>

Post: Especial: o direito à maternidade

Especial: o direito à maternidade

Mônica e Pedro

No mês em que se comemora o Dia das Mães e o Dia Nacional da Adoção, REVISTA REGIONAL apresenta histórias de mães em nossa região que passaram pelo processo de adoção para realizar o sonho da maternidade

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contabiliza mais de 9 mil adoções realizadas na última década no Brasil. Há um ano, os mesmos dados apontavam que ainda havia quase 8 mil crianças e adolescentes em todo o território nacional aguardando uma família. Há apenas dez anos, o cadastro de pretendentes à adoção tornou-se eletrônico, facilitando a comunicação de Varas da Infância em todo o país e agilizando, assim, as adoções interestaduais.

A realidade no Brasil é cruel para as crianças. Hoje são mais de 45 mil menores em abrigos, mas pouco menos de 8 mil aptos para serem adotados judicialmente e, por outro lado, mais de 30 mil pessoas habilitadas a adotar, segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

A preferência por bebês e a burocracia fazem com que muitas crianças saiam do perfil mais procurado pelas famílias, que é o de bebês de até três anos, brancos e sem doenças congênitas. Apenas 50% das famílias do Cadastro Nacional aceitam adotar crianças negras, e somente 6% estão dispostos a adotar crianças com oito anos de idade ou mais.

Mônica + Pedro

A advogada Mônica Brunetto se tornou mãe há quase 11 anos. Pedro chegou ainda pequeno, com apenas dois meses e mudou sua vida para sempre. Ela lembra rindo que quando era mais nova pensava que já havia muita criança abandonada no mundo para gerar outra. Adulta e casada, passou por um processo com várias tentativas de engravidar e não conseguiu. “Tentei engravidar para depois partir para a adoção. Eu nunca tinha pensado muito em ser mãe até chegar aos quase 40 anos”, conta.

A adaptação aconteceu dos dois lados, não apenas Pedro, mesmo tão novinho, teve que se adequar ao novo lar, rotinas e aos pais, como ela e o ex-marido, na época casados, tiveram que se adaptarem a uma nova realidade: a construção diária de uma nova relação e um novo amor familiar. “Na época parei de trabalhar para dar conta daquele bebezinho de dois meses e meio de idade. Apesar de ter certa estrutura, um

bebê requer atenção quase que em tempo integral, entre mamadeiras, fraldas, fazer dormir e etc”, lembra a advogada.

Diferente de uma gravidez, onde a mãe e a família, geralmente, têm nove meses para entender a chegada de um novo membro na família e a relação de amor que vai se construindo, a adoção pode acontecer de uma hora para a outra depois de esperas e processos judiciais a serem enfrentados pelos casais e famílias. “Só tive sossego mesmo sobre esta questão depois que saiu a adoção e pude ir ao cartório e tirar a certidão de nascimento nova dele. Ali caiu a ficha e me senti mãe de verdade. Foi um momento maravilhoso. Aliás, foram dois momentos maravilhosos: receber a notícia por telefone da decisão judicial através do meu cunhado e depois ir ao cartório tirar a certidão”, detalha Mônica.

Há poucos anos, Mônica passou por uma separação conjugal e o menino enfrentou uma nova adaptação, já que lhe faltava um pouco de compreensão, até mesmo pela idade. “Em pouco tempo ele conseguiu observar que melhorou para nós três. Uns dois meses atrás, ele comentou com minha mãe que está bem melhor agora depois da separação do que antes e observou com certo espanto que eu e o pai dele somos amigos”, conta rindo.

Mônica ressalta que, apesar de tudo e anos depois, possui algumas ressalvas em relação à adoção. O processo, que não costuma ser fácil, gera muita angústia no casal que se propõe a adotar e o medo de perder a criança é constante. “Isso acontece por conta de uma atuação do Ministério Público e do Judiciário que critico muito, mas se a pessoa está disposta a enfrentar isso, vale muito a pena. Porque pra mim é assim, o Pedro é meu filho e acabou. Tem uma mãe biológica? Sim! Não tem meu sangue? Não! Mas tem minha alma e é isso o que importa!”, finaliza.

