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Entrevista exclusiva: os 85 anos de Mauricio de Sousa

Mauricio de Sousa está completando 85 anos de vida e 60 de carreira
  • Criador da Turma da Mônica concede entrevista exclusiva à Revista Regional e fala do legado e das ações socioambientais dos personagens mais famosos do Brasil

Na infância, aos quatro anos de idade, Mauricio de Sousa encontrou seu primeiro gibi caído na rua. A curiosidade daquela criança que cresceu em Mogi das Cruzes, cercado por uma família amorosa, logo tomou forma nas paredes da sala, aliás, contornos e cores surgiram através do olhar do pai, Antônio Mauricio de Sousa, que, além de poeta, radialista, gostava de desenhar. Ele queria que o filho aprendesse as infinitas tonalidades de cores. A mãe, Petronilha Araújo de Sousa, muito carinhosa, transmitiu ao filho o poder das palavras, e foi com ela que Mauricio aprendeu a ler: “Minha mãe me alfabetizou em três meses com gibis”, disse orgulhoso. Ao completar 85 anos de vida neste 27 de outubro, Mauricio dedicou 60 deles para construir sua história, digna de muitos prêmios. “O sucesso não é planejado, mas pode acontecer se há muito trabalho, persistência e criatividade. Não imaginava chegar onde cheguei, mas sempre trabalhei para isso”, afirmou. Envolvendo os personagens da Turma da Mônica em projetos sociais, como a parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas), o cartunista convocou Cascão para ajudar na prevenção contra a covid-19. Outro personagem que se destacou para alertar a importância da preservação do meio ambiente, especialmente neste momento, foi Chico Bento, em parceria com a ONG WWF-Brasil. E de pouquinho em pouquinho, Mauricio vai contribuindo para um mundo melhor através de seus personagens. Por isso, eu te convido a continuar essa aventura com o pai da Turma da Mônica, para conhecer os seus grandes feitos ao longo de muitos, muitos anos de histórias. Confira a entrevista exclusiva concedida por ele à Revista Regional.

REVISTA REGIONAL: Neste 27 de outubro, o senhor completa 85 anos de vida. São muitos caminhos percorridos e o senhor tem um legado que pertence não só a sua família, mas ao país. Quais são os pensamentos que permeiam a sua cabeça quando pensa na sua importância para milhões de brasileiros?

MAURÍCIO DE SOUSA: O sucesso não é planejado, mas pode acontecer se há muito trabalho, persistência e criatividade. Não imaginava chegar onde cheguei, mas sempre trabalhei para isso.

Mauricio, são 60 anos de criação, de uma vida contada em quadrinhos, e lembro de comentar que o seu pai desenhava na parede da sala para te mostrar como usar o lápis de cor. O senhor diria que ele foi o seu principal incentivador?

Não só meu pai, mas minha mãe também me incentivou à leitura e ao desenho. Quando, aos quatro anos, encontrei um gibi caído na rua e levei pra casa, eles perceberam que fiquei muito curioso. Começaram a trazer revistas em quadrinhos e aí eu já queria aprender a ler. Minha mãe me alfabetizou em três meses com gibis. Meu pai, além de poeta era radialista e desenhava. Por isso, sinto que a educação pelos pais se complementa maravilhosamente com o que aprendemos na escola.

Mauricio, o início da sua carreira foi no jornalismo, e hoje vivemos cercados pela tecnologia e rapidez na informação, com isso notícias falsas, inclusive, a marca “Turma da Mônica” já foi vítima. Quais são os desafios e como o senhor monitora esse tipo de ação?

Todos tivemos que nos adaptar ao mundo conectado. A internet trouxe muita coisa boa, mas também tem esses desvios. Temos equipes na área digital que monitoram, e a assessoria de imprensa que trabalha rápido em cada caso de fake news ou uso indevido. Comunicamos nossos fãs que logo espalham a notícia correta. A população já sabe que não deve acreditar em tudo o que vê pelas redes sociais e a maioria procura nos contatar sobre qualquer notícia estranha que tenham conhecimento. O melhor é sempre procurar os canais oficiais para diminuir dúvidas.

