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Post: A arte e a beleza de Taís Araújo

A arte e a beleza de Taís Araújo

Taís Araújo em ensaio especial para o fotógrafo Fred Othero

Uma das atrizes mais cobiçadas da TV brasileira, Taís Araújo sabe as dores e as delícias de ser uma mulher comum. Sim, embora a mídia venda a perfeição e a felicidade, ela tem consciência plena sobre o seu lugar no mundo, bem como a importância de suas personagens, que apesar de ficção, tem papel importante numa sociedade, segundo ela, machista e preconceituosa. “Sempre que apresentávamos algum assunto social, muitas pessoas comentavam. Nós percebemos que elas estavam a fim de discutir o que está acontecendo na sociedade de uma maneira leve e divertida. Eu acredito que a comédia é a melhor maneira de você alcançar e fazer refletir, mesmo com temas que não sejam tão leves. Estamos numa mudança de estrutura na sociedade geral, que urge. Poder fazer isso através de um programa de televisão num canal aberto, num seriado de comédia, dá muito orgulho”, diz sobre sua personagem Michele na quarta temporada de “Mister Brau”, da TV Globo. Corajosa e cheia de fibra, Taís não se limita a falar sobre preconceitos, família, em especial o trabalho ao lado do marido e ator Lázaro Ramos, no qual contracena na série de TV e na peça “O Topo da Montanha”. “Ele é um ator que me inspira. É criativo e interessante. Ir para o set com ele é muito especial. Nós conversamos sobre como fazer determinada cena. Quando não estamos trabalhando num mesmo projeto, observo como ele se prepara, e depois acompanho o resultado. É muito natural trabalharmos juntos”, conta.  Aos 39 anos e mais serena do que nunca, Taís leva uma vida em equilíbrio, embora admita ser supercontroladora com os filhos. A partir daqui, descubra um pouco mais sobre essa sagitariana de personalidade forte!

REVISTA REGIONAL: Antes de se tornar atriz, você chegou a estudar Jornalismo, e mesmo após se formar na área, preferiu seguir a carreira na televisão. Como você avalia sua trajetória profissional?

TAÍS ARAÚJO: Eu me formei em Jornalismo, mas exerci pouco a profissão. Sobre a carreira, fiz o que foi possível. Escolhi ser atriz num momento bom. Quando aconteceu foi muito bonito e no jeito certo, com as pessoas certas. Eu amo o meu trabalho e, sem dúvida, amo a oportunidade de conhecer e discutir o comportamento humano. A dramaturgia nos permite viver isso em cada personagem que representamos. A Preta (Da Cor do Pecado) foi um sucesso, mas na verdade no caso da Helena (Viver a Vida) eu faria tudo novamente. Depois dessa personagem, eu me tornei e quis ser outra atriz. Esse papel foi determinante na minha vida, de eu poder falar que eu não queria ser atriz para esse tipo de personagem que não foi feito pra mim. Só enxerguei isso depois que a novela acabou. É importante saber ler e entender que ser protagonista não é necessariamente um bom personagem, porque, às vezes, enchemos os olhos por ser de destaque, mas, de repente, ele não é pra você. Não é bom. A Helena foi importante nesse sentido. Agora quero ser desafiada, fazer bons textos, diversificar. Parti para fazer comédia, e estou tendo uma experiência maravilhosa. Tem sido muito prazeroso, um aprendizado gigantesco. É difícil pra caramba, mas é uma conquista. O bom dessa profissão é que o tempo está a nosso favor. Conforme ele vai passando, vamos aprendendo e melhorando. Se o ator se empenhar e se dedicar, com certeza irá aprender.

Não faz muito tempo, você foi considerada um dos grandes nomes da propaganda. Sendo uma mulher negra, talentosa e representando um número significativo de outras pessoas que pensam como você, quais são seus sentimentos?

Não sei. Não fico dimensionando. Claro que eu acompanho essas listas, afinal é a minha carreira, tenho que saber o que pensam sobre mim, pra quem estou falando, como as pessoas recebem, se estou conseguindo me comunicar… Fico pensando quando eu era criança, adolescente, que não tinha ninguém tão próximo da minha idade, que pudesse ser o meu norte. Isso de fato é um lado muito fraco na construção da minha identidade. Todo mundo precisa saber que é possível. Durante muito tempo foi algo meio flácida mesmo. Eu queria ser uma atriz, mas que atriz? Então, é pensando nessa criança que eu fui, e que tem essa lacuna na minha construção.

