Sendo o esporte nacional, aquele que mexe com o brasileiro de forma mais profunda, é natural que o tema também esteja conectado com a espiritualidade e religiosidade próprias da cultura brasileira.
São muitas as superstições que envolvem o futebol, e elas têm a ver com números especiais (por exemplo o número 13, consagrado por Zagallo), a utilização de certas roupas (creditou-se a vitória do Brasil na final da copa de 1958 ao uso da camisa azul – embora o Brasil tenha utilizado o padrão amarelo em suas vitórias subsequentes), ou a outros pequenos rituais (restrições ou preferências a certos alimentos, estacionar em uma vaga determinada, cortar ou não o cabelo, deixar ou não a barba crescer).
Em casos mais extremados recorre-se a práticas como os famosos “trabalhos”, que, em linguagem técnica, seriam formas de “magia”, ou seja, a tentativa de manipular as forças da natureza para determinados fins.
Em boa parte dos casos, no Brasil combina-se também a superstição com um elemento de fé. Não é raro que se invoque um santo, ou mesmo Deus para que dê uma “força” ao nosso time, e nesse ponto, boa parte dos brasileiros, mesmo os menos supersticiosos, podem se ver tentados, naquele momento mais tenso (cobrança de pênalti em jogo eliminatório, por exemplo…), a mesmo que de passagem, pedir “aquela” ajuda.
Os mais reflexivos continuarão a rechaçar as superstições, ou até mesmo a mistura entre fé e esporte – um teólogo importante questionou certa vez se a ajuda divina para a vitória em um jogo não seria contraditória com o caráter Deus: não seria a “ajudinha” divina uma forma de se ter uma vantagem extra sobre os adversários, ou seja, uma forma de trapaça?
Rodrigo Franklin de Sousa é professor e coordenador Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião. Doutor em Letras pela University of Cambridge (Reino Unido – 2008), possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Campina Grande – antiga UFPB – Campus II (2000), e formação em Teologia (M.Div.) pelo Covenant Theological Seminary (EUA – 2004).
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