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Post: Isis Valverde em entrevista especial

Isis Valverde em entrevista especial

Isis é destaque como a Ritinha de ‘A Força do Querer’

Atriz rouba a cena como a ‘sereia’ Ritinha, na novela das nove ‘A Força do Querer’, da TV Globo

Considerada uma das maiores atrizes da sua geração, Isis Valverde deixou de ser menina e se transformou numa belíssima mulher. Pelo menos, é assim que a atriz se revela, após ter completado 30 anos. “A principal sensação foi: acabou, eu não sou mais uma garota. Senti uma sensação muito poderosa. Não sei se isso acontece com todo mundo, mas senti um poder sobre mim, sobre a minha mulher, sobre ser forte. Eu me emocionei”, comenta a atriz, que, após dois anos longe da TV, volta como protagonista na trama de Glória Perez, “A Força do Querer”, atual novela das nove da Rede Globo. Sobre sua personagem, Ritinha, Isis é categórica ao dizer que ela é uma força da natureza. “Ela é muito moleca, e isso tem muito a ver comigo. Para a minha personagem, não existe regra de nada. Ela segue o coração dela, e seus impulsos. Às vezes ela se ferra, ferra os outros, mas não é por querer, é simplesmente por não conhecer as regras, do bem e do mal, da ética, da moral. Ela não sabe o que é isso”, explica. E falando sobre empoderamento feminino, já que a atriz demonstrou recentemente ser a favor da igualdade de gêneros, ela acredita que as personagens da novela têm muito a dizer: “A luta feminista não é para as mulheres odiarem os homens. Isso é errado. É uma visão conturbada. É o lado deles e o nosso. A novela fala sobre a força da mulher”, argumenta. Talentosa e cheia de histórias para contar, a atriz conta, nessa conversa com a Revista Regional, sobre os desafios de sua personagem e os projetos que desenvolve no cinema.

REVISTA REGIONAL: Normalmente as personagens criadas por Glória Perez (autora de novelas) fazem muito sucesso. Você está preparada com toda a repercussão da Ritinha, que é uma sereia?

ISIS VALVERDE: Minha segunda participação no Emmy (o Oscar da TV) foi com a Glória, quando eu fiz “Caminho das Índias” (premiada em 2009), e o primeiro, “Sinhá Moça” (finalista em 2006), com o Benedito Ruy Barbosa. Eu tento não imaginar, mas como eu tenho uma prima de dois anos e meio, e ela ficou surtada… (risos) Uma amiga comentou que a filha dela queria a cauda da sereia. As mães vão querer me matar, porque ninguém vai querer ver rabo de sereia, nem conchinha pela frente tão cedo. A cauda é muito pesada, mas no mar tem mobilidade. Na verdade, o mais difícil é quando a água está muito gelada, porque com o corpo frio, o tempo de apneia é muito curto. Eu tive que fazer uma cena com a água viva. Até que eu não tive medo, mas no começo eu quase morri, porque ela era muito grande. Mas no final eu já estava passando a mão nela.

Você comentou sobre precisar fazer apneia, chegou a praticar aulas específicas para controlar o fôlego?

Eu fiz! Fico dois minutos em apneia, em movimento, porque era o que eu queria atingir. E quatro, em estática. Foram duas horas de treino, por dia, durante três meses, mais a dança de carimbó. Então imagina, um dia eu saí da aula de mergulho, e fui aprender carimbó. No final eu já estava mais pra lá do que pra cá…  (risos). Eu estava literalmente dormindo em pé…

Essa questão da apneia foi muito difícil ou você tirou de letra?

Eu achei muito difícil, tanto que quando a instrutora comentou que eu tinha que começar com 12 segundos, eu achei que seria impossível. Olhei pra cara dela e falei que não ia conseguir. Eu desço quatro ou cinco metros. A agonia é olhar pra cima, porque se você ficar pensando nisso… Tem uma cena, que eu solto o corpo dentro do mar, de cabeça pra cima, então tem que aprender a fazer uma trava, porque eu tenho que lidar com a água entrando no meu nariz. Bem fofo! (risos) No final, quando eu saio, tenho que ficar de cabeça pra baixo, pra sair a enxurrada de água.

Existe um grupo de mulheres que pratica o sereismo. Como foi esse encontro?

Coloquei as minhas meninas dentro da minha casa (risos). Chamei pra tomar café, coloquei num quarto, bati um papo, e a partir daí, eu só absorvia, sugando a alma delas, de canudinho (risos). Mas eu fiz laboratório com uma menina, chamada Mirella, que é uma sereia profissional.

