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Post: A fotografia como luta social

A fotografia como luta social

Círio de Nazaré. Belém (PA)

O fotógrafo Leonil Jr é recém-formado, mas já está se destacando e emocionando através de seus registros fotográficos documentais de Congados, aldeias indígenas e até do famoso Círio de Nazaré

 A história de Leonil Jr com nossa região começou em 2014 quando ingressou para cursar Fotografia no Ceunsp, em Salto. Natural de Joanópolis, cidade na divisa de São Paulo e Minas Gerais, o fotógrafo conta que quando criança ganhou de presente uma máquina fotográfica e brincava de fotografar a natureza onde morava. Teve grande influência da fotógrafa KK. Alcolver, que era vizinha do sítio onde morava. “Ela contou que era fotógrafa aposentada e eu contei do meu interesse por fotografia. Acho que eu tinha uns 11, 12 anos. Um tempo depois, ela abriu um curso de fotografia básica numa Casa de Cultura em Joanópolis e eu fui fazer. Até que meu pai viu que eu realmente gostava e super me incentivou e me deu uma câmera semiprofissional”, lembra Leonil.

Encantado pela fotografia, ele começou a estudar e pesquisar mais sobre o assunto e com o tempo percebeu que poderia fazer isso profissionalmente e encontrou o curso superior em Salto. “Meus pais são pessoas simples. Eu sou o primeiro da família a sair de casa e a ter um diploma universitário. Meu pai me deu o maior apoio e como tinha feito Enem, consegui uma bolsa do Prouni. Só assim consegui estudar”, explica. Hoje, Leonil faz fotografia documental e gosta muito de trabalhar com cultura popular e folclore. Entre seus cliques ele já registrou diversos Congados pelo Brasil, o Encontro de Culturas/Aldeias Multiétnicas em Goiás (2015) e o Círio de Nazaré, tanto em 2015 quando esse ano, que aconteceu no último mês de outubro. “Quando eu entrei na faculdade eu passei por uma entrevista com o [professor] Felipe Sales e ele que percebeu que eu tinha essa ligação com a cultura popular e espiritualidade. Pra mim, fotografia é espiritual, não consigo fazer foto senão estiver conectado com alguma coisa. Já tentei fazer e não dá certo”, explica o fotógrafo. O único projeto montado de Leonil é a série “Rosário dos Pretos”, que nasceu a partir de seu trabalho de conclusão da faculdade, chamado “Brasil Fé e Festa: Do Sagrado ao Profano”, que já foi exposto no Sesc Sorocaba e num festival de fotos esse ano em Itu. “Não tem como fotografar hoje e amanhã estar pronto. Eu venho fotografando Congados desde 2013”, afirma. As fotos redondas, de forma que juntas, acabam por formar um Rosário.

Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros / Aldeia Multiétnica. Vila de São Jorge (GO)

Além de Congados, nos últimos três anos, o jovem fotógrafo teve a oportunidade de fotografar o Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha e o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros (Aldeia Multiétnicas), em Goiás, considerado o maior encontro do Brasil de culturas tradicionais indígenas, que reúne povos milenares para uma vivência focada na troca de experiências. “Eu me inscrevi no edital e fui selecionado. Mais uma vez, contei com apoio do meu pai. Nunca tinha estado numa oca ou com pessoas que não falam português. A aldeia tem diversas etnias e nesse encontro é muito legal porque tem feira de troca de semente. A gente, que é de esquerda, luta por essa coisa de sementes crioulas, contra os transgênicos e esse encontro tem essa pegada de semente crioula, de discutir terra, demarcação de terra. Ali pra mim ficou claro que minha busca é pela minha essência. Não minha essência como Leonil, mas minha raiz, meu tronco familiar”, detalha.

Em seguida veio o Círio de Nazaré, que era um sonho do fotógrafo. “Conheci o Guy Veloso, que faz fotografia documental também e pude me hospedar na casa dele para fotografar o Círio. Eu queria ir à corda e fui! Seis horas da manhã já estava meio perto da corda e aquilo lotado, lotado, lotado. Eu não sei como, mas, consegui atravessar a procissão. Aquilo é um nível absurdo. Minha lente embaçou de tanta umidade e no empurra empurra seu corpo dança, não tem como. O Círio mexe muito comigo, não tem como explicar”. No mês passado, já com patrocínio profissional, Leonil teve a oportunidade de voltar a Belém para fotografar o Círio novamente.

Maracatu Rural

O fotógrafo conta que em sua vida as coisas, os trabalhos e oportunidades vão surgindo naturalmente. Segundo ele, tudo pautado por sua espiritualidade. Hoje, faz fotografias documentais e ele mesmo não consegue acreditar nos eventos que já participou desde que começou a estudar. “Eu cresci rodeado por mestres, meu pai e minha mãe, a KK., uma professora chamada Neide Rodrigues Gomes, uma folclorista brasileira e tive e tenho apoio de muitos outros”, ressalta. Com um foco social, o fotógrafo explica que apesar de já ter exposto suas fotos, não quer ganhar dinheiro com elas, se as comunidades que registrou não ganharem nada com isso. Para ele, não seria justo. “Minha fotografia é luta social. Tanto com os indígenas, quanto os quilombolas e outros. Eu não quero conseguir pra mim, quero conseguir pra eles. Acho um absurdo ganhar dinheiro numa foto e o fotografado não ganhar nada, por exemplo. Se eu vender uma foto, eu quero dar uma parte para a salvaguarda desses grupos. Sinto meu trabalho como algo espiritual, não algo pra mim”, encerra.

texto: Gisele Scaravelli

fotos: Leonil Jr.

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