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Post: Beth Goulart fala de Clarice Lispector para Regional

Beth Goulart fala de Clarice Lispector para Regional

“Ao invés de estar maquiada como Clarice, escolhi uma máscara neutra para poder me transformar nos outros personagens e voltar para ela”

Atriz traz para a região a vida da inspiradora Clarice Lispector; peça em Indaiatuba conta com apoio da Revista Regional

 

Beth Goulart tem muito de Clarice Lispector, mas Clarice Lispector também tem muito de Beth Goulart. A atriz, que a cada personagem escolhido se desnuda para o público mostrando suas próprias fraquezas e temperamento por meio das personagens escolhidas e eternizadas pela escritora nascida na Ucrânia e nacionalizada brasileira, vai construindo uma ponte entre quatro mulheres que das páginas dos livros ganham vidas. Sim, vidas. Pois muitas mulheres irão se reconhecer nas palavras já escritas, e agora, ditas.

Beth traz para três cidades da região Clarice Lispector. Em 22 de junho, às 20h30, o público de Jundiaí tem o prazer de ver as artistas no palco. Em 23, às 21h, é a vez de Indaiatuba receber atriz e escritora, e por último, Vinhedo, às 19h, recebe o premiado monólogo “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”.

“O Amir Haddad (responsável pela supervisão da direção) é a pessoa de fora que me ensinou a ver a Beth. Ele dizia: O meu olhar é sobre o seu olhar. E assim fui percebendo que não tinha que falar da solidão da Clarice, mas sim da minha. Além das opiniões dos personagens, eu me coloco, pois isso marca o processo em que me assumo como criadora e diretora. Esse é o teatro em que eu acredito, é nesse trabalho que me assumo”, sentencia a atriz.

Por suas escolhas no monólogo, Beth revive períodos de sua adolescência, como quando comenta a escolha da primeira mulher que ganha vida por meio de suas palavras e gestos. “Coloquei minha escolha pessoal, tanto que a Joana eu extraí do primeiro livro de Clarice que li quando tinha 13 anos, ‘Perto do Coração Selvagem’, que também foi o livro de sua estreia. Eu achava que ninguém me compreendia. Ficava trancada no meu quarto devorando suas páginas e pensando que só a Clarice sabia o que eu pensava”, comenta.

Na peça, depois de Joana, Beth dá vida a Ana, do conto “Amor”, que leva uma vida simples, dedicada ao marido e aos filhos, e que tem a rotina quebrada ao se deliciar com a magia do Jardim Botânico. “Quando ela entra no local, sente uma elevação na alma, e eu proponho ao público que sinta suas emoções e participe das sensações que ela sente, por meio de elementos sonoros e de luz”. É esse o teatro ao qual Beth se refere quando diz que é o que acredita. O público construindo a peça junto com o ator, e o ator oferecendo situações que faça os espectadores se sentirem parte integrante do todo.

A terceira mulher a sair das páginas é Lóri, da obra “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”, uma professora primária que mora sozinha e se prepara para descobrir o amor. A quarta e última personagem não tem nome, mas marca o espetáculo com sua liberdade. Enquanto passeia por Copacabana suas emoções vão de Deus ao rato, representando a ironia e a inteligência da escritora. “Escolhi esse conto pois queria falar sobre o humor de Clarice, que muitas vezes é incompreendido. É nesse trecho que mostro a racionalidade da escritora”, cita.

Beth levou dois anos para construir a peça entre estudos, pesquisas, escolhas e entendimento. “Eu colocava todos os papeis no chão para ir encaixando e vendo os nortes que queria dar. Usando as palavras dela, eu vou me revelando por meio das minhas escolhas”, completa. A narrativa se constrói a partir de trechos de entrevistas, depoimentos e correspondências. Segundo a autora, toda essa ligação se dá por uma única linha: o amor. “Ela falava sobre o amor maternal, o do relacionamento, o amor a Deus, à natureza, ao próximo. Escolhi esse viés para apresentá-la ao público”, comenta.

Na peça, Beth faz reflexões sobre temas como criação, vida e morte, cotidiano, solidão, arte, loucura, aceitação, entendimento e trabalha pontos característicos da obra de Lispector, como o vazio, o silêncio e o instante-já, “aquele momento único, que é como um flash, um insight“, explica.

E com tanto tempo de convívio, em alguns momentos Beth deixa de ser Beth e passa a ser Clarice, com os gestos fortes, teatrais, postura, fala, e a fisionomia. “Optei na direção por uma linha de sutilezas e sugestões. Ao invés de estar maquiada como Clarice, escolhi uma máscara neutra para poder me transformar nos outros personagens e voltar para ela. O espetáculo todo é como se fosse uma grande folha em branco a ser escrita por esses personagens, pelos movimentos, pelas ações, pelos sentimentos, pela luz”, explica. Mas para quem a vê em cena, a semelhança não passa despercebida. Parece que Beth foi feita para Clarice, tanto que alguns amigos e conhecidos da escritora já disseram que mataram a saudade.

