- Construindo uma nova etapa, a atriz experimenta as sensações da maternidade em meio à pandemia: “Normal a gente ter altos e baixos na quarentena. A gravidez me trouxe alegria, me preencheu de amor e renovou a esperança no futuro”
Para nós, jornalistas que cobrimos a área de entretenimento, e já temos bons anos na profissão, é sempre interessante acompanhar a trajetória de alguns artistas. E com a atriz Nathalia Dill não foi diferente. Estreante em 2008 em “Malhação”, com direito a personagem de destaque na trama, a carioca que desde os oito anos atuava nas peças da escola, comemora 15 anos de carreira. Com um belo caminho percorrido, Nathalia sabe da importância que a arte tem na vida das pessoas e demonstra preocupação com o desmanche que vem acontecendo atualmente: “Arte e cultura são fundamentais para o ser humano, para formação de identidade, pra gente se reconhecer como corpo social também. Tratar a arte e a cultura como menos que essencial é impensável. Como assim o livro é coisa de elite e precisa ser taxado? A preocupação deveria ser justamente outra: como democratizar o acesso à cultura”, reforça a atriz. O ano começou e muito se falava sobre um vírus que circulava do outro lado do mundo, mas ninguém imaginava o que estava por vir. Hoje, após o início da quarentena no Brasil, muita coisa mudou. E para Nathalia não foi diferente, mas com certeza sua história ficará marcada não só pela pandemia, mas também pela esperança que cresce em seu ventre. Grávida de sua primeira filha, Nathalia já tem a consciência sobre como deseja que aconteça o seu parto – doula é uma acompanhante de parto especializada em prover suporte emocional -, mas não é só isso. Ela faz questão de ressaltar a importância de criar uma menina com liberdade de poder ser quem ela quer ser, respeitando o próximo com sensibilidade de que somos diferentes. “Queremos que a nossa filha entenda que o gênero dela não pode e nem deve limitá-la: ela pode ser quem ela quiser. Outra coisa fundamental é o respeito ao próximo. Entendemos que somos todos diferentes e que precisamos aprender a conviver dessa maneira, tendo empatia e solidariedade”, argumenta. Mas se você ficou interessado em saber um pouco mais sobre essa atriz brilhante, confira nas próximas páginas uma entrevista exclusiva.
REVISTA REGIONAL: Nathalia, vamos começar pela sua carreira: você escolheu o curso de direção teatral, mas de onde veio esse desejo em trabalhar com arte e em que momento você percebeu que poderia se sustentar com o seu trabalho?
NATHALIA DILL: Eu comecei a me interessar pela atuação ainda no colégio. Aos oito anos, já atuava nas peças da escola. Este ano, comemoro 15 anos de carreira. Olhando para trás, tenho muito orgulho e felicidade pelo caminho que estou trilhando. Acho que desde minha estreia na TV, em 2008, como Débora, em “Malhação”, é a primeira vez que ficarei mais tempo longe da telinha. Estava sempre emendando um trabalho no outro, o que me permitiu interpretar muitas personagens e dos mais diferentes tipos. A primeira vez que entendi que poderia me sustentar com meu trabalho foi em “Malhação”. Com o sucesso daquela temporada e da personagem, assinei meu primeiro contrato com a Globo. Eu já fazia teatro antes de estrear na TV, mas foi naquele momento que consegui estabilidade financeira como atriz.
Eu já tive a oportunidade de vê-la no teatro – sensacional – e hoje percebe-se a falta de incentivo por falta do governo à cultura. Como você enxerga tudo isso que está acontecendo com o setor e qual a importância dos artistas se unirem e se manifestarem a respeito?
Eu vejo com muita tristeza e preocupação o desmanche que eu acompanho na área da cultura. Arte e cultura são fundamentais para o ser humano, para formação de identidade, para a gente se reconhecer como corpo social também. Tratar a arte e a cultura como menos que essencial é impensável. Como assim o livro é coisa de elite e precisa ser taxado? A preocupação deveria ser justamente outra: como democratizar o acesso à cultura. Eu gosto de me posicionar, de trocar com as pessoas, trazer o debate e a reflexão para essas questões, que são muito importantes para mim. Acho, porém, que isso não é obrigação de ninguém. Temos que ter consciência do que e de como estamos falando. Se a pessoa não se sente à vontade, acho complicado cobrar que ela fale, cobre, se posicione. Essa é uma postura minha, o que não quer dizer que é a regra para todo mundo.
Na TV, você interpretou muitas protagonistas e em “A Dona do Pedaço” (2019) roubou a cena muitas vezes com a vilã Fabiana. Cada artista tem a sua percepção sobre as personagens, no seu caso qual foi a mais complexa, aquela que exigiu muito mais dedicação?
Essa pergunta é sempre complicada de responder (risos). Todas as personagens foram importantes e trouxeram seus desafios. Acho que a Fabiana, de “A Dona do Pedaço”, foi muito desafiadora porque eram muitas cenas e ela era uma personagem cheia de nuances e imprevisível, o que é maravilhoso para o ator. Em uma mesma cena, eu ia de um polo a outro com ela, isso requer muito estudo, muito conhecimento do texto.
Inevitavelmente, o assunto “covid-19” é atual e todos nós fomos pegos de surpresa, mas como foi para você saber que estávamos com restrições para sair às ruas? Quais foram os primeiros sentimentos e, após cinco meses de quarentena, como tem sido essa evolução emocional na sua cabeça, aliás, foi durante a quarentena que você ficou grávida, né?
