Por trás de um talento, a atriz Cléo Pires revela-se uma mulher com o desejo de fazer um mundo melhor para todos
Filha de uma das atrizes (Glória Pires) mais conceituadas da dramaturgia brasileira, Cléo Pires demonstra, e não é de hoje, sua versatilidade quando o assunto é trabalho e, já acumula mais de 20 personagens em sua carreira, tanto no cinema como na televisão. Durante nosso bate papo, pedimos para que ela analisasse os pontos positivos e negativos e, sua resposta foi o que esperávamos, com muita personalidade, franqueza, segurança e racionalidade. “Todos os papéis que eu fiz, seja na televisão ou no cinema, foram importantes pra eu ser quem sou hoje. Aprendi muito com cada um deles e espero aprender cada dia mais. Eu amo cinema, aliás, foi onde comecei. Personagens são personagens, seja na telona ou na telinha, mas o mundo do cinema como um todo me fascina. Só vivendo pra entender. Eu não tenho regras para escolher um personagem. Gosto daqueles que me desafiam, que me tiram da zona de conforto”, afirma. Mas não são apenas os personagens que transformam a vida da atriz. Envolvida com projetos sociais, ela diz que é importante desenvolver trabalhos no qual acredita. “Eu acredito que podemos mudar a vida, uns dos outros. Não acredito nessa história de salvador da pátria, sabe?! Essa experiência também mudou a minha vida. De certa forma, isso me afeta e me muda para melhor”, conta Cléo, que participa de um projeto em parceria com a Unesco. “Tenho vários projetos que ainda quero desenvolver e trabalhar com o ser humano, seja ele criança, mulher ou homem. Acredito que se cada um de nós fizermos um pouco, vamos conseguir um mundo melhor para todos”, completa. Além de estar no ar na TV em dose dupla, na novela ‘Haja Coração’ e no seriado ‘SuperMax’, Cléo foi alvo de críticas recentemente ao estrelar uma polêmica campanha para divulgar as Paraolimpíadas do Rio. A partir de agora, você irá conhecer um pouco mais sobre a personalidade dessa atriz, que tem muito a dizer. Confira!
REVISTA REGIONAL: Recentemente você comprou uma casa na comunidade do Vidigal (no Rio de Janeiro) para projetos sociais. Como surgiu essa ideia e do que se trata exatamente?
CLÉO PIRES: A casa foi comprada em parceria com uma amiga, a Marcia Veiga Lima, com quem compartilho das mesmas ideias e alguns projetos. O objetivo é estarmos, de fato, inseridas com a comunidade para desenvolvermos trabalhos nos quais acreditamos. E claro, o Vidigal tem uma das vistas mais lindas do Rio de Janeiro e um contexto superinteressante. Isso tudo contribuiu para nos encantar e querer estar ali.
Além desse projeto, você mantém parceria com a Unesco, ajudando a levar água potável para Cabo Verde, na África. Em que momento você percebeu que poderia ajudar a mudar a vida dessas pessoas?
É um projeto desenvolvido junto com a Unesco, em conformidade com o PHI (Projeto Hidrológico Internacional), que tem como objetivo levar água potável a escolas de países membros pertencentes a CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Eu acredito que podemos mudar a vida uns dos outros. Não acredito nessa história de salvador da pátria,
sabe?! Essa experiência também mudou a minha vida. De certa forma, isso me afeta e me muda para melhor.
A atriz americana Patrícia Arquette comentou sobre a desigualdade de salários entre homens e mulheres. Apesar da evolução, ainda há diferenças a serem contornadas na questão da igualdade, mas você diria que a violência contra a mulher é um dos pontos mais altos a serem combatidos?
Não sei se é o mais alto, temos muitos temas para combater e, sem dúvida, a violência contra as mulheres é um deles. Tenho vários projetos que ainda quero desenvolver e trabalhar com o ser humano, seja ele criança, mulher ou homem, me interessa muito. Acredito que se cada um de nós fizermos um pouco, vamos conseguir um mundo melhor para todos.
Mudar o visual faz parte para compor melhor o personagem. No seriado, “SuperMax” você interpreta uma presidiária e, por esse motivo, colocou dreadlocks. Como foi essa experiência?
Quando eu estava lendo sobre a personagem, comecei a pensar como ela seria e, conversando com uma amiga, Vânia Brito, que também é atriz da série, chegamos nos dreadlocks. Durante o período que eu usei, amei! Sempre quis colocar e aquele foi o momento certo. Eu gostei muito e foi a fase que eu me achei mais bonita e mais sexy. Achei que iria odiar tirar, mas foi um alívio. A cabeça ficou mais leve e de fato estou tendo menos trabalho. Na época eu só podia lavar os cabelos dia sim, dia não.
Para essa personagem você precisou fazer algum trabalho especifico?
Tive alguns cuidados, mas nada tão difícil de cumprir.
Aparentemente as novelas estão cada vez mais adiantadas. Dessa forma você acredita que o ator tenha mais tempo para desenvolver melhor o personagem?
Não acho que estão adiantas, acredito que estão como sempre foram, mas sim acho importante termos um tempo de preparação.
