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Post: Fagundes, ícone da TV, em entrevista especial

Fagundes, ícone da TV, em entrevista especial

Fagundes: “Nós estamos vivendo uma época de ódio e de preconceitos, em que as pessoas não são capazes de entender e perceber o outro”

Neste rápido bate-papo, Antonio Fagundes fala sobre a novela “Velho Chico” e sua carreira de sucesso

 Veterano na televisão e no teatro, Antonio Fagundes encara mais um personagem singular e intenso em “Velho Chico”. Na trama, o sertão nordestino ganha destaque com lindas paisagens do rio São Francisco, mas o tema principal da obra é abordar a briga entre duas famílias, que se tornam rivais devido às injustiças sociais praticadas pelo Coronel Jacinto de Sá, interpretado pelo lendário Tarcísio Meira. “Nós precisamos falar um pouco mais sobre o Brasil, e dos problemas que nós temos, mas com o carinho que o Benedito tem sobre esta temática”, disse o ator que assume o legado do pai e se torna um homem amargo e impiedoso. Em mais um trabalho com Benedito Ruy Barbosa, Fagundes que é considerado “pé de coelho” do autor, comenta que ao longo dos anos, teve sorte em relação aos personagens. “Todos os meus personagens foram muito adequados e deram bons resultados. Por enquanto, continuo com sorte e as pessoas continuam me chamando pra fazer bons papeis”, já sobre Benedito os elogios não foram poucos. “Ele é meu irmão, meu companheiro, mora no meu coração e eu adoro o que ele escreve. Quero fazer todas as novelas que ele puder me dar. Eu nem pergunto sobre o personagem, mas, por sorte, ele manda eu escolher. Nós fizemos muitos trabalhos bons e importantes juntos. É sempre um prazer”, afirma. Com elenco primoroso e direção do consagrado Luiz Fernando Carvalho, a novela tem alcançado bons resultados, embora longe de recordes do horário. “Já faz um tempo que este tipo de novela, de temática e ambiente, que é escrita pelo Benedito não aparecia no horário nobre. O público deve estar sentindo falta sim, de algo um pouco menos urbano. O tempo realmente passou, e eu não imaginava que fosse uma sequência tão longa desse tipo de novela”, conta o ator que acredita que as cores, formas e ângulos deste novo trabalho trazem uma nova sensação para o telespectador. “Vamos sair um pouco dessa, digamos, crueza que temos da análise da realidade urbana”, completa. Nesta entrevista, ele ainda fala da relação com seu filho Bruno, no qual já fez uma peça e novela juntos. E a importância social e política da novela, que ultrapassa o entretenimento.

REVISTA REGIONAL: A novela “Velho Chico” passaria às seis da tarde, mas foi para o horário nobre da emissora. Um dos motivos seria porque o público quer sair um pouco do tradicional. Você acredita realmente que esse tipo de dramaturgia está faltando?

Já faz um tempo que este tipo de novela, de temática e ambiente, que é escrita pelo Benedito (Ruy Barbosa, escritor), e também com a direção do Luiz Fernando (Carvalho, diretor) não aparecia no horário nobre. Ele fez “Terra Nostra”, “Renascer” (1993) e “O Rei do Gado” (1996). É uma belíssima lembrança da televisão. O público deve estar sentindo falta sim, de algo um pouco menos urbano.  O tempo realmente passou, e eu não imaginava que fosse uma sequência tão longa desse tipo de novela. Eu acho ótimo poder sair de um ambiente, e passar pra outro, mesmo que seja nos dias atuais. Dá um frescor, um respiro calmo e gostoso, uma sensação de novidade, porque são cores, formas e ângulos diferentes de discutir temas comuns na vida de qualquer pessoa. Até porque nós podemos ousar um pouco mais no romantismo, com este tipo de temática, do que com outras. Vamos sair um pouco dessa, digamos, crueza que temos da análise da realidade urbana, que talvez seja até mais violenta, forte e mais intensa do que as novelas atuais, mas num outro universo.

Os anos passam e você continua galã com uma mulher linda (Alexandra Martins). Você se considera um homem ciumento?

Que bom! Não sou não! Estou muito bem, graças a Deus! Eu acho que o ciúme deve machucar muito as pessoas. Estou parecendo o Eduardo Cunha (risos).

Já que a novela foge um pouco desse contexto do urbano que você comentou, diria que esse tipo de dramaturgia é sua preferida?

Eu fiz muitos trabalhos gostosos em todos os gêneros. Eu fui de “Carga Pesada” (2003) a “Dancin’ Days” (1978), “Vale Tudo” (1988) e depois “Renascer” (1993). Eu fiz comédia também. Eu tenho um prazer muito grande de poder trabalhar, e como eu disse antes, quero acertar, mas, às vezes, o público gosta ou não. O princípio do trabalho de nós atores é fazer o melhor possível.

