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Tarsila popular continua até julho no Masp

Crédito: Gustavo Lowry
Abaporu, 1928 Óleo sobre tela, 85 x 72,5 cm Coleção MALBA, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Argentina

Exposição discute a relação da obra da artista de Capivari com o popular brasileiro

Tarsila do Amaral (1886-1973), artista que foi figura central do modernismo brasileiro em sua primeira fase, a partir dos anos 1920, ganha sua primeira grande mostra no Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), com curadoria de Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, reunindo 92 obras, entre pinturas e desenhos. A exposição integra o ciclo “Histórias das mulheres, histórias feministas”, eixo temático que guiará a programação do museu paulistano ao longo de 2019.

Denominada “Tarsila Popular”, a mostra ganhou este título por conta do recorte da obra de Tarsila, pelos curadores, e do programa de revisão da produção de nomes centrais do modernismo brasileiro, empreendido pela atual direção artística do Masp. Em 2016, por exemplo, o museu realizou “Portinari Popular”, uma seleção de trabalhos de Candido Portinari (1903-1962) relacionados com a cultura popular brasileira. Assim como Portinari, a obra de Tarsila está na base da construção de uma identidade nacional nas artes, ao lado de nomes como Lasar Segall (1891-1957) e Anita Malfatti (1889-1964).

Sem abdicar por completo da matriz modernista europeia e formal da qual fez parte, Tarsila voltou-se para personagens, temas e narrativas ligados ao popular no Brasil. Esse aspecto se manifestou em diversos trabalhos, como é possível observar em suas cenas de Carnaval, favelas e feiras ao ar livre, além da relação de sua obra com a religiosidade e, ainda, com as lendas populares e indígenas — caso das obras “A cuca” (1924), “Abaporu” (1928) e “Batizado de Macunaíma” (1956).

“A exposição e o catálogo que a acompanha pretendem promover reflexões mais abrangentes sobre Tarsila, articulando sua vida e obra no contexto de uma visão política, social e racial da cultura brasileira e do modernismo — um movimento que, no Brasil, raramente é abordado sob esses prismas”, diz Fernando Oliva, curador da exposição.

Nascida em uma fazenda em Capivari, cidade que fica entre Salto e Piracicaba, em 1886, Tarsila fez parte da aristocracia brasileira. Estudou as técnicas acadêmicas tradicionais na Europa, onde conviveu com pintores como André Lhote (1885-1962) e Fernand Léger (1881-1955). Desse período, chamam atenção retratos que já apontavam para uma ideia de modernidade — na pincelada, na representação não-realista e na tentativa de captar o emocional dos modelos –, como em “Autorretrato com vestido laranja” (1921).

Apesar disso, foi ao voltar ao Brasil, em 1922, que Tarsila aderiu às ideias vanguardistas europeias, incorporando-as à sua maneira de representar o Brasil. Foi apresentada por Anita Malfatti ao escritor Mário de Andrade (1893-1945), ao futuro marido Oswald de Andrade (1890-1954) e ao poeta e pintor Menotti del Picchia (1892-1988), formando com eles o Grupo dos Cinco.

Guiados pela ideia de encontrar e definir uma arte “verdadeiramente nacional”, os cinco fizeram uma viagem de redescoberta do país pelas cidades coloniais mineiras,

acompanhados pelo poeta franco-suíço Blaise Cendrars (1887-1961). Dessa expedição, resultaram desenhos de observação de Tarsila que estarão na mostra.

É nesse momento que se inicia o período conhecido como “Pau-Brasil”, uma das três principais fases da carreira de Tarsila, ao lado dos períodos “Antropofágico” e “Social”, todos presentes na mostra. A fase “Pau-Brasil” é marcada por telas de cores e temas acentuadamente tropicais, como a exuberância da fauna e da flora locais, pintadas ao lado de máquinas e trilhos, símbolos, por sua vez, da modernidade urbana do país. Desse momento, são singulares obras como “Estrada de Ferro Central do Brasil” (1924), “Vendedor de frutas” (1925) e “Um pescador” (1925), pintura que faz parte do acervo do museu Hermitage, na Rússia, e será exposta pela primeira vez no Brasil.

Crédito: Romulo Fialdini
Antropofagia, 1929 Óleo sobre tela, 131 x 146 cm Acervo da Fundação José e Paulina Nemirovsky, em comodato com a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Foi ainda nos anos 1920 que Tarsila deu início à fase “Antropofágica”, em que conseguiu criar algo de único e particular. Em 1926, Tarsila casou-se com Oswald e apresentou sua primeira individual, em Paris. Dois anos depois, pintou “Abaporu”, cujo nome de origem indígena significa “homem que come carne humana” — tipo de ritual praticado por algumas tribos brasileiras, especialmente os tupinambás. A obra inspirou o Manifesto Antropófago, de Oswald, que propunha a apropriação e deglutição, pela cultura nacional, do legado cultural europeu, para devolvê-lo ao mundo sob a forma de uma produção cultural própria, brasileira. Trabalhos como “Urutu” (1928) e “Antropofagia” (1929) estão na mostra.

A chamada fase “Social”, que se segue a “Pau-Brasil”, e “Antropofágica”, deixa clara a aproximação de Tarsila com as questões políticas e sociais. No início da década de 1930, a artista, empobrecida pela perda da fortuna da família na crise de 1929, teve de se desfazer de obras de sua coleção particular. Assim, reuniu recursos para viajar à União Soviética, acompanhada pelo então marido, o psiquiatra Osório César. Juntos, foram para Moscou, Leningrado e Berlim, entre outras cidades. De volta ao Brasil, foi presa, considerada suspeita de “atividades subversivas” por ter visitado países comunistas. Esses eventos marcaram sua fase de temática social, representada por obras como “Segunda classe” (1933) e “Operários” (1933).

Histórias das mulheres, histórias feministas

“Tarsila Popular” integra um ano de exposições, simpósios, palestras, workshops, filmes e publicações em torno do tema “Histórias das mulheres, histórias feministas” no Masp. O ciclo temático de 2019 agrega diversas mostras monográficas, com nomes da arte contemporânea internacional, caso de Gego e Leonor Antunes, ao lado de artistas brasileiras dos séculos 20 e 21, como Lina Bo Bardi, Djanira da Motta e Silva e Anna Bella Geiger, além de duas mostras coletivas, “Histórias das mulheres, artistas antes de 1900” e “Histórias das mulheres, artistas depois de 2000”.

MAIS: Exposição fica até 28 de julho de 2019

Local: 1º andar do Masp – avenida Paulista, 1578, São Paulo – telefone: (11) 3149-5959; horários: quarta a domingo: das 10h às 18h (bilheteria aberta até as 17h30); terça-feira: das 10h às 20h (bilheteria até 19h30); ingressos: R$ 40 (entrada); R$ 20 (meia-entrada); o Masp tem entrada gratuita às terças-feiras, durante o dia todo.

 

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