Aos 62 anos de idade no Brasil, a televisão está presente em mais de 95% dos lares brasileiros, se tornando um utensílio básico no cotidiano do povo. Atrevo-me a dizer que, tão importante quanto à geladeira é o entretenimento proporcionado pela televisão.
Entretanto, se analisarmos seu caráter de grande meio de comunicação de massa, entraremos em uma luta desleal quando envolve as relações do emissor com receptor. Aqui o receptor se torna a parte frágil no processo comunicacional, no momento que recebe e assimila a mensagem passada, sem ter o poder de reação, de argumentação. Tanto a televisão como outros meios de comunicação de massa trabalham num processo de “um para todos”, um único emissor que transmite uma determinada mensagem para todos os receptores (nós), muitas vezes, sentados, passivos, em nossos sofás.
Junto com essa “democratização” da televisão no Brasil vem a responsabilidade social, responsabilidade essa que deveria estar intrínseca nas empresas concessionárias dos canais de televisão de nossa nação, não só nas empresas, mas nas engrenagens que fazem com que essa “máquina de culturas” se locomova, os diretores, editores e produtores dos mais variados programas televisivos de entretenimento que nós, espectadores, somos expostos.
A televisão, por passar-nos uma informação decomposta, deve analisar e medir o que determinado fragmento de informação pode causar em um espectador que, na maioria das vezes, espera uma verdade absoluta, pois, como no início da fotografia instantânea, a verossimilhança em um meio de comunicação audiovisual, pode ser tratada com essa austeridade.
O próprio jornalismo abusivo, sem censura, que alguns veículos de comunicação promovem, passa-nos uma informação que é absorvida de forma que um determinado espectador acredite que a violência urbana tomou conta das grandes metrópoles brasileiras, fazendo com que indivíduos se isolem de um convívio social, justamente pelo medo, imposto pelos meios.
Hoje, a vida que nos cerca, está muito mais dura que antigamente. A própria violência se tornou algo obsoleto, é apresentada de portas abertas, em horários abertos. Quantos de nós, já havíamos assistido, em rede nacional, uma briga onde adolescentes saltavam nas cabeças uns dos outros?
As imagens que chegam, que entram em nossas casas, são tão contundentes, que geram um problema até mesmo na teledramaturgia brasileira, como, em meio a uma realidade nua e crua, escrachada, que é tratada de portas abertas nos noticiários, um diretor de teledramaturgia pode passar uma realidade fictícia? Com que intensidade o espectador pode receber isso?
Se tratando de um meio de comunicação de massa, e principalmente na mensagem que esse meio possa passar ou causar para um determinado grupo social, é que os “fazedores” devem ter a sensibilidade e a responsabilidade de reconhecerem que são “produtores de condutas”, “construtores sociais”, usando esse grande veículo, da melhor forma possível.
* Matheus Mazini Ramos é doutorandoem Artes Visuais da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – Eca-Usp. Contato: matheusramos@usp.br