Que jogue a primeira pedra quem nunca esqueceu o que comeu no café-da-manhã, o nome daquele livro que leu semana passada e até onde colocou as benditas chaves do carro. Muitos colocam a “culpa” nas inúmeras coisas que precisam lembrar-se durante o dia. São senhas, endereços eletrônicos, compromissos, horários entre outros. Mas aí está o primeiro equívoco relacionado à nossa memória. “Para o cérebro, quanto mais estímulo melhor. É bom estudar sempre, ler, tocar um instrumento, além de praticar atividades físicas. Hoje em dia as pessoas se cobram demais, acontece que o cérebro seleciona o que quer lembrar, ele faz uma filtragem das informações recebidas durante o dia”, explica Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira, geriatra e presidente da Associação Brasileira de Alzheimer – ABRAz – de Indaiatuba.

Ter uma vida saudável está no topo da lista das atividades que devem ser seguidas para preservar a memória. Diante disso, o consumo de álcool, de tabaco, de altas porções de carboidrato pode estar ligado ao possível desenvolvimento de uma demência, como a de Alzheimer, que hoje responde por mais de 50% dos casos de pessoas com algum tipo de doença mental. “Além disso, sabemos que existe o que chamamos de proteção de escolaridade, em que as pessoas que estudaram por mais de 11 anos correm menos riscos”, alerta Celene. Por isso, a importância de manter-se em constante aprendizado.

Memória x saúde bucal

Um estudo publicado no JAGS (Journalof American GeriatricsSociety) em maio de 2012, mostrou que uma boa saúde bucal pode ser considerada um fator de proteção para o desenvolvimento da doença de Alzheimer. Quanto mais dentes naturais a pessoa tem, menor a chance de desenvolver a doença. Naqueles pacientes que já têm demência quanto melhor a higiene bucal, incluindo o cuidado com as próteses, mais lenta a progressão da doença.

Perda de memória

Os lapsos que temos no dia-a-dia não são preocupantes. A perda de memória começa a ser um fator de risco quando uma dona de casa que sempre deixava seu lar um verdadeiro “brinco” passou a não se preocupar mais com ele. Ou aquele senhor que era um “ás” das finanças perdeu o controle da sua conta bancária. “Demência é a perda de funções cognitivas como os cálculos, a leitura, a interpretação, a organização, a localização e o julgamento”, explica Celene.

O Alzheimer é a doença mental mais conhecida e comum, porém, cada uma tem sua peculiaridade. Por exemplo, existem demências que são causadas por acidentes vasculares, que estão ligados ao consumo do tabaco e da diabetes, ou até os que são recorrentes da Sífilis e do HIV. “Temos que fazer uma verdadeira investigação com os familiares também. Tem demências, por exemplo, que são causadas por falta de vitamina B12 e de ácido fólico, coisa que conseguimos detectar nos exames laboratoriais. Essas, geralmente, são reversíveis”, acrescenta a geriatra.

Dentro do que devemos consumir para preservar esse bem precioso chamado memória, estão os alimentos ricos em Ômega 3, que reflete no todo, Curcumina, que estudos já revelaram que podem proteger o cérebro, além das vitaminas B e D, mas sempre com indicação médica. “Se houver deficiência dessas vitaminas no corpo é preciso tomar cápsulas, caso não, só ingerir alimentos que contenham as substâncias”, pontua Celene.

Tratament

“O cérebro é multifuncional, por isso, o quebra-cabeça pode ajudar na questão de visão espacial, por exemplo. Os jogos são indicados para todo mundo, porque também tem a questão social”, acrescenta Celene.

Quando um paciente tem Alzheimer, é importante fazer um tratamento multidisciplinar, com terapia ocupacional, psicologia, além dos remédios. “O medicamento irá desacelerar a progressão da demência, mas com as terapias complementares, e aí entram aromaterapia, musicoterapia, entre outros, a parte cognitiva pode haver melhoras”, indica a geriatra.

Celene completa dizendo que hoje em dia já existem até quebra-cabeça próprio para os pacientes com Alzheimer. Além disso, um ambiente tranquilo, bem iluminado, sem obstáculos, também ajuda na qualidade de vida do doente. “Geralmente eles não gostam de barulho, e quanto mais avançada estiver a doença, mais agressivo o paciente pode ficar”, diz.

Tabu

Conhecer os sintomas do Alzheimer pode ser um grande fator de ajuda na detecção da doença e tratamento. “Em primeiro lugar precisa desmitificar que é normal os idosos terem Alzheimer e perda de memória. Junto com a demência tem um conjunto de coisas, e quanto mais rápido o diagnóstico, melhor. O mínimo de demonstração de esquecimento indica que é hora de levar ao médico”, fala Celene.

E a atenção da família com o seu parente ultrapassa o levar a consulta. Geralmente os pacientes não admitem que estão “esquecidos”, por isso é normal a família ir a uma consulta antes de levá-los. “É importante lembrar que o Alzheimer pode levar à morte, pois ele gera uma fragilização, a pessoa come menos, pega uma infecção e vem a óbito”.

Abraz

Alzheimer: Quanto antes souber, mais tempo você terá para lembrar…

Você já deve ter ouvido nas rádios a propaganda em que a atriz Irene Ravache diz que seu pior papel foi não saber que sua mãe estava com Alzheimer. A propaganda faz parte da conscientização que a ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) faz pela doença.

Poucas pessoas sabem que em Indaiatuba um grupo de profissionais doa parte de seu tempo e de seus conhecimentos a esclarecer dúvidas constantes dos familiares e cuidadores de doentes. Palestras sobre direitos dos pacientes, atendimentos psicológico para os cuidadores e maneiras de trazer mais qualidade de vida ao dia a dia são temas constantes nesses encontros.

Toda primeira segunda-feira do mês, a Associação Paulista de Medicina (APM) – Regional Indaiatuba recebe os interessados em saber mais sobre esse mundo. “Há oito anos fazemos esse trabalho. Sempre abrimos para perguntas e são os próprios cuidadores que escolhem os temas”, diz Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira, presidente da instituição na cidade.

A Abraz Indaiatuba viabiliza parcerias com faculdades, além de promover em setembro, já que dia 21 é Dia Mundial do Alzheimer, eventos para a comunidade.

Você tem uma pessoa com Alzheimer em casa? Dê uma passada na APM para saber quais são os seus direitos.

MAIS: A entidade fica na avenida Eng. Fábio Roberto Barnabé, 709, Vila Teller,em Indaiatuba. Telefones: (19) 3875-7200, (19) 3894-3291 (fax).

texto Yara Alvarez

foto: Fotolia