O Centro de Meditação Kadampa, em Cabreúva, é o maior construído no mundo e teve “cuidados extraordinários” para que possa permanecer por mil anos
Poucos sabem, mas a região possui o maior templo do Budismo Kadampa no mundo. Ele foi fundado em 2002 em Cabreúva, em meio à natureza e o silêncio da Serra do Japi. A tradição Kadampa teve início em 982 e foi disseminada no Tibete, mas tem sido amplamente espalhada pelo Ocidente. Tanto que além de Cabreúva, outros templos menores foram construídos na Inglaterra e nos EUA, mais especificamente em Nova York. O daqui, incluindo os alojamentos dos residentes, tem cerca de 2.500 metros quadrados, contando ainda com outras construções, como vestiários, chalés de madeira, chalé de retiros, cozinha e cafeteria.
O templo brasileiro é uma edificação quadrada, com quatro entradas e cobertura em cinco níveis octogonais, cujos vidros têm as cores azul, branco, verde, vermelho e amarelo para representar as cinco famílias de Buda, como explica o professor e monge Gen Kelsang Tsultrim, que conversou com a Revista Regional. Segundo ele, toda a construção em Cabreúva teve “cuidados extraordinários”, para que o mesmo possa permanecer por 1.000 anos. “Templos, em geral, são uma representação da Terra Pura de Buda”, comenta o monge.
Aberto ao público (para budistas e fiéis de outras religiões), o Centro de Estudo Kadampa faz parte do Projeto Internacional de Templos -criado pelo líder da tradição, chamado de venerável Geshe-la-, que visa construir outras unidades ao redor do planeta, as quais, segundo ele, serão o foco da prática espiritual de gerações e objeto de devoção de incontáveis peregrinos. “Não construímos templos para nosso desfrute, e sim para o desfrute das pessoas das gerações presentes e futuras”, explica o professor Gen Kelsang Tsultrim, que continua: “Qualquer pessoa, seja ela budista ou não, religiosa ou não, que veja um templo ou Budas, receberá bênçãos especiais que no futuro, inevitavelmente, causarão a libertação dessa pessoa, isto é, a sua ida para o Nirvana.”
Geshe-la considera a construção dos templos um dos maiores trabalhos que ele realizou. Tanto que costuma dizer: “Basta olhar para um templo com mente feliz para sentir paz. Isso cria marcas especiais em nossa mente. E devido ao poder desse objeto especial, problemas como a raiva e apego são reduzidos.” Para os budistas, um templo é um lugar sagrado que eleva a mente. “O mundo moderno estimula as pessoas constantemente, então elas precisam de silêncio, quietude e inspiração”, adverte o professor.
Lótus
A Revista Regional esteve visitando o Centro Kadampa. Toda a arquitetura, assim como os símbolos expostos em seu interior e por toda a fachada e telhado, têm diferentes significados conforme a tradição budista. As entradas, por exemplo, simbolizam: as diferentes maneiras de entrar no caminho da libertação, as quatro faces de Buda Heruka, e a indicação de que o templo é aberto a todos, sem julgamentos. Já a representação da flor de lótus, bem no centro de seu piso, tem referência na purificação do indivíduo. “A flor serve para lembrar que precisamos nos tornar seres puros, mesmo vivendo num mundo impuro, tal como um lótus que cresce nos pântanos com pétalas brancas e pureza imaculada”, detalha o monge e professor Gen Kelsang.
A Roda do Dharma, no alto da parte central do seu interior, indica o movimento dos ensinamentos de Buda mundo afora. No topo da cobertura há um Lanternim que contém duas escrituras: o livro “Caminho Alegre da Boa Fortuna” representando os Sutras e o livro “Essência do Vajrayana” representando os Tantras. Na cobertura há diversos vajras de cinco pontas, que simbolizam a sabedoria ou a força indestrutível. O vajra que está no topo do lanternim, em particular, simboliza as cinco sabedorias de Buda, a mais alta realização possível, e a conclusão do caminho espiritual. Já as placas com vajras cruzados em seu interior representam proteção contra os obstáculos das quatro direções.
“Temos ainda o trono principal, que é de uso exclusivo de nosso guia espiritual, o venerável Geshe-la, e foi usado por ele na cerimônia de inauguração do templo em outubro de 2010”, acrescenta.
Um enorme altar ocupa ponta a ponta o interior do templo, embora dividido em três módulos. Neste, estão cinco estátuas, uma estupa e livros. Dentre as três estátuas grandes: a central representa Buda Shakyamuni, o Buda da era atual; a da direita, que é Buda Kashyapa, o Buda da era anterior; e a estátua à sua esquerda representa Buda Maitreya, o Buda da próxima era.