A Ritinha é uma menina livre que tem o desejo de conhecer o mundo, e em torno disso, acontece o triângulo amoroso…

A Ritinha é uma sereia, e eu tenho que acreditar no que ela acredita. Então, vamos deixar isso bem claro. A mãe dela fala que ela é filha de um boto. As sereias não se apaixonam, elas amam até certo ponto, mas é um amor diferente. Nós vamos aprender ao longo da novela, como é esse amor. Eu acho lindo, porque eles ficam loucos. Só que ela é sereia, tem o desejo de conhecer outros peixes (risos). Ela quer passear no mar, e você percebe que ela tem um coração puro. É muito verdadeira, e isso é muito bom.

Você também tem essa busca com as personagens, de desbravar, de viver novas vidas, pelo menos, é o que percebo quando a entrevisto…

O que eu tenho de comum com a Ritinha, que eu amei nela, é essa relação com a natureza. Essa é uma característica que eu sempre tive. Adorei nadar com os botos, e eu fiquei muito amiga deles. Vou te contar uma história, não estou brincando, quando eu vi não acreditei. Eu fiz uma cena com o boto, e fui para outra praia, quando eu entrei no mar, pediram pra eu sair da água, não era uma cena com o boto. De repente, eu senti uma cutucada na minha perna. Eu reconheci que era a Estrela (boto). Ela me seguiu. Essa relação com o bicho é inacreditável…  A Ritinha sobe na árvore igual ao macaco, corre pra caramba. Ela é muito moleca, e isso tem muito a ver comigo. Sempre amei a natureza, mas de resto, eu queria ser igual a ela. A Ritinha acredita que é uma sereia, eu não acredito, e vivo nas regras sociais, com ética que foi construída, mostrando um pouco essa coisa do feminismo e tal, que está ganhando força, mas a Ritinha desconhece todas elas. Pra ela, não existe regra de nada. Ela segue o coração dela, e seus impulsos. Às vezes ela se ferra, ferra os outros, mas não é por querer, é simplesmente por não conhecer as regras, do bem e do mal, da ética e da moral. Ela não sabe o que é isso. Eu brinco dizendo que ela é uma força da natureza.

Você comentou sobre o empoderamento feminino, em que momento você percebeu que era feminista?

Eu acho que descobri quando eu era mais nova, quando a minha mãe soltou uma frase: “Que pena que ela nasceu mulher”. Eu perguntei: “Oi?”. Eu acho que foi a partir desse dia, que eu comecei a descobrir a diferença entre gêneros, social e político. Eu me engajei. Essa é uma novela que tem personagens que falam disso. Por conta da sociedade, naturalmente machista, acredito que os homens fazem por condicionamento, porque se eles pararem pra pensar, o feminismo é a luta pela igualdade. E eles também irão lucrar com isso, porque eu já vi amigo meu, não querer chorar, não querer ajuda quando está doente, porque é homem, é machão. “Não me ajuda, porque eu estou bem”. A pessoa está esvaindo em febre, e tem medo de falar. Por um lado, eles irão enxergar que até eles mesmos serão ajudados. Quando houver igualdade, eles pedirão ajuda, serão emotivos. Porque homem não pode chorar? Isso também é uma luta feminista. A luta feminista não é para as mulheres odiarem os homens. Isso é errado. Então, vou ser feminista e vou odiá-los?! Não! É uma visão conturbada. Não é para odiarmos os homens, e sim procurarmos igualdade. É o lado deles e o nosso. A novela fala sobre a força da mulher. São três mulheres fortes (referindo-se às personagens dela, de Juliana Paes e Paola Oliveira).

Sua última novela foi “Boogie Oogie” (2014) em que você e o Marco (Pigossi) faziam par romântico. Como é repetir essa dobradinha?

Muito louco, né?! Falei pra ele: “De novo querido”. Ele começou a rir. Agora tem a Paolla (Oliveira) e outra galera que entrou, porque se não ficaria chato, né?! Eu amo ele, pra mim é um prazer. Ele é um excelente ator.

Neste momento, você volta a ser o centro das atenções, e o assédio da imprensa aumenta, e todo mundo começa a perguntar sobre a sua vida pessoal…

Eu acho que fiquei dois anos, e eu tenho 12 de carreira, porque comecei com 17, no início eu era mais ingênua, sabe?! Sem saber o que eu poderia falar, o que não poderia. Porque tem dessas coisas. A pessoa quer buscar uma informação só pra poder usar de outra maneira. Eu aprendi a lidar com isso, acho que amadureci. Hoje eu tenho 30 anos, e aprendi a colocar um limite. O seu limite termina, quando o meu começa. E aí, ok! Porque tem coisas que é de curiosidade mesmo, como nós falamos hoje, sobre feminismo, aulas de mergulho, natação, e mil coisas. Em nenhum momento me senti aviltada, entendeu?! É o modo como você conduz.

