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Futuro sustentável?

"Em vez de desenvolvimento sustentável, as palavras de ordem são ‘economia verde’ e ‘governança global’. Em vez do atual Programa de Meio Ambiente da Onu, criado na Conferência de Estocolmo em 1972, propõe uma nova Organização Mundial do Meio Ambiente da Onu, mais forte e independente”

Nunca esquecerei meu susto, 20 anos atrás, quando seguranças me barraram no Riocentro, Rio de Janeiro, onde aconteceria a Eco-92, ou Rio-92, tão esperada Conferência da Onu sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Por que, se tinha dois crachás avalizando minha entrada no evento mundial?

De um lado, estava inscrita como observadora de Ong, a Associação Ituana de Proteção Ambiental (Aipa). Desde 1990, participávamos da mobilização pelo Fórum Global, megaevento paralelo idealizado para influenciar as decisões oficiais. Eu até tinha sido relatora do primeiro encontro de Ongs brasileiras sobre o tema, em 1990. E havia o crachá de jornalista, minha profissão. Além do jornal Urtiga, da Aipa, escreveria para o Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, e revistas.

Para minha decepção, soube da proibição dessa dupla identidade. Supondo que jornalistas têm acesso a mais espaços, abandonei o passaporte de “ongueira”. Que ingenuidade! Deixei de presenciar negociações abertas às Ongs, mas não à imprensa, que recebia os resultados em entrevistas e releases. É assim nos eventos da Onu.

Também aprendi que tudo se aprova por consenso nessas assembleias mundiais. As decisões chegam quase prontas, mas detalhes podem gerar impasses incontornáveis. Por isso tanta festa para documentos aprovados.

Entre outros, a Eco-92 resultou nas importantíssimas convenções sobre Mudanças Climáticas e Biodiversidade. Só que, para a convenção entrar em vigor, parlamentos de pelo menos 50 países devem reafirmar o apoio. Mais anos de espera…

E o que dizer do já citado Fórum Global, lindo, com dezenas de milhares de participantes do mundo todo? Organizadora da Cúpula dos Povos (a acontecer em paralelo à Rio+20, em junho), Fátima Mello escreveu que o conjunto de atividades no Aterro do Flamengo “nos abasteceu de esperanças e coragem para lutar”. Inspirou dezenas de “Tratados da Sociedade Civil”, com dois aspectos em comum: 1- serem compromissos de luta por um futuro sustentável e 2-  anteverem que corporações e governos transformariam o conceito de desenvolvimento sustentável “em mera categoria econômica, restrita às novas tecnologias e subordinada a cada novo produto no mercado”. Para Fátima, o termo “hoje não quer dizer mais nada”.

Tudo isso veio à mente quando Revista Regional me convidou a escrever sobre a Rio+20, evento da Onu que promete revisitar as decisões da Eco-92. Com nome ‘Rascunho Zero’ o documento principal já está em debate.

Em vez de desenvolvimento sustentável, as palavras de ordem são “economia verde” e “governança global”.  Em vez do atual Programa de Meio Ambiente da Onu, criado na Conferência de Estocolmo em 1972, propõe uma nova Organização Mundial do Meio Ambiente da Onu, mais forte e independente. Estados Unidos (sempre eles) se opõem.

Como sucedâneo às Metas de Desenvolvimento do Milênio – que deveriam garantir um mundo melhor até 2015 -, sugere as Metas do Desenvolvimento Sustentável, daí para frente. Que, segundo os céticos, terão igual destino de decisões anteriores: não serão cumpridas.

Vivemos tempos críticos. De um lado, crise financeira mundial, sinais de mudanças ambientais globais, guerras civis em vários países apoiadas por governos de nações beneficiadas pela indústria bélica. De outro, uma incrível aceleração tecnológica: biotecnologia, transgenia, nanotecnologia prometem mudar ou criar novas formas de vida.

As crises criam um sentido de urgência, que joga para baixo do tapete quaisquer objeções. E se um novo organismo se espalhar na natureza, com incalculáveis prejuízos à vida? Não é hora de pensar em efeitos ruins. A economia verde trará a solução.

Assim como no Brasil, essa estranha reforma no Código Florestal. Será que devemos perdoar devastações passadas, pois a prosperidade futura do agronegócio nos salvará de toda a degradação?

 

Silvia Czapski é jornalista, autora de “Hortas na Educação Ambiental” (com Maria Célia Bombana, Ed. Peirópolis) e da biografia “Dr. Juljan Czapski – O Cavaleiro da Saúde” (com André Medici, Ed. Novo Século). Ela escreveu este artigo especialmente para Revista Regional.

foto: Microfoto

 

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