Todo ser humano está em busca desse tesouro perdido. O que algumas pessoas ainda não perceberam é que podemos nos sentir bem realizando pequenos gestos e que ser feliz depende unicamente de nossas escolhas. Não é uma questão de sorte, tão pouco um desígnio de Deus
Ao longo de nossa existência, diversas questões existenciais despertam a curiosidade dos seres humanos. Quem somos? De onde viemos? Existe vida após a morte? Em meio a tantas dúvidas – e poucas conclusões precisas, diga-se de passagem – não parece precipitado concluir que talvez as respostas mais buscadas estejam relacionadas a um mesmo tema: a felicidade. O que é a felicidade? Onde encontrá-la? Pessoas que têm dinheiro são mais felizes do que aquelas que não possuem tantos recursos?
Compreender a razão de tamanho interesse é relativamente simples: a felicidade é o nosso combustível; aquilo que nos motiva a “viver tudo que há para viver”, assim como sugeriu Lulu Santos nos versos da canção “Tempos Modernos”. Por causa dessa busca, as pessoas compartilham suas experiências, fazem planos, promessas, riem, festejam, se divertem e, não raramente, choram e até brigam. Tentar explicá-la é uma tarefa complexa, mas as histórias de gente assumidamente feliz e as descobertas da ciência podem nos fornecer pistas importantes, na tentativa de desvendar o enigma daquilo que muitos julgam ser “o tesouro perdido”.
E, se até algum tempo atrás o estudo do tema era feito predominantemente pela psicologia, observa-se que, nas últimas duas décadas, em especial, uma nova configuração vem se desenhando: cada vez mais, a felicidade vem se tornando um objeto de estudo interdisciplinar. Isso significa que outras áreas do conhecimento – como, por exemplo, a neurociência ou a economia – aderiram a um mecanismo aparentemente contraditório, porém absolutamente natural: ao mesmo tempo em que se questiona sobre a felicidade, esperam nela encontrar respostas.
As motivações, embora sejam distintas, acabam se complementando: o psicólogo quer entender o que o ser humano sente, o economista quer saber a que o indivíduo dá valor, o neurocientista quer descobrir como o cérebro humano reage a recompensas. A proposta da equipe de Revista Regional pode até ser menos ousada, mas é igualmente nobre: convidamos a todos a fazer uma reflexão sobre o ideal de felicidade – com base no depoimento de renomados especialistas –, afinal de contas, já disse Mário Quintana sobre o tema: “Quantas vezes a gente, em busca da ventura / Procede tal e qual o avozinho infeliz / Em vão, por toda parte, os óculos procura / Tendo-os na ponta do nariz!”.
Aquilo que se sente
Fundadora do Instituto da Ciência da Felicidade, com sede em Campinas, a neurocientista Silvia Helena Cardoso explica que a felicidade é um estado de bem-estar subjetivo, ou seja, aquilo que cada pessoa, em particular, sente. “As emoções, como o riso e a alegria, são passageiras – nós não podemos senti-las o tempo todo. Qualquer pessoa, intuitivamente, sabe disso – e ajudam o indivíduo a perceber esse estado de bem-estar, que é diferente, pois consiste em algo que carregamos conosco o tempo todo. Mas existe o outro extremo. Os depressivos, por exemplo, não atingem a esse estado: eles perdem a alegria e a vontade de fazer as coisas, consequentemente, não há também o retorno da recompensa”, esclarece.
Mesmo sendo um conceito tão subjetivo, Silvia elege algumas características como sendo cruciais para quem busca a felicidade. A primeira delas é a generosidade, o altruísmo, ou em outras palavras, a capacidade de fazer o bem para o seu semelhante. Dessa forma, um sorriso ou uma pequena ajuda que você dê para alguém – seja na rua, no supermercado ou em qualquer outra situação do cotidiano – faz bem não só para quem foi ajudado, mas também à pessoa que praticou o gesto.
Outro aspecto-chave é o engajamento, a que os cientistas também chamam de estado de fluxo. A neurocientista revela que essa situação costuma acontecer com frequência com todos aqueles que enxergam aquilo que querem e, consequentemente, gostam do que fazem. Esses indivíduos se envolvem de tal maneira que sentem um prazer até inconsciente: seu bem-estar e nível de satisfação são tão grandes, eliminando o desejo de interromper aquela atividade. Nessa “receita”, incluí-se também a interação com o meio ambiente e a valorização das pequenas coisas.
“Muitas pessoas acham que grandes metas é que trazem a felicidade, mas estudos já foram feitos e dizem que, mesmo quando se conseguem esses objetivos, a felicidade, por causa daquilo, é temporária. Na realidade, é a somatória das pequenas coisas, que acontecem no dia-a-dia é que nos proporcionam essa sensação de bem-estar”, conclui, enfatizando que há uma explicação para essas oscilações: o chamado set point da felicidade, ou seja, o ponto de ajuste: “mesmo que você esteja muito ou pouco feliz, sempre voltará ao normal”.
A partir desse conceito, pode-se concluir que felicidade também é um estado de equilíbrio – nem muito, nem pouco – é aquele patamar de tranquilidade, de pacificidade do ser humano, do ser interior, de harmonia consigo mesmo. “Já foram feitas pesquisas com ganhadores de loteria; eles ficaram extremamente felizes por determinado período. Algum tempo mais tarde, no entanto, voltaram a se comportar e agir como antes. E, no extremo oposto, quando acontece alguma desgraça terrível com o indivíduo, isso também acontece. Por exemplo, uma pessoa que fica paraplégica, ou cega, acredita que está vivendo uma verdadeira tragédia, mas depois de certo ponto, o cérebro se ajusta: o sistema de felicidade de uma pessoa normal não permite que ela seja infeliz por muito tempo”, sentencia.
Pensar, sentir e agir para mudar
Silvia aproveita para chamar a atenção para outro aspecto que ela considera importante: pensamentos, sentimentos e ações têm o poder de mudar o nosso cérebro. Por isso é necessário manter a autoestima. Agindo desta maneira, nós estamos fazendo com que a circuitaria neural do nosso cérebro se transforme, sob a atuação dos chamados neurotransmissores positivos. “Todos nós temos um sistema de felicidade, que está pronto para funcionar, assim que estimulado”, revela.
Muitas das reações – especialmente as negativas – acontecem inconscientemente. Todavia, quando a pessoa conhece o funcionamento de seu organismo, ela passa a controlá-lo. Numa situação desfavorável, o indivíduo irá, então, dialogar consigo mesmo. “Espera lá, vamos com calma, isso vai passar”. Por si só, esse pensamento irá desencadear uma série de mudanças no cérebro, porque nele existem circuitos que funcionam especificamente para diferentes sentimentos e pensamentos.
Esta atitude vai ao encontro das diretrizes da chamada psicologia positiva, que, ao invés de tentar aliviar as fraquezas, procura estimular as potencialidades mentais de cada pessoa para que ela consiga enfrentar as adversidades com equilíbrio, apostando no que há de bom. E o que há de bom, segundo a neurocientista, são as pequenas coisas da vida – ter mais contato pessoal, procurar fazer atividades que lhe agradem, rir e brincar mais – ou seja, hábitos simples, que todos nós somos capazes de adotar.
Questionada se hoje em dia há uma imposição de ser feliz, ela é enfática: as emoções – o sorriso e a alegria – bem como esse estado de bem-estar, não podem ser vistos como uma obrigação. “A pessoa que força essas reações já não está ativando os circuitos genuínos que causam aquela felicidade natural. Há sim a necessidade de se buscar as coisas que o fazem feliz, e não de senti-las, porque, quando você cumpre a sua missão que é buscar, automaticamente vai sentir”.
Por outro lado, nossa personagem faz questão de frisar que a felicidade não é uma questão de sorte, tão pouco um desígnio de Deus e cita o filósofo Aristóteles, que há mais de 2.400 anos, já dizia que a felicidade depende de nossas ações. “Se a gente ficar dentro de casa, deitado, sem fazer nada, nós não vamos ter momentos de alegria e é a somatória desses momentos que vai nos dar o bem-estar. Nós temos que nos esforçar pra ser felizes. E uma maneira de fazer isso é a interação social, o contato com o ser humano e com os animais também”, enfatiza.
Silvia explica, de forma mais detalhada, os benefícios da convivência com os bichos. “Faz muita diferença. Muitas instituições usam os animais até em tratamentos [Reportagem de Regional já mostrou os benefícios da cãoterapia], porque, quando um indivíduo está com o seu animalzinho de estimação, ele é capaz de liberar o hormônio do amor, que é a oxitocina; e do prazer, a dopamina. Logo, o cérebro daquela pessoa fica inundado por estas substâncias”. Portanto, se você ainda não tem fica a sugestão deste jornalista, que endossa o pensamento da neurocientista: adote um bichinho e sua vida será mais feliz.
