A meditação e a oração aliviam os males do corpo e da alma, trazem paz e colocam o ser humano mais próximo do divino
“Nossa felicidade e nosso sofrimento dependem de nossa mente. Se nossa mente está o tempo todo negativa, sentindo raiva, estresse, ansiedade, desejos, medos etc., é impossível ser feliz, mesmo que tenhamos um bom emprego, um bom parceiro, uma boa família… No entanto, se nossa mente está controlada, sentindo paciência, amor, compaixão, generosidade, destemor…, nenhuma situação do dia-a-dia será capaz de nos perturbar. Sendo assim, experimentemos paz, serenidade, alegria e felicidade o tempo todo e seremos fonte de auxílio aos outros”.
Foi com esta definição que o monge Kelsang Odro, professor do Centro Budista Vajrapani de Indaiatuba, iniciou sua entrevista à Revista Regional. Como todo budista, Odro acredita que uma mente limpa é o caminho para prevenir doenças físicas e psíquicas. Para treiná-la a não ter pensamentos considerados negativos, o Budismo ensina a meditação, que seria a melhor forma para colocá-la em contato com as virtudes. “Meditar é familiarizar a mente com virtude. Ou seja, colocar nossa mente o tempo todo em contato com pensamentos virtuosos”, explica o monge.
O príncipe Sidarta Gautama, há 2.600 anos na Índia, se conscientizou dos sofrimentos da vida e decidiu buscar a “iluminação” para se ver livre desses sofrimentos e assim ajudar a libertar os demais seres vivos dessas mesmas dores. Desta forma, surgia o Budismo, cujo foco central é “nunca prejudicar ou fazer mal aos outros; evitar atividades cujo produto e resultado possam prejudicar outros seres vivos; e vigiar a mente dia e noite”.
Passados mais de 2 mil anos, o Budismo hoje encontra milhares de adeptos e simpatizantes em todo o Brasil, inclusive muitos deles na região. Independentemente de religião, a prática da meditação é ensinada pelos vários centros budistas espalhados pelo país. “A meditação é indicada para todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, religião ou idade. Todos nós precisamos controlar nossos sentimentos e pensamentos negativos, e devemos aprender a desenvolver nosso potencial virtuoso”, explica Odro.
Conhecer o “eu interior” e estar em sintonia com o universo, abrir-se a novos conhecimentos e se “iluminar”. Com objetivos como estes, o jovem Adriano Gianetti de Sousa, estudante de Comunicação, embora batizado na Igreja Católica, busca no Budismo respostas que diz não encontrar em outras religiões. “Não deixei de ser católico, porém a filosofia budista me atraiu e hoje estou conhecendo melhor as ideias de Buda e também me conhecendo. Cada vez que faço meditação me sinto mais leve, livre, como se estivesse realmente passado por uma comunhão com o divino ou com o universo”, conta o rapaz, que frequenta cursos em São Paulo.
Cura
O monge Odro vai mais além. Segundo ele, a meditação pode até mesmo curar doenças. “Todas as doenças físicas ou mentais possuem um componente emocional. Pessoas que reagem de maneira positiva frente a uma doença se curam mais rápido do que pessoas que enfrentam a mesma situação com raiva, ansiedade, intolerância. Pessoas que sentem muita raiva, se estressam fácil ou fazem uso de drogas, como cigarro ou bebida, para controlar a ansiedade, desenvolvem muito mais doenças, do que pessoas centradas e com estados emocionais equilibrados”, explica. Há muitos estudos científicos que comprovam a informação do monge. E não apenas no Budismo, mas em todas as religiões, pessoas que fazem uso de preces e meditações se curam “milagrosamente” devido ao poder de uma mente “repleta de pensamentos positivos”.
Na região, há centros budistas que possuem cursos que ensinam como meditar. Odro, no entanto, adverte: “a meditação não fará com que os problemas da vida diária desapareçam num passe de mágica”. “No entanto, irá nos ajudar a enfrentá-los de maneira mais lúcida e saudável. Para que isso aconteça, temos que mudar nossa filosofia de vida. Uma situação pode ser: um problema ou um desafio… Somos nós que decidimos, e para que possamos transformar um problema em desafio, temos que ter uma filosofia de vida que nos permita transformar situações difíceis em oportunidades de crescimento pessoal. Sem isso, a meditação não funciona e nossa vida continuará repleta de problemas, irritações e decepções”, acrescenta.
Como a maioria dos ensinamentos orientais, o Budismo prega que muitos dos pensamentos e sentimentos levam o ser humano às doenças. “Pensamentos negativos -como a raiva – nunca solucionam nossos problemas, pelo contrário, os aumentam em muito, pois quando sentimos raiva, sempre tomamos as piores decisões e sempre agimos de maneira impulsiva. No entanto, quando temos paciência, estamos com uma mente lúcida, que observa o problema e contempla qual é a melhor solução para aquela situação, com paciência temos tempo de analisar os prós e contras, e sempre tomar a decisão mais correta”, explica Odro.
Para um leigo, que nunca meditou, o budista esclarece a prática com a seguinte frase: “se um problema tem solução, não há motivos para sentirmos raiva; não havendo solução, continua não havendo motivo para sentirmos raiva”. “Isso quer dizer que os pensamentos negativos nunca solucionam nossos problemas”, conclui.
O poder da oração
“Descobrir o poder da mente é essencial para estar em sintonia com o universo”, comenta a professora Tereza D’Ávila Theodoro, que há quase quatro anos descobriu na meditação e na oração um “poder enorme de cura”. “Eu sai de uma grande depressão depois que aprendi a meditar e passei a orar com a mente livre de coisas negativas. Hoje eu sei que cada vez que medito estou ligada ao divino”, revela.
