Não é raro ouvirmos dizer que brasileiro não tem cultura, e que aqui programas culturais são raros e caros! Mas poucos sabem da existência de um lugar que reúne as maiores e melhores obras brasileiras do século XIX, tudo isso ao alcance de todos e sem gastar um “tostão”.

Já ouviu falar da Pinacoteca do Estado? E mais, sabe que lá as obras do artista ituano Almeida Junior têm lugar especial reservado? A sentença dita no primeiro parágrafo já não é tão verdade, certo?

A Pinacoteca do Estado é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até a contemporaneidade. Foi fundada em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo e atualmente pertence à Secretaria de Estado da Cultura.

O museu de arte mais antigo da capital está instalado no edifício do Liceu de Artes e Ofícios, projetado no final do século XIX e que sofreu uma ampla reforma no final da década de 1990.

O acervo original do local foi formado com a transferência das 26 obras do então Museu do Estado, hoje Museu Paulista da Universidade de São Paulo, de artistas como Pedro Alexandrino, Antonio Parreiras e Oscar Pereira da Silva. A Pinacoteca realiza cerca de 30 exposições e recebe aproximadamente 500 mil visitantes a cada ano.

De terça a domingo, das 10h às 17h30, de R$ 3 a R$ 6, é possível ver de perto obras que marcaram épocas e conhecer, por meio delas, um pouco mais sobre o nosso país. Quem quiser curtir um sábado cultural, não paga nada para ter acesso ao local.

Estação Pinacoteca

Em 2004, a Pinacoteca incorporou o edifício do Largo General Osório, que foi denominado de Estação Pinacoteca, passando a receber as exposições temporárias que por ventura não teriam espaço no prédio principal.

O local abriga a Coleção Nemirovsky, um dos mais importantes acervos de arte moderna do Brasil, fruto de um acordo de cooperação técnica entre a Secretaria de Estado da Cultura e a Fundação José e Paulina Nemirovsky, que permitiu sua instalação no edifício. O Centro de Documentação e Memória da Pinacoteca do Estado (Cedoc) e a Biblioteca Walter Wey, que apresenta um significativo acervo de artes visuais – com destaque para arte brasileira –, funcionam no primeiro andar do prédio, já no térreo está instalado o Memorial da Resistência de São Paulo, dedicado à preservação das memórias da resistência e da repressão políticas do Brasil republicano.

Um ituano fazendo história

Dentre as obras encontradas na Pinacoteca e na Estação, as do artista ituano Almeida Junior se destacam. Tanto pela sua importância artística, quanto pela história.

Poucos sabem, mas o dia 08 de maio é reconhecido como o Dia do Artista Plástico Brasileiro, em homenagem ao pintor, cujo nome completo é José Ferraz de Almeida Junior, que nasceu em 1850.

O jornalista Oséas Singh Jr., que passou mais de 12 anos estudando as obras do artista para produzir sua tese de mestrado em História da Arte na Unicamp, hoje é uma das referências brasileiras quando o assunto é Almeida Junior. “Fui pesquisá-lo pessoalmente na Ecole de Beaux-Arts, em Paris, e hoje é possível encontrar meu texto citado em diversas línguas em universidades espalhadas pelo mundo”, afirma.

Uma das fortes características de Almeida Junior é a introdução do personagem nacional e regionalista no centro do universo, tanto que essa fase é considerada um divisor de águas na história da arte brasileira.

As telas do artista retratam o povo brasileiro, como as famosas “As Lavadeiras” (1875), “Caipiras Negaceando” (1888), “Caipira Picando Fumo” (1893), “Amolação Interrompida (1894), o “Violeiro” (1899) e a “A Partida da Monção” (1898), cuja tese do estudioso e jornalista Oséas foi embasada. “Sua vida e obra eram nacionalmente (e proporcionalmente, dada sua importância) pouco conhecidas. Após cruzar alguns textos, percebi incoerências na régua cronológica do artista. Foi aí que minha veia investigativa de jornalista se interessou pelo tema”, relembra.

Com a ajuda do jornalista, o pintor teve sua obra divulgada na novela “Terra Nostra”, da Rede Globo, e até hoje ganha destaque em veículos de comunicação. As obras citadas aqui e muitas outras telas a óleo do artista plástico podem ser vistas na Pinacoteca.

Em cartaz

Aproveite os próximos feriados e vá conhecer mais da nossa cultura e também artistas de outros países. Até 14 de junho, é possível ver cerca de 280 trabalhos, sendo 80 esculturas de tamanhos variados, 40 pinturas, 80 trabalhos sobre papel, 56 fotografias e diversos documentos do artista suíço Alberto Giacometti, considerado um dos grandes expoentes da arte do século XX.

Até 1° de julho você encontra a exposição “O nu além das academias”, que apresenta 35 obras entre desenhos e pinturas de maneira a explicitar a importância do nu na formação artística de diferentes filiações. Estarão expostas obras de Almeida Júnior e Virgílio Maurício; desenhos de Anita Malfatti e Candido Portinari; Raphael Galvez, Rossi Osir, Yolanda Mohalyi, Qurino da Silva e Flávio de Carvalho, entre outros.

A exposição “Saudade pela ausência” fica em cartaz até 15 de abril e reúne um com 45 postais (13 x 9cm), documentos, publicações e uma câmera original pertencentes à coleção do pesquisador Rubens Fernandes Junior nunca antes exibidos. Em algumas das imagens exibidas podemos notar, em segundo plano, o prédio da Pinacoteca.

Além dessas exposições citadas, é possível encontrar muitas outras na Estação e também na Pinacoteca. Reserve um espaço na sua agenda para um programa cultural diferente, com muita informação e coisas belas. Visite essa riqueza que o Brasil possui e que muitas vezes é esquecido por nós brasileiros!

Como chegar

A Pinacoteca do Estado do Estado de São Paulo, a Estação Pinacoteca e o Memorial da Resistência de São Paulo ficam próximos à estação Luz do Metrô e da CPTM e esta é uma das melhores opções para quem utiliza o transporte público. Em São Paulo as linhas são divididas em cores, portanto, se você estiver na linha verde (Paulista) vá até a Estação Ana Rosa e embarque na linha Azul, sentido Tucuruvi. Se estiver na linha vermelha (Itaquera) vá até a Estação Sé e embarque na linha Azul. A Pinacoteca fica em frente ao metrô Luz.

texto Yara Alvarez

fotos Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo