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Entrevista: de frente com Gabi

Gabi se mantém no canal GNT como entrevistadora, porém pretende escrever dois livros e continuar nos palcos como atriz

Jornalista de sucesso, Marília Gabriela busca equilíbrio através do cinema e da literatura

Após anos de dedicação ao jornalismo, Marília Gabriela decide trilhar novos caminhos focando sua carreira no teatro e na literatura. “Foi uma escolha e uma atitude pensada, porque a ideia era eu me dedicar a outros projetos que me dessem uma alegria, um contentamento, um tipo de conhecimento que eu precisava me dedicar com mais afinco que é o teatro. Eu só queria mudar o foco na minha vida. Este é um período de transição. Não sei quanto tempo mais eu tenho de vida útil ou vontade de fazer certas atividades”, disse a jornalista-atriz, que pretende escrever dois livros e ainda manter-se no programa “Marília Gabriela Entrevista”, exibido pelo canal por assinatura GNT.

REVISTA REGIONAL: Como você recebeu o convite para participar da comédia ‘Vanya e Sonia e Masha e Spike’ escrita pelo russo Tchekhov? Aliás, você já conhecia o escritor?

MARÍLIA GABRIELA: Quando recebi o convite do diretor Jorge Takla, eu estava envolvida com outros projetos. Confesso que tive um momento de hesitação. Depois que li o roteiro fiquei apaixonada. Fui até os EUA e pude observar o público médio americano, que evidentemente não conhece o escritor russo, mas riram do início ao fim durante o espetáculo. Não é à toa que seu autor, Christopher Durang, recebeu o Tony Award, prêmio máximo de teatro americano, em 2013. Nada nesta peça se perde nenhum sorriso ou personagem. Essa foi uma criação perfeita e inspirada. Um momento especial em temas tão comuns a todos os dramas familiares presentes em Tchekhov em que os personagens são colocados de forma hilária e cativante, sem que seja necessário ser um conhecedor do autor russo. Puro deleite! É realmente uma perícia desse grande Christopher. É claro que as personagens têm características de outras histórias do escritor russo. Acredito que ele tenha se inspirado basicamente neste material para fazer esta peça norte-americana atualizada que deu certo. As pessoas não precisam conhecer o autor porque na verdade, elas vão se enriquecer e subliminarmente estarão recebendo poesia. É engraçadíssima e tem conteúdo emocional, têm a natureza humana, família, espírito, altos e baixos, é tocante, têm bipolaridades… Não há como não se reconhecer. São pessoas em transformação a partir de um determinado gatilho. A transição para a autoaceitação, para o entendimento e para encarar a vida que passa e agora tem que ser outra. A juventude está começando e as outras pessoas estão num momento delicado e estão na situação de “viver ou não”.

Recentemente você decidiu sair do SBT onde exercia sua profissão como jornalista. O que exatamente a fez tomar essa iniciativa?

Foi uma escolha e uma atitude pensada, porque a ideia era eu me dedicar a outros projetos que me dessem uma alegria, um contentamento, um tipo de conhecimento que eu precisava me dedicar com mais afinco que é o teatro. Gosto de fazer teatro porque é um lugar onde se discute a vida de fato. E quando bem feito a plateia percebe. Muito da minha decisão de sair do SBT foi pelo fato de que eu queria fazer essa peça absolutamente dedicada a ela. Estou trabalhando com excelentes profissionais. O Jorge é um assombroso e pra mim tem sido surpreendente porque eu não o conhecia. Ele faz um trabalho cirúrgico, dá liberdade e depois corrige, conserta e propõe. Nunca vi uma produção tão bem cuidada. É tudo muito bonito e de boa qualidade. Você tem segurança porque quando leva uma bronca, fica feliz porque sabe que está acontecendo uma evolução. Além de extraordinário está aprendendo. Ele tem uma formação fora do normal em termo de teatro e até como ator. Ele consegue passar tudo que ele aprendeu e sabe a mínima indicação de ideia e numa correção passa detalhes ótimos. Estou aprendendo muito e estou feliz de ter tomado essa decisão de me dedicar a este trabalho.

Sabemos que a Masha é uma estrela de Hollywood. Mas como você descreve sua personagem? Diria que ela tem alguma semelhança com você?

Muitíssimas! As duas mulheres driblando crise existencial, ativas, vivazes, redescobrindo e priorizando valores como a autoaceitação e os laços familiares, mas me identifico com todas as personagens em cena nesta peça, em todas as outras questões. Sou múltipla. Sou Masha irmã de Vanya [Elias Andreato] e Sonia [Patrícia Gasppar] que foi embora e virou atriz de cinema, e volta para uma visita trazendo o namorado Spike [Bruno Narchi]. O que termina provocando uma catarse familiar que se vê em cena. Gosto e vivo a base de desafios. Entrar no palco todos os dias, tentar ser um personagem, depois de ser Marília Gabriela que é tão visível e marcada como personagem de mim mesma, porque quando você faz jornalismo como eu fiz a vida toda, fica muito marcada. As pessoas sabem como é a minha voz, como eu digo as palavras, conhece as minhas reações… Atribuo sem reclamar que grande parte da minha dificuldade que tenho até hoje, como por exemplo, em fazer novela ou um trabalho de ficção, porque as pessoas imediatamente olham uma mulher muito conhecida diariamente desde o final dos anos 60, que é a Marília Gabriela jornalista. É um desafio virar outra criatura e ser crível e fazer com que as pessoas acreditem que aquela é outra pessoa e não eu mesma.