Felicidade Interna Bruta
O interesse pela felicidade também chegou ao campo econômico. São cada vez mais frequentes as tentativas de se mensurar o impacto desse “estado de bem-estar” no desenvolvimento do país. Recentemente, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) deu um passo importante nesse sentido ao criar um Instituto de Finanças – que elaborará uma metodologia para calcular a felicidade do brasileiro – reforçando a ideia de que este é um movimento irreversível.
A Felicidade Interna Bruta (FIB) – como será batizado o índice – é resultado de uma junção de várias iniciativas que já existiam e avaliará o nível educacional, diferença salarial entre homens e mulheres, distribuição de renda e divergências entre as classes sociais, longevidade, Produto Interno Bruto (PIB), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), segurança e saúde. O novo indicador será produzido pelo núcleo de Estudos de Felicidade e Comportamento Financeiro, com gestão de Fábio Gallo e Wesley Mendes.
Numa outra frente, um levantamento da FGV – realizado em parceria com a Consultoria Gallup – indicou que o Brasil é tetracampeão mundial quando o assunto é felicidade. Cerca de 200 mil pessoas, provenientes de 158 países, foram questionadas sobre a expectativa de felicidade nos próximos cinco anos e também no cenário atual. O Brasil sagrou-se vencedor em ambas as esferas, seguido por Panamá, Costa Rica, Colômbia, Catar, Suíça e Dinamarca. A pesquisa indicou que as mulheres brasileiras são mais felizes que os homens.
O economista e professor da FGV-EAESP, Plínio Bernardi Júnior, acredita que a evolução da ciência – alavancada pela necessidade do ser humano em compreender melhor o mundo em que vive – provoca o surgimento de outros indicadores. Sob essa perspectiva, a medida da felicidade, embora subjetiva, é um complemento ao conceito de desenvolvimento e vem para melhorar os índices já utilizados. “Vai chegar o momento em que todos eles serão colocados numa balança, assim como quando você leva o seu filho no pediatra: para um diagnóstico preciso, não é suficiente medir peso e altura”, projeta.
Plínio faz um comparativo. Antigamente, a medida de desenvolvimento era obtida pela divisão do PIB do país pelo número de habitantes. Todavia, este é um indicador falho, que não leva em conta a desigualdade de renda. O IDH, por sua vez, é um grande avanço em relação ao PIB per capita, pois avalia outros fatores, como escolaridade, expectativa de vida ao nascer, saúde, mas, ainda sim, apresenta algumas lacunas.
“É fácil de entender: uma pessoa pode ser feliz independentemente de seu nível de renda e de consumo. Numa escala capitalista, um povo pode ser considerado menos desenvolvido, mas ter mais qualidade de vida. Talvez os monges do Tibete sejam mais felizes do que os moradores de Manhattan”, exemplifica o economista, que aproveita para enfatizar que o nível de desenvolvimento de uma nação exerce impacto direto sobre as suas prioridades. “Apesar das melhoras, o Brasil ainda é um país pobre”, ressalta.
Dinheiro traz felicidade?
Explicação semelhante Plinio fornece ao ser questionado acerca da relação entre felicidade e condição financeira. Segundo ele, para as pessoas mais pobres, o dinheiro se traduz em felicidade mais facilmente – embora haja, na população carente, indivíduos para os quais o dinheiro é menos importante, como faz questão de frisar –, pois qualquer aumento de renda se converte em consumo, que, por sua vez, vai suprir algumas necessidades básicas, agregando bem-estar e qualidade de vida.
No outro extremo, se o indivíduo está satisfeito com aquilo que possui e tem acesso a uma boa infraestrutura, outros fatores, além da renda, é que proporcionam a felicidade, como por exemplo, a realização pessoal, status e eventualmente o nível de escolaridade. Àqueles que acreditam que o caminho para ser feliz passa, obrigatoriamente, pela capacidade de adquirir bens materiais, Plínio faz um alerta: é preciso diferenciar um investimento, ou seja, algo que vai gerar resultado, do consumismo.
“As pessoas são bombardeadas por uma necessidade de consumo, que traz consigo uma falsa sensação de felicidade. Por exemplo, se você não precisa do carro para trabalhar, adquiri-lo é uma coisa ruim. A sensação de felicidade vai ser esvaziada quando a pessoa perceber que o veículo custa mais caro que um filho. Por outro lado, se o indivíduo atua como representante comercial, essa é uma conquista que contribui para a melhora de renda. O sacrifício transforma-se em patrimônio”.
