Como manter o foco e seguir metas com os inúmeros estímulos de informações e da tecnologia
Liga o tablet, responde ao SMS, checa os e-mails, se atualiza com os sites de informações, espia o Instagram, posta um bom dia no Facebook e no Twitter e vê se não tem mais nenhuma conversa inacabada no WhatsApp… Tudo isso com um único aparelho, conectado em casa, no trabalho, no carro e, até, na balada. Assim, é cada dia mais comum ver um grupo de amigos dividindo a mesma mesa, porém, no lugar da conversa entram os smartphones, fazendo com que vivamos mais no mundo on-line do que no off-line. “O ritmo mental acelerado pode prejudicar a capacidade de concluir tarefas. Quanto mais ferramentas tecnológicas, mais sobrecarregados ficamos, portanto, o uso da tecnologia deve ser encarado como um utilitário criado para me servir e não algo que desfrute com prazer a ponto de ficar aprisionado ao mundo virtual”, inicia Kátia Guazzi, psicóloga comportamental, dando início a uma reflexão sobre o quanto as tecnologias e os estímulos externos nos fazem perder o foco sobre o que realmente nos é importante.
Com todo esse estímulo externo, muitas pessoas já tiveram a sensação de que o dia precisa ter mais que 24 horas para poder dar conta de tudo. Parece que as coisas, com o passar dos anos, foram tornando-se mais difíceis. O trânsito aumentou, os afazeres triplicaram e os meios para resolver os problemas multiplicaram. Hoje, precisamos de senhas para quase tudo. É a do banco, as das redes sociais, do e-mail, das contas, e por aí vai. Com tantos assuntos na cabeça, como conseguir manter o foco sobre aquilo que queremos realizar? Pode ser desde concluir uma simples tarefa doméstica ou até um relatório importante do trabalho. Para isso, de acordo com o coaching Levi Lorenço é preciso ter uma única palavra: autoconhecimento. “Manter o foco em meio a tanta informação é possível, porém, exige autodisciplina e muito autoconhecimento. É ele que nos traz a consciência sobre a necessidade de definirmos propósitos para as coisas às quais nos propomos. Perguntas como ‘Por que isto é importante para mim? Por que quero realizar? O que eu ganho com isso?’ nos ajudam a definir propósitos. Quando definimos propósitos fortes, definimos não só ‘o que’ é importante, mas ‘por que’ é importante. As respostas são os valores que buscamos satisfazer. E são esses propósitos que nos motivam à ação (motivação). Sabendo ‘o que’ e ‘por que’ as coisas são importantes, além de motivação, temos ferramentas suficientemente fortes para mantermos a disciplina e, consequentemente, o foco no que nos é importante”, ressalta o profissional.
Mas será que é fácil ter esse autoconhecimento diante de tantas informações que nos chegam? Para a advogada Joyce Teller, cerca de 30% dos seus afazeres são atrapalhados pelas redes sociais, mas essa porcentagem pode aumentar se os assuntos forem “frescos”. “Já perdi a hora várias vezes por conta da dispersão que as redes sociais causam, mas mesmo tendo a consciência de que ela atrapalha, eu tenho a responsabilidade de entregar um trabalho no período certo e me concentrar quando for preciso e, por conta disso, nunca pensei em deletar nenhuma conta, não por esse motivo.”
Na era da distração
Com a tecnologia ao alcance das mãos, literalmente, estamos cada vez mais disponíveis, acessíveis e conectados uns aos outros, e o resultado de tanta disponibilidade é o inverso do esperado: pessoas estão “sem tempo”. Telefonia móvel, internet móvel, comunicação on-line e instantânea via chat, texto, voz, imagem… A contagem do tempo é a mesma, um dia continua tendo 24 horas, mas a tecnologia nos permite fazer muito mais do que faríamos, em menos tempo. O resultado é a falta de priorização de nossas atividades diárias. Com tudo podendo ser feito simultaneamente ou a qualquer hora do dia, deixamos de estabelecer prioridades. “Na era da distração, optar por qualidade no lugar de quantidade é uma das chaves para o desenvolvimento do foco”, afirma Thaís Fiorellini, também especialista em couching. Além de perdermos o foco das atividades que desempenhamos durante o dia pelo número de informações com que somos “bombardeados”, a internet trouxe à tona diversas outras profissões, que acabam contribuindo para esse “sem rumo” que vemos diversas pessoas seguir. Ser blogueiro talvez seja o maior exemplo disso. Para isso, a couching aconselha a lembrar-se dos ensinamentos “Conhece a ti mesmo” – inscrição no oráculo de Delfos, atribuída aos Sete Sábios (650 a.C. – 550 a.C.) e que “Em todas as coisas, o sucesso depende de uma preparação prévia, e sem tal preparação o fracasso é certo”- Confúcio (500 a.C.).
“O autoconhecimento é, sem dúvida, essencial para que consigamos sonhar, planejar, realizar, para que possamos ser felizes. Isso inclui conhecer seus talentos e desafiar-se a melhorá-los sempre; conhecer seus valores, seus critérios de valores e viver por eles; conhecer suas crenças, desafiá-las e substituí-las por crenças fortalecedoras; descobrir e conhecer sua missão, seu propósito de vida, que te dirá onde usar seus maiores talentos, de que forma e para quê. É importante ter em mente que, na vida, nada de valor é conquistado de modo fácil ou sem trabalho. É, além de saber o que e onde queremos chegar, ter consciência de que cumprir ou atingir metas e objetivos exige decisão, coragem, ação, consistência, disciplina e comprometimento”, completa Levi.
A psicóloga Katia segue o mesmo pensamento e completa: “ Esse crescimento acelerado e de fácil acesso à internet gerou uma tendência ao sedentarismo e reclusão emocional, além de modificar os hábitos humanos. Embora as pessoas se conectem com um objetivo, existem tantas ofertas e distrações on-line que muitas se esquecem porque estão lá, acabam perdendo o foco principal deixando de realizar as tarefas planejadas e necessárias. Esse comportamento torna-se um problema quando o indivíduo não consegue manter um equilíbrio entre o universo on-line e off-line prejudicando relacionamentos, trabalho, desempenho acadêmico, saúde ou finanças”, pontua.
Por isso, a profissional aconselha:
– defina um limite de horário para ficar conectado na rede e, quando o tempo se esgotar, saia dela.
– tenha determinado o motivo pelo qual vai usar o computador. Se você entrou para trabalhar ou fazer uma tarefa escolar, não caia na tentação de dar uma “olhadinha” nas redes sociais.
– evite o excesso de tecnologia, retire os aparelhos digitais do quarto, nada de dormir com o celular ligado debaixo do travesseiro, não interrompa seu sono para concluir algum trabalho pendente ou ver se tem mensagem, no horário de almoço não coloque o smartphone na mesa enquanto estiver comendo.
– para selecionar prioridades, cronometre seu tempo on-line e no que foi usado, faça uma lista de outras atividades que poderia realizar nesse tempo, defina então suas prioridades, trace metas a serem alcançadas e não se esqueça das atividades com outras pessoas fora de casa e atividades físicas saudáveis.
“Mas se mesmo assim perceber que perdeu completamente a noção do tempo on-line, não consegue ter concentração nas tarefas, causando um mau desempenho nas atividades escolares, diminuição da produtividade no trabalho, nível de ansiedade e angústia alto, procure a ajuda de um profissional para tratar do problema que pode se agravar com a perda da autonomia na realização de atividades diárias devido ao fato de não conseguir desconectar-se”, finaliza Kátia.
reportagem de Yara Alvarez
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