Você e o Lázaro Ramos fazem uma parceria incrível, tanto na vida pessoal como profissional, mas como tem sido essa constante entre vocês dois, tanto no teatro quanto na televisão?

Ele é um ator que me inspira. É criativo e interessante. Ir para o set com ele é muito especial. Nós conversamos sobre como é melhor fazer determinada cena. Quando não estamos trabalhando num mesmo projeto, observo como ele se prepara, e depois acompanho o resultado. É muito natural trabalharmos juntos. Nós também temos outros projetos além desse. Em casa, nós temos nossos filhos, a questão da peça, que fazemos juntos, e ele também dirige, produz e atua. No meu caso, só produzo e atuo. São muitos os assuntos que, para nós dois, é muito natural. Estamos sempre discutindo algo que vamos desenvolver, mas quando também não estamos trabalhando, estamos conversando sobre novos projetos, porque temos a mesma profissão. Essa troca sempre existiu entre nós.

Com a estreia que aconteceu no final de abril, você está de volta com a quarta temporada de “Mister Brau” na TV e, claro, o público agradece, já que faz muito sucesso. Você esperava receber esse acolhimento?

Quando nós começamos, era pra ser apenas uma temporada. Não tínhamos a pretensão de ser uma série que durasse todo esse tempo. Por isso, hoje nós temos que criar o que vai acontecer, conforme a demanda das temporadas. Nessa, a Michele está à frente. Ela se torna uma cantora com fama internacional. Dentro da dramaturgia discutimos assuntos, como, por exemplo, o homem que não segura a onda quando a mulher tem destaque, quando ela sai pra trabalhar e a vida prospera muito. Como fica a questão da casa, dos filhos, da família? Discutimos a questão da idade, principalmente quando chega a Yasmin (personagem interpretada por Lellezinha), uma menina mais jovem. Falamos também sobre os refugiados, enfim, nós fomos criando. Na verdade, eu acho que o autor (Jorge Furtado) faz algo super legal, que é olhar para a sociedade, e o que ela está discutindo. Ele pega tudo isso, e coloca dentro da série. Nosso histórico tem sido assim. Não é uma série pra ficar no ar por dez anos. Não é. O que vai acontecendo durante o ano, eles vão escrevendo. Nós só sabemos o que vai rolar, quando acaba a temporada. Então, é possível ficar muito próximo do que está acontecendo na sociedade. E nesse ano, nós estamos com a Michele bombando profissionalmente, enquanto o Brau tem um desencontro com a arte. Fica esse contraponto, de um que está acontecendo muito artisticamente, e do outro que está perdido. Até que graças a Deus e aos céus, ele tem um reencontro com a identidade artística dele, que é quando termina o episódio, e como todos sabem, nós filmamos na Angola. Nós estamos inventando uma história para fazermos essa quarta temporada diferente das outras três primeiras, mas o Brau continua a ser o protagonista.

E como foi essa experiência em Luanda?

Muito lindo ver como o povo angolano gosta de Brau, o quanto eles se identificam com nossos personagens e com nosso país. O número de crianças nas nossas gravações me emocionou demais. Fiquei com lágrimas nos olhos muitas vezes. O que mais me impressionou é o quanto as pessoas faziam questão de contribuir para que tudo desse certo. Essa viagem fecha com chave de ouro o que temos buscado nesses anos de série: o fortalecimento da identidade das nossas personagens.

A Michele canta e dança, ou seja, o trabalho é muito mais intenso, ainda mais nessa temporada, já que ela está com a carreira internacional decolando. Como você tem dado conta dessa jornada intensa de trabalho?