Transitando da teoria à prática, o economista se declara uma pessoa feliz e admite que teve essa certeza depois que foi desligado de uma instituição de ensino, com a qual mantinha um vínculo duradouro. “Eu sequer me abalei. Graças a essa ruptura, estou quase todas as noites em casa: ganhei mais tempo com os meus filhos”. E, por fim, faz uma última reflexão. “A busca pela felicidade me parece ser até mais interessante do que a própria felicidade. Imagino que, aos 43 anos, se eu chegar à conclusão de que não preciso mais de nada, eu serei infeliz. O ser humano está sempre à procura de alguma coisa. Talvez eu não atinja todas as minhas metas, mas é esta busca que me faz feliz”.
Em constante transformação
Para ampliar o alcance dessa discussão, Revista Regional convidou também a fundadora da Comunidade Zen Budista no Brasil, Monja Coen Sensei, que já havia nos concedido uma entrevista em janeiro de2011. Amissionária – que foi ordenada monja em 1983 – salienta que, etimologicamente, felicidade tem a mesma origem de fértil, frutífero. Assim quando nos sentimos incluídos e nossas ideias são compartilhadas, aprovadas, ficamos felizes.
“Os neurocientistas dizem que a região do cérebro de receber um agrado, um mimo é a mesma área de dar, de cuidar, de fazer o bem. Estimular essa área cerebral, fazer o bem pelo bem, sem esperar retorno, é o Caminho do Bodisatva, o Caminho da Felicidade Plena. Um Caminho, um processo. Não há nada fixo, nada permanente. Não apenas a felicidade é impermanente, mas tudo que existe está em constante, incessante, transformação”, avalia.
“Embora necessitem de afeto e reconhecimento, as pessoas devem desenvolver o Contentamento pela Existência, por esta experiência de sermos humanos. Possuir um animal de estimação, satisfação no trabalho, no relacionamento, saúde física e mental, sucesso mundano, podem ser fatores de bem-estar. Mas o animal de estimação morre, fica doente; os companheiros e atividades no trabalho também não são permanentes e os relacionamentos oscilam entre agradável e desagradável”, pondera Coen.
Sob essa perspectiva, perceber a impermanência, compreendê-la e penetrar o eu verdadeiro, segundo ela, mostra-se como o único caminho, pois o estado de contentamento independe de riquezas e poderes. Para ilustrar seu raciocínio, a missionária cita uma frase de Buda. “A pessoa que conhece o contentamento é feliz, mesmo dormindo no chão. A que não conhece o contentamento é infeliz mesmo em um palácio celestial. A pessoa contente deve se apiedar daquelas que desconhecem o contentamento”.
Ainda como parte dessa mudança, o ideal é manter o foco nas coisas boas. Deixar de reclamar, resmungar, lamentar e passar a apreciar cada instante perene desta existência. “O céu, o mar, a terra, tudo que entra e sai do vir a ser, vida-morte, tudo que é e não é, tudo, incessantemente prega a Verdade e o Caminho. Tudo é a Verdade e o Caminho. Não há dentro ou fora. Deve-se abrir a mente Buda e apreciar a vida”, ensina.
Ampliar o sentido de pertencer
Coen lembra que tudo está inter-relacionado, ou seja, enquanto animal social, todo homem pertence a um grupo, uma tribo, um time de futebol, um país, ou uma escola. Muitas vezes, para fazermos parte de um grupo precisamos ter o que o grupo tem: carros, casas, geladeira, roupas semelhantes, óculos, e assim por diante. Entretanto, ela sugere que esse sentido de pertencimento deve ser ampliado.
“Posso pertencer à espécie humana, esta grande família, além dos valores dos grupos menores nos quais estou inserida. A capacidade da transcendência na imanência é o portal da iluminação. Obter coisas materiais nem sempre é fuga ou frustração. Somos o que temos. Nosso corpo, nossa capacidade de percepção, nossas escolhas, nossos objetos, amigos e assim por diante. Temos o que somos, o que temos representa o que somos neste momento. O maravilhoso disto tudo é que nada é fixo: mudamos de roupas, de grupos, de personagens”, constata.
Dessa forma, alerta a missionária, é preciso cuidado, “pois até nos apegamos ao não apego” e, por causa disso, passamos a discriminar, julgar e condenar aqueles que são diferentes de nós, neste momento. “Esquecemo-nos que somos uma única espécie, que somos a vida da Terra. Relembrar-se é tarefa fundamental. A palavra religião também vem de releger. Ler novamente. Reler nossa história, rever nossos valores. Isso deve ser uma constante”.
