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Post: Laurentino Gomes lança ‘1889’ em Itu

Laurentino Gomes lança ‘1889’ em Itu

“Essas três datas funcionam como o nosso código genético do ponto de vista institucional, burocrático e administrativo porque explicam a forma como nós, brasileiros, nos organizamos como nação independente e soberana”

A trilogia do premiado escritor iniciada com “1808” e “1822” encerra-se com o lançamento “1889” sobre os bastidores da Proclamação da República; Itu foi uma das cidades pesquisadas pelo autor

            O jornalista e escritor Laurentino Gomes lançou na última semana de agosto, em São Paulo e na Bienal do Livro no Rio de Janeiro, seu novo livro “1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil” – onde narra os bastidores da Proclamação da República e encerra a trilogia que iniciou com as obras “1808”, sobre a fuga da corte portuguesa de Dom João VI para o Rio de Janeiro, e “1822”, sobre a Independência do Brasil. Laurentino alcançou a marca de 1,5 milhão de exemplares vendidos no Brasil e em Portugal com seus dois primeiros títulos e agora, acaba de lançá-los nos EUA, traduzidos para o inglês, que chegam às livrarias esse mês. Desde sua última entrevista à Revista Regional, em maio de 2011, muitas mudanças aconteceram em sua vida: Laurentino recebeu mais dos prêmios Jabutis com o livro “1822”, nas categorias Melhor Livro-Reportagem e Livro do Ano de Não-Ficção, repetindo assim os prêmios que o livro anterior, “1808”, havia recebido, totalizando quatro prêmios, e passou um ano fora do país, morando no campus de uma universidade americana, enquanto efetuava parte de suas pesquisas para o terceiro número. “O contato com os leitores se estreitou mais ainda nesses últimos dois anos. Todos os dias, recebo dezenas de e-mails de pessoas do Brasil inteiro, nos quais sugerem novos temas de livros para o futuro e, principalmente, pedem que eu não pare de escrever. Cada vez que isso acontece sinto-me renovado e ainda mais animado a continuar meu trabalho.”, afirma o escritor.

Seu novo título, editado pela Globo Livros, é ricamente ilustrado e contribui para a compreensão de um dos períodos mais controversos da história do país, além de explicar os acontecimentos que levaram à queda da monarquia, destaca também episódios importantes como a Guerra do Paraguai e o movimento abolicionista. O autor explica que os três livros contam uma história importante para entender o país de hoje e que são praticamente três volumes de um mesmo livro, onde explica como o Brasil se tornou independente de Portugal e se organizou como nação autônoma e soberana ao longo do século XIX. “Muitas das características do país atual, incluindo alguns de seus defeitos mais complicados, como a corrupção, a promiscuidade entre os interesses públicos e privados e a ineficiência do Estado brasileiro, tem suas raízes nesse período”, destaca. O livro “1889” é o resultado de três anos de pesquisa do autor no Brasil e nos EUA. Laurentino leu mais de 150 obras e fontes de referência sobre o assunto e passou o ano de 2012 morando no Interior da Pensilvânia, enquanto sua esposa, Carmen, cursava uma especialização em língua inglesa. Lá, se aprofundou em pesquisas na biblioteca do Congresso e na biblioteca Oliveira Lima, ambas em Washington, onde encontrou acervos e documentos preciosos. Assim como em “1808” e “1822”, o escritor visitou locais relacionados ao Segundo Império e à Proclamação da República, como Petrópolis (RJ), Juiz de Fora (MG), Lapa (PR) e até Itu, para o capítulo referente à Convenção Republicana, de 1873. Em nova entrevista exclusiva à Regional, ele explica o encerramento da trilogia, o lançamento de suas obras, em inglês, nos EUA e seus próximos projetos.

 Revista Regional: O livro “1889” traz a história da Proclamação da República do Brasil de um ângulo diferente. Poderia nos contar um pouco sobre isso?

Laurentino Gomes: A Proclamação da República é, provavelmente, o tema mais controverso até hoje na História do Brasil. E assim continuará por muito tempo. Basta ler o noticiário todos os dias para perceber que o Brasil tem uma república mal-amada. O feriado de 15 de novembro é uma data sem prestígio no calendário cívico nacional. O mapa das cidades brasileiras está repleto de praças, ruas e monumentos com nomes de personagens republicanos como Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Silva Jarfim e Rui Barbosa, mas poucos sabem, de fato, quem foram essas pessoas. O Brasil conhece pouco da sua história republicana e a celebra menos ainda. Essa sensação de estranheza encontra parte de sua explicação na própria forma como a república foi implantada em 1889. A troca de regime se deu por um golpe militar liderado pelo marechal alagoano Manoel Deodoro da Fonseca que, por sinal, era monarquista até a véspera. Os propagandistas republicanos defendiam liberais civis, ampliação do direito do voto e outras promessas que não se cumpriram. Instalada por um golpe da espada, a república brasileira logo se converteu numa ditadura sob Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. A grande distância entre a prática e os sonhos republicanos é o pano de fundo deste novo livro.

“(…) o Brasil tem uma república mal-amada. O feriado de 15 de novembro é uma data sem prestígio no calendário cívico nacional (…)”

Em “1808”, D. João VI foi o personagem de destaque, assim como José Bonifácio e a Imperatriz Leopoldina, em “1822”. Quem é o destaque de “1889”?

