A forma de fazer política em nossa região não muda há pelo menos 50 anos. Alguém com força política e econômica aproxima-se de diversas pessoas e partidos que nem sempre pensam da mesma forma, consegue-se o maior número de candidatos a vereador possível, festinhas, discursos, churrascos, cestas básicas, dentaduras, ameaças, cadeiras de roda. Pronto, o sujeito está eleito. A partir desse ponto ele terá que administrar um custo, um ruído, um empecilho chamado Câmara de Vereadores.
Acertando sua base política na Câmara, sabe-se Deus como, o prefeito passa a pensar em governar a cidade. Mas enquanto faz isso, tem que acariciar e agradar a sua base. Via de regra, um vereador aceitará todos os projetos do prefeito e, de preferência, não fará muito alarde. Em troca, poderá fazer cortesia com o chapéu alheio, o chapéu do contribuinte, negociando interesses particulares, como uma vaga na creche para um amigo de um eleitor, um tratamento de saúde para outro, uma vaga na clínica de tratamento anti drogas para a filha da vizinha da dona Maria, etc, etc, etc.
Com tudo isso, prefeito e vereadores ficam muito próximos do objetivo que os move desde o primeiro dia de mandato: a reeleição. Essa fisiologia objetiva move nossas cidades e é ela mesma que nos levará a um buraco profundo em muito pouco tempo. Enquanto políticos gastam seu tempo com essas picuinhas nocivas, as pessoas, empresas e entidades de bem da sociedade civil cada vez mais desenham uma visão de futuro, na qual os carrapatos da política têm cada vez menos importância.
Quando observamos os problemas de metrópoles como São Paulo, Rio e Campinas, pensamos nessas cidades como grandes nós, sem solução. No entanto, ao nos depararmos com iniciativas e planejamento das nossas cidades, percebemos que estamos indo exatamente no mesmo caminho. Isso mostra uma grande deficiência em um tema com o qual os políticos regionais não possuem nenhuma familiaridade: Gestão da Mudança e Visão de Futuro.
Como uma empresa (pública ou privada) pode ser bem administrada e quais as competências necessárias para isso? Primeiramente, é importante olhar para dentro e perceber quais as competências a empresa possui hoje. O segundo passo é estabelecer o que chamamos de visão de futuro. Essa visão não é simplesmente imaginar, como em uma bola de cristal, como essas cidades estarão em 50 anos. Uma visão de futuro implica em visualizar um futuro bom, progressista, promissor e justo para todos. Não é um exercício fácil. Após essa visão de futuro, devemos voltar para aquelas nossas competências atuais e verificar se com o que temos, conseguiremos chegar onde queremos. É simples. Qualquer criança é capaz de entender isso. Os políticos não!
Nesse futuro, o município perderá força. O crescimento das cidades trará desafios em termos de problemas e projetos regionais. Não será mais possível pensar com uma visão limitada, dentro do município, em temas como saneamento básico, transportes, emprego, escolas, abastecimento de água, poluição, educação. Tudo isso é regional, não municipal. Indaiatuba, Itu e Salto podem começar a pensar mais amplo e estudar propostas e soluções conjuntas para esses temas. O maior problema da Grande São Paulo é que, durante décadas, cada município pensou no seu próprio umbigo e toda ação pública foi gerenciada assim. Não vivemos mais em um município, como num feudo da Idade Média. Nos últimos 30 anos somos todos cidadãos regionais. Uma parcela muito grande da população dessas cidades depende de deslocamento para outras cidades vizinhas, seja para estudar, trabalhar ou se divertir. Mas nossos prefeitos e vereadores não conseguem pensar assim, pois estão na Idade Média, vivendo e sendo sustentados por seus feudos.
Peço que você, caro leitor, pense nisso nas próximas eleições. O futuro está à sua frente. Imagine, viva, sonhe esse futuro como um tempo melhor, mais justo, mas agradável para todos. Faça um exercício de imaginação e veja a nossa região com projetos regionais, próspera, boa para se viver. Então, e só então, olhe para os candidatos a prefeito e veja qual seria capaz de lhe aproximar desse futuro. Depois de escolher seu candidato a prefeito, faça-me um favor, escolha um candidato a vereador que seja oposição a esse prefeito. Pois só assim poderemos ter algum debate. A diversidade de ideias é que pode nos levar a um futuro melhor. Para saber mais sobre os candidatos, você pode hoje exigir dos políticos mais transparência em seus atos. Estamos brigando por isso em Itu (www.adoteumvereadoritu.com.br.)
Plinio Bernardi Jr. é economista, doutor em Administração, professor da EAESP-FGV e colaborador do grupo ‘Transparência ITU’. Ele escreveu este artigo especialmente para esta edição de Regional.
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