“Este é um período de transição. Não sei quanto tempo mais eu tenho de vida útil ou vontade de fazer certas atividades”

Você sempre procurou dividir seu tempo na televisão e no teatro, mas de volta aos palcos, com tem sido retornar com uma comédia que trata de seres humanos? Como você tem se sentido?

Eu ando inquieta, agitada, apreensiva, feliz, encantada, enfim, do jeitinho que sempre ficamos às vésperas de um evento muito importante e esperado em nossas vidas. Estou tentando recordar os dias que já fiquei ansiosa. Claro que existe um primeiro momento, em que você fica nervosa e preocupada. Na verdade faço um trabalho de concentração. Não posso me preocupar com a plateia. Procuro me preocupar com o que eu vou fazer em cena. Tenho muitos textos para decorar e quando entro no palco, entro como furacão. E tento manter o absoluto controle do que estou fazendo e dizendo. Independente de quem esteja no teatro. Alivia um pouco o nervosismo e dá uma sensação de controle e segurança do que vou fazer do lado de cá.

A Masha tem uma relação com o homem mais jovem e causa certo alvoroço na família. O que você acha da diferença de idade nos relacionamentos amorosos?

Revigorante? Tonificante? Interessante? Sei lá, amor é amor. Quando existe diferença de idade acho que há maior cumplicidade, paixão e coragem envolvidas, já que a sociedade sempre questiona uniões entre mulheres mais velhas com homens mais jovens, mas nunca o contrário. Há que ser forte pra aguentar.

Você tem anos de carreira na televisão, essencialmente como jornalista, mas consegue mensurar a sua relação com o teatro?

Comecei na televisão aberta em 1969. Eu já comentei em algumas situações que gostaria de parar de trabalhar, mas sempre há alguém pra dizer que não vou aguentar ficar muito tempo parada, mas eu nunca testei… Parar de trabalhar seria em termos, porque estou envolvida em projetos do meu interesse, como por exemplo, dedicar-me aos livros que pretendo escrever, possibilitando ficar uns quatro meses fora do Brasil, quietinha. Se eu estivesse com um programa em uma emissora do porte do SBT, não seria possível essa dedicação. Enfim, desde a primeira vez que assisti a uma montagem profissional de teatro, na adolescência em Ribeirão Preto, com Raul Cortez no palco com Zoo Story de Edward Albee, sabia que seria uma ligação indispensável em minha vida, que eu estava diante de um lugar sagrado onde se discutia e expunha a vida em suas indagações e buscas, em todo seu ridículo e dramático, em tudo que é real de fato e que no geral deixamos ‘passar batido’ apesar do nó na garganta.

Você comentou sobre estes novos livros que pretende publicar. Poderia falar um pouco mais sobre eles?

Pretendo lançar dois livros, no qual já fui contratada para escrever e vou precisar de tempo e dedicação. Continuo no GNT [Marília Gabriela Entrevista] e quero fazer essa peça da melhor maneira possível. O que significa que nós trabalhos diariamente por pelo menos oito horas por dia. Foi o que eu fiz nos últimos dois meses, totalmente dedicada, mas tudo numa boa. Eu só queria mudar o foco na minha vida. Este é um período de transição. Não sei quanto tempo mais eu tenho de vida útil ou vontade de fazer certas atividades. Foi o que aconteceu. Um deles seria uma nova edição do livro ‘Eu que amo tanto’, que rendeu quatro episódios no ‘Fantástico’ e agora eu tenho um trabalho que será feito de maneira mais ampliada para uma nova edição com o Bruno Barreto que vai dirigir uma série diferente, com episódios e histórias mais longas, esse é um. O outro livro é de cunho pessoal, uma experiência que não é um livro de memórias, mas passa por elas para resultar na ficção, digamos. Este eu ainda não tenho o nome, só mesmo depois de pronto.

Você deixou alguns programas gravados antes de sair do SBT, inclusive o último foi com a Sandra de Sá que foi o mais polêmico. Como foi pra você fazer essa entrevista?

Não me recordo mais dessa entrevista. Gravei tudo há muito tempo, mas vi que teve repercussão, mas foi com a Sandra de Sá que não é nenhuma surpresa. Ela é uma mulher inteligente e sempre foi muito disponível. Faço e não vejo não só o meu programa, mas os outros também. Normalmente não tenho tempo e nem vontade de assistir televisão. Sou fã e fanática por seriados.

Você está tendo a oportunidade de trabalhar com o seu filho [Theodoro Cochrane] que é figurinista desta peça. Como tem sido essa interação entre vocês?

Eu não trabalho com ele porque não tem ligação direta com a peça. O Theodoro fez o figurino e ele participou das primeiras reuniões, mas não teria nenhum problema porque afinal de contas é meu filho né?! Quando ele começou a me chamar de Gabi eu comentei que era pra chamar de mãe [risos]. Respeito é bom e eu gosto. Mas ele é um figurinista premiado com Shell e tem experiência. Não é o primeiro figurino que ele faz e que eu uso no palco.  Ele trabalhou também na minha última peça que era um monólogo [Aquela Mulher] que já tinha ganhado prêmios e tudo mais. Nesta quem o convidou foi o Jorge. Os figurinos são esplêndidos e ficaram lindos. Servem pro que vieram.

(texto: Ester Jacopetti)

fotos: Divulgação/GNT

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