O livro joga luz em alguns personagens importantes da história da queda da monarquia no Brasil, com destaque para o imperador D. Pedro II, o marechal alagoano Deodoro da Fonseca e o professor e tenente-coronel Benjamin Constant. O imperador Pedro II foi um dos intelectuais mais respeitados do século 19. Era amigo do escritor Victor Hugo, do cientista Alexander Grahm Bell e vários filósofos, artistas e compositores importantes. Apesar disso, governava um país dominado pela escravidão e pelo latifúndio, em que mais de 80% da população eram analfabetos. Era, portanto, um símbolo da contradição do império do Brasil. Deodoro da Fonseca era um “tarimbeiro”, como eram chamados os militares veteranos da Guerra do Paraguai, com escassa formação intelectual, mas grande experiência nos campos de batalha e nas dificuldades da vida na caserna. Era um homem vaidoso, intempestivo, rancoroso e de gênio difícil. Até as vésperas da Proclamação da República era monarquista convicto e dizia-se amigo do imperador Pedro II. Em 1888, numa troca de cartas com um sobrinho, também militar, afirmou que a república no Brasil seria uma tragédia. Sua participação no golpe de 15 de novembro se deveu mais a mágoas e desavenças pessoais do que a convicções políticas. Mas tudo indica que era também um homem honesto, íntegro, incapaz de aceitar vantagens pessoais em troca de favores ou prestígio político. Benjamin Constant foi o mentor da Proclamação da República. Como professor da Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, incutiu nos jovens oficiais do Exército os ideais positivistas que norteariam os rumos do regime republicano nos seus primeiros anos. Era, no entanto, um homem deprimido, perseguido pela fama de medroso e injustiçado na carreira do magistério. Dizem que morreu louco.

 O senhor efetuou alguma pesquisa em Itu? Qual?

Sim, aqui em Itu eu contei com a generosa ajuda do professor Jonas Soares de Souza, que leu em primeira mão o capítulo referente à Convenção Republicana de Itu, em 1873, e fez correções e observações fundamentais para a clareza e a credibilidade da obra. Sou muito grato ao professor Jonas, um historiador e intelectual que merece o respeito e admiração de todos nós, ituanos de nascimento ou de coração, como é o meu caso.

 O lançamento de “1889” é o encerramento de uma trilogia? Por quê?

Essas três datas marcam a construção do Estado brasileiro durante o século 19. Elas funcionam como o nosso código genético do ponto de vista institucional, burocrático e administrativo porque explicam a forma como nós, brasileiros, nos organizamos como nação independente e soberana ao romper os nossos vínculos com Portugal. Portanto, para entender o Brasil de hoje é preciso estudá-las. O primeiro livro, “1808”, foi dedicado à fuga da corte de D. João para o Rio Janeiro, acossado pelas tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte, que tinham invadido Portugal. Começava ali a rápida e profunda transformação da antiga colônia portuguesa nas Américas cujo resultado seria a Independência, em “1822”, objeto do segundo volume da série. Por 67 anos o Brasil se manteve como a única monarquia duradoura nas Américas. A proclamação da República, em 1889, representa uma drástica ruptura nesse modelo.

 Suas obras foram traduzidas para o inglês. Como está sendo a aceitação de livros que contam a história do Brasil no mercado americano?

A edição em inglês do livro “1808” chega às livrarias dos EUA na primeira semana de setembro, ou seja, uma semana depois do lançamento de “1889” no Brasil. A tradução de um livro de história do Brasil para leitores americanos é um desafio complicado. O texto precisa ficar mais didático e acessível do que no original porque, lá fora, infelizmente, as pessoas conhecem muito pouco a respeito de nós. Morei um ano nos EUA e os americanos sempre se surpreendiam quando em contava que o Brasil já tinha sido uma monarquia e que nós tivemos um rei (D. João VI) e dois imperadores (Pedro I e Pedro II). Poucos conseguiam entender também a razão pela qual nós falamos português, enquanto todos os vizinhos falam espanhol. Foi preciso levar tudo isso em conta na hora de traduzir o livro “1808”, tarefa desempenhada com maestria pelo linguista Andrew Nevins, professor da Universidade de Londres casado com uma brasileira. Uma curiosidade, já contada no meu blog, refere-se à abertura do primeiro capítulo do livro, “A Fuga”. No texto das edições brasileira e portuguesa, eu convido os leitores a imaginar que, em um dia qualquer, o presidente do Brasil – ou a presidenta, como insiste Dilma Roussef – fugisse para a Austrália, protegido por aviões da força aérea americana, enquanto tropas da Argentina estariam marchando em direção a Brasília. Na versão em inglês, quem foge é o presidente Barack Obama, não para a Austrália, mas para a ilha de Guam, território norte-americano no Oceano Pacífico. Enquanto isso, tropas do México marcham em direção a Washington. Inverossímel, mas divertido!

 Após essa trilogia, quais serão seus próximos projetos?

Tenho vários projetos, mas nenhum definido até agora. Gostaria de escrever um livro sobre a Guerra do Paraguai, outro sobre a Inconfidência Mineira, talvez mais um sobre as grandes rebeliões do período da Regência, entre a Abdicação de Dom Pedro I, em 1831, e a maioridade de D. Pedro II. Essa é uma década fascinante, que muitas ideias e projetos do Brasil foram testados, às vezes a custa de muito sangue e sofrimento. De certeza, por enquanto, só sei que “1889” será o último livro com data e números na capa. É o encerramento de uma trilogia e de um ciclo. Os próximos livros terão títulos diferentes. Espero que continuem a fazer sucesso entre os leitores.

 Em Itu

O escritor Laurentino Gomes vai lançar seu livro “1889”, em Itu, cidade em que reside, com direito a sessão de autógrafos. O evento acontecerá na Livraria Nobel, no Plaza Shopping Itu, na manhã de sábado, dia 28 de setembro.

 por Gisele Scaravelli

fotos Alexandre Battibugli

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