A Organização Mundial de Saúde (OMS) já inclui a espiritualidade como um dos fatores necessários para a saúde integral
Nos últimos anos muito tem se falado sobre a relação entre a espiritualidade e as doenças. O assunto é de tamanha importância, que já foi reconhecido nos principais meios acadêmicos e virou alvo de pesquisas, estudos clínicos e até de aplicações no campo da medicina.
No catálogo SciELO – Scientific Electronic Library Online, o termo espiritualidade aparece 187 vezes e no Public Library Medical Reference apareceu 7.776, ou seja, “há realmente uma preocupação da comunidade médica com o assunto. Estão voltando os olhos para a questão por causa dos surpreendentes e indubitáveis resultados das pesquisas em diferentes áreas da saúde, inclusive com doenças graves, como a depressão e o câncer”, complementa a professora doutora Tanit Ganz Sanchez, otorrinolaringologista com doutorado e livre-docência pela FMUSP, presidente da Associação de Pesquisa Interdisciplinar e Divulgação do Zumbido (APIDIZ).
Para Tanit, a espiritualidade diz respeito à busca pelo significado da vida e conexão com algo maior que pode ajudar ou até guiar a vida. É a abertura de cada um para o mistério da vida. Vai além dos momentos de oração/meditação/prática religiosa está na forma de pensar, agir e se relacionar com os outros e com os problemas da vida. Não depende do tempo dedicado a rezar, meditar, cantar mantras, vibrar pelo planeta, ficar na igreja, em retiros espirituais etc.
Zumbido no ouvido
A Organização Mundial de Saúde (OMS) já inclui a espiritualidade como um dos fatores necessários para a saúde integral, além do aspecto físico e biopsicossocial, pois os seres humanos não são formados apenas pela parte física que vemos e tocamos. Por isso, “é importante olhar o indivíduo como um todo e checar sua espiritualidade, sua maneira de buscar e se relacionar com o sagrado e as suas crenças sobre saúde, doença e morte”. “Já faz alguns anos que, quando uma pessoa vem ao consultório para falar sobre o zumbido incapacitante, busco informações sobre a parte física, emocional e espiritualidade de cada paciente para traçar um perfil de como ele lida com a vida, com as pessoas e, acima de tudo, com os problemas; quanto mais grave é o caso, maior a necessidade de uma avalição mais completa ”, complementa dra. Tanit.
Já a fonoaudióloga Katya Freire, analisa que “a espiritualidade da pessoa já determina se ela é por natureza feliz ou triste, saudável ou doente e se encara bem os problemas para criar soluções ou se já afunda no primeiro problema que aparecer“. O psicólogo João Cozac explica que vários problemas de saúde são manifestados nas pessoas por causa delas mesmas. “Nosso principal desafio é aprender a nos libertamos de nós mesmos. Assim, é preciso aceitar nossas limitações e defeitos, libertar-se e explorar o interior, pois ele é imenso. Dessa forma, como o zumbido é a sinalização de que tem algo errado no organismo, esse erro pode ser até psicológico, como o estresse, a depressão ou outros”.
Dra. Tanit, que há mais de 20 anos pesquisa vários aspectos do Zumbido no ouvido e é percursora dos estudos no Brasil, explica que “as ‘dores da alma’ são aqueles problemas profundos, que não respondem a medicações e outros tratamentos comuns e debilitam progressivamente os pacientes, provocando até a depressão de difícil controle.
Pode ocorrer também o zumbido incapacitante, que é desesperador para o paciente e não responde a nenhum método de tratamento, apesar do esforço da equipe profissional e do próprio paciente. “Ha uma paciente nos deu um depoimento muito produtivo e nos fez enxergar esse assunto com mais clareza. Ela começou com o zumbido na madrugada, leu tudo na internet e ficou desesperada e após algumas horas, já estava no consultório. Como o zumbido era muito intenso e ela estava desesperada, optamos por medicá-la e ela ficou bem. Depois de um mês, o zumbido voltou e novo desespero aconteceu, mas o medicamento não adiantou dessa vez. Foi aí que ela resolveu recrutar os ensinamentos espirituais familiares que estavam esquecidos e colocou a espiritualidade como prioridade. Hoje, ela se sente curada e interpreta – com a sabedoria de quem aprende – que o zumbido foi um desequilíbrio do corpo, da mente e do espírito devido ao acúmulo de problemas que ela não sabia enfrentar”.
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