Problema acomete principalmente mães que dedicaram a vida a cuidar dos filhos; especialista orienta como passar por essa fase de maneira adequada e saudável
Assim que descobrem que irão ter um filho, os pais parecem ter uma vida nova pela frente, porque tudo é novidade: a nova rotina, os novos móveis na casa, as novas responsabilidades e, claro, as novas sensações. De repente, ali estão duas pessoas que antes tinham preocupações bem diferentes e, agora, são seres que se veem completamente voltados à vida da criança que conceberam ou adotaram.
As mães, em particular, sentem os embates internos por volta de quatro ou seis meses depois do nascimento ou adoção da criança, que é o tempo médio da licença-maternidade para as mulheres que trabalham. E então a dúvida aparece: voltar ou não voltar ao trabalho? Eis a questão. Se a opção é voltar, um milhão de preocupações na cabeça o dia inteiro. Se a opção é não voltar para cuidar exclusivamente da cria, um milhão de dúvidas.
Muitas mães parecem não perceber, mas, bem aí nesse exato momento, diante de uma questão tão comum para a maioria das mulheres que têm filhos, está o ponto de partida para que, no futuro, ela possa sofrer com a chamada Síndrome do Ninho Vazio. Esta síndrome, que pode ter características da depressão, acomete os pais, mas afeta principalmente as mães, no momento em que os filhos, já grandes, resolvem sair de casa.
Dedicação
A casa, antes cheia de marcas de dedinhos nas paredes, de repente fica silenciosa, vazia e, para muitos pais, “perde a vida”. As crianças de outro dia agora são adultas e alguns pais parecem não se dar conta de que os filhos cresceram. “Nesse momento, é como se o papel que os pais exerceram durante muito tempo tivesse se tornado dispensável, diante da independência dos filhos”, explica a psicóloga Sarah Lopes, do Hapvida Saúde.
Não é possível prever qual pai ou mãe vai sofrer com a síndrome no futuro, porém, segundo a especialista, em geral, os genitores que são mais apegados aos filhos e abriram mão de tudo – trabalho, vida amorosa, etc. – para cuidar deles costumam sentir mais essa ausência. “Especialmente a mulher, na sociedade machista, ainda se vê na obrigação até inconsciente de largar a própria vida para viver a dos filhos, o que é um risco tremendo, pois ela não tem uma vida nova quando os filhos nascem, pelo contrário, é a mesma vida, só que com papéis adicionais que ela vai precisar equilibrar para continuar sendo quem já era, só que mãe também”, orienta a psicóloga.
Depressão
Apesar de ter os sintomas muito semelhantes à depressão clássica, como tristeza profunda e desejo de clausura, isto é, ficar em casa, evitando ambientes de convívio social, a Síndrome do Ninho Vazio estabelece uma sensação de inutilidade que é direcionada especialmente para a responsabilidade e o papel dos pais na vida dos filhos. “Geralmente, a síndrome se limita ao tempo da ruptura, mas tende a terminar quando os pais voltam a restabelecer a rotina da casa e do casal sem a presença dos filhos ou, ainda, com a chegada dos netos no ambiente familiar”, ressalta Sarah.
A síndrome pode variar de três a seis meses, que é o tempo de adaptação. Segundo a especialista, caso esse período se estenda, é necessário um acompanhamento. “Aí, o tratamento é semelhante ao de um quadro depressivo, sendo avaliada a necessidade de uma terapia medicamentosa, prescrita e acompanhada por um profissional”, explica.
Liberdade
A melhor forma de se evitar cair na tristeza pela ausência dos filhos é tentar acompanhar o crescimento deles fora do ambiente familiar. Mas os filhos também precisam ter cuidado com os sentimentos dos genitores, como recomenda a psicóloga: “É interessante programar um almoço periódico, semanal, com os pais, onde todos possam se encontrar”. Já os pais devem estabelecer meios de lazer sem que os filhos necessariamente precisem estar envolvidos. “É fundamental que os pais aproveitem essa independência para aproveitarem a liberdade de tomar atitudes em prol de si, sem a preocupação com os filhos, fazendo coisas que sempre tiveram vontade de fazer, mas antes eram impedidos”, recomenda a psicóloga.
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