Nesse período em que você ficou longe da televisão, chegou a se dedicar a outros projetos?

Eu tirei dois anos de férias da televisão, mas estava fazendo cinema. Fiz três filmes, um eu acho que será lançado ainda esse ano. Foi bom! Os filmes são: “Amor.Com”, “Pedro Malasartes e o Duelo com a Morte”, e “Wilson Simonal”. É um drama, comédia e fantasia. São três gêneros diferentes.

São três gêneros diferentes, mas o que você acha que faz melhor: rir ou chorar?

Eu amo os dois, tanto um, quanto o outro. Não gosto da mesmice, gosto de mudar, de fazer comédia, drama, choro pra caramba, até ficar seca, e depois embarco numa fantasia, que é o caso desse filme (“Pedro Malasartes e o Duelo com a Morte”), em que os personagens voam, tem efeitos especiais, que vieram de fora. O filme está um primor. Tá lindo!

Seus personagens mudam constantemente, mas não só as características ou personalidades, mas também o sotaque. Como você se prepara?

Quando eu era pequena, tinha mania de imitar as pessoas. Minha prima é carioca, e quando ela chegava na minha cidade (Aiuruoca), ela tentava me imitar, e dizia: “Eu não falo assim, falo porta, portão e porteira (com sotaque carregado). Ela com o X, parecia um rádio estragado (risos). Eu a imitava muito bem. E mais tarde eu conheci a Iris, que faz prosódia, e é uma monstra. Sabe tudo sobre sotaques, explica super bem, do porque nós falamos assim. Ela me ensinou tudo. Quando eu tenho um personagem com sotaque, vou atrás dela. Eu acho que tenho um bom ouvido. Mas nada que seja perfeito, eu tento fazer o meu melhor.

No início das gravações, a equipe viajou para Belém, e você postou algumas fotos com os moradores. Como foi essa experiência?

Eu agradeço a produção pelo pulso, pela logística, de como eles conduziram as filmagens. Eu não ia conseguir. Teria desistido. Tinha um mercado (o famoso Ver-o-Peso), você já viu aquilo?! Eu passando do lado do pescador mesmo, imagina ele de cara com uma sereia pendurada. A galera ficava gritando: “Joga a sereia pra cá, corta essa cauda, vamos comer esse rabo” (risos). Umas coisas assim (risos). E o povo enlouquecido. Mas foi uma logística que não desagradou ninguém. Não atrapalhamos o comércio, e eles também não atrapalharam, pelo contrário, interagiram com a gente. Foi quase que: “Pô, ajuda aí que nós estamos tentando”. Aí a galera ajudou.

E como foi pra você receber o carinho dessas pessoas?

Com o coração aberto. Eu sou assim, amo criança, elas têm uma coisa comigo, e lá várias delas no colo, vinham, e eu com o cabelão, cheio de conchinhas, elas se encantavam de cara. Foi um carinho que senti, em todos os caminhos que fiz na gravação. Já tinha esquecido, porque fazia muito tempo, que eu não estava trabalhando, estava viajando pelo Brasil, e trabalhando mais em filmes mesmo, que não têm tanta gente. A volta do contato com o público foi emocionante. Um carinho e amor muito grande.

Durante nossa conversa, você até falou sobre estar com 30 anos, quando essa data chegou, você sentiu alguma crise?

Eu escrevi um texto gigante no meu instagram, e eu acho que ele tem essa coisa meio “eu vou, eu volto”. Acordei e tinha 30 anos. Eu me olhei no espelho e comecei a rever um monte de coisas. A principal sensação foi: acabou, eu não sou mais uma garota, fechei ali, mas não fechei com dificuldade, com drama. É uma nova porta me esperando, agora vamos. Aí eu fui. Senti uma sensação muito poderosa. Não sei se isso acontece com todo mundo, mas senti um poder sobre mim, sobre a minha mulher, sofre ser forte. Eu me emocionei.

Quer dizer que você percebeu quais são os caminhos que você pretende tomar na sua vida…

No texto, eu falo que aprendi, que nós nunca vamos agradar todo mundo. Desde pequena, sou filha única, e eu tinha mania, quando chegava na casa da minha avó, de agradar todos os meus tios. Até cafuné eu fazia. Eu jogava baixo. Descobri que não é assim. Nós não temos como agradar todo mundo. Dizer “não” é maravilhoso, é libertador. Você começa a conhecer o seu corpo melhor, a ter prioridade na sua vida. Em primeiro lugar, vem a minha saúde, segundo a minha família, e terceiro o meu trabalho. Eu tento não atropelar, sabe?!

texto: Ester Jacopetti

fotos: Rodrigo Lopes

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