>

Post: Os tesouros do Museu Republicano

Os tesouros do Museu Republicano

Antigo sobrado na Barão de Itaim, hoje sede do Museu Republicano

À primeira vista, o Museu Republicano de Itu é um lugar de memória que nos transporta aos acontecimentos de 18 de abril de 1873, mas o que muitos não sabem é o que ele abriga além de suas portas. Um acervo inimaginável, ao grande público, contém itens raros e essenciais para a compreensão da história de Itu, do Estado de São Paulo e do Brasil

O Museu Republicano “Convenção de Itu” é uma joia na região. Especializado no campo da história e da cultura material da sociedade brasileira, o local tem como tema central de estudos o período de configuração do regime republicano no Brasil.

Localizado num sobrado do século XIX, tombado pelo patrimônio histórico, o lugar é conhecido por seus ricos painéis de azulejos, idealizados por Affonso de Taunay, que retratam episódios históricos da cidade de Itu e do Estado. Além de ser aberto ao público, que pode percorrer suas salas e conhecer o local onde aconteceu a Convenção Republicana, em 1873, o Museu salvaguarda uma infinidade de documentos, coleções, fotos e objetos que permeiam a história nacional. Ele foi formado na gestão do diretor Affonso Taunay, entre 1923 e 1945, que privilegiou, inicialmente, vestígios históricos relacionados à “Convenção de Itu”, mas desses anos pra cá, vem crescendo.

Entre telas, móveis, fotografias, postais e muitos outros, há um acervo riquíssimo e com infinitas possibilidades de pesquisa. Mas, além do que os olhos de seus visitantes podem ver, existe o Centro de Estudos, localizado em outro imóvel, na mesma rua e vive em constante exploração de seu acervo. A especialista em pesquisa Dra. Anicleide Zequini fala sobre parte da coleção e afirma que há coisas raras e frágeis que fazem parte de nossa história. “Tudo que temos aqui é material único. Por exemplo, temos a documentação da ‘Convenção de Itu’, temos a ‘Coleção Prudente de Moraes’, a ‘Coleção Washington Luiz’, a ‘Coleção Nardy Filho’, a ‘Coleção Edgar Carone’ e tantas outras, que é difícil falar de tudo. Cada dia a gente pega uma coisa para poder ler e se dedicar mais”, explica.

A Ata da Convenção

Do acervo nominal do Museu, os documentos da “Convenção de Itu”, datados de 1873, têm como destaque o Livro Ata da Convenção e o Livro de Assinaturas. A pesquisadora explica que atualmente está trabalhando num projeto de levantamento dos Convencionais, 133 ao todo. “Estou pegando os 133 Convencionais, as fotos que foram enviadas para serem usadas de base para fazer os quadros, imagens dos quadros e pesquisando histórico de cada um”, revela, acrescentando que isso só é possível, pois há assinaturas deles no livro de registro, embora haja notícia de que a “Convenção de Itu” recebeu mais de 200 pessoas. “A Convenção foi organizada para reunir os representantes dos Clubes Republicanos da província. Então cada clube mandou uma pessoa. A casa estava aberta, mas só se registrou quem veio representando um clube, isso não quer dizer que só estiveram presentes 133 pessoas. Veio quem quis, mas quem deixou marca e registro, efetivamente, foram esses 133”, ressalta a pesquisadora. O livro é um exemplar histórico de encher os olhos para quem aprecia a história do Brasil. Pelas páginas, podemos ler assinaturas e mais assinaturas, seguidas pelo local de origem de cada participante, entre eles, Itu, Porto Feliz, Capivari, Indaiatuba e muitos outros. Já na Ata do Partido Republicano de Itu, aberta por João Tibiriçá Piratininga, pode-se ler os acontecimentos da noite que mudou o rumo do Brasil.

Além dos documentos da “Convenção de Itu”, outra coleção que está no foco da pesquisa no Museu e vem sendo redescoberta a cada nova leitura e apreciação é a “Coleção Washington Luís”. Documentos do acervo do museu conseguem nos levar pela trajetória do político brasileiro. “É bem interessante porque pega toda a trajetória política dele, inclusive as visitas dele a Itu. Ele inaugurando o asilo, o banquete que foi dado e inclusive o convite que recebeu, que é bem interessante porque tem o menu do que foi servido e no fim uma charge dele”, explica Anicleide.

Washington Luís foi presidente, exerceu o décimo período de governo republicano (1926-1930) e seu lema era: “Governar é abrir estradas”, sendo assim, no convite que recebeu para a inauguração do asilo de Itu, há uma charge dele consertando um carro. “Isso é uma joia até para a história de Itu”, acrescenta a pesquisadora. Além disso, no acervo há fotografias dele em Itu, em inaugurações, eventos e inclusive, em inaugurações de estradas.

Antigas correspondências

Entre as coleções menores, destaca-se uma com grandes nomes, porém de poucos itens, únicos e frágeis. A “Coleção Padre Miguel Correa Pacheco” contempla correspondências recebidas pelo padre entre os anos de 1875 e 1883, e entre elas uma carta do artista plástico ituano José Ferraz de Almeida Junior. “É uma carta que fala da compra do órgão da Igreja Matriz [de Itu], em Paris. É a tramitação da compra. O Almeida Junior foi ver esse órgão, e mandou uma carta para o padre falando que esteve com a pessoa que fabricava para ver o órgão e que custava tanto. Parece que quem vai e efetiva a compra é o João Tibiriçá Piratininga”, explica Anicleide, mostrando as cartas e chamando a atenção para a assinatura de Almeida Júnior. No conteúdo, eles citam que foi levada a planta da igreja, e conversam, chegando à conclusão de que órgão cabia no espaço físico e necessidade da igreja na época. A pesquisadora ainda ressalta a importância de tais documentos: “Isso é tudo material único. Essa carta, por exemplo, que te mostrei, se eu picar já era”, brinca e afirma que o próximo passo é digitalizar todo esse material para arquivo.

Assim como a visitação no Museu Republicano, esse acervo rico e cheio de tesouros e raridades para nossa história pode ser acessado por qualquer pessoa. Anicleide afirma que o acervo do Museu é aberto a pesquisadores e ao público em geral. “A única coisa que a gente pede é um agendamento prévio, por conta do tamanho da sala e para que possamos dar uma atenção e ver o que a pessoa realmente quer”. Para pesquisar ou conhecer esse arquivo, ou até mesmo para quem trabalha na área de pesquisa ou está efetuando um trabalho, a pesquisadora e historiadora afirma que um documento primário exige outro tipo de manuseio e leitura. “A pessoa tendo vontade de fazer um trabalho pode vir conhecer, porque tem gente que nunca pegou um documento primário na mão. Não sabe como ler, manusear, nada! Mas se você quer se tornar pesquisador, desenvolver um conhecimento novo, teria que ir às fontes, ler e pesquisar”, encerra depois da condução pela viagem no tempo a períodos diferentes e especiais na história de Itu e do país.

MAIS: O Museu Republicano Convenção de Itu fica na rua Barão de Itaim, 67, Centro, e está aberto para visitação de terça-feira a domingo, das 10h às 17h. Já o Centro de Estudos fica na rua Barão de Itaim, 140, e fica aberto de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17h.

texto: Gisele Scaravelli

 Foto: Acervo Museu Republicano “Convenção de Itu”

# DESTAQUES

Abrir WhatsApp
1
ANUNCIE!
Escanear o código
ANUNCIE!
Olá!
Anuncie na Revista Regional?