A terapeuta e astróloga Eunice Ferrari diz que a meditação é a melhor forma para “ouvir Deus”. Já a oração seria o caminho contrário. “Quando queremos falar com Deus, o movimento é inverso, nos dirigimos a Ele, buscamos que nos ouça, então oramos”, explica.
Eunice aconselha que o momento da oração seja solitário. “Nesta situação nos desnudamos diante do sagrado, diante de nós mesmos e diante de Deus. Abrimo-nos para a luz que vive dentro de nós e buscamos a união dessa mesma luz com a luz universal. Assim como a meditação, é um momento de magia ritual, onde nossa humanidade conecta-se com o que há de mais divino”, acrescenta.
Poucas pessoas conhecem o imenso poder que existe na oração. O padre João Benedito Pires das Neves afirma que vários estudos estão sendo realizados no cérebro humano para provar a eficiência da prática meditativa e da oração. “Quando nós entramos em meditação ou oração exercitamos e ativamos regiões do cérebro que a razão não consegue exercitar. Esses exercícios afetam o nosso estado de humor, nossas emoções, provocando reações que podem curar e aliviar dores e sofrimentos”, explica.
Em mais de dez anos de sacerdócio, padre João diz já ter presenciado grandes curas e transformações nas vidas dos fiéis a partir da oração. “Em nossa comunidade, já vi muitas curas de câncer e outras doenças. Pessoas que fizeram muitas cirurgias e estavam totalmente desenganadas pelos médicos e hoje participam alegremente da missa para estarem sempre orando em agradecimento ao Senhor pelo dom recebido”, confirma o sacerdote.
“A oração é, num sentido mais geral, uma ascensão da alma para Deus ‘ascensus mentis in Deum’, uma intenção afetuosa do espírito para Deus. Num sentido mais restrito, defini-se a petição a Deus de coisas convenientes ou ainda exprime as relações mútuas entre a alma e Deus. Resumidamente é uma elevação da alma para Deus, com o fim de lhe prestar as homenagens que lhe são devidas e de pedir as suas graças, para assim nos tornarmos melhores para a sua glória”, define padre João.
Eunice Ferrari explica que quando o ser humano ora, uma espécie de corrente elétrica começa a se manifestar e caminha em direção ao seu objetivo. “Inúmeras novas partículas de luz começam a ser criadas em torno de nós e dirigidas ao objetivo escolhido. Existe um poder transformador em toda oração e quando nos desnudamos diante do divino, e unimos nossa vontade à grande vontade de Deus, penetramos profundamente no recinto sagrado dos nossos corações”, opina.
Como ensina as práticas orientais, Eunice também aconselha que, diferente do que a maioria acredita, o melhor momento para praticar a oração é aquele em que a pessoa se sente bem. “Temos como hábito orar em situações de desespero, tristeza, depressão, enfim, em um estado de espírito de baixa vibração e energia. Saiba que a prática da oração deve também estar em conformidade com as leis mentais. No momento da oração, devemos estar com a mente e o coração livres de preocupações e agradecer a Deus pela graça concedida. É nessa hora que nossa fé é verdadeiramente testada. Devemos nos concentrar em nosso pedido. No entanto, devemos terminar nossas orações sempre agradecendo a Deus por sermos atendidos tão prontamente – considere que todas as graças já lhe foram concedidas”, ensina.
“Quando oramos, nos sentimos renovados, regenerados. Uma luz intensa costuma acender-se em torno de nós. Caso você tenha tempo suficiente para cuidar de você, de sua alma e de seu espírito, crie juntamente com o hábito de meditar, o hábito de orar. Se preferir, pode fazer suas orações minutos antes de iniciar sua meditação. Posso afirmar a você que esse é um momento de intimidade sagrada, em que você e Deus ‘batem um longo e agradável papo’. Primeiro Ele ouve você, em seguida, você se silencia para ouvi-Lo”, conclui a terapeuta.
Deus em todos nós
O ato de agradecer é essencial para esta sintonia com o divino, como afirmam religiosos e terapeutas. Assim como na oração, também é importante agradecer e reconhecer os outros seres vivos como a nós mesmos. Na Ásia é muito comum ouvir a expressão “Namaste”, que significa “Curvo-me perante a ti”. Esta é a forma de cumprimento que expressa um grande sentimento de respeito, invoca a percepção de que todos os seres compartilham da mesma essência, da mesma energia, do mesmo universo.
Namaste, segundo a cultura oriental, possui uma força pacificadora muito intensa. Em síntese é “Saúdo você de coração” e deve ser retribuído com o mesmo cumprimento. “O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você. O Deus que há em mim saúda o Deus que há em ti. O espírito em mim reconhece o espírito em você. A minha essência saúda a sua essência”.
O cumprimento consiste no simples ato de pressionar as palmas das mãos ante ao coração e depois apontando para cima no centro do peito inclina-se levemente a cabeça sem ser acompanhado de palavras. Frequentemente fecham-se os olhos para então curvar-se a coluna em sinal de respeito à divindade que preenche todos os espaços do universo e da qual cada ser faz parte. A coluna retorna à posição ereta mais lentamente do que quando abaixou, também simbolizando respeito à outra pessoa. Os cinco dedos da mão esquerda representam os cinco sentidos do coração, enquanto os da mão direita simbolizam os cinco órgãos da razão. Os asiáticos acreditam que mente e coração devem estar em harmonia para que o pensar e agir estejam de acordo com a verdade.
Namaste, conforme a cultura indiana, traz o sagrado para dentro de cada ser humano afirmando que Deus não está no céu, no templo ou mesmo na natureza, mas está em tudo, em cada ser vivo. Ao fazer o Namaste, afirma-se que todos os seres são filhos e parte do sagrado, indissociáveis e iguais.
reportagem de Renato Lima
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