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Post: Especial lembra os 50 anos da novela diária

Especial lembra os 50 anos da novela diária

Rubens de Falco e Lucélia Santos em “A Escrava Isaura”, novela da Globo que foi vista por milhões de pessoas em todo o planeta / foto: TV Globo

Um dos principais alicerces da programação da TV brasileira, a teledramaturgia diária completa meio século como formadora de opinião. Mais do que entreter, ela mobiliza e educa

 Que as novelas são uma grande paixão dos brasileiros ninguém duvida. Passados exatos 50 anos desde a estreia de “2-5499 Ocupado” (TV Excelsior) em 22 de julho de 1963 – a primeira trama que se tornou diária ao longo de sua exibição – é fácil perceber que a teledramaturgia se transformou em um dos principais alicerces da programação das emissoras. Por outro lado, antes de proporcionar o tão esperado final feliz aos protagonistas, os autores têm que enfrentar uma missão mais árdua: conquistar a fidelidade do telespectador.

A história deve envolver o público e trazê-lo para a frente da televisão – ou de qualquer equipamento que transmita vídeos on line – durante, pelo menos, seis meses. Contudo, esta não é uma tarefa fácil. Para alcançar o seu objetivo, os roteiristas lançam mão de diferentes estratégias. As principais são personagens carismáticas e quase sempre politicamente incorretas, como, por exemplo, Flora e Carminha, as vilãs loiras criadas por João Emanuel Carneiro e interpretadas por Patrícia Pillar e Adriana Esteves, em “A Favorita” (2008) e “Avenida Brasil” (2012), respectivamente. Acrescentam-se ainda doses de romance, vingança e suspense.

Se o assunto é suspense, é comum que apareça um “quem matou?”. Embora o artifício já tenha sido usado anteriormente, nas mortes de Salomão Hayalla (“O Astro”, 1977) e Odete Roitman (“Vale Tudo”, 1988), foi com “A Próxima Vítima” (1995) que este recurso ganhou uma nova dimensão. Na trama policial escrita por Silvio de Abreu – que está de volta desde o dia 09 no Canal Viva – os telespectadores foram desafiados a descobrir quem era o responsável por uma série de assassinatos que, aparentemente, não possuíam qualquer conexão. Uma das únicas pistas sobre o criminoso era o carro que ele usava durante a perseguição as suas vítimas: um opala preto.

Os brasileiros gostaram de brincar de detetive. Diante do assédio da mídia e da repercussão da trama junto ao público, chegou-se a cogitar a exibição ao vivo do último capítulo – que teve direito a uma reportagem de destaque no “Jornal Nacional” daquela noite – para evitar que o final fosse descoberto antes da transmissão. Ao projeto “Memória Globo”, o autor conta que ele e o diretor Jorge Fernando resolveram gravar às 13h três possíveis desfechos: a novela iria ao ar às 20h30. Os atores só ficaram sabendo quem era o assassino quando entraram no estúdio e receberam suas falas.

Regina Duarte e Lima Duarte, inesquecíveis como Viúva Porcina e Sinhozinho Malta, de “Roque Santeiro”, um clássico da TV brasileira

 A prova e os crimes

Do outro lado da tela, entre os milhões de curiosos, estava o artista plástico Daniel Pilotto, que não hesitou em faltar da faculdade, mesmo tendo uma prova importante. “Se eu não tivesse feito isto, com toda a certeza no sábado pela manhã estariam todos comentando e eu saberia o nome do assassino, portanto não teria mais sentido assistir a reprise. Preferi pagar e fazer uma outra prova”, recorda lembrando que esta paixão surgiu ainda na infância, quando, aos nove anos, ele acompanhou a primeira versão de “Guerra dos Sexos” (1983).

Este é um hábito que persiste até hoje: “a novela é o meu futebol”, enfatiza. Daniel tenta se adequar aos horários das tramas que acompanha, e quando gosta muito do que vê, quase nunca atende o telefone durante o capítulo. Convidado a avaliar as novelas em exibição, ele elege “Flor do Caribe” como a melhor inédita. Para ele, a história de Ester (Grazi Massafera) e Cassiano (Henri Casteli) é envolvente; “uma grata surpresa, que trouxe trazendo novamente Walther Negrão a posição de grande autor que é. Quanto a melhor reprise, sem sombra de dúvidas fico com ‘Rainha da Sucata’ (1990) no Canal Viva. Eu estou revendo esta novela pela quarta vez e não me canso, sou sempre surpreendido por sua trama. Respondo sem hesitar que foi uma das melhores já feitas”.

