Apesar do primeiro contato com o teatro ainda na infância, nas apresentações na escola e, posteriormente, em um grupo de jovens em Salto, foi durante a faculdade de Jornalismo que o amor pelas artes cênicas conquistou Péricles Raggio. Ao entrar em um grupo de teatro da faculdade e participar ativamente de todo processo de criação de um espetáculo, o até então futuro jornalista percebeu que gostava muito mais de atuar do que ir às aulas de Comunicação. Foi então que a imprensa brasileira perdeu um jornalista. Antes mesmo de terminar Jornalismo, Péricles prestou vestibular na Unicamp para Artes Cênicas e com isso o teatro ganhou um grande ator e mímico. Já são quase 20 anos como profissional, com trabalhos infantis e adultos, como nas peças: “Pinóquio Etc e Tal”, “Patinho Feio – o Voo de Andersen” e “As Desgraças de uma Criança”, do grupo Andaime de Teatro da Unimep, que lhe rendeu um prêmio de melhor ator em Campinas. Péricles também trabalhou com o Teatro dos Benditos Malditos, com direção de Márcio Tadeu, e em uma montagem que guarda ótimas recordações: “Titus – persona non grata”, que fez uma temporada no CCSP com muito sucesso. Atualmente, o saltense faz parte do Teatro Por Um Triz, que fundou com Márcia Nunes, uma amiga da Unicamp, em 1996. É um grupo que possui um repertório de espetáculos que explora a linguagem do teatro de animação, voltado para crianças. Está em cartaz atualmente com “O Mistério do Sapato Desaparecido”, escrito e dirigido por ele e Márcia. “É um trabalho muito divertido e que agrada crianças e adultos. Os personagens são sapatos, que são manipulados pelos atores”, conta. Ser ator para Péricles é viver outras vidas. É estar em eterno processo de autoconhecimento, de questionamento, de estar atento à época em que vive. É poder escolher o que quer falar às pessoas. “Realizo um trabalho bastante autoral no teatro. Já tive oportunidade de trabalhar como ator contratado e até que poderia ganhar bem. Mas não adianta, não consigo trabalhar em algo onde meu coração não se encontra. Então, assumindo todos os riscos, só me envolvo com trabalhos que considero importantes para mim e que possam ter importância também para o público. No meu grupo consigo me envolver com amor e dedicação nos trabalhos, e em todos os processos de criação: escrever, dirigir, construir bonecos, cenários”, afirma. Para chegar onde está, Péricles colecionou inúmeras dificuldades: fez, por exemplo, bicos de garçom e ao mesmo tempo ensaiava à noite com o seu grupo teatral. Mas, sempre acreditou no sonho de poder viver de arte e desenvolver seus projetos. “Agora estou estudando muito sobre Playback Theatre – um estilo teatral que surgiu nos EUA nos anos 70 – e em breve desenvolverei um trabalho com este tipo de teatro. Tenho experimentado também vídeo, participando de alguns curtas e até clipes. Em 2016 o Teatro Por Um Triz completa 20 anos e quero poder comemorar com muitas apresentações dos nossos espetáculos e com a estreia de um novo trabalho”, conclui.
por Aline Queiroz
foto: Arquivo pessoal