão, mas eu acredito que toda a população precisa entrar em ação. Enquanto isso, vou dando meus passinhos de formiguinha e mostrando um pouco de nosso Brasil pelas minhas fotos. E com esperança de que isso ajude a abrir os olhos para a proteção ambiental e entender que a nossa existência depende da preservação dessas poucas áreas naturais que ainda sobrevivem apesar de tudo”, finaliza.

reportagem de Aline Queiroz

fotos: João José Soares Jr.

 

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