- Pai pela terceira vez, o ator fala dos desafios pessoais, do seu lado empresarial e de seus futuros trabalhos na TV
Homem perfeito não existe, mas a gente sabe que Malvino Salvador está bem próximo disso. Boa pinta, bom ator, bom amigo, bom empresário, bom pai, ele quer aumentar a família e já se prepara para chegada de seu terceiro filho. Bem-sucedido, ao longo dos anos Malvino aprendeu a trabalhar duro e não se deslumbrar com a fama – coisa que poucos conseguem especialmente quando atingem o auge na profissão. E foi num papo cabeça que ele decidiu falar sobre política – um assunto latente no momento – e os motivos pelo qual decidiu não se manifestar publicamente. Mas é claro que também conversamos sobre paternidade, já que essa edição de agosto é totalmente dedicada a eles, os papais. E, para ficar ainda melhor, Malvino conversou exclusivamente com a Revista Regional sobre a chegada de mais um membro na família. Juntos desde 2013, Kyra Gracie e Malvino Salvador formam o casal perfeito (ops, perfeito não!, ele dá a receita secreta do casal que sabe como lidar com as diferenças): “O nosso segredo – digo nosso porque cada casal tem a sua dinâmica – é não deixar uma pequena insatisfação crescer e se tornar algo irremediável”. Anotou? Com muitas histórias para contar, Malvino é um ator maduro e cheio de conteúdo. Durante a pandemia, ele tem mantido a cabeça ocupada com o trabalho, especialmente com sua academia de jiu-jitsu, onde tem a missão de ensinar crianças o conceito e a filosofia da luta. Confira agora esse bate papo especial.
REVISTA REGIONAL: Malvino, você descobriu recentemente que será pai novamente, e suas filhas vieram em momentos diferentes na sua vida. Como você descreve essa fase e como se sentiu quando soube da chegada de um terceiro membro da família?
MALVINO SALVADOR: Sempre tive vontade de ter uma família grande. Isso foi acontecendo naturalmente, sem planejamento. Há alguns meses, de vez em quando, surgia a conversa de “será que vale a pena ter mais um?”. Nem eu e nem a Kyra sabíamos responder, mas falávamos “agora, por enquanto, não”. Acabou acontecendo! No início, admito que levei um susto. Mas logo veio a felicidade e a certeza de que queríamos mais um para fechar a fábrica! (risos). Estamos num momento muito produtivo em nossas vidas, embora haja essa pandemia. Estamos voltando aos poucos a uma rotina com um pouco mais de liberdade. Temos que acreditar que isso tudo vai passar.
Em meio à pandemia, todos estamos num distanciamento maior e você comentou que tem trabalhado mais em função disso, com novos projetos. Mas, psicologicamente falando, como você tem lidado com a questão de tantas vidas perdidas em razão da doença? Isso te abala de alguma maneira ou você consegue manter a cabeça no lugar?
São muitas as questões que nos preocupam e, claro, a saúde das pessoas está em primeiro lugar. Nós nos preocupamos com nossos parentes e amigos. Com a população mais desprotegida. Preocupamo-nos com a possibilidade de o sistema de saúde colapsar. Procuramos ficar muito informados sobre todos os aspectos da doença e em como nos proteger. Tivemos que adaptar completamente nossa rotina. No início foi mais difícil e aos poucos fomos nos ajeitando. Meus projetos na área artística foram congelados e como empresário tive que redirecionar o foco para projetos que estavam num horizonte mais adiante, mas que com o isolamento, poderiam ser desenvolvidos agora. Assim, em vez de perder esse tempo, me mantive ativo e atuante. Creio ser extremamente importante a flexibilização de forma organizada e responsável da quarentena somente nas regiões onde a curva de doentes não impeça o sistema de saúde de funcionar adequadamente, para que os empresários saiam do sufoco e os empregos voltem.
O telespectador está tendo a oportunidade de rever você em “Fina Estampa”, na TV Globo. Você é crítico quando se assiste novamente?
“Fina Estampa” foi um trabalho muito especial. Mas eu sou crítico sim e geralmente quando vejo minhas cenas penso: “Poderia ter feito assim, poderia ter mudando isso ou aquilo”. Mas entendo também que a gente cresce e amadurece com as experiências que colecionamos. E devemos melhorar sempre, mas nada de se punir ou se envergonhar. Tenho muito orgulho do Quinzé!