Em parceria com a ONU no Brasil a Mauricio de Sousa Produções entra com o objetivo de levar informações sobre a pandemia da covid-19. Como e quando surgiu a ideia desse projeto e como tem sido desenvolvê-lo na prática? Como é participação da empresa com a ONU?

A personagem Mônica é embaixadora do Unicef, braço da ONU para o bem-estar das crianças, desde 2007. E estamos acostumados a participar dessas campanhas no Brasil, até internacionais, sobre a saúde e cidadania para a infância. Então, não poderíamos deixar de participar com nossos personagens nas campanhas sobre a covid-19. Refizemos um clipe musical que utilizamos há alguns anos sobre a gripe “influenza” e lançamos não só no Brasil como no Japão e em outros países na versão em inglês. No Brasil, o Cascão entrou na campanha lavando as mãos e o impacto foi espetacular. Também lançamos pacotes de animações e quadrinhos gratuitamente para que as crianças possam aprender e se divertir nesse isolamento social.

Outra parceria é com a ONG WWF-Brasil que visa a preservação do meio ambiente, sem nos esquecermos de que neste momento vivemos um período muito triste em que as queimadas estão crescendo de maneira drástica. Como funciona o trabalho da Mauricio de Souza com a ONG efetivamente? Qual a participação da empresa?

O Chico Bento se tornou o embaixador da WWF para a preservação das nascentes no Pantanal. O personagem já vem naturalmente desenvolvendo esse assunto nas historinhas de linha de sua revista. Mostra o quanto é bom viver junto à natureza e respeitá-la. Na campanha do WWF temos tanto quadrinhos quanto animações para serem divulgadas nas escolas.

Em uma das oportunidades que eu tive de entrevistá-lo, o senhor comentou sobre a possibilidade de a “Turma da Mônica Jovem” ir crescendo conforme os anos vão passando. Em que momento, o senhor planeja esse acontecimento, já que se passaram 12 anos após a criação da turma jovem e quais serão os temas abordados?

Esse projeto não tem data ainda porque os trabalhos de pesquisa para implantar essa inovação, criando os quadrinhos em linguagem de novela, é bem complexa. Já conversei com autores de novelas, mas é preciso uma equipe com jornalistas e até psicólogos para nascer um bom produto. Mas, em princípio, começaria com a turma lá pelos 25 anos de idade em média e com assuntos mais adultos. E vão envelhecendo conforme passa o tempo real. Junto com os leitores.

Numa entrevista, o senhor disse: “A imaginação não tem limite” e construiu um império. Mas o Mauricio de hoje consegue participar de que maneira na criação de novas histórias?

O que me move é que sempre estamos criando mais e mais. A cada dia são novas ideias. As possibilidades se ampliam pelas várias plataformas de comunicação que surgem. O mais difícil não é criar a vida dos personagens, mas sim administrar tantas ideias. E cada uma tem seu tempo de maturação para virar realidade.

A turminha mais amada do Brasil, criação de Mauricio de Sousa

O segundo filme da “Turma da Mônica – Lições” foi finalizado em janeiro, como foi dar vida à segunda história da turminha?

A responsabilidade é muito grande justamente pelo sucesso que teve o primeiro filme. E a sequência acontece dentro de uma escola em boa parte do tempo. Era para ser lançado agora em dezembro. Mas com a pandemia já se estuda outra data. Está sensacional porque a equipe montada pelo diretor Daniel Rezende é perfeita. Os atores mirins já mostraram que encarnaram os personagens de tal forma que fica difícil pensar em outros os representando. Só posso dizer que quem assistiu à “Laços” vai também adorar “Lições”… Com muitos personagens que não apareceram no primeiro filme.

E para fechar, apesar da pandemia que todos nós estamos vivendo, como o senhor tem passado por esse momento longe dos filhos e dos netos?

Muita saudade, mas fico em contato virtual com todos o tempo todo. Na minha primeira saída de casa no isolamento, após cinco meses, eu e a minha esposa Alice Takeda visitamos nosso netinho Martin, filho de minha filha Marina e Rafael Cameron. Nasceu forte, lindo, para nos mostrar o futuro alegre que nos espera com ele.

texto e entrevista: Ester Jacopetti

fotos: Lailson dos Santos e Márcio Bruno/Divulgação

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