Analisando a sua carreira até aqui, quais são os pontos positivos e negativos que você destacaria?
Não vejo pontos negativos, todos os papéis que eu fiz, seja na televisão ou no cinema, foram importantes pra eu ser quem sou hoje. Aprendi muito com cada um deles e espero aprender cada dia mais. Eu amo cinema, aliás, foi onde comecei. Personagens são personagens, seja na telona ou na telinha, mas o mundo do cinema como um todo me fascina. Só vivendo pra entender. Eu não tenho regras para escolher um personagem. Gosto daqueles que me desafiam, que me tiram da zona de conforto.
Em algum momento você se identificou com a personagem Tamara de “Haja Coração”?
Ela é uma menina contracultura, faz o que bem entende do jeito que acha certo. Não sei se ela é rebelde, mas autoafirmativa e impositiva, talvez. Ela não é muito diferente de tudo que eu já fiz não. Nós sempre nos identificamos com alguns personagens em determinados níveis. Buscamos essa identificação para poder falar com verdade e não julgá-los. Eu me identifiquei logo de cara, porque ela sentiu-se reprimida durante a infância, viu a mãe sendo reprimida e isso foi trabalhado de um jeito dentro dela. A Tamara fez escolhas em que ela tivesse total controle e autonomia e que ninguém pudesse mandar nela. Eu me identifico muito com isso. A minha mãe na trama é a Carolina Ferraz e eu amei, adorei! Eu acompanho o trabalho dela desde o início e ela é uma mulher que faz um pouco do que bem entende, sabe?! Eu sempre a
achei uma figura forte. Adorei que ela é a minha mãe. O meu irmão é o João Baldesserine, eu comentei que eu não sabia falar o sobrenome dele, então se eu falei errado, desculpa João…
Quais outras características da Tamara chamaram sua atenção?
Ela gosta de esportes radicais, participa de fórmula pick-up, mas não é rebelde e não fica esfregando na cara das pessoas, ela fica na dela. Apesar de ser descolada, é uma mulher exuberante, mas desconfia dos homens porque os considera cafajestes. É dona de uma boate no Rio de Janeiro, é superfeminina, gosta de usar salto, couro, maquiagem. Eu gosto disso nela porque tem uma coisa andrógena nesse quesito, de ter hábitos que são considerados masculinos, mas ao mesmo tempo não impede e se permite ter uma unha bem cuidada, os cabelos e as roupas bacanas. Nós podemos ser tudo.
Já que você comentou sobre ela gostar de esportes radicais, para as cenas de ação você precisou de dublê ou preferiu fazer?
Com 12 anos eu aprendi a dirigir na pick-up na fazenda dos meus pais. Eu adoro! É um universo que eu gosto muito e sem sofrimento nenhum. Infelizmente não posso fazer as cenas mais radicais, porque a emissora tem certa preocupação no caso de acontecer algo comigo. Mas eu teria feito os quatro meses de preparação e realmente teria aprendido, porque você passa muito mais verdade, né?! Eu tenho um pouco de ciúme quando vejo alguém fazendo uma cena que eu deveria fazer, mas tudo bem, eu estou aprendendo a abrir mão disso.
Além da novela e do seriado, você também fez o filme sobre a vida do lutador José Aldo. Como foi viver essa personagem?
O filme do Aldo foi outro trabalho que eu gostei muito de fazer, porque tinha muita ação e fisicalidade. Eu me apaixonei por luta, inclusive eu estava falando agora com o cara que era o meu professor na época, que era o Carlos Gazé. Amanhã eu volto a treinar com ele, porque foi uma fase muito boa pra mim, poder lutar. Extravasou algumas coisas que me deixaram um pouco mais em paz, sabe?! Ele é um cara de luta mesmo, então ele não fez um treino só pra ficar com o corpo maneiro. Ele presta atenção na sua postura, de onde está saindo o seu soco, coisas que eu acho muito mais legal. A minha personagem no filme é a mulher do Aldo, a Viviane. Os dois passaram por poucas e boas e são superparceiros. São apaixonados um pelo outro e tem uma história de vida muito rica, bem interessante.
Você é uma mulher que está sempre muito bem vestida e também usando joias maravilhosas e todas as mulheres amam. Como escolhe o que usar?
Eu amo joias e, na verdade, eu tenho uma história antiga, que o meu pai Orlando (Morais, padrasto) me contou dos meus avôs. Com 36 anos, a minha avó ficou viúva e na época ela tinha sete filhos. O melhor amigo passou a perna neles e eles eram super ricos e de repente não tinham mais nada. Só que o meu avô enchia minha avó de joias e brilhantes. Ela vendeu tudo e refez a vida inteira a partir disso. Meu pai tem essa relação com joia, então quando tem um motivo, ele dá pra minha mãe. Ele é louco por joias! Entende sobre quilates e todas as purezas. Eu cresci com isso e, por isso, eu tenho uma relação mais conceitual e emocional do que física. Mas eu amo joias e adoro passar o dia vendo.
texto ESTER JACOPETTI
fotos: Ique Esteves e João Miguel Júnior/TV Globo