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Post: Mariana Ximenes: “É tempo de ressignificar tudo!”

Mariana Ximenes: “É tempo de ressignificar tudo!”

– Mariana em ensaio especial antes da pandemia

Considerada uma das atrizes mais célebres da TV brasileira, Mariana é única, sensível, forte, inteligente e empoderada

 

Mariana Ximenes é uma mulher de alma livre. Nos últimos tempos, os assuntos em pauta ainda revelaram uma cidadã mais ativa, presente, se posicionando, lutando, se engajando pelo bem-estar do próximo. Sim, ela deixou o conforto de sua casa e fez questão de contribuir com o bem-estar social. Mas não é só isso. Em meio a várias discussões sobre igualdade social em torno das mulheres, a atriz sabe da importância de falar, de escancarar sobre esse e outros assuntos, como o descuido com a cultura do país. Ainda há muito a se fazer, mas tudo ao seu tempo. Em sua estante de livros, nomes de mulheres empoderadas, que trazem reflexões importantes sobre a transição de uma sociedade machista e patriarcal. Um lugar de fala que abre caminho para muitas mulheres que se sentem representadas por essa atriz, que conquistou muito mais que personagens icônicos na televisão, mas uma mulher para se inspirar, para seguir, para copiar.

 

REVISTA REGIONAL: O historiador Leandro Karnal comentou que, após a pandemia, a humanidade terá um outro olhar para a vida: “período de grande alegria e felicidade”. Você acha que é possível ter esse pensamento?

MARIANA XIMENES: Tenho refletido bastante sobre o momento que estamos passando. Para mim, é tempo de ressignificar tudo, rever formas de viver, buscar mais empatia e solidariedade. Penso que precisamos nos conectar, aproveitar os silêncios, reavaliar nosso modo de vida, nossas prioridades. E refletir sobre como é nossa postura como cidadãos. Tão bom ouvir as pessoas inteligentes, lúcidas, engajadas interagindo nas lives, discorrendo sobre a vida. Tenho acompanhado reflexões incríveis e recomendo a todos.

Sem desmerecer as dificuldades que milhões de pessoas, e não só no Brasil, estão enfrentando, psicologicamente como você tem lidado com a quarentena? Dentro da sua realidade o que está sendo mais difícil?

Eu estou recolhida em São Paulo e minha mãe veio passar a quarentena comigo, na minha casa. Estou num lugar de privilégio, podendo ficar em casa. Muito entristecida por tudo que está acontecendo no Brasil e no mundo – esse horror da desigualdade social que grita na nossa sociedade, o racismo, a violência doméstica. Tirando toda essa revolta, estou aproveitando para ler, assistir a filmes, séries, aperfeiçoar meus dotes culinários, acredito que o ato de preparar o próprio alimento é terapêutico!, organizar armários, praticar yoga com mais intensidade, meditação, com tempo para olhar para dentro, me conectar comigo mesma e com a humanidade. A dificuldade é a gente se adaptar ao distanciamento, a não estar com as pessoas. Mas isso é necessário nesse momento. Precisamos agir pensando no próximo. Estou com saudade de estar num set rodeada de pessoas criativas, trabalhando, trocando. Amo meu ofício! E justamente por isso, montei um coletivo com Andréia Horta, Bianca Comparato e Débora Falabella, o Cara Palavra, para continuar criando, e, portanto, continuar a existir. Tenho saudade de natureza, de dar um mergulho no mar, de fazer uma trilha, de cachoeira. Tenho saudade dos meus amigos, de abraçar, de dançar! Como já dizia Jorge Amado: “A amizade é o sal da vida!”.

Aliás, recentemente, você foi voluntária na distribuição de marmitas (Instituto Capim Santo). Como surgiu a oportunidade de participar deste projeto? Existem outros? Como você se sentiu ao poder contribuir com essa ajuda humanitária?

Eu senti uma necessidade enorme de me envolver mais, resolvi doar dinheiro e o meu tempo. Faço parte do projeto do Instituto Capim Santo, junto com a chef Morena Leite, de distribuir marmitas nos hospitais e instituições. Quando vou cozinhar, uso máscaras e sigo todos os protocolos de segurança. É muito importante ter consciência. Precisamos partir para a ação e olhar para as pessoas em vulnerabilidade social. Precisamos doar também afeto, atenção e cuidado. Pequenos gestos para porteiros, idosos, qualquer pessoa que necessite. Doar amor sempre!