O artista plástico também festeja a volta da próxima atração do canal por assinatura. Escrita por Gilberto Braga e Manoel Carlos, “Água Viva” (1980) foi a vencedora de uma enquete, feita no site oficial, para a escolha da trama que passa a ocupar a faixa da meia-noite a partir de 30 de setembro. Daniel conta que mobilizou pessoas e batalhou muito para que esta novela fosse a vencedora – as concorrentes eram “O Dono do Mundo” (1991), “Fera Ferida” (1994) e “A Indomada” (1997). A opção por “Água Viva” veio de uma ideia – difundida pelo próprio canal, como nosso entrevistado faz questão de frisar – de que a faixa da meia noite é reservada para tramas mais clássicas. Portanto, segundo ele, nada mais lógico que a não exibição, neste horário, de novelas da década de 90. “Para elas, o canal já possui os dois horários da tarde”, decreta.

O saudosismo do público é, de acordo com nosso entrevistado, a principal explicação para o sucesso das reprises do Viva. Ele defende que as novelas eram melhores em sua estrutura, em sua criação: o texto “realmente superior” compensava a inexistência dos avançados recursos tecnológicos, largamente utilizados nas produções atuais. E este é o detalhe que conta no final de tudo, um texto bem escrito, uma história bem contada.

“Acredito que o próprio canal tenha se surpreendido com a resposta tão intensa do público. Penso que foi uma chamada de atenção da audiência para o que eles já haviam prometido há muito tempo: novelas mais antigas. Como já deu para notar eu sou bastante saudosista, tenho nostalgia até do que não vi. Às vezes me pego ouvindo uma trilha sonora de uma novela dos anos 70 – de uma época em que eu era muito criança, ou então nem nascido – e sinto a coisa toda tão viva, como se tivesse feito parte daquilo como telespectador. Esta é a magia das novelas”, finaliza.

 

Regina Duarte e a filha Gabriela, protagonistas de “Por Amor”, drama que mexeu com a opinião pública por conta da troca de bebês / foto: TV Globo

Qualidades que se perderam

O historiador Celso Machado agrega outros elementos ao analisar uma eventual perda de qualidade. Embora classifique esta comparação como “cruel” – já que as reprises têm a vantagem de carregar um componente afetivo que, em geral, é bom – ele observa a existência de um cenário desfavorável para as produções atuais e cita como exemplo o remake de “Anjo Mau”, exibido às 18h em 1997. Atual sucesso das tardes do Viva, a trama de Maria Adelaide Amaral parece ter uma liberdade na abordagem de seus temas que hoje nem uma novela das 21h possui.

“Não diria que as novelas de antigamente são melhores até porque a gente vê no Viva o melhor que foi produzido e pode estar comparando com uma fase de produção particularmente baixa de conteúdo inédito – quantas novelas medianas há para cada obra-prima como ‘Vale Tudo’? (1988) –, mas me parece bem óbvio que elas têm algumas qualidades que as produções de hoje perderam no meio do caminho – e não foram compensadas por outras. Claro que isso é muito mais do que simplesmente falar em piora, é uma relação com o público, que muda com o tempo, mas eu diria que as novelas, tomadas isoladamente (até onde é possível – se é possível), ficaram menos interessantes e infinitamente menos ousadas – salvo cada vez mais raras exceções”, argumenta.

Celso conta que as novelas entraram em sua vida muito cedo. Imagens soltas de cenas – Marília Pêra em “Brega & Chique” (1987), Malu Mader em “Fera Radical” (1988), a morte de Odete Roitman em “Vale Tudo” – fazem parte de suas memórias mais antigas. A primeira novela que assistiu com algum nível de compreensão foi “Que Rei Sou Eu?”, cuja estética o fascinava. Evidentemente, grandes sucessos como “Tieta” e “Top Model” (as três de 1989) atraíram a sua atenção, “mas vidrado mesmo, acompanhando diariamente, a primeira vez foi com ‘Rainha da Sucata’”. Acima de todas, porém, sua novela preferida é “Vale Tudo” – que ele só conheceu já adulto, por meio de gravações de outras pessoas – uma história tão fantástica que sempre conquistará novos admiradores, em qualquer época que seja exibida.