Você e a Kyra têm uma escola onde ensinam crianças o conceito e a filosofia do jiu-jitsu, mas eu gostaria de entender um pouco quais são os cuidados que vocês tomam ao ensinar uma arte para uma criança, porque se ela não estiver bem preparada pode usar a luta para outro fim…
Essa é uma questão fundamental e que diferencia a boa escola da ruim. Quais os valores ensinados e como instruir o aluno a obter equilíbrio emocional. O jiu-jitsu é uma ferramenta poderosa para se adquirir disciplina, autoconfiança, equilíbrio emocional e ética se, associados à prática das técnicas de defesa pessoal, vierem os valores. E como isso pode ser feito? Muitas academias de jiu-jitsu trabalham de forma desorganizada. Nós trabalhamos o conceito. Ele é quem produz as diretrizes que serão seguidas por todos os nossos colaboradores. Tudo é organizado com cuidado. Existe uma estrutura de aulas que foi desenvolvida e continua a evoluir baseada nos valores do código 753, um código de conduta e disciplina que busca o equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Nós valorizamos os desafios e as conquistas pessoais. Não desprestigiamos a derrota. No jiu-jitsu, ela é momentânea e serve para motivar. Assim, nossos alunos, sejam eles crianças ou adultos, enfrentam os desafios com positividade e respeitando o espaço social e a individualidade do próximo. Levam isso para a vida!
Malvino, nas suas redes sociais você é comedido em relação a posicionamento político, mas alguns colegas de profissão se manifestam. Eu quero entender no que você acredita: “O ator não tem que se envolver nesses assuntos”, “Prefiro manter a minha privacidade”, “Não curto entrar em polêmica”. O que pensa o Malvino Salvador sobre o atual momento?
Eu penso que cada um tem o direito de escolher se comportar como acha que deve, com respeito ao próximo e mente aberta às novas ideias. Já me posicionei algumas vezes politicamente, mas percebi que no universo virtual a pessoa te julga uma aberração se seu pensamento for diferente ao dela. E a violência tomou conta. Há grupos perseguindo e boicotando colegas, em diferentes áreas, enfim… Acompanho a política e me mantenho presente nas discussões em ambientes que me permitem o diálogo. Vivemos um momento em que não há meio termo. E o debate, tão necessário para que possamos crescer como sociedade, está diminuído porque as pessoas reagem de forma raivosa quando encontram alguém que manifeste um pensamento contrário ao seu. E precisamos debater. É necessário que as informações sejam disseminadas e não manipuladas. E nós temos o direito de cobrar dos nossos políticos que eles sejam, de fato, um representante dos nossos anseios enquanto cidadãos, que votam e pagam seus impostos. Ao mesmo tempo, as redes sociais se tornaram uma ferramenta potente nesta luta. Acho que precisamos achar essa medida, para que o ambiente seja menos tóxico e mais aberto à troca de ideias.
O psicanalista Contardo Calligaris escreveu uma frase muito interessante: “É besteira ficar tentando ser feliz”. Qual o seu ideal de felicidade e como você lida com as frustrações que acontecem ao longo da vida? Você se considera uma pessoa mais feliz do que triste? Aliás, acredita que idealizamos demais o conceito do que é ser feliz?
“O que não pode ser resolvido, resolvido está”. Na minha opinião, há pessoas que somatizam problemas porque têm dificuldade de desapegar. Também se frustram aqueles que tiveram medo de arriscar e ficam remoendo o passado imaginando uma vida ideal. Eu me sinto feliz todos os dias porque não tenho recalques, aproveito o presente e continuo a ter objetivos. Vivi tudo o que quis viver reconhecendo os meus limites e os aceitando. Continuo me impondo metas e isso faz me sentir vivo. Acredito que a felicidade é fruto de como se lida com os obstáculos e as frustrações e o valor que se dá para as coisas. Nos dias de hoje, a felicidade está muito associada ao poder de consumo. E isso gera uma frustração enorme se o sujeito viver somente em função disso. Tento buscar um equilíbrio entre a minha satisfação financeira e profissional e a atenção à minha família e amigos.
A maioria dos atores tem agora mais liberdade por não possuir contrato fechado com uma emissora, e esta é uma nova realidade para a classe artística. Mas como é para você lidar com essa liberdade? Existem muitas plataformas que produzem filmes e séries muito interessantes, você já cogita algo para o futuro?
Essas outras plataformas chegaram ao Brasil com força, pois hoje tem um mercado gigante por aqui, e que antes do streaming era inacessível a elas. A concorrência gera um aspecto muito positivo por aquecer o mercado e assim promover mais oportunidades. Acho muito saudável que isto esteja acontecendo. Todos têm a ganhar.
Você e a Kyra estão juntos desde 2013, mas relações são conflituosas, somos assim com amigos, familiares e namorados. Como vocês equilibram a individualidade sem esquecer de pequenos gestos no dia a dia? Aliás, em meio ao isolamento, como tem sido lidar com tantas emoções, especialmente agora que ela está grávida?
O nosso segredo – digo nosso porque cada casal tem a sua dinâmica – é não deixar uma pequena insatisfação crescer e se tornar algo irremediável. Se algo incomoda, discutimos os pontos, resolvemos logo e com respeito. Além disso temos uma rotina que satisfaz a ambos. Os programas que gostamos de fazer são parecidos. Amamos os momentos em família e, sempre que possível, garantimos um espaço apenas para nós dois. Lá em casa, o diálogo é muito presente. E respeitamos o espaço do outro. Somos um casal que se respeita na individualidade e nas diferenças.
texto e entrevista: Ester Jacopetti
fotos: Dêssa Pires