Diferentemente de outros países, além da pandemia, estamos enfrentando problemas políticos, como você se posiciona diante do negacionismo, da falta de humanidade, da empatia pela vida humana e seja ela qual for, de direita ou esquerda, preto ou branco, pobre ou rico?

Toda vida importa. Cada pessoa que morre é o amor da vida de alguém. Não podemos aceitar como normal que milhares de pessoas estejam morrendo, seja por covid, seja por violência. Estou extremamente horrorizada com o que aconteceu com o filho da Mirtes, por exemplo, o pequeno Miguel, de 5 anos. Isso não pode ocorrer. Não pode ser normal. Precisamos ser antirracistas todos os dias. Precisamos valorizar a vida em todos os momentos. Precisamos abrir espaço para a diversidade todos os dias. Precisamos ter escuta empática para entender as vivências diferentes da nossa e sabermos como nos unir às lutas. Precisamos lutar, incansavelmente, para que as oportunidades sejam iguais. Há uma reparação histórica que precisa ser feita. Para existir, é necessário resistir e lutar sempre, defendendo o que a gente acredita.

Mariana, como artista, qual a importância de você se dividir entre o cinema, a televisão e o teatro?

Eu adoro porque é um exercício de três linguagens diferentes; a televisão; o cinema e o teatro. Eles são completamente diferentes, as histórias, o tempo de feitura, o diálogo com o público, a realização, e em cada veículo exercitamos outras funções, como construir personagens. Eu adoro me aventurar pelos três, mas eu ia te falar outra coisa que estava na ponta da língua, mas eu esqueci… Eu acho que para o ator é muito enriquecedor como repertório mesmo de atuação do ofício, aumenta o vocabulário quando você transita por outras linguagens diferentes, cada um com a sua proporção.

Comédia ou drama? Onde você se encontra melhor ou não há um conforto em nenhuma dessas atuações?

Ah… É tão bom fazer personagens dramáticos, mas é muito bom também fazer comédia. Eu tive boas oportunidades nos dois gêneros, mas confesso que adoro humor, faço menos e, confesso que eu não tenho o dom da Tatá Werneck (risos), adoraria ter, porque eu a acho uma gênia, a Ingrid Guimarães também. Eu posso falar uma lista, são minhas amigas, eu as admiro. Eu não tenho esse dom, mas adoro passear pela comédia porque acredito que você pode falar as maiores verdades tendo humor. Eu fiz uma comédia há pouco tempo dirigida pela Cláudia Jouvin – “L.O.C.A” sem data de estreia – produzido pela “Conspiração Filmes” com direção da Carolina Jabor. O filme conta a história de uma jornalista, então vai abordar o seu universo, mas não é só sobre isso, mas sobre mulheres e suas relações conturbadas. Eu também fiz a Tancinha (Haja Coração, 2016) que teve muito humor, muita irreverência, eu tenho muita saudade.

Aproveitando que você comentou sobre fazer uma jornalista, há pouco tempo você também teve a oportunidade de entrevistar a atriz Ísis Valverde, nós sabemos que para uma atriz é muito mais fácil conseguir melhores respostas, já que ali não é uma pessoa completamente desconhecida…

A abordagem é outra, mas depende do veículo também, parte mais de uma conversa, uma troca do que puramente a técnica. Eu sinto que me relaciono bem com a imprensa porque sou uma pessoa muito atenta às perguntas e, na verdade, eu tenho uma relação com o jornalismo desde pequena porque o meu tio é jornalista. Eu pude entender o seu ofício e respeitar. Eu cresci com esses olhos ao longo da vida, nós dependemos dos jornalistas, mas é tão bom quando você tem um jornalista que estudou a sua carreira, que assistiu ao seu filme, que viu a sua peça de teatro e pode dialogar com você trocando e não só fazendo perguntas rasas e superficiais. Então, eu acho que como toda profissão tem aquelas que são realmente engajadas e comprometidas com o seu ofício e tem aquelas que são mais superficiais e fazem perguntas mais superficiais. Mas eu não gostaria de tirar o papel da imprensa, o que a revista propôs na época foi gostoso, foi um papo entre colegas e amigas, foi uma conversa e eu perguntei o que eu gostaria de saber também, partiu de um encontro nosso. Eu acho até que poderíamos fazer mais vezes, esse intercâmbio de pensamentos. Eu sinto falta de ter um diálogo mais aprofundado. Mas o jornalismo é uma profissão que eu admiro muito, é um ofício lindo, maravilhoso porque quanto mais você lê, mais você é capaz de ampliar o seu raciocínio para os seus leitores. Quando eu estive em Mariana (Minas Gerais) e comecei a ler as matérias sobre os desastres, eu conversei com uma jornalista da revista Piauí e fiquei muito comovida com o relato dela, é claro que tinha a jornalista, mas também uma pessoa que estava ali vendo o lado humano, é bonito de ver também quando a gente tem o dever de escrever uma matéria com dados jornalísticos, com dados práticos e técnicos, mas ao mesmo tempo permeia o coração, a humanidade daquela pessoa sendo jornalista. É bonito de ver a emoção daquela pessoa que está escrevendo aquela matéria e se envolve.