Durante sua resposta numa pergunta, você comentou que estava se sentindo um “Eduardo Cunha”. De alguma maneira ele serve de inspiração para o seu personagem?

Sinceramente eu não sei se vai ter algo do tipo ainda, mas espero não ter que me inspirar nele não! Vamos observar pra que lado o escritor levará o meu personagem.

Você comentou que o motivo em ter aceitado o convite foi a oportunidade de trabalhar mais uma vez com o Benedito. Você é o tipo de ator que recusa personagem ou o que aparece você aceita?

Se você reparar em tudo que eu fiz, especialmente na televisão, vai perceber que sempre tive muita sorte! Todos os meus personagens foram muito adequados e deram bons resultados. Por enquanto, continuo com sorte e as pessoas continuam me chamando para fazer bons papeis.

As pessoas costumam dizer que você é como “pé de coelho” do escritor. Como você encara esses fatos?

(risos) Este coelho tem muitos pés, porque nós temos também o Luiz Fernando, e um elenco maravilhoso. Voltei a fazer uma novela com a Christiane Torloni, que é um par ativo e uma pessoa que eu adoro. Então este coelho tem umas duas mil patas!

Fagundes interpreta Afrânio em “Velho Chico”

Após estes anos, como você classificaria trabalhar ao lado do Benedito?

Ele é meu irmão, meu companheiro, mora no meu coração e eu adoro o que ele escreve. Quero fazer todas as novelas que ele puder me dar. Eu nem pergunto sobre o personagem, mas por sorte, ele manda escolher. Nós fizemos muitos trabalhos bons e importantes juntos. É sempre um prazer! Fizemos “Meu Pedacinho de Chão” (2014) até pouco tempo. Espero que ele sempre se lembre de mim.

Na trama, vocês falam sobre o sertão nordestino, e tem como tema central a saga de uma família que vive em torno do rio São Francisco. Qual a importância de falar sobre este assunto?

Nós precisamos falar um pouco mais sobre o Brasil, e dos problemas que nós temos, mas com o carinho que o Benedito tem sobre esta temática. É algo muito curioso, inclusive sobre as novelas dele, mas eu não sei se ele pretende manter nesta, apesar de ter mantido até agora, mas nas tramas quase não se tem vilões. Você percebe personagens que agem de forma errada, mas elas não são vilãs no sentido da palavra, como nós estamos acostumados a ver. Se existem pessoas que se odeiam dentro de uma novela não é porque uma é boa e a outra é má, mas sim porque são adversárias e pensam de maneira diferente. Elas convivem no mesmo ambiente. Isso é importante para nós atualmente. Nós estamos vivendo uma época de ódio e de preconceitos, em que as pessoas não são capazes de entender e perceber o outro. É muito ruim ter inimigos. É importante ter adversários e pessoas que pensem diferente. Mas se essas pessoas puderem somar ao pensarem diferente, e criar uma terceira via comum, é muito bom. O Benedito consegue fazer isso muito bem! Personagens que são adversários, que pensam diferente, são inimigas até a página 20, porque na verdade, se elas sentassem pra conversar, tudo passaria.

Você tem contato com o seu público através das redes sociais?

Eu sou “analfabites”. Não tenho nada! Graças a Deus!

Você comentou sobre a novela “Meu Pedacinho de Chão” no qual seu filho Bruno participou, e no teatro vocês também fizeram uma parceria. Como você descreveria essa experiência?

Nossa relação é muito calma, tranquila, cordial e afetuosa. Quando pensamos no lado profissional, nos esquecemos da relação entre pai e filho. O Bruno olha pra mim como um profissional, da mesma forma que eu olho pra ele. Nos conflitos de gerações, por exemplo, o Bruno ouve músicas que eu odeio. Eu tenho certeza de que algumas que eu ouço, ele também não gosta (risos). Este conflito, naturalmente existe, mas não depende do fato de ser pai e filho. Eu já disse isso, mas eu tenho uma teoria de que a experiência não se transfere, porque ela é um farol voltado pra dentro. Curta sua experiência. Posso até tentar passar pra alguém, mas se a outra pessoa não tiver condições de assimilar…  E caso ela consiga, poderá fazer de forma diferente, pois pode partir de um conhecimento. Não é transferível. É preciso ter talento e vontade própria pra que isso aconteça. Sinto que o Bruno tem isso. Eu não tenho a preocupação de ter que passar essa experiência pra ele, mas sim de trocar, como um profissional. Até porque, eu aprendi muito quando trabalhamos juntos, e eu tenho certeza que ele também aprendeu muito comigo.

 texto: Ester Jacopetti

fotos: TV Globo/Divulgação

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