Quando fizemos nosso roteiro para Espanha, algumas cidades da Andaluzia nos atraíram demais, entre elas as mais famosas Sevilla e Córdoba e as nem tanto Ronda e Setenil de las Bodegas. Todas as quatro nos deixaram encantados, mas, especialmente falaremos de Ronda, na Província de Málaga e de Setenil de Las Bodegas, na Província de Cádis, que nos paralisaram com tanta beleza natural em comunhão perfeita com as edificações feitas pela inteligência e mãos do homem. Para conhecer essa região, a sugestão é que alugue um carro, não tenha pressa e fique de olhos abertos e atentos para todos os detalhes.
Partimos de carro do aeroporto de Sevilla (que não tem carrinhos para bagagem! Acreditem!) direto para Ronda, no mesmo dia. O trajeto é belíssimo e, apesar das estradas estreitas e de mão dupla, o caminho é agradável e inusitado, mudando a paisagem de grandes tapetões de pastos para enormes paredões de calcário, vegetações pendentes, rios e casinhas brancas. Dica: faça isso durante o dia, tanto para apreciar o caminho como por sua segurança, pois não há quase sinalização e os acostamentos são quase inexistentes.
Sobre as rochas
Avistar Ronda é quase inexplicável. Grandes paredões de pedras sustentam a cidade em seu topo. Uma grande fenda nas rochas – “El Tajo de Ronda”- formam um vale onde lá embaixo (bem embaixo mesmo) corre o rio Guadalevin. Unindo os dois lados dessa fenda e ao mesmo tempo os dois lados da cidade – a velha e a nova – temos o Puente Nuovo (Ponte Nova), o ponto turístico mais visitado e cartão postal da cidade – com todos os méritos. Nós nos hospedamos a 50 metros dela. Vale a pena para desfrutar de todos os ângulos e das luzes que o dia oferece proporcionando as mais diversas paletas de cores nessa magnífica paisagem. Mas Ronda vai além da ponte que estampa os postais e suvenires da cidade. Gastronomia diferenciada – do Rabo de Toro ao Jamon com Alcachofras sob ovos maçaricados, e até mesmo um riquíssimo bacalhau ao creme de aspargos – tudo regado a bons vinhos; também é o berço das touradas (infelizmente, mas faz parte da história) e conta com a Plaza de Toros bem no centro da cidade; Museu do Bandoleiro, muitos miradores (mirantes) com vistas de cair o queixo, parques lindos, vielas, igrejas, palacetes erguidos pelos mouros e um pouco mais distante as Ruínas de Acinipo (Ronda antiga) e as mais famosas Bodegas da região Chinchilla e a Descalzos Viejos. Valeu a pena termos ficado três noites na cidade.
Saindo de Ronda pela manhã seguimos em direção a Sevilla – com a intenção de passar o dia em Setenil de Las Bodegas que faz parte dos Pueblos Blancos, conjunto de quase duas dezenas de cidadezinhas com casinhas brancas contrastando com o verde da serra e compondo belas paisagens. A pequena viagem de pouco mais de 30 minutos é intrigante. Para chegar é obrigatório passar por dentro de uma pequena cidade, Arriate, e é preciso usar ruas que só passa um carro por vez, com muitas curvas, subidas e descidas. Para que haja visibilidade – se é você quem avança ou não – são usados nessas microvias alguns espelhos (iguais aos de garagem de prédios), dá um friozinho na barriga, mas tudo sai bem.
Sob as rochas
Setenil de Las Bodegas se abre em nossa frente parecendo que saltou de um livro. Logo nas primeiras ruas sob rochas (o inverso de Ronda que é sobre rochas) ficamos extasiados. E por acreditar que não seria possível trafegar de carro pelas vias estreitas e rochosas, “aparcamos” num estacionamento subterrâneo que o aplicativo nos levou (depois de nos enfiar em várias ruas sem saída). Não era necessário, porém foi ótima escolha, pois conhecemos tudo caminhando, nos surpreendendo a cada passo. Tomando um café aqui, comprando um pratinho ali, escolhendo um restaurante para mais tarde, observávamos o dia-a-dia daqueles pouco mais de 3 mil habitantes dessa cidade que é um sonho!
As casas, restaurantes e tiendas (lojas) foram construídos em grutas com suas fachadas de alvenaria pintadas de branco e quase todas com plantas e flores enfeitando janelas. Descrever não é preciso, quando se vê as imagens. Sem a menor pressa de ir embora, percorremos vielas, escadarias, lojinhas, subidas esbaforidas, mas tudo, tudo valeu a pena. As ruas mais preciosas são Calle Cuevas
Del Sol e Calle Cuevas De La Sombra. A Sol é belíssima, cheia de restaurantes e bares com muitos guarda-sóis, sobre mesas e cadeiras, nada se compara ao prazer em tomar uma taça de vinho no frescor da gruta com o sol escaldante de verão à sua frente. Já a Sombra impressiona – muito – pela gigantesca rocha que paira sobre nossas cabeças unindo as duas faces da rua. Inacreditável!
No final da tarde, depois de mirar para tudo e mesmo sem cansar daquela vista, decidimos que podíamos partir. Setenil realmente não precisa mais que um dia para conhecê-la, mas faltou vê-la à noite. Porém, estávamos com os dias contados para outros lugares. Ficará para a próxima, quando voltarmos para conhecer outras cidades de Pueblos Blancos.
Sevilla e Córdoba também são lindas, porém outro tipo de cidade e de turismo, com edificações belíssimas que transpiram a influência moura misturada com a romana; ruas e pátios impregnados de história e com excelente gastronomia – tapas irresistíveis e cardápio que percorre desde o sabor mais forte da carne vermelha à delicadeza dos frutos do mar. Mas, Ronda e Setenil de Las Bodegas estarão certamente em nossas memórias como lugares incríveis para voltar, voltar e voltar, quando estivermos novamente na “Hermosa Andalucía”.
*texto de: Vanise Begossi e Ennio Passafini Júnior viajaram para Espanha em setembro/2019 e escreveram esta matéria especialmente para a Revista Regional.
fotos:
Vanise Begossi e Ennio Passafini Júnior
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