Por fim, ele lembra que, apesar da qualidade técnica incrível, muita gente ainda deprecia a teledramaturgia. “As pessoas são mais respeitosas com um filme ruim do que com uma novela excelente, isso é um preconceito bobo. Há quem se empenhe em fazer por comparações descabidas com cinema e séries estrangeiras, o que me parece um despropósito, porque tanto o formato, quanto o público são muito diferentes”, lamenta o historiador. Na contramão, ele defende que a novela deve ser analisada como novela e não a partir do quanto ela se afasta ou se aproxima de outros produtos, como se fez e se faz ainda, inclusive (e até principalmente) entre a autointitulada “crítica especializada”.

“Felizmente, hoje em dia há muito mais gente que entende e respeita a teledramaturgia com as características que ela tem e escreve sobre ela com um olhar lúcido, principalmente na internet, o que acabou abrindo um nicho comercial novo, já que a quantidade de produtos oferecida para esse ‘público noveleiro’ aumentou muito e ganhou mais consistência. Esse crescimento como tema específico e respeitável só me faz duvidar mais quando leio previsões catastróficas (que aparecem, periodicamente, há décadas) sobre o futuro deste gênero, que é solidíssimo: o sucesso do Viva demonstra isso. O brasileiro aprecia telenovelas, mesmo que, às vezes, não goste das inéditas que estão no ar”.

 

Beatriz Segall e Nathalia Timberg em cena de “Vale Tudo”, clássico que, 20 anos depois, volta a ser sucesso, mas na TV por assinatura / foto: TV Globo

Cenas da vida real

Muitas vezes as histórias apresentadas na televisão servem como pano de fundo para situações marcantes na vida de quem está do outro lado da tela. A merendeira e estudante de Logística Elisabete Portugal se lembra de que durante a exibição de “Pedra sobre Pedra” (1992) o pai comprou a primeira TV em cores da família. “Foi maravilhoso assistir a um capítulo de novela, na íntegra, na minha casa, sem ter que imaginar quais cores eram exibidas naquela abertura ou estampavam o figurino das personagens”, entusiasma-se.

Cerca de dois anos mais tarde, uma triste coincidência: quando seu pai faleceu, em 15 de agosto de 1994, a novela “A Viagem” estava no ar e, justamente naquele período, os capítulos estavam mais melancólicos, em decorrência da morte do personagem Otávio Jordão (Antônio Fagundes). Escrita por Ivani Ribeiro, a produção com temática espírita – remake da novela homônima exibida na TV Tupi em 1975 – ajudou nossa entrevistada a lidar com a perda de um ente querido, com quem ela mantinha um contato tão próximo.

Outra obra da autora, “Mulheres de Areia” (1993), é apontada por Elisabete como a novela que mais lhe marcou. “Lembro-me da primeira chamada, ainda no intervalo da antecessora ‘Despedida de Solteiro’ (1992). Foi uma empolgação: todo mundo correu para a sala só para ver Glória Pires contracenando com ela mesma. Ali previ que a novela seria sucesso. E o que se sucedeu foi o maior fenômeno dos anos 90. Uma trama das 18h com audiência superior a das 19h, que trazia em seu elenco grandes nomes da história da teledramaturgia, unidos a novos talentos. Ivani Ribeiro soube costurar com maestria a novela homônima, de 1973, a ‘O Espantalho’ (1977), ambas de sua autoria. Os remakes nunca mais foram os mesmos”. E ela têm razão.

Tão importante quanto um bom elenco e enredo é a trilha sonora, que, embora seja uma peça fundamental, “não tem mais o peso de outrora”, como faz questão de frisar. Muitas cenas se tornaram clássicas, também por causa do tema musical que se ouvia ao fundo. “A sequência da novela ‘Tieta’, que mostra o retorno de Tonha (Yoná Magalhães), me emociona até hoje. A atmosfera de todo o sofrimento da personagem, junto com a sua volta por cima, talvez não tivesse o mesmo impacto se não fosse embalada pela maravilhosa canção ‘Uma Nova Mulher’, na voz da cantora Simone. São pequenos detalhes que acabam fazendo a diferença. Nas novelas atuais, dificilmente vemos esse cuidado”, exemplifica.