Estou dando truque em tudo, como sempre, né? Truque na dança, no canto, mas ao mesmo tempo é muito divertido. Desde “As Empreguetes” (Cheias de Charme, 2012) eu já sabia que não tinha talento pra cantora. Eu não tenho vocação, mas é necessário ter, porque é muito ensaio, dedicação… Mas divertido brincar de pop star não vou dizer que não é. Quando fomos gravar os shows, o estúdio lotado, figuração, e eles todos muito empolgados, comentei que eles que deveriam acreditar que eu era a pop star, porque eles precisavam me ajudar (risos). Trabalhamos muito em conjunto. Eu comecei a fazer aulas de dança antes de todo mundo, justamente pra facilitar a vida da produção. Fazia aulas de canto em casa, só que chega uma hora que eu não canto e nem danço. A realidade é essa. Mas estou um pouco mais preparada. Havia uma música e quando fomos gravar, eu chorava tanto, porque estava cansada e não conseguia alcançar a nota. O diretor (Ricardo Spencer) falou pra eu ir pra casa. Fui chorando, aos prantos, achando que não ia conseguir, mas nós temos uma equipe de pós-produção. Na dança, depois que aprendi toda a coreografia, quando foram tirar o espelho da minha frente, eu não sabia dançar. Eu copiava das meninas o tempo inteiro, mas só fomos perceber no palco. Daí falei: ‘ferrou!’. E agora? Por pura falta de técnica. Voltamos a ensaiar tudo de novo, sem o espelho na frente. Agora vem o microfone. Se eu estiver com o microfone na frente, como vou fazer? Eu não conseguia levantar o braço. Fui estudar as cantoras, e descobrir que ninguém usa headset (microfone auricular para cantar) só a Britney Spears. Elas dão o truque na dança. A backing vocal é que canta, e elas (cantoras) não fazem nada, só canta o que tem que cantar mesmo, entendeu? Fui entender, é técnica e eu não tenho, não consigo aprender em dois meses de preparação. Então, o que faço são truques. Quando estou com o microfone, me liberto da coreografia. Faço o que dá. Hoje o microfone é um amuleto pra mim, pra quem é cantora de verdade, não, elas usam pra cantar, mas no meu caso é dar o truque nos dois. Às vezes esqueço a música, e coloco o microfone na frente.

Sua personagem tem características muito parecidas com você. Ela tem atitude, é batalhadora e corre atrás de seus objetivos, além de cuidar da família… 

Faz três anos que estou nessa rotina intensa, mas dizem que filho vem com um saco de pão debaixo do braço, né? A minha filha (Maria Antônia) trouxe muitas coisas pra mim. São três anos que eu tenho trabalhado muito. Essa é uma questão minha. Quando começo a gravar mais, vejo pouco os meus filhos. Normalmente consigo vê-los pela manhã, à noite, ou às vezes nem consigo porque quando saio, estão dormindo, quando chego também, mas eu tenho uma profissão que me proporciona, um bom descanso. Posso ficar dois, três meses dedicados a eles. Eu tenho esse equilíbrio na minha carreira. Eles são filhos de dois atores, e estão super acostumados. Nós vamos negociando o tempo todo. Nesse momento, é assim, mas daqui a pouco nós vamos pra algum lugar, e vai acontecer isso, vamos viajar, daí eles vão se acalmando. Eu tenho a minha mãe que está sempre em casa, meu sogro, meu pai, as meninas que trabalham com a gente, então, tenho muita ajuda, que faz com que eu fique muito mais segura de poder vir trabalhar, apesar de eu ser supercontroladora. Fico o tempo inteiro querendo saber o que eles estão fazendo, mas nada se compara com a presença. É uma vida de equilíbrio.  

Uma questão muito pertinente é tratada nessa temporada, que é a mulher crescendo profissionalmente, enquanto o homem fica frustrado. Como você vê a importância de abordar essa questão, mesmo sendo do ponto de vista da comédia?

Na verdade, não tínhamos a pretensão de discutir, apesar de o primeiro capítulo ser forte, dessa família comprar uma casa com piscina e acharem que eles haviam roubado, que eram ladrões. Então, ela já dava um toque que gostaria de discutir alguma coisa, mas de uma maneira mais leve. Nós recebemos uma demanda da sociedade, através das redes sociais, muito grande. Sempre que apresentávamos algum assunto social, muitas pessoas comentavam. Nós percebemos que elas estavam a fim de discutir, o que está acontecendo na sociedade de uma maneira leve e divertida. Eu acredito que a comédia é a melhor maneira de você alcançar e fazer refletir, mesmo com temas que não sejam tão leves. Estamos numa mudança de estrutura na sociedade geral, que urge. Poder fazer isso através de um programa de televisão, num canal aberto, num seriado de comédia, dá muito orgulho.

Infelizmente ainda vivemos desigualdades no país, mas também temos a questão do racismo…

Sofro preconceitos até hoje. E infelizmente não aconteceu apenas uma vez, mas é diariamente. Nós vivemos num país preconceituoso. É claro que quando você se torna uma pessoa conhecida, existe um preconceito amenizado. Ele é um pouco mais velado do que já é.

 

texto ESTER JACOPETTI

fotos FRED OTHERO

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