Zeca Camargo já apresentou todo tipo de programa. Já liderou o “Fantástico”, um dos jornalísticos mais assistidos do país; foi pioneiro com “No Limite”, o primeiro reality show da TV brasileira; passou pelo “Vídeo Show”; eventualmente esteve à frente do “Mais Você”; mas foi na extinta MTV que ele começou. Hoje, com dois anos completos no ar, com o programa familiar “É de Casa”, Zeca diz querer cada vez mais. Mesmo trabalhando e viajando bastante, ele ainda conseguiu encaixar um novo projeto. Está escrevendo a biografia da cantora Elza Soares. Durante nossa conversa, ele contou alguns detalhes do livro, e como tem sido essa experiência, já que é a primeira vez que ele escreve uma biografia. “Lembrando um pouco sobre essas histórias, a parte mais difícil e emocionante é quando ela (Elza) fala sobre a perda dos dois primeiros filhos. Você enxerga essa mulher forte, mas que também tem um lado sensível. Ela está muito aberta. Claro que é muito difícil fazer uma biografia de uma pessoa viva”, diz o apresentador, que recebeu o convite para escrever. Nessa entrevista, Zeca, que já fez o quadro “A Fantástica Volta ao Mundo”, no “Fantástico”, compartilha também sua experiência em sua última viagem à Etiópia.
REVISTA REGIONAL: Você já apresentou diversos formatos de programas, inclusive o “Fantástico”, e quando você decidiu sair, todo mundo se espantou. Tudo isso se deve por ser uma pessoa muito inquieta?
ZECA CAMARGO: Esse era um desejo muito antigo, e muitas pessoas acharam que foi surpresa, mas na verdade o processo já vinha acontecendo desde 2011. Nesse ano, eu já havia feito 15 anos no “Fantástico”, ou seja, eu já tinha uma visão de que as coisas poderiam mudar. Nessa época justamente, deixei o programa, quando completei 50 anos. Percebi que era hora, justamente falando um pouco sobre a zona de conforto. E tem muito a ver com as propostas. Elas foram surgindo, e foram extremamente generosas, caminharam de um jeito, e recentemente, nós comemoramos dois anos do programa “É de Casa”. Quem diria… uma incógnita, porque era um programa novo, que começou de um jeito, que nem nós sabíamos o que ia acontecer. Ele tomou sua forma, conquistou pessoas, e estamos aí. Daqui uns dez anos, vamos ver o que vem pela frente.
Você comentou sobre comemorar os dois anos do programa “É de Casa”. Hoje como você avalia a sua carreira? Quais são os próximos projetos?
De programa, nós estamos super felizes. Semana que vem, iremos nos reunir pra discutir sobre novos quadros, mas não sobra tempo pra eu me dedicar a outros projetos. O que eu tenho feito é uma biografia sobre a Elza Soares. Eu tenho muito tempo livre, né?! (risos). Devo entregar esse livro até o final do ano. Isso se a Elza me ajudar, porque ela não para. Há pouco tempo, ela estava em Nova York. Eu preciso falar com muita gente. É claro que a Elza é o principal, mas você tem um cenário musical, composto por muitas pessoas, são mais de 70. Eu estou quase pedindo para aumentar o prazo, porque é muita história para contar. São as pessoas que irão me ajudar a fazer esse retrato. Até o momento, fiz metade das entrevistas que eu gostaria. Ainda falta uma bateria. Já comecei a escrever, então está difícil pensar em outros projetos. A Elza tem sido super honesta comigo. Ela é uma mulher guerreira, e nós conhecemos a história dela. Quatro filhos, altos e baixos na carreira, perdeu grandes amores, vida difícil. Ela está se mostrando muito sensível. Ela, com 17 anos, havia perdido dois filhos. Uma loucura! Isso nos anos 40. Só para você entender, ela se casou quanto tinha 13 anos, e em quatro, perdeu dois filhos e ficou viúva. Imagina essa situação com uma menina simples que não tinha estrutura?! Nós vamos enxergar uma Elza muito sensível e emocionante. Conseguimos furar essa couraça, porque ela é uma fortaleza!
