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A era do ser e as empresas

“Só um ser espiritualmente apetrechado poderá estar verdadeiramente centrado no essencial das suas decisões, permitindo-se a total sintonia entre os seus próprios valores e o posicionamento estratégico da empresa”

Vivenciando a era do ser, empresas buscam respaldo na espiritualidade

“A espiritualidade passou a ser uma preocupação da sociedade, desde que o ser humano começou a perceber que na sua vida estava faltando algo”, assim começa a entrevista do consultor e educador Koji Sakamoto, especialmente para a revista Indústria Regional, publicada pela Editora Clipping, a mesma de Revista Regional.

A situação descrita pelo consultor tornou-se mais evidente nos últimos tempos, confirmando a grande transição que o mundo passa: saindo da era do ter, para vivenciar a era do ser. E não é difícil encontrar exemplos diários dessa preocupação. Vemos cada dia mais pessoas preocupadas e, engajadas, com meio ambiente, qualidade de vida, busca espiritual, etc, preferindo, por vezes, ganhar menos para viver uma vida mais tranquila e sem grandes pressões. “Somente através da espiritualidade o homem conseguirá preencher o vazio existente em seu interior”, completa Sakamoto.

Em toda atividade humana e empresarial podemos perceber três fases importantes para a concretização de um trabalho: forma, função e missão. Sendo a forma e a função práticas definidas materialmente e a missão, espiritualmente. Uma empresa terá a possibilidade de consolidar e crescer por tempo indeterminado desde que consiga cumprir plenamente sua missão, que normalmente não tem sido a preocupação das organizações. O consultor nos dá um exemplo. “Em uma construção existe forma, função e missão. Uma casa, após ser construída, passa a cumprir a sua missão quando ela é entregue ao seu usuário, e não como normalmente se pensa que a missão termina quando a obra é finalizada. A verdadeira missão começa quando a casa é entregue, pois ela deixará ou não o seu usuário feliz”.

O também consultor de empresas e diretor do Centro de Estudos Aplicados em Marketing, do Instituto Superior de Administração e Gestão na cidade do Porto, Portugal, Paulo Vieira de Castro, em um artigo publicado, abordou o tema afirmando que a falta de um centro de valores comum propicia, tantas vezes, a criação de dois mundos inconciliáveis: o profissional e o pessoal, e é nesse último quesito que a espiritualidade se mostra importante no mundo do trabalho. “Só um ser espiritualmente apetrechado poderá estar verdadeiramente centrado no essencial das suas decisões, permitindo-se a total sintonia entre os seus próprios valores e o posicionamento estratégico da empresa”.

Para o professor e conferencista Tommy Nelson, coach oficial no Brasil de James Hunter (autor do livro “O Monge e o Executivo”), a gestão espiritualizada se dá somente com a atuação de um líder espiritualizado, que enxerga o ser humano não somente como um instrumento utilizado para o lucro de uma empresa, mas como alguém que precisa ser respeitado como um ser espiritual. Segundo ele, os conceitos de liderança servidora e gestão espiritualizada se encaixam perfeitamente, pois uma vez que um líder tem a consciência de que as pessoas com as quais ele trabalha são seres espirituais, ele sabe claramente qual a sua missão e como deve agir. “Quando ele percebe essa dimensão, entende que a função dele não é mandar, e sim servir”, explica. Para Tommy Nelson, o líder espiritualizado tem que entrar no mundo da excelência todos os dias, tentando conciliar a sua função, e mesmo assim servir às pessoas que estão no seu comando. “O líder espiritualizado respeita as pessoas como indivíduos que têm uma vida, propósitos e outros relacionamentos, ou seja, ele se interessa pela pessoa para poder entendê-la em todas as dimensões de sua vida e isso não se resume apenas à sua rotina de trabalho”, explica.

A felicidade como arma de mudança

A chegada de novas tecnologias, e o chamado “mundo moderno”, nos proporciona diversas facilidades, mas insere em nosso cotidiano a necessidade por mais rapidez, acertos, ineditismo, o que acaba nos pressionando e, aprisionando, em um mundo onde somente o perfeito tem vez.

Reflexos desse estilo de vida imposto são os consultórios de psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas, cada vez mais lotados por pessoas que buscam encontrar o sonhado equilíbrio pessoal e profissional.

Atentas a isso, grandes corporações passaram a inserir o conceito de felicidade em suas marcas, e trazer para dentro de seu ambiente a preocupação com o bem-estar de seus colaboradores. Como exemplos dessa mudança, Sakamoto passa observações de algumas campanhas publicitárias. “Tomemos como exemplo o slogan de algumas empresas que se preocupam com a felicidade, como o Pão de Açúcar: ‘Lugar de gente feliz!’, Magazine Luiza: ‘Vem ser feliz’, Coca-Cola: ‘Abra a felicidade’, SBT: ‘A TV mais feliz do Brasil’, etc”, exemplifica.