Embora você esteja na próxima novela das seis da Globo (Nos Tempos do Imperador), que foi suspensa temporariamente por causa da pandemia, seus últimos trabalhos foram essencialmente no cinema. Foi uma opção sua se dedicar à sétima arte?

É uma escolha feita de acordo com as oportunidades que surgem. Aparecem projetos de cinema, alguém me chama e eu vou, imagina “O Grande Circo Místico” (2018), por exemplo, foi uma das personagens mais emblemáticas da minha carreira. Eu não poderia ter deixado de fazer a Margareth. Mas estou na televisão também, tem a série “Ilha de Ferro”, que está disponível na Globoplay e quero continuar assim. Eu adoro novela, adoro fazer televisão, amo fazer cinema e teatro, faço menos do que eu gostaria, mas quero voltar assim que for possível.

Em cenas da novela Nos Tempos do Imperador, prevista para setembro ou outubro deste ano

Com as novelas sendo reprisadas, como é o caso de “A Favorita” na Globoplay e “Chocolate com Pimenta”, no Viva, bate uma nostalgia em todo mundo, mas você costuma ser autocrítica?

Existem os dois sentimentos, na verdade, a primeira vez que eu passei no “Vale a Pena Ver de Novo”, na Globo, eu falei: “Gente, o tempo passou e eu já estou no Vale a Pena… da Globo, Nossa Senhora” (risos), “Chocolate com Pimenta” (2003) foi reprisada duas vezes no Vale a Pena… – 2007 e 2012. Eu fico feliz de ver, mas sabe o que me bate, tentando responder a sua pergunta mais sincera possível? Eu quis ser atriz desde os meus seis anos de idade. Sou de São Paulo e a minha família não é envolvida no meio artístico e quando olho uma reprise eu falo: “Que privilégio estar podendo exercer o meu ofício há tanto tempo, eu tive boas oportunidades quero seguir assim.”. Eu olho pra Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg, aos 90 anos, que estava em cartaz no teatro com um monólogo (“Através da Iris”, 2019)… eu quero estar ali! Quero que esses 20 anos de carreira que eu tenho hoje se multipliquem por mais 20 e mais 20 e mais 20. Que sorte e privilégio, muito por parte de sorte sim, mas também da minha batalha diária pra fazer o que eu faço seguindo o meu ofício. Que bom que eu estou fazendo exatamente o que eu gosto, sou grata pela vida, grata por poder exercer o meu ofício e eu espero poder continuar assim até o fim da minha vida.

Em algum momento você já cogitou a possibilidade de dirigir algum filme?

Eu adoro ser dirigida, então, por enquanto, estou adorando ser atriz, mas eu já virei produtora. Eu produzi a minha peça “Os Altruístas” (2013), produzi dois filmes “Um Homem Só” (2016), dirigido pela Claudinha Jouvin, minha amiga querida que eu tenho muito orgulho. Produzi “Uma Loucura de Mulher” (2016), com direção de Marcos Ligocki. Estou sempre assim, como produtora associada, a gente sempre fica nesse diálogo porque também é uma forma de viabilizar, então, por exemplo, lá atrás no “O Invasor” (2002), do diretor Beto Brant, eu fui produtora associada. Eu estou sempre disposta a realizar o cinema e colocar a mão na massa.

Há muito tempo eu te entrevisto e percebo que você é uma pessoa exigente…

Eu sou muito exigente na vida, não tem jeito, sou exigente comigo, sou perfeccionista, mas sempre com amor, com delicadeza, com gentileza. Quanto mais você lê, mais assiste aos filmes, vai ao teatro, vai a exposições de artes plásticas, viagens, mergulha em livros, essa é a maior sabedoria que você vai ter, muito mais ampla, mais profunda, mais provocativa, com mais consciência e, é bom se provocar, mas com sabedoria, com destreza, com sagacidade, fazer refletir, inspirar, ler uma boa matéria é inspirador, de verdade.