Débora + Maitê + Luan

A história de Débora Melecardi e seus dois filhos é um pouco mais complicada do que as histórias de adoção convencionais. Ela e seu marido, Nelson Melecardi, se cadastraram normalmente para adotarem crianças e três anos depois receberam a Maitê. A menina, natural de Indaiatuba, chegou para o casal com apenas 28 dias de vida, depois de ser abandonada num local público da cidade. Assim, Débora e Nelson continuaram na fila de adoção e, quando a garotinha tinha dois anos, o Luan chegou, natural de Monte Santo, na Bahia. Maitê e Luan têm praticamente a mesma idade e são extremamente parecidos fisicamente.

O caso da família ficou conhecido nacionalmente, depois de o “Fantástico”, revista dominical da TV Globo, fazer uma acusação de que Débora e Nelson, assim como a família que adotou os outros dois irmãos de Luan em Campinas, teriam traficado os meninos do sertão da Bahia. Luan, assim como dois irmãos biológicos que foram adotados por uma família de Campinas, só veio para nossa região, pois outra irmã deles tinha sido adotada por uma família daqui e o juiz de Monte Santo achou por bem mantê-los próximos para não perderem o vínculo biológico. Assim, as famílias cadastradas daqui foram acionadas para receber as crianças, tudo dentro da lei. “Muitas pessoas nos condenaram e até grupos de adoção pré-julgaram a gente. Eu não tive apoio nenhum. Foram poucas pessoas que nos deram apoio porque elas tinham medo de se envolver. Ninguém queria ouvir a história real e é uma pena, porque eu sinto que se grupos de adoção e toda essa militância tivessem nos ajudado, poderíamos ter conseguido mais”, revela Débora.

Débora e os filhos Maitê e Luan

Entre idas e vindas foram oito anos de luta para manter a família unida. O Luan chegou em 2011 e apenas agora, no último mês de março, é que a decisão de que ele ficaria com a família de Indaiatuba saiu. “Foram oito anos de discussão e briga com uma emissora fazendo a reversão da história verdadeira para promover uma novela, “Salve Jorge”. O pano de fundo real dessa história é esse. Eles passaram a história deles, filmando a casa das famílias, acusando-as de tráfico de crianças, por sete semanas. As famílias perderam o direito de ir e vir, foram ameaçadas e nunca pararam para ouvir a verdade. Quando eles (emissora) vieram a Indaiatuba, eu fui até eles, eles gravaram mais de uma hora comigo e usaram apenas sete segundos de forma distorcida”, explica a advogada das famílias, Lenora Thaís Steffen Todt Panzetti.

Em outubro de 2012 começou a história com o “Fantástico” e dois meses depois, as crianças foram devolvidas para a mãe biológica na Bahia. “Entrei com recurso, agravo, tudo, ninguém queria julgar esse processo. Foram 31 desembargadores que passaram pelo processo e ninguém queria julgar. Com tudo isso, as crianças ficaram mais três anos na Bahia, entre dezembro de 2012 e maio de 2015, de volta a uma situação de risco. Depois de um tempo, a mãe biológica entrou em contato falando que queria devolvê-los para as famílias de São Paulo. Só então, depois de três anos, essas crianças retornaram para as famílias daqui. Nesses três anos eles não se desenvolveram e vieram uma outra história, uma outra vida e um outro mundo”, explica Dra. Lenora.

No último mês de março, saiu a decisão definitiva que concedeu a adoção das três crianças às duas famílias adotivas. “Foi a pior época das nossas vidas e piorou tudo quando tiraram o Luan de mim. Eles não pensaram em nada, nem no Luan e nem em nenhuma das crianças, mas eu faria tudo de novo, por eles, porque filho é filho independentemente de sangue. A adoção foi a maneira que Deus escolheu para que eu fosse mãe e eu não trocaria por nada. Foram três anos de espera pela Maitê que me ensinou a ser mãe e depois para complementar nossa vida, nossa história e nossos sonhos, chegou o Luan”, finaliza Débora.

texto e fotos: Gisele Scaravelli

# DESTAQUES

Abrir WhatsApp
1
ANUNCIE!
Escanear o código
ANUNCIE!
Olá!
Anuncie na Revista Regional?