 

Prêmios

Tanto esforço e dedicação renderam a Beth alguns prêmios, como o de melhor atriz no Prêmio Shell 2009, APTR, Revista Contigo!, e Qualidade Brasil, que também premiou a peça “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”, como melhor espetáculo.

Mas talvez a maior sorte seja o público de mais de 170 mil pessoas que já viram Beth caracterizar-se de Clarice e conhecer de perto a poeta e a atriz, com iluminação requintada, trilha sonora própria e um final surpreendente, em que são sorteadas obras de Lispector. “É mais uma forma de aproximar a escritora dos leitores e de estimular a literatura”, finaliza.

O espetáculo, que tem duração de 70 minutos, é uma ótima oportunidade de conhecer mais de Beth Goulart, de invadir a alma da escritora que marcou uma geração e, claro, de encantar-se com o talento de ambas.

 

Bate-papo

Em entrevista exclusiva à Revista Regional, a atriz fala sobre família, carreira, desafios e outros temas.

 

Revista Regional: Em sua opinião, o fato de ter pais famosos e ótimos atores, norteou sua escolha pela profissão?

Beth Goulart: Recebemos influência de tudo o que nos cerca, no caso, escolhi muito cedo minha profissão e sem dúvida o exemplo deles me foi muito favorável, mas não acredito que talento seja hereditário, é uma construção diária e depende de uma dedicação individual, ou seja, se você não for bom, não adianta nada ser filho de… Só depende de você!

 

Devido a essa escolha, já se sentiu pressionada em seguir a trajetória de sucesso deles?

Como disse antes, o caminho é de cada um, não existe fórmula, depende de uma entrega e uma perseverança atroz. Fazer teatro é uma arte de resistência, é preciso muita vontade e muito amor e ninguém pode fazer isso por você, aprendi com eles que o sucesso e o fracasso andam juntos e devemos aprender com o fracasso para aguentarmos bem o sucesso, os dois fazem parte desta profissão.

 

Como lida com as comparações que por vezes fazem de vocês e com a associação do seu nome ao deles?

Quando a gente começa, a referência é muito positiva, pois já sabem de quem estão falando, mas se você não existe por você, a referência se inverte e passa a ser negativa porque se precisa deles, é porque não te reconhecem e a arte é uma atividade única, precisa ser pessoal, ter personalidade, características próprias e isso depende do artista. Sou muito orgulhosa de minha família de artistas, mas gosto de assinar em baixo do que faço.

 

Você prefere estar na televisão ou nos palcos? Em sua opinião, qual é a diferença entre os dois meios?

São veículos diferentes e ambos necessários. No teatro a relação com o público é direta, ao vivo, imediata, já na televisão a resposta é mais distante e a longo prazo, com uma extensão muito maior de pessoas que estão vendo o seu trabalho. Acho que um alimenta o outro e gosto das duas.

 

Você se sente uma atriz completa, uma vez que escreve, dirige e encena?

Digamos que me sinto uma atriz preparada para qualquer desafio, mas nunca inteiramente pronta. Nunca se para de aprender, é uma das qualidades desta profissão. Cada trabalho é uma oportunidade de aprendizado ou de uma técnica diferente, ou de um universo diferente. É um exercício de doação e de somatória de experiências

 

Qual é a melhor recompensa para um ator. Ganhar inúmeros prêmios, ou ver a sala do teatro lotada

A sala lotada já é um grande prêmio, quando se pode unificar a casa cheia com um reconhecimento público de uma premiação aí a festa está completa. Mas nenhum ator vive sem o público – ele é a essência do teatro! Para você ser atriz é uma entrega, uma doação. Dou o melhor de mim e recebo amor em troca.

 

MAIS: O monólogo “Simplesmente Eu, Clarice Lispector” é produzido na região pela SuperCult e tem apoio da Revista Regional.

ATENÇÃO:

Por problemas técnicos, a SuperCult Produções, empresa responsável pela vinda da peça “Simplesmente eu, Clarice Lispector” com Beth Goulart a Indaiatuba, informou que precisou alterar o local da apresentação. O evento não mais ocorrerá no teatro do Ciaei, como foi divulgado na coletiva de imprensa realizada em maio. Quem recebe a atriz é o teatro do Deco 20, também em Indaiatuba. O horário também foi alterado para as 22h.

entrevista e texto Yara Alvarez

crédito Fabian

 

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