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Post: Outubro Rosa: Conheça as ‘Amigas do Peito’

Outubro Rosa: Conheça as ‘Amigas do Peito’

crédito: Karina Len
A saltense Mônica Pittorri encontrou apoio nos pais, nos amigos e no grupo “Amigas do Peito”, que conheceu durante o tratament

No Outubro Rosa, mês de conscientização do Câncer de Mama, Revista Regional conversou com diversas mulheres, integrantes de um grupo chamado “Amigas do Peito”, que revelaram diferentes experiências com o câncer, o tratamento e sua troca de experiência entre amigas

O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres no mundo todo, respondendo por cerca de 25% dos casos a cada ano. Mundialmente, no mês de outubro, acontece a campanha Outubro Rosa, um movimento popular que conscientiza e estimula a população a realizar o autoexame, além de partilhar diversas informações sobre a doença e os tratamentos possíveis. A campanha surgiu na década de 1990 com o objetivo de que ao ter acesso a informação, consequentemente, resultaria na redução da mortalidade pela doença.

O câncer de mama é causado pela multiplicação de células anormais, que formam um tumor. São vários tipos e fatores de risco como ambientais, comportamentais, da história reprodutiva, hormonal, genéticos, hereditários e a idade. Cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos.

Na maioria das vezes, o câncer de mama, se detectado em fases iniciais, possui mais chances de tratamento e cura, como no caso da arquiteta saltense Mônica Pittorri, que há alguns meses terminou o tratamento. Ela conta que não sentiu nada de diferente e descobriu o câncer em exames de rotina que faz anualmente. “Em menos de um mês eu fiz cirurgia e falaram que eu não ia fazer quimioterapia, só radioterapia, e eu acreditei. Meu mundo caiu de novo”, lembra a arquiteta e explica que assim que descobriu o câncer, muitos médicos disseram que era algo simples e o “menos pior”. “Não tem câncer ‘menos pior’ ou bom, bom é não ter nada”, brinca e emenda: “Para o médico pode ser o ‘menos pior’, é a profissão dele, mas para quem tem e recebe a notícia de um câncer, parece que já é a sentença de morte”.

Mônica passou por todo o tratamento necessário. Cirurgia, radioterapia e quimioterapia. “A temida quimioterapia veio com pacote completo: enjoo, vômito, inchaço e tudo que ela oferece. Nada de bom, mas é a cura. No décimo quinto dia meu cabelo caiu e eu ouvi várias vezes ‘cabelo cresce’. Uma dica: jamais diga isso a uma paciente oncológica, provoca ira”, conta rindo. A arquiteta detalha que encontrou apoio nos pais, dois amigos especiais e novas amigas que fez através de um grupo, de pacientes mulheres, chamado “Amigas do Peito”. “Gente nova, com mesmo câncer que você, passando pelas mesmas coisas. Rimos e choramos juntas. Devo muito a elas”, ressalta.

fotos: Arquivo pessoal
Adriane Gärtner escolheu enfrentar tudo com tranquilidade, pensando sempre nos filhos pequenos

Nesse grupo, Mônica conheceu outra arquiteta, Adriane Gärtner, a química Daisy Battistoni, a modelo Gislene Charaba e a médica Fabíola La Torre. “A notícia da doença é muito devastadora. Há menos de um ano do meu diagnóstico, minha irmã tinha terminado o tratamento de câncer de intestino e eu tinha perdido minha mãe havia três meses. O primeiro impacto é: ‘Eu vou morrer’. Na época meus filhos, gêmeos, tinham nove anos e eu só pensava que eles eram muito pequenos ainda e que eu ainda tinha muito que viver com eles e com meu marido”, lembra Adriane e conta que o apoio do marido foi fundamental. “Cada quimio uma surpresa e reações diferentes. Eu só pensava na vontade de ver os meus filhos crescerem e aproveitar muito a vida”, detalha a arquiteta, que escolheu enfrentar tudo com tranquilidade. Adriane conta que nunca se sentiu doente e que a vida passou a ter outro sentido. Coisas pequenas, briguinhas, coisas fora do lugar perderam a vez em suas preocupações. “A gente dá valor às pequenas coisas e momentos na vida”.

fotos: Arquivo pessoal
Para Daisy Battistoni, a difícil experiência com a doença lhe trouxe mais paz, tolerância e desapego

Daisy Battistoni e Gislene Charaba são as caçulas do grupo “Amigas do Peito”. Daisy descobriu o câncer aos 28 anos e Gi, como é chamada por todos, aos 30. Daisy conta que a pior parte é sempre a quimioterapia. “Eu fiz a quimioterapia, mastectomia radical da mama direita com esvaziamento axilar, reconstrução imediata, e radioterapia. Há situações que nos mostram o verdadeiro sentimento das pessoas, e acredito que essa seja uma delas. Algumas pessoas se aproximaram e outras se afastaram. Recebi mensagem, telefonema e visita de quem eu nunca imaginaria”, lembra. Para ela, a experiência como paciente oncológica lhe trouxe mais paz, tolerância e desapego. A vida passou a ter um valor diferente. Ela e Mônica se conheceram numa loja de perucas, o que acabou ocasionando sua entrada no grupo “Amigas do Peito”. “Ela foi maravilhosa comigo, me deu dicas, me tranquilizou ali mesmo e me adicionou ao grupo. Temos uma relação muito legal, uma energia boa, nos entendemos, afinal, sabemos o que cada uma está passando”, afirma Daisy.

fotos: Arquivo pessoal
A modelo Gi Charaba encerrou seu tratamento há um mês: “Força? [risos] Eu nem sabia o que era isso
No grupo, há mulheres em todas as fases de tratamento e pessoas que já receberam alta também, isso proporciona uma troca de experiência imensa para todas. Também integrante do grupo, a modelo Gi Charaba encerrou seu tratamento há um mês, no dia 04 de setembro. Ela foi diagnosticada há um ano e passou por um tratamento puxado, retirando, inclusive, o osso esterno. “Força? [risos] Eu nem sabia o que era isso. Sou bem espiritualiza e tenho muita fé. Acreditei em mim, que eu conseguiria que meu corpo conseguiria e fui levando dia a dia. Confesso que a internet me ajudou e me ajuda muito”, detalha a modelo, que através das redes sociais e um canal no Youtube foi mostrando o dia a dia na luta contra o câncer. Gi conta que passou meses sem contar para ninguém, correndo atrás de tratamento e que, além da aparência física, muito nela mudou. Ela conheceu a atriz e cantora Sabrina Parlatore, que passou pelo

tratamento sem perder os cabelos e foi ela quem acabou adicionando-a ao grupo. “Ela usou a touca que congela o bulbo capilar e não deixa perder totalmente os cabelos. Ela me colocou no grupo e assim eu cheguei até a Monica. Ela foi a primeira a falar comigo, a me ligar, a se identificar comigo e a me ajudar. Devo a minha vida a esse grupo”, afirma a modelo.

O outro lado

A pediatra e infectologista Fabíola La Torre conta que sempre, desde criança, queria ser médica. Ama a profissão e, principalmente, o contato com crianças. Hoje, ela é diretora de uma UTI Pediátrica Oncológica e conta que foi assim que se encontrou na profissão. “Trabalhar com crianças, sentindo de perto o que elas estavam passando, sua força e acompanhar o que seus familiares me diziam no dia a dia me fez ver o porquê do meu objetivo como médica.” Como ninguém está livre, Fabíola passou para o outro lado em 2016, quando descobriu um câncer de mama através de um autoexame. “Meu tratamento foi exatamente igual ao de todas as outras pacientes. O que me deu mais força foi a certeza e confiança no meu diagnóstico precoce devido à minha prevenção sempre realizada; na medicina avançada que cura realmente os pacientes oncológicos e na plena convicção da escolha certa dos meus médicos”, conta a pediatra.

Fabíola explica que muita coisa muda na relação com as pessoas. Como profissional, ela revela que viu que sempre há pessoas com dores maiores que a sua. “Por mais que eu vivenciasse a doença como médica com as crianças, passei a ver o sofrimento dos adultos, suas dificuldades e medos. Eu tenho agora um relacionamento não de médica para paciente, mas de médica-paciente para paciente. É uma coisa surreal. Quando vou contar para as minhas pacientes adolescentes que elas vão ficar carecas com a quimioterapia, eu falo que também já fiquei e mostro minhas fotos.”. O câncer de mama atinge um homem para cada 30 mulheres e não se sabe porquê. “Não é da minha família e não comi alimentos errados, ok? Eu só tinha células alteradas. Por favor, parem de perguntar o porquê. Se passarem por isso, em primeiro lugar, não se culpem. Previnam-se. Façam o autoexame e os exames preventivos.”, aconselha a médica.

Ao final desse mês, Fabíola lançará seu livro “De Médica a Paciente”, um projeto que se empenhou durante seu tratamento e que, segundo ela, deu maior sentido a sua doença. “Tudo isso faz com que a gente entenda que nada na vida é em vão. Eu tenho plena convicção disso. Luto por isso e sempre lutarei”, encerra. O livro conta com depoimentos das “Amigas do Peito”, bem como outros pacientes, ex-pacientes e de seus familiares, além é claro, de todas as informações sobre a patologia do ponto de vista geral.

(reportagem de Gisele Scaravelli)

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