“No fundo do templo, à direita, está um móvel com uma estátua e duas coleções de livros. A que está à direita da estátua de Amitayus é chamada de Kangyur, tem 108 volumes que contêm todos os 84 mil ensinamentos dados por Buda Shakyamuni. Já a coleção de livros que está à esquerda de Amitayus, é chamada de Tangyur. Tem 120 volumes que contêm os comentários aos 84 mil ensinamentos de Buda, feitos por seus principais discípulos. Há também três conjuntos de 35 imagens de Budas fixados nas paredes laterais e dos fundos. Elas representam os Budas Confessionais, cuja função é ajudar as pessoas a neutralizarem os efeitos de ações negativas”, enumera o professor.
Sobre cada porta de acesso ao templo, do lado externo, há uma Roda do Dharma e um Casal de Cervos. O cervo macho, segundo ele, representa a mente muito sutil de grande êxtase e o cervo fêmea, a sabedoria que realiza a verdadeira realidade. Já a roda simboliza o caminho a percorrer para se atingir o estado mental de um Buda.
Vibe
À direita e à esquerda estão os símbolos auspiciosos que revelam as etapas a seguir para progredir ao longo do caminho budista. Eles são: Guarda-chuva (simboliza: proteção; ensina que o primeiro passo é buscar proteção numa comunidade budista); Peixes (harmonia; indica que sob este guarda-chuva -a comunidade budista- devemos sempre viver em harmonia e paz); Vaso (riqueza; ensina que a verdadeira riqueza a ser almejada é a sabedoria, uma riqueza interior); Lótus (pureza; indica que sempre devemos aplicar esforço para nos tornarmos um ser puro, praticando “O Estilo de Vida do Bodhisattva”); Concha: (a Joia Dharma; ensina que devemos realizar a Joia Dharma – a sabedoria dos ensinamentos de Buda, dentro de nossa própria mente); Nó da Eternidade (uma qualidade incomum das realizações de Buda: a sua mente onisciente; ensina que o verdadeiro propósito e significado da vida humana é desenvolver essa mente onisciente); a Roda do Dharma (o caminho à felicidade permanente da iluminação; ensina que tendo alcançado essas duas qualidades incomuns de Buda, nos tornaremos capazes de conduzir todos os seres vivos à libertação permanente do sofrimento, principalmente por girar a Roda do Dharma, que é dar Ensinamentos de Dharma, objetivo final do templo).
O Centro de Meditação Kadampa Brasil funciona unicamente com trabalho voluntário, e é um espaço aberto que tem todas as suas atividades voltadas para o benefício público em geral. O local possui uma programação variada, capaz de atender a todos: os simples visitantes, os iniciantes, e os praticantes mais avançados.
Atualmente, a região possui milhares de budistas. “O número de pessoas que visitam nosso templo mensalmente, tem crescido constantemente. Desde a sua inauguração, em outubro de 2010, já foi visitado por milhares de pessoas de toda a região. Entre os eventos e festivais realizados pelos monges estão a ‘Celebração de Dharma’, em abril; e o ‘Festival Nacional de Budismo’, em dezembro”, comenta o monge.
Modernidade
Questionado sobre como seria o Budismo moderno, o professor explica que “o Budismo Moderno refere-se a uma apresentação moderna dos antigos ensinamentos de Buda, e à forma como eles podem ser praticados pelas pessoas dos tempos atuais, que em geral dispõem de muito pouco tempo livre.” “Sua diferença em relação ao Budismo tradicional está na sua adequação à realidade atual. Ele tem uma apresentação específica para quem tem pequena disponibilidade de tempo, e para quem vive o estilo de vida dos ocidentais do século 21”, completa.
O Budismo prega o amor, a simplicidade, o desapego e a paz acima de tudo. Mas, agora, também ensina métodos científicos, que, segundo o monge, melhoram a natureza e qualidades humanas, através do desenvolvimento da capacidade da mente, o que resulta em paz interior, “que é o único ambiente mental capaz de nos fazer sentir felicidade”. “Este método nos ensina a obter e a manter esse estado mental de felicidade de forma totalmente independente das circunstâncias externas. Ele nos livra das depressões, ansiedade e do estresse”, conclui. Cada vez mais, as pessoas buscam, desejam e necessitam dessas habilidades para conseguirem enfrentar as adversidades crescentes da vida moderna.
COMO AJUDAR: O Centro de Estudos Kadampa é mantido (financeiramente) com as taxas cobradas por cursos como hospedagem, loja e doações. Os valores arrecadados com os grandes eventos, tais como o Festival Brasileiro e a Celebração de Dharma, são reservados exclusivamente para o Projeto Internacional de Templo, conforme prescrito na constituição dos CMK. Para ajudar, doe algum donativo.
MAIS: O templo fica na avenida Cláudio Giannini, 2035 – Distrito do Jacaré – Cabreúva.
reportagem de Renato Lima
fotos Zeca Almeida e Renato Lima
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