E como o índice felicidade pode influenciar nos resultados? “Temos o exemplo de um colégio que enfrentava dificuldades com inadimplência e não conseguia crescer. Após começar a cumprir sua missão como escola através da direção, professores e funcionários objetivando a felicidade dos alunos e também dos seus pais, aumentando a satisfação destes em relação ao colégio, começou a diminuir a inadimplência. Os pais passaram a priorizar o pagamento das mensalidades dentre outros compromissos, e começaram a passar esse contentamento para outras pessoas, influenciando decisivamente no crescimento do número de alunos da escola”, explica.

Algumas pessoas podem questionar-se sobre o paradoxo de divulgarem “pessoas felizes” sendo que o que as corporações realmente buscam é o lucro, e a produtividade. Ou seja, maquiam o que realmente importa, que são as vendas altas, e a produtividade. Mas podemos avaliar ‘romanticamente’ a preocupação atual de algumas empresas, e passar a enxergar que deixamos de ser peças, e passamos a fazer parte de um todo.

Espiritualidade, coaching, e as novas ferramentas de mercado

Thaís Fiorellini, coaching e naturóloga, uniu as duas ferramentas de autoconhecimento para auxiliar empresários a se conhecerem e traçarem os rumos de sua vida profissional. “O Executive Coaching tem sido a arma secreta para o desenvolvimento de líderes, causando alto impacto dentro das empresas, sendo o topo de aspirações de executivos que querem tornar suas vidas mais marcantes na busca de desenvolvimento de talentos e resultados”, completa.

O coaching é a única ferramenta que existe para melhorar qualquer aspecto da vida pessoal ou profissional das pessoas. É um processo que foi desenvolvido, seguindo uma metodologia de aplicação imediata, e com resultados rápidos. Não é terapia, apesar de ser um processo de autoconhecimento, a técnica foca no presente e futuro, sempre levando o coachee (cliente) a encontrar os próprios caminhos para alcançar suas metas.

Com o auxílio da Naturologia, que visa a prevenção e tratamento de desequilíbrios do ser humano, o coaching passa a ter resultados mais otimizados, pois age em parceria, trazendo equilíbrio emocional e tratando as frustrações anteriores por metas não cumpridas, objetivos não alcançados ou qualquer dificuldade emocional que a pessoa tenha que a impede de alcançar seus objetivos.

Assim como Sakamoto, a naturóloga presta consultoria para grandes empresas, mostrando que é possível alinhar as cobranças diárias com a felicidade e, principalmente, senso de importância individual no mundo. “Meu maior objetivo é ajudar as pessoas a se elevarem espiritualmente com o propósito de torná-las felizes”, diz o consultor.

Como começou a história do consultor em espiritualidade empresarial?

A história de Koji Sakamoto começou a tomar outro rumo em 1974, quando, empresário bem sucedido, conheceu a filosofia espiritualista de Mokiti Okada (estudioso sobre diversas áreas do conhecimento humano, mas, sobretudo, ao estudo da religião, das artes e da agricultura, apresentando propostas viáveis para um desenvolvimento social integrado. Toda sua filosofia foi estabelecida com base nas Leis da Natureza, alicerçada nos princípios da Verdade, Bem e Belo), que também prega o objetivo de preparar pessoas íntegras, altruístas e saudáveis para servirem à sociedade. “Formei grupos e pessoas de vários nichos: jovens, casais, empresários, profissionais liberais, entre outros, com a preocupação de fazer as pessoas aprenderem a ser úteis à sociedade, espiritualistas (independente da religião que seguem dentro da vida diária e da profissão que exercem)”, fala Sakamoto.

Com base nas experiências que viveu com cada uma das pessoas que ajudou, o educador Sakamoto passou a escrever livros relatando as histórias. “Encontrando um caminho” foi o primeiro deles, todo baseado nas experiências de jovens, que acompanhou durante anos, com mais de 60 mil exemplares vendidos. “A felicidade no casamento está dentro de cada um”, fruto das experiências de inúmeros casais que acompanhou e orientou, servindo até como manual doutrinário sobre o relacionamento; e “Seja lá o que Deus quiser”, voltado para empresários. A partir dessa mudança de caminho, o educador passou a desenvolver atividades de consultoria, cursos e coaching sobre espiritualidade para empresários.

 texto Yara Alvarez

foto: Microfoto

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