Sobre a sua própria felicidade, Coen reconhece que “é e não é, está e não está” feliz. O motivo para esse conflito, segundo ela, pode ser explicado pelo fato de que há momentos nos quais a “mente Buda” está plenamente clara e serena. Por outro lado, há situações comuns à “mente humana” confusa, agitada. Tudo faz parte. A monja também hesita ao ser convidada a eleger seu momento mais feliz.
“Vivo tantas experiências, como escolher apenas uma?”, questiona, recordando o dia de sua ordenação monástica: “foi maravilhoso”. Ela também tem boas lembranças do tempo em que brincava com a irmã e andava de bicicleta na praça. Além destes, outros tantos momentos são guardados com carinho, como, por exemplo, o casamento e o nascimento da filha; ver seus textos publicados no jornal – antes da ordenação, Cláudia Dias de Souza exerceu a profissão – viagens; a dinâmica procurar / encontrar; as práticas no Japão e a volta ao Brasil; os cuidados com a mãe até sua morte; os cães adoráveis; olhar a lua cheia em silêncio; praticar zazen e ler os ensinamentos de Mestre Dogen (fundador da ordem Soto Zen, no século XIII).
Por fim, Coen faz questão de deixar uma mensagem aos leitores de Regional. “Abandone os conceitos que possa ter sobre felicidade e aprecie este momento, as inúmeras causas e condições que o fazem ser como são. Esta folha de papel existe porque há árvores, plantas, insetos, terra, vento, água, ar, serras elétricas, caminhões, seres humanos, alimentos – tudo que existe permite que esta folha exista. Nuvens, estrelas, constelações. Sair do eu menor, do ser egoico, do que é bom para mim e se lembrar que somos este processo incessante de vir a ser, apreciar o processo. Chorar e rir. Falar e silenciar. Apreciar o desabrochar da flor e o seu murchar. Perceber a harmonia até na desarmonia. Nós podemos e devemos ser felizes”.
A felicidade, segundo o Zenbudismo
Para o Zenbudismo, a felicidade está em compreender e agir de forma sábia e adequada, plena de compaixão. Nesse sentido, podemos falar de Nirvana ou Nibbana – um estado de paz e tranquilidade, pleno de sabedoria e compaixão. No primeiro ensinamento de Xaquiamuni Buda, fundador histórico do Budismo, há a explicação das Quatro Nobres Verdades:
Dukkha – problemas, dificuldades, sofrimentos, existem.
Causalidade – há causas e condições para o surgir e desaparecer
Nirvana – há o estado de libertação
Caminho de Oito Aspectos – Memória Correta, Pensamento Correto, Ponto de Vista Correto, Fala Correta, Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Atenção Correta, Meditação Correta. A prática destes Oito Aspectos é em si mesmo o Nirvana.
Para ler
Ao leitor que deseja mais informações sobre o assunto, equipe de Regional sugere a leitura de três obras sobre felicidade:
1 “Descubra os Seus Pontos Fortes” – Marcus Buckingham e Donald O. Clifton
Baseados em pesquisas feitas pelo Instituto Gallup com mais de 2 milhões de pessoas, os autores constataram que a maioria das empresas dá pouca ou nenhuma atenção aos pontos fortes de seus funcionários. Para ajudar você a descobrir quais são e como aprimorar seus talentos e de seus colaboradores, este livro traz um programa completo em torno do teste “Descubra a Fonte de seus Pontos Fortes”, que você também poderá fazer pela internet para descobrir seus cinco talentos dominantes.
2 “Felicidade: Lições de uma Nova Ciência” – Richard Layard
Segundo a economia tradicional, existe uma relação direta entre ganhos materiais e felicidade. No entanto, há quem questione esse preceito. Richard Layard é um dos mais importantes nomes dessa nova escola do pensamento. O autor acredita que dois aspectos devem ser levados em consideração: a forma como interagimos com nós mesmos e a forma como interagimos com os outros. As pessoas mais felizes são capazes de apreciar o que têm – seja lá o que for – e não se preocupam em se comparar com os outros.
3 “O que nos faz felizes” – Daniel Gilbert
Na obra “O que nos faz felizes” o psicólogo e professor da Universidade de Harvard, Daniel Gilbert descreve tudo o que a ciência tem a dizer sobre o esforço exclusivamente humano de prever o futuro e sobre como nos sentiremos quando chegarmos lá. O autor também se propõe a derrubar as mais absolutas certezas sobre como a mente funciona e a esclarecer qual o verdadeiro caminho da felicidade.
reportagem de Piero Vergílio
fotos: BIRF e Microfoto