Falando sobre essa mulher com tantos papéis, além de atriz, empresária, produtora, como é possível dar conta de fazer tanta coisa e ainda querer inovar em outras?

É difícil falar disso, mas nós somos plurais, somos múltiplas, mas eu acabei acumulando funções por uma questão de necessidade mesmo. Pegando esse gancho, eu não fui produtora do filme “L.O.C.A”, mas de alguma maneira o meu instinto estava ali conversando com as minhas amigas, com a Carolina (Jabor) e com a Claudia (Jouvin) já falando sobre ter consciência e ampliar essa discussão, vamos contratar mais mulheres nessas funções de foquistas, contrarregras e aí teremos um escopo. Nós pensamos numa equipe essencialmente feminina, preocupada com as questões raciais. Foi um set lindo de se observar e diverso. É muito bom poder mudar isso e, é diariamente, constantemente. Em relação ao tempo, a gente sempre arruma, nós somos malabaristas e com muitos desejos de que vai dar certo, de fazer, de realizar. Juntas somos mais fortes. A tomada de consciência tem que ser individual, mas se nós temos escutas, diálogos, podemos ampliar essa discussão para o coletivo e mudar as ações. Cada vez mais temos que ter consciência e nos questionar. Por que essa personagem tem que ser branca? Por que tem que ser assim? Eu acho que se estamos envolvidas já na contratação, no início, é importante ter consciência. Fica essa mensagem, juntas somos mais fortes!

Mas as mulheres continuam ganhando muito menos que os homens e, sempre houve muitas reclamações. Como você, que é da classe artística, pode ajudar a mudar esse cenário?

É uma questão de união mesmo, nós temos que pensar sempre em igualdade e respeito e, claro, união, mas não só das mulheres porque os homens também fazem parte dessa mudança, eles também são importantes.

Quais foram os conflitos que você viveu para se tornar a mulher que é hoje?

Boa pergunta! Mas em primeiro lugar é ter consciência mesmo, de você não aceitar mais qualquer que seja algo que te desrespeita. Como você identifica isso? Te incomodou? Bateu esquisito? Então te desrespeitou. Existem jeitos de se falar, você não precisa ser agressiva, às vezes as pessoas pensam que ser feminista é ser agressiva, de você não saber se colocar, tudo é questão de delicadeza, você pode expor as suas ideias, as suas questões. Eu comecei a ler “Como Educar Mulheres Feministas”, da Chimamanda Ngozi, ela escreve de uma maneira muito gostosa de ler, são livros fáceis, de repente é uma boa dica. Eu também comecei a ler livros sobre a Ângela Davis. Fiz uma pesquisa para entender sobre esse tema, esse movimento. Eu acredito muito mesmo que unidas somos mais fortes. Nós temos a Conceição Evaristo que é uma escritora maravilhosa, inclusive concorreu à Academia Brasileira de Letras, está viva, maravilhosa, negra. É você começar a ter consciência no dia a dia e até com a questão racial e familiar também. Eu comecei a conversar com as minhas amigas e nós resolvemos nos reunir uma vez por mês, mas não estava bastando conversar, então decidimos contratar professoras. Começamos a nos reunir com a Djamila Ribeiro, Márcia Tibure e Fernanda Felisberto. Eu sou uma pessoa muito ligada ao movimento feminista. Nós estamos num momento de agregar e não de segregar. Nós temos que falar sobre isso e que as pessoas tenham mais consciência. Eu ouvi o discurso do Joaquim Fênix no Oscar (o ator fez um discurso criticando sobre a desigualdade de gênero, racial e indígena) e é impressionante porque às vezes a gente não se dá conta e é diariamente, a cada atitude precisamos ter consciência, então que bom que estamos com escutas mais ativas, mas não só escutas, a gente precisa agir.

Já que estamos falando sobre posicionamento, a televisão aberta está mudando no sentindo dos padrões de beleza, mas a ruptura ainda persiste. Você já sofreu com esses padrões, principalmente o da magreza?