Acho que é normal a gente ter altos e baixos na quarentena. Estamos atravessando um momento muito delicado no mundo inteiro. Eu descobri minha gravidez no começo e isso trouxe uma alegria, me preencheu de amor e renovou a esperança no futuro. Mas é muito doido porque estou vivendo isso pessoalmente, mas quando olho para fora, para a situação no Brasil diante da pandemia, fico estarrecida. Estamos há cinco meses tentando fazer isolamento, tentando entender a gravidade da situação… Enquanto isso, já ultrapassamos a marca de 100 mil mortos pela covid-19 e não temos ministro da Saúde. É um descaso revoltante.
Esperando sua primeira filha, você já teve aquele momento de reflexão sobre as questões de como é criar, não só uma menina, mas um ser um humano nos tempos de hoje? Parece que evoluímos com algumas questões humanitárias, de gêneros e etc, mas ao mesmo tempo retrocedemos em alguns aspectos como a intolerância, a falta de empatia, a destruição do meio ambiente… Ou você já tem tudo isso muito bem traçado na sua cabeça?
Muito bem traçado é muito forte (risos). Mas eu e o Pedro (Curvello, marido) temos algumas ideias sobre a criação. Queremos que nossa filha entenda que o gênero dela não pode e nem deve limitá-la: ela pode ser quem ela quiser. Outra coisa fundamental é o respeito ao próximo, entendemos que somos todos diferentes e que precisamos aprender a conviver dessa maneira, tendo empatia e solidariedade.
Olhando seu IGTV, percebi que você lê bastante livros da Djamila Ribeiro, que são leituras de posicionamento político e, atualmente esse é um assunto que está muito latente na sociedade, mas em algum momento você encontrou resistência de algum amigo ou parente sobre os ideais que você defende?
Não lembro. Acho que não. Ou quando houve discordância, não guardei isso como um grande problema. Minha mãe é uma mulher que me inspira muito a lutar pelo que acredito ser correto. Vejo muito isso nela, essa força e essa resistência. Lutamos pelo que acreditamos e pelas mudanças que achamos importantes e defendemos.
Entrando em um assunto que está sendo um dos melhores momentos da sua vida, que é a maternidade e, com isso nasceu também o projeto “Mamãe de Primeira Live”, como tem sido compartilhar com as pessoas as suas impressões sobre as transformações que você está passando que não são apenas físicas?
Está sendo muito legal. É muito engraçado porque eu até então só tinha experiência em dar entrevista. Nunca tinha conduzido uma entrevista. Fiquei muito nervosa no dia (risos). Mas foi tudo bem. O papo flui muito. Estou adorando trocar dessa maneira. É um universo completamente novo para mim e acho engraçado que parece que todo mundo tem uma opinião sobre como ser mãe ou exercer a maternidade. Mas o que estou aprendendo é cada mãe vai exercer sua maternidade de uma maneira. O que eu estou fazendo é me preparar da melhor maneira que posso, leio, faço cursos, tenho as lives também. E nesse processo, tento desconstruir a visão romantizada da maternidade a qual somos apresentadas desde a infância.
Eu li que você pretende ter sua filha com uma doula, só pra gente entender, como surgiu a ideia? Você leu bastante sobre o assunto? Como tem sido o seu pré-natal em meio à pandemia? Aliás, a data ficou definida para 31 de dezembro?
Eu tenho uma doula que está me acompanhando nesse processo. O trabalho dela acontece em três momentos: durante a gestação, no parto e no pós-parto. Na minha primeira live, até conversei com ela, é a Camilla Fonteneles. Ela tem um trabalho muito bonito de acolhimento de mães. Meu pré-natal tem sido tranquilo, apesar de todas as restrições. Quando preciso ir ao médico, tomo todos os cuidados. E eu não marquei a data. Temos uma previsão do nascimento, que é entre o Natal e o Ano Novo, mas a data certinha vai depender dela.
Você comentou sobre a importância de o homem participar na criação dos filhos, mas sabemos que esse é um processo que ainda está sendo moldado, como você pretende inseri-lo não só nas atividades diárias, mas na questão da figura masculina, da ética e da moral?
A criação da nossa filha é um trabalho de nós dois. Tanto que Pedro se prepara como eu para a chegada dela, também faz cursos. Não é um processo que é conduzido por mim, não cabe a mim ensiná-lo. Até porque eu também estou aprendendo. Acho que uma coisa que a gente precisa mudar é esse pensamento de que a mãe é a líder no processo todo. Na verdade, tanto pai quanto mãe são responsáveis. Nós dois, enquanto pais, vamos estar juntos, compartilhar o processo e fazer nosso melhor.
E sobre os projetos, eu li que você não estava com planos na TV, mas tem dois filmes para estrear que são: “Incompatível” e “Um Casal Inseparável”. Só para o espectador ficar ligado, do que se trata cada filme, como é a sua personagem e quem está no elenco, além de direção, claro.
Sim, tenho esses dois projetos para estrear. “Incompatível” é uma comédia romântica na qual interpreto a Patrícia, uma youtuber, vamos trazer um pouco da questão dos influenciadores digitais. Gabriel Louchard estrela o filme junto comigo e a direção é do Johnny Araújo. “Um Casal Inseparável” é também uma comédia romântica. Eu e Marcos Veras estrelamos o longa, que tem direção do Sergio Goldenberg. Nele, eu interpreto Manuela, uma professora de vôlei de praia.
texto: Ester Jacopetti
fotos: Vinícius Mochizuki