Sucesso do momento, como a Valéria do “Zorra Total”, Rodrigo Sant’anna estará em Indaiatuba dia 15 de abril. Antes disso, o humorista recebeu a equipe de Regional durante sua passagem por Sorocaba
“A partir desta noite, todos vocês passam a fazer parte da minha história”. Com essas palavras, Rodrigo Sant’anna agradeceu aos aplausos calorosos dos sorocabanos que prestigiaram a apresentação de “Comício Gargalhada”, em 25 de março. Bem menos “bandido” e “maléfico” do que sua principal personagem – a transexual Valéria, que faz a alegria de milhões de espectadores que acompanham o “Zorra Total” nas noites de sábado – o humorista recebeu a equipe de Revista Regional para um bate-papo exclusivo, antes do espetáculo.
Tímido, o comediante conta que se surpreendeu com a repercussão: a recepção da plateia de Sorocaba foi apenas uma amostra do carinho que o público nutre por aquela figura estranha, de cabelos vermelhos, maquiagem exagerada e tom debochado. Segundo ele, tudo aconteceu muito rápido: pouco tempo depois da estreia no “Zorra”, o inconfundível bordão “Ai como eu to bandida” passou a ser usado com frequência por pessoas de todas as idades. Tamanha popularidade alçou Rodrigo a um novo status: repentinamente, começaram a surgir convites para programas de entrevistas e participações na televisão.
Mesmo com todo esse reconhecimento, o humorista reconhece que vive um processo constante de aprendizagem e faz questão de dividir os méritos com a colega de cena. A amizade com a atriz Thalita Carauta – por quem sente um carinho muito forte, que transparece na tela – é antiga. Muito antes de brilharem na televisão, Valéria e Janete nasceram nos palcos: ambos integravam o elenco da peça “Suburbanos”.
Subúrbio, aliás, é um ambiente comum para Rodrigo. Criado no Morro dos Macacos, comunidade carente do Rio de Janeiro, ele revela que a diversidade de tipos encontrados no local o inspirou a criar alguns de seus personagens, que poderão ser vistos na região no próximo dia 15 de abril (domingo), quando o humorista traz o seu “Comício Gargalhada” para a cidade de Indaiatuba. O evento é uma realização da Teatro GT, com apoio de Revista Regional (veja mais nesta edição).
Além de adiantar o que o público pode esperar deste comício, Rodrigo ainda fala, no decorrer da entrevista, sobre dois de seus ídolos no humor: Renato Aragão – com quem conviveu durante quatro anos – e o mestre Chico Anysio, que faleceu em 23 de março. Ao final da conversa, a pedido de nossa equipe, o humorista concordou prontamente em participar de uma rápida brincadeira. Veja, nas próximas páginas, como “nós estamos bandidos”.
Revista Regional – O sucesso da Valéria o surpreendeu? Como alguém assumidamente tímido vê toda a repercussão desta personagem?
Rodrigo Sant’anna – Tem coisas que você não consegue explicar. Não imaginava que o personagem fosse ganhar essa proporção. Quando você está inserido nesse contexto, é complicado mensurar, porque tudo acontece muito rápido: do nada, você começa a ser convidado para programas de entrevistