Entenda por que ter amigos é muito mais do que contar com uma companhia para o fim de semana
Textos e poesias falando sobre o valor de uma grande amizade não faltam. Histórias nas telas de cinema também são constantes. Mas essa relação é importante mesmo na prática, na vida real, pois, segundo o médico da Unimed, Eduardo Almeida Cunha, além de deixar a vida mais interessante, pode ser uma ótima companheira para a sua saúde.
De acordo com o profissional, antigamente o sentimento de amizade era um vínculo mais amplo, em que os envolvidos costumavam se identificar por meio de sua etnia, religião ou até pelo time de futebol. Já na contemporaneidade, o médico acredita que as relações sociais vêm diminuindo, uma vez que, por mais que as pessoas tenham amigos, não têm tempo para encontrá-los, o que faz com que se sintam solitárias. “É por isso que os relacionamentos virtuais têm aumentado. Só que na rede o seu amigo é ilusório e não se mostra como é de verdade. Apenas com a convivência do dia-a-dia pode-se conhecer alguém realmente”, diz.
Além disso, ele acredita que a amizade é uma espécie de fraternidade que ressalta a identidade e a solidariedade entre os indivíduos. “É a expectativa de encontrar essas características e uma admiração pela forma de funcionamento do outro que faz com que façamos amigos”, acredita.
Amor ou amizade?
Às vezes, explica o médico da Unimed, o amigo vai se tornando alguém diferente, com ideias divergentes, mas nem por isso a relação deixa de ser próxima. “Nesses casos, costuma-se dizer que o amor romântico tomou o lugar da amizade, pois mesmo com tantas diferenças, os envolvidos continuam bem próximos. Para os gregos, por exemplo, esse sentimento de admiração, de ver no outro uma virtude que hoje chamamos de amor, era considerado amizade”, diz.
Além disso, segundo ele, a busca pela identidade refletida em outro indivíduo é que faz com que haja um fortalecimento da própria identidade. “Este é um dos motivos que faz a amizade ser algo tão importante na vida das pessoas”, acredita.
É por conta dessa identidade, também, que surgem as turmas, torcidas organizadas, blocos de carnaval de rua. Todos eles nascem de um grupo de amigos que se identificam e que, mais tarde, vão agregando novos membros que tenham interesses parecidos.
E, apesar de essa identificação ser mutável e adquirir novos anseios com o passar dos anos, não significa que você precise abandonar os amigos de infância ou adolescência. “O senso de identificação não deixa de existir, ele apenas ganha nova configuração. É por isso, ainda, que, quanto mais vamos nos identificando, amadurecendo e tendo a própria identidade, mais vemos a diferença entre nós e os amigos”, explica.
Mais que companhia
Além disso, o médico acredita que a afetividade existente nas relações amistosas é uma das principais causas da segurança emocional. “O primeiro fator que gera tal confiança em si mesmo é o bom relacionamento com a família. Logo em seguida vem a amizade. É por isso que, às vezes, quando os amigos rompem a relação com certa ‘força’, logo se sentem sós, abandonados e passam a ser indiferentes com os outros. Tudo faz parte de um ciclo”, diz.
Quem pode contar com amigos verdadeiros está menos propenso a ficar enfermo. Isso porque quem tem relações estreitas e baseadas em confiança se percebe mais seguro e com autoestima elevada, tornando-se mais forte e sentindo-se mais capaz de enfrentar as dificuldades. Já a falta de amizades verdadeiras pode ser prejudicial à saúde, pois, de acordo com o médico, hoje em dia o conceito de vida saudável não está só ligado à falta de saúde, mas, principalmente, ao bem-estar bio-psíquico social, que fica mais difícil de ser conquistado sem amigos.
Essa falta mexe, ainda, com o organismo. Como a amizade está diretamente ligada a sentimentos, as pessoas percebem mais a falta desse relacionamento por meio de sensações no peito. “O sofrimento é integral, mas, sem dúvida, o coração e a respiração são mais afetados que o restante. Mas outros problemas são intensificados com a situação. Se a pessoa tem insônia, por exemplo, o quadro pode se avivar”, complica.
– outro ponto importante é não exigir atenção exclusiva, afinal, as pessoas podem – e devem – ter mais de um amigo. “Saber compartilhar as amizades e aceitar outras pessoas como companheiras é a melhor forma de expandir o ciclo de amigos e também de conservá-los”.
fotos: BIRF