Até o momento o que mais te impressionou sobre a história de vida dela?
Lembrando um pouco sobre essas histórias, a parte mais difícil e emocionante é quando ela fala sobre a perda dos dois primeiros filhos. Você enxerga essa mulher forte, mas que também tem um lado sensível, óbvio. Isso acontece, porque ela está muito a fim de contar sua história. Peguei um terço da vida dela até agora. Do que eu já coletei, não chegamos na parte do Garrincha ainda. A partir daí, tem grande parte dos anos 70 e 80 pra frente. Ela está muito aberta nesse sentido. Claro que é muito difícil fazer uma biografia de uma pessoa viva. É um desafio, porque ela está contando tudo. Mas como a iniciativa foi dela, e eu fui convidado… Já tenho três meses de trabalho e, por enquanto, temos uns quatro meses pela frente, só para colher informações, e depois definitivamente começo a escrever a história… E ainda tem o programa, no qual eu viajo pelo Brasil…
Esse é seu primeiro livro?
De biografia sim, mas já fiz muitos de reportagens do “Fantástico”, sobre a volta ao mundo (“A Fantástica Volta ao Mundo”), fiz um livro de entrevistas, mas esse é o primeiro grande, que estou escrevendo. Só depende da Elza, mas não será um livro de 50 páginas, isso eu te garanto. Uma mulher dessa?! Imagina.
Você comentou sobre o programa fazer dois anos, vocês pretendem comemorar?
Nós comemoramos pouco, porque é um programa que está no ar, toda semana. Quando completamos um ano, fizemos uma festinha, e foi superbacana, porque se firmou. Agora é mais o dia a dia. Estamos num momento muito oportuno, e estamos pensando em 2018. Em breve teremos reunião sobre novos quadros, novas apostas, e discutir sobre o que deu certo esse ano, e o que não deu. Mas posso dizer que é a mesma coisa que no “Fantástico”, nós estreamos todo sábado (risos).
E vocês se tornaram uma família praticamente?
Ah sim, nós temos um grupo no whatsapp, e conversamos bastante. Eu acho até clichê falar isso, mas é uma equipe muito unida. De fato, todos nós trabalhamos com recurso super enxuto! Ou trabalhávamos nos entendendo, ou não sairia programa. Nós nos damos super bem. É uma simbiose muito grande. E eu, só conhecia da turma mesmo a Patrícia (Poeta), eu fiz novos colegas, o Tiago (Leifert) que já foi dessa pra melhor (hoje está no “The Voice”), mas a Ana (Furtado), o André (Marques) e a Cissa (Guimarães), são pessoas que eu agreguei.
Você gosta das tarefas do dia a dia de uma casa?
Sou um bom cozinheiro. Esse é um segredinho! (risos) Mas as meninas cozinham bem também. Adoro estar na cozinha, mas sou um pouco bagunceiro, como todo ariano. É difícil eu limpar a cozinha, sou bagunceiro nesse sentido, mas nas outras coisas, sou organizado. Eu tenho duas casas, uma no Rio e outra em São Paulo… Sou mineiro, e gosto de chamar as pessoas pra minha casa. Recentemente estive em Sampa, pra ver o grupo Corpo, e no domingo, marquei um jantar com os amigos em casa, e fiz um macarrão, mas quem arruma toda a bagunça é a Maria (sua colaboradora), graças a Deus (risos). No Rio eu tenho a Antônia, que também é meu anjo da guarda. Numa necessidade, até faço, mas passar roupa, por exemplo, acho que não (risos). Daí o jeito é colocar uma roupa que não amassa, uma camisa, um jeans (risos)…
Recentemente você surgiu na televisão de uma maneira diferente, fazendo uma ponta na novela “Os Dias Eram Assim”. É a primeira vez que você atua na televisão?
Eu fiz um trabalho como ator em 1994, numa peça chamada “Futebol”, com direção da Bia Lessa, e no elenco estavam Maria Luísa Mendonça, Carlos Moreno e Geórgia Gomide. Essa foi minha única experiência atuando. A Bia foi muito corajosa em me convidar. Ela me ligou pra eu participar de um ensaio, quando cheguei, estava a Maria Luísa, que pra mim é um mostro sagrado, maravilhosa. Não sei se ela estava fazendo uma improvisação, mas encostei na parede e pensei: “Não sei fazer isso.” Já se passaram mais de 20 anos, então dá pra entender (risos). Fiz um curso de teatro, e acredito até que tenha me ajudado. Já dancei como muitos já sabem – e não é segredo pra ninguém -, o que me permitiu, talvez ter uma linguagem corporal, mas com trabalho de interpretação. Participar de “Os Dias Eram Assim” foi uma deliciosa brincadeira que topei justamente porque foi um compromisso pequeno e, sobretudo, entrar numa história que foi muito importante pra mim. Adoraria trabalhar um personagem, mas fiz um apresentador de Festival de Música, ou seja, não foi muito diferente do que eu já faço. Já apresentei vários festivais, espalhados pelo Brasil, já estou acostumado. O que eu gostei foi a metalinguagem, porque foi um programa de televisão dentro de uma novela. Adorei a ideia. Já vivi muito esses bastidores; na época do “Vídeo Show”, eu circulava bastante, mas sempre do lado de cá da câmera. Foi muito divertido.
A gente sabe que a vida de jornalista, e ainda mais você que também exerce a profissão de apresentador, é corrida, mas normalmente sobra tempo para assistir novela?
Sou noveleiro! Nós crescemos com isso. É uma tradição! A série que eu participei foi muito especial, porque fez parte da minha história. Eu vivi tudo aquilo. Claro que não tão ativamente, até porque eu era uma criança nos anos 70. Pra mim é muito difícil criar pontos de identificação com a história. Claro que não estou sozinho nessa geração, mas seria complicado se eu tivesse que fazer um personagem, e participar da trama. Eu teria que ter um bom diretor. Na verdade, eu seria um desafio para ele (risos). São tantos anos no jornalismo, que acabamos aprendendo que o personagem é você. O elogio que eu mais gosto de ouvir das pessoas é elas dizendo que sou igualzinho, como na televisão. É claro que não sou exatamente aquele que está lá, mas sou muito transparente no meu papel de jornalista. É diferente quando você tem, ou ouve histórias, de que as pessoas acham que seu personagem está muito malvado em determinado trabalho. Esse tipo de desnível não acontece comigo.
Todos nós sabemos que você adora viajar. Já tem a lista dos lugares que ainda não conhece?
Acabei de voltar de férias da Etiópia, que eu não conhecia. Aproveitei e fui pra Galapos também. A Etiópia é um país difícil, não é um lugar de abundância, mas te dá uma sensação de história muito grande. É o berço cristão, a fé, que nós não imaginamos. Em Parme, toda a filosofia é rastafári, e vem da Etiópia, descobri isso lá também. Eu achei superbacana. Veio a tribo de Jah, tudo da Jamaica. Essa foi uma viagem totalmente diferente, foi de descoberta. Não é uma viagem de luxo, e nem aventura, como eu já fiz anteriormente, como Madagascar. É um mergulho na história. Eu fiquei muito emocionado. Ainda vou escrever sobre ela, mas nas redes sociais. Os monumentos são incríveis. Foram construídas umas 20 igrejas de pedra em Lalibela. Pirei quando visitei! É impressionante. Fiquei muito emocionado, mas é uma viagem sem conforto. Passei por muita dureza (risos). Eu comi o que tinha. É difícil se acostumar com aquela comida, mas pra mim, é o de menos, comparando com outros lugares (risos). A Etiópia eu tirei de letra. Foi ótimo!
(texto: Ester Jacopetti)