Por fim, ela mostra-se decepcionada com a qualidade das produções recentes. Nem mesmo “Avenida Brasil” – aclamada pelo público e pela crítica no ano passado – conseguiu conquistá-la. Elisabete discorda de quem diz que a trama é inovadora, pois “todos os elementos-chave já haviam sido explorados anteriormente”. As críticas ao cenário atual vão mais além. “Os talentos, jovens (porque ainda encontramos jovens talentos) e veteranos têm dado espaço aos chamados ‘manequins de vitrine’, que infelizmente não são capazes de doar a quem assiste o mínimo de realismo, emoção. Mas eu ainda tenho fé de que muita coisa boa estará para acontecer. Novos talentos surgirão, seja na interpretação, direção e autoria”.

Junto com os astros

Um dos meios pelos quais a Rede Globo descobre novos talentos são suas oficinas. Depois de ter frequentado uma das turmas, o escritor e roteirista Vítor de Oliveira recebeu o convite para ser colaborador no remake de “O Astro” (2011), que inaugurou a faixa das 23h na emissora. Ao lado do colega Tarcísio Lara Puiati, que também era colaborador, ele teve muita liberdade para sugerir e criar junto com os autores, Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, que foram muito generosos. “Tenho certeza de que Janete Clair abençoou esse trabalho. A vitória no Emmy Internacional foi a cereja do bolo”.

Para o escritor, os atores e personagens se tornam tão presentes em nossas vidas – visitam nossos lares todos os dias – que é impossível não ficarmos envolvidos por eles. Ele conta que recebeu este nome por causa do personagem Victor Amadeu, interpretado por Francisco Cuoco em “Duas Vidas” (1976). “Daí você percebe a felicidade de uma pessoa que cresceu em frente à TV convivendo diariamente com mitos do porte de Regina Duarte, Rosamaria Murtinho e o próprio Francisco Cuoco: de repente, eles estão ali, em carne e osso, diante de você. E mais: eles repetem diálogos criados por você. Ainda que o resto da humanidade não se dê conta, para quem ama e respira teledramaturgia isso é o máximo”, celebra.

Do interesse de Vítor pelo tema, nasceu o Blog “Eu Prefiro Melão” (www.euprefiromelao.blogspot.com.br) – o nome foi inspirado num diálogo da novela “Meu Bem, Meu Mal” (1990), onde Dom Lázaro Venturini (Lima Duarte) revela a preferência por essa fruta. A ideia inicial era dividir lembranças e informações com outros noveleiros, mas algum tempo depois, o blogueiro foi convidado pela Navilouca Livros a selecionar as melhores postagens para uma antologia – da qual ele se orgulha muito – onde o leitor poderá encontrar entrevistas com grandes personalidades da tevê, textos sobre novelas antigas, artigos mais analíticos e muitas outras informações, com um olhar muito pessoal.

Ao ser questionado sobre a responsabilidade de adaptar um texto clássico como o de Janete Clair, Vítor enfatiza que quando uma história é recontada na TV, sempre há quem acuse os autores de falta de criatividade. “Os remakes são necessários para que as novas gerações possam conhecer uma boa estória. Quanto a fazer sucesso ou não, isso é imponderável, assim como acontece nas tramas inéditas. Se pudéssemos prever o sucesso de alguma obra, não haveria mais fracasso. No caso específico de ‘O Astro’, nem cheguei a ter acesso à novela original. Com isso, pudemos criar com mais liberdade”, pondera.

 

Guilherme Fontes e Gloria Pires no remake de “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro, estrondoso sucesso das seis que teve audiência de novela das oito / foto: TV Globo

O desafio de recontar histórias

Quem compartilha desta opinião é Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-Americana pela USP, autor de diversos livros sobre o tema – incluindo-se a adaptação de grandes novelas para a literatura – e membro da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão de Nova York (Emmy). Ele defende que os clássicos precisam ser recontados para um novo público, com a visão de novos profissionais envolvidos e menciona as versões de “Mulheres de Areia” e “A Viagem” – produzidas pela Globo em 1993 e 1994, respectivamente – que devem ser sempre lembradas como exemplos balizadores de remake.

“Aproveitando os ensinamentos da grande mestra que foi Ivani Ribeiro, um remake é como escrever uma nova novela; daí o permanente desafio e surpresa que ocorrem durante a produção e exibição. Ademais, o remake, atualmente um gênero autônomo dentro da indústria do entretenimento, faz parte da história da narrativa mundial desde seus primórdios, com a radionovela ‘O Direito de Nascer’, em 1948”, salienta. E esta parece mesmo ser uma tendência irreversível: cada vez mais, as emissoras apostam nos remakes. Entusiasmado com o sucesso de “Carrossel” (2012), o SBT pretende continuar investindo na adaptação de textos infantis estrangeiros. Já a Globo, por sua vez, criou um horário específico para estas produções, às 23h.

