O olhar do fotógrafo ituano Marçal Mateus sobre campos de concentração nazista da Segunda Guerra em uma exposição na Espanha
O campo de concentração nazista na Polônia, Aushwitz, ficou conhecido por ter sido palco de extermínio de judeus, entre os anos de 1940 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. A comando de Adolf Hitler, diversas instalações foram construídas na Polônia sob domínio alemão e tinham a finalidade de serem campos de concentração, onde prisioneiros eram enviados para trabalho escravo, experimentos médicos e para o encontro da morte. Apesar de ser algo mais distante para nós, brasileiros, não podemos ignorar o maior genocídio da história mundial e muito menos esquecê-lo. Pois como disse Edmund Burke: “Aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la”.
Hoje, esses mesmos campos de concentração que foram cenários do horror são visitados diariamente por pessoas, turistas, curiosos e pesquisadores atentos. Na época em que a Europa comemorava os 72 anos da liberação de Aushwitz pelos russos, o fotógrafo ituano Marçal Mateus realizou a exposição “Auschwitz nunca mais!” na Espanha, onde vive desde 2005, revelando um olhar sensível e atento sobre o que restou dos antigos campos de concentração. “Foram escolhidas 20 fotos que contavam os caminhos dos judeus nos campos de concentração nazista na Polônia; desde a chegada do trem, os banhos, deixando os objetos pessoais, a câmara de gás, os dormitórios. Busquei retratar os detalhes, mas centrando-me na paisagem dos lugares afetados e o mundo criado pelos sobreviventes”, explica o fotógrafo. A exposição contou com três meses de planejamento e teve uma repercussão muito grande pelo país.
Marçal passou um ano planejando a viagem e estudando sobre a Polônia e sobre os lugares que iria fotografar. A rede de campos de concentração era imensa e milhares de judeus passaram por ali, em sua maioria, sua última estadia. “Não se compara em nada o sentimento de estar ali. Durante os dias que estive nos campos, muitos sentimentos emergiram. Quando você fotografa, você sente que uma parte sua fica e você leva nas fotos essa dor. Quando eu vejo as fotos agora, não consigo deixar de imaginar o que foi essa guerra. Esse foi o objetivo da exposição, dar-se a conhecer os lugares de uma das tragédias mais marcantes da história de nosso mundo”, ressalta.
No total, o fotógrafo esteve em cinco campos de concentração nazista: Auschwitz, Birkenau, Majdanek, Belzec e Sobibor, todos na Polônia. As fotos foram feitas entre janeiro e fevereiro de 2016, durante 27 dias. “Foi uma sensação sem igual, de pensar em como somos pequenos. O maior campo era o de Auschwitz-Birkenau. Estive lá por quatro dias e era tão forte a sensação que, no último dia, passei o tempo todo sentando debaixo de uma árvore, refletindo sobre tudo que estava vivendo. Foi uma experiência ímpar na minha vida. E recomendo! É importante conhecer de perto a história”, afirma Marçal.
O ituano vive na Europa desde 2001, quando embarcou numa jornada para Portugal, vivendo em várias cidades. Quatro anos depois, instalou-se na Espanha, onde vive hoje. Para ele, a fotografia sempre foi uma paixão, mas foi ao assistir o filme Blow-up que deu um estalo de que era isso que queria para a vida. A viagem para os campos de concentração foi financiada de forma coletiva e suas fotos agora estão sendo preparadas para um livro, que será enviado para os financiadores. Além disso, Marçal explica os projetos futuros. “Tenho outro projeto, mais pessoal e íntimo, sobre o Caminho de Santiago. Já havia lido muito sobre o assunto e em setembro de 2016 embarquei nessa jornada, desde a cidade francesa de Sant Jean de Pied de Port e cruzei todo o períneo e a fronteira da Espanha. Caminhei durante seis dias, 108 km, mas não pude continuar. Isso despertou em mim o desejo de voltar e completar esse caminho, para completar essa busca ao meu interior e ser revisitado pela fotografia”.
fotos: Marçal Mateus