Mas sofrer por quê? Eu nunca sofri não. Eu como de tudo, faço exercícios, sou uma pessoa saudável, mas acho que a televisão tem que abrir cada vez mais espaço, você tem belezas de todas as formas, não podemos nos aprisionar numa só, a diversidade existe. Nós estávamos filmando “Nos Tempos do Imperador”, uma novela do século 19, que vai mostrar a escravidão, as mulheres subjugadas, mas também irá mostrar mulheres fortes. A minha personagem, por exemplo, peita os homens, usa calça, tem outra personagem que é da Gabriela (Medvedovski) que faz a Pilar, ela vai querer fazer faculdade, vai querer estudar e o próprio Dom Pedro II já toma uma consciência que ele quer que todas as filhas tenham a mesma educação que os meninos daquela época. É através do conhecimento que você consegue ter autonomia. Nós temos uma história e não vamos fugir dela, essa novela não é um documentário, é uma ficção, mas é inspirado na história. História essa que foi realidade infelizmente, porque existem coisas que precisam também ser mudadas, ou que já mudou. A Luísa (personagem da novela) veio totalmente a calhar, ela é preceptora das princesas, mas também uma mulher que cuida do seu engenho, trabalha e luta pela liberdade dos escravos. Ela não pode dar liberdade aos seus escravos, mas instaura a lei do ventre livre nas terras dela, todo filho de escravo nascido nas terras dela, são livres. É uma mulher que está em busca de igualdade, de liberdade. Estou feliz em representá-la.

Mas ainda existe a questão das mulheres não se unirem e apontarem o dedo na cara das outras, ou porque está gorda, magra, ou cabelo não combina, a roupa… Enfim, sempre tem algo a ser dito, mas nunca a favor…

Por que as pessoas não tomam conta das próprias vidas? Porque dá trabalho olhar pra si! É um problema! Precisa fazer análise! Precisamos ter consciência. É claro que nós podemos olhar e admirar o outro, mas nunca cobiçar ou julgar. Se você julga o outro quer dizer que você se enxerga julgada. Vamos ter mais leveza nessa vida, mais liberdade. Eu sou total adepta disso, nós temos que nos policiar.

Em algum momento dentro dos seus relacionamentos você se viu numa situação em que o namorado quis se impor de alguma maneira, como por exemplo, o tipo de roupa que você estava usando?

Eu sempre me relacionei com pessoas e até mesmo o meu pai que é um homem muito aberto, muito consciente, respeitoso, mas se havia algum comentário do tipo: “Está muito curto”, “Não está nada!” (risos), mas tem horas que você quer ouvir, mas acima de tudo tem que passar pelo seu crivo, o seu filtro. Eu tenho ouvidos atentos e acho importante, porque às vezes é um conselho bom, mas antes de tudo tem que passar pelo seu crivo. Moda é comportamento e como você se veste, é um pouco como você se expressa, eu, por exemplo, me ocorreu falar de um momento que eu gostei muito do que vesti, que foi na apresentação do “Festival de Cinema” do ano passado que havia acabado de acontecer aquele assunto sobre a retirada de cartazes de filmes nacionais do site da agência Ancine. Eu fiquei pensando: “Eu vou apresentar o Festival de Cinema este ano que não tiveram patrocinadores, não posso pegar um vestido simplesmente.” Então acionei o Tomas Azulai da Paradise e ele me ajudou a confeccionar um vestido feito por cartazes do cinema brasileiro que faz parte da identidade cultural do nosso país, do nosso cinema. Cartazes que são muito mais que peças de divulgação, mas que remetem a uma tomada de consciência. Foi bem difícil porque eu pedi o vestido numa quinta-feira e tinha que estar pronto na segunda-feira. Achávamos até que não iria dar tempo, porque num dado momento não estávamos conseguindo imprimir um cartaz e tínhamos que mudar, mas não era só mudar, tinha que pensar no contexto político do filme. Foi toda uma estruturação para dar certo, porque se desse errado eu não tinha um plano B. Pensei em levar a curadoria de filmes que foram importantes para o nosso país, vestir estandartes da nossa cultura. O discurso é super válido, as palavras têm poder e são válidas, mas hoje em dia também tem imagem instantânea, então, fiquei pensando em como ter uma atitude, um posicionamento para chacoalhar as pessoas de uma forma imediata. Eu fiquei muito feliz porque decidi usar esse momento como um ato de liberdade, de resistência e colocar a consciência que estou gritando por liberdade.

 

Entrevista e texto: Ester Jacopetti

Fotos: Vinícius Mochizuki

 

 

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