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Post: Ela fez do medo uma escada

Ela fez do medo uma escada

Marinalva se resume sempre com as palavras de Chaplin: “bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante”

Ao ser amputada aos 15 anos, Marinalva de Almeida não sabia o que a vida tinha reservado a ela

Superação, determinação, persistência, garra, fé otimismo, perseverança e amor à vida são apenas exemplos de palavras usadas para definir Marinalva de Almeida. Amputada da perna esquerda aos 15 anos devido a um acidente de moto, se apoiou no esporte e hoje é uma das apostas do Brasil nos Jogos Paralímpicos do próximo ano, no Rio de Janeiro.

A trajetória de Marinalva, que saiu da região de Salto, para se tornar uma atleta paraolímpica, foi à base de muita dedicação e sacrifício. “Cheguei a sair de um emprego onde tinha um salário razoável para poder me dedicar ao esporte, e eu não tinha outra renda a não ser o de vendedora de anúncios de jornais. Foi muito arriscado, pois não tinha nada previsto, mas o meu coração dizia que se eu não me dedicasse não iria sair do lugar e este sonho não se tornaria realidade”, conta.

E se tornou! Atualmente, Marinalva é recordista brasileira no salto em distância e no arremesso de dardo (classes paralímpicas), foi a primeira mulher amputada a completar a prova da São Silvestre usando muletas em 2012 e, no ano seguinte, completou a Meia Maratona das Cataratas – 21km, em Foz do Iguaçu/PR, usando muletas.

Após a São Silvestre e toda a repercussão na mídia, Marinalva foi convidada a migrar do atletismo para a vela. Com isso, muita coisa modificou em sua vida. Hoje, a atleta se mudou para o Rio de Janeiro e treina na Baia de Guanabara, onde será a raia paralímpica, sem contar as aulas teóricas, práticas e o fortalecimento muscular.

“Meus treinos acontecem cinco dias por semana, sendo que antes treinava apenas nos finais de semana e em um lugar sem muitas variações de clima, marés, correntezas e ondas. Mudar para o local dos Jogos Paralímpicos fez toda a diferença, pois estou treinando e conhecendo as mudanças do lugar e isso é fundamental”, comenta.

Marinalva saiu da região para tornar-se hoje uma das promessas nos Jogos Paralímpicos de 2016 no Rio de Janeiro; a atleta também é modelo e já participou de diversos desfiles, inclusive em Milão, na Itália, e de ensaios de moda

Nas passarelas

Mãe de três filhos, Marinalva também é modelo fotográfico e participou de diversas campanhas publicitárias destacando a beleza essencial de cada ser humano, independentemente de estereótipos ou preconceitos sociais. A carreira de modelo teve início com uma marca de roupas idealizada para facilitar a vida de pessoas com deficiência física.

Quando desfilou para o estilista Fernando Cozendy ganhou destaque nacional. A ideia do profissional foi mostrar diversas belezas, independentemente de tipos físicos e levar a ideia de que todas as pessoas são bonitas e felizes. Marinalva foi uma das modelos selecionadas e adorou a ideia de levar o diferente, mas real para muitas pessoas. “O desfile foi um protesto contra a discriminação no sentido geral. A sociedade impõe a regra de que as pessoas têm que ser bonitas apenas de uma maneira, mas cada um busca o seu melhor à sua própria maneira”, completa.

Depois desse desfile, ela foi convidada por uma agência de modelos de Milão para desfilar por lá, mas entre as passarelas e o esporte, optou pela vela, pelo menos até 2016. Apesar de o convite ser quase irrecusável, Marinalva priorizou a carreira de atleta, pois seria impossível conciliar as duas profissões.

Ir à luta com determinação

Além de mãe, modelo e atleta, Marinalva também leva a sua história de superação a milhares de pessoas, por meio de palestras motivacionais. Os convites para depoimentos começaram a surgir e assim ela encontrou uma maneira de levar a sua trajetória a tantas pessoas e poder ajudá-las a se superarem.

“Sinceramente, minha vida tinha tudo para dar errado. Nasci em uma família financeiramente humilde, não me casei com um homem rico, tive três filhos, me separei, não conclui uma faculdade e sou deficiente física. Era para eu me transformar no máximo em uma boa dona de casa, mas fui além. Olhando para trás, gosto de ver como me saí e fico feliz ao reconhecer quem eu sou e isso faz toda a diferença em como encaramos a vida e o mundo”, comemora.

Ao ser questionada sobre a maior lição que todo o processo do seu acidente deixou, Marinalva responde, sem titubear, com palavras de Charlie Chaplin: “bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante”. Segundo Marinalva, essa frase resume o que ela sente diante da vida!

texto: Aline Queiroz         

fotos: João Augusto de Oliveira e Arquivo pessoal

 

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