Mauro também chama a atenção para as ações que agregam valor social às tramas. Para o estudioso, tal estratégia foi decisiva para que se criasse uma identificação ainda maior do público com a novela. Como exemplos, ele cita a impactante campanha para doação de medula centralizada em Helena (Vera Fischer), Pedro (José Mayer) e Camila (Carolina Dieckmann) em “Laços de Família” (2000), impulsionada pela cena em que Carolina raspa os cabelos; as tramas que mostravam o drama da dependência química tanto de Mel (Débora Falabella) quanto de Lobato (Osmar Prado) em “O Clone” (2001) e as mensagens sobre o bom uso da terra e consciência política espalhadas pela obra de Benedito Ruy Barbosa desde os tempos de “Meu Pedacinho de Chão” (1971), cujo remake deve substituir “Joia Rara”, às 18h, em 2014.

Quando destacados os aspectos comportamentais (e de consumo) as duas pilastras são, segundo o estudioso, “Locomotivas”, de Cassiano Gabus Mendes, na Rede Globo, em 1977 e “Dancin’ Days”, de Gilberto Braga, na mesma emissora em 1978. Foram novelas que dialogaram com três faixas etárias, mostraram comportamentos e consumos em dois níveis sociais – basicamente os ricos e a classe média; lançaram moda, inclusive à mesa (copiava-se o estilo de Yolanda Pratini, Joana Fomm em Dancin’ Days).

“Mais recentemente, ‘Avenida Brasil’ e ‘Cheias de Charme’ – esta, inclusive, pela inovação ao utilizar novas plataformas de comunicação – vieram a coroar um caminho aberto por Aguinaldo Silva em ‘Senhora do Destino’ (2004) e ‘Fina Estampa’ (2011). Por outro lado, ‘Caminho das Índias’ (2009) tem feito uma trajetória muito semelhante a de ‘Escrava Isaura’ (Globo, 1976) no século passado. Ou seja, é um paradigma no exterior”, opina Mauro, que é enfático ao afirmar que o gênero telenovela segue firme não apenas no Brasil, mas cada vez mais conquistando público no exterior, abrindo novos caminhos dentro da teleficção, pois narrar a trajetória humana diariamente, independente das diferenças culturais, é a sua vocação primordial.

 

– Parte do elenco do clássico “Água Viva”, que volta a ser exibido no Viva após 33 anos: Glória Pires, Angela Leal, Isabela Garcia, Maria Padilha e Jorge Fernando / foto: TV Globo

Muito além da TV

Criador do site Teledramaturgia (www.teledramaturgia.com.br) e autor do “Almanaque da Telenovela Brasileira”, Nilson Xavier concorda com Mauro e também aponta “Avenida Brasil” e “Cheias de Charme” como os maiores sucessos dos últimos cinco anos. No caso da trama das 19h, o clipe das Empreguetes, vividas por Taís Araújo, Leandra Leal e Isabelle Drummond, teve mais de 12 milhões de acessos. A cena, que mereceu todo um suspense na narrativa da trama, foi publicada na web no sábado e só foi exibida no capítulo da segunda-feira seguinte.

A ideia era que quando o personagem dissesse na novela que o clipe já estava na internet, o produto realmente já estivesse disponível. Vieram as versões dos internautas, as paródias, e estava criado um diálogo inédito entre produtores e telespectadores de novela. Constatado o efeito positivo, outras ações transmídia foram planejadas. Assim que o movimento “Empreguetes para Sempre” foi criado na novela, o site começou a receber vídeos, mensagens e fotos de apoio para a volta do trio, tendo ultrapassado a marca de 3 milhões de visitas até meados de setembro de 2012, segundo o projeto “Memória Globo”.

Nilson reitera a importância da telenovela como mecanismo formador de opinião, capaz de influenciar as pessoas, por meio da moda, linguajar e hábitos, inclusive. “Por isso, é preciso ter responsabilidade na hora de tratar um assunto de âmbito social”, alerta. Ele explica que, quando há a identificação direta dos telespectadores com a trama, ocorre uma espécie de catarse coletiva. É quando o público quer se vestir, falar e agir como o personagem. Os modismos lançados nas novelas ganham, então, as ruas: roupas, penteados, acessórios são consumidos pelos telespectadores.

Por outro lado, ele acredita que o perfil do telespectador de televisão passa por um contínuo processo de transformação, que vem se acentuando especialmente nas últimas duas décadas. “As novelas e os programas de televisão em geral são, hoje em dia, nivelados por baixo, ao gosto das camadas menos exigentes – que é o público predominante atual. As classes A e B tem outras opções de entretenimento que não apenas a TV aberta”, avalia.

Partindo deste pressuposto, nosso entrevistado – que mantém um blog no portal Uol e possui uma coluna no site do Canal Viva – garante que não há uma fórmula mágica. Qualquer telenovela corre o risco de não alcançar a repercussão desejada pela emissora. “Nem mesmo um remake é garantia de que a trama repetirá o êxito da primeira versão. Os tempos são outros, a sociedade é outra, então o sucesso original dificilmente irá acontecer”, constata. “Guerra dos Sexos” (2012) é um bom exemplo desta máxima.

A respeito das redes sociais, que parecem ter potencializado a relação de “amor e ódio” dos brasileiros com a novela – basta observar, por exemplo, que durante “Avenida Brasil” muitos usuários personalizaram sua foto do perfil, imitando o efeito final do capítulo; ou, na contramão, as inúmeras críticas a “Salve Jorge” (2012) – Nilson afirma que a TV Social (TV + rede social) já é uma realidade levada em consideração pelas emissoras.

“A TV sempre acompanhou a evolução da sociedade. O futuro da telenovela está no casamento da televisão com as demais mídias sociais, nas quais se potencializa a Internet, as redes sociais. Já que a televisão não consegue se juntar à elas (porque sai perdendo nesta concorrência), o melhor caminho é aliar-se, daí o surgimento da TV Social e de casos de transmídia”, finaliza.

 

Carminha, de Adriana Esteves, em “Avenida Brasil”, foi a última grande vilã do horário nobre, capaz de mobilizar milhões de pessoas em todo o Brasil / foto: TV Globo / Fábio Rocha

VIVA A NOVELA!

Criado em maio de 2010, o Viva é um alento para os telespectadores mais saudosistas. A diretora do Canal, Letícia Muhana, que prontamente atendeu ao convite de Revista Regional, explica que a grade é montada de acordo com desejos e anseios dos público – as solicitações podem ser feitas por e-mail (fale conosco), site e redes sociais – e é composta de atrações que foram ou são sucesso de audiência.

“A seleção das atrações é feita em conjunto com a TV Globo, que faz um trabalho sistemático para a liberação de direitos das obras. Priorizamos os conteúdos a partir de meados da década de 1980 pela qualidade técnica e visual do material. De 1985 até 2013, são quase 30 anos de conteúdo disponível para a escolha do Viva entre novelas, minisséries, programas de humor e de variedades”, detalha.

Desde o lançamento do canal, as novelas mais assistidas, segundo Letícia, foram “Vale Tudo” (1988), “Por Amor” (1997), “Renascer” (1993) e “Felicidade” (1991). A diretora atribui o estrondoso sucesso de algumas reprises ao resgate da memória afetiva do assinante: o Viva dá a chance à audiência de rever ou assistir pela primeira vez conteúdos qualificados que fizeram sucesso no passado. A isto, soma-se uma estratégia de divulgação eficiente, com destaque para as chamadas – produzidas pela equipe de Promoções da Globosat – que, de um modo geral, são extremamente criativas, brincando com os vários programas da grade.

Para Letícia, não há dúvidas de que o telespectador está cada vez mais colaborativo. A participação em todas as redes sociais – Facebook, Twitter, Instagram, Google+ e Pinterest – aliada à interlocução, por meio do Fale Conosco e do site, é “muito forte”, como ela faz questão de frisar. “Vimos isso muito claro recentemente, quando os internautas puderam escolher a novela que substituirá ‘Rainha da Sucata’, por meio de uma enquete. Os usuários se mobilizaram e criaram comunidades virtuais para a exibição de algumas tramas. Esperamos que ‘Água Viva’ alcance resultados expressivos de audiência, condizentes com a repercussão que tivemos nas redes sociais ao sugerir este título para a votação”, analisa.

NO FACEBOOK:

Na fan page da Revista Regional no Facebook você pode conferir este mês alguns clipes e aberturas marcantes das novelas brasileiras.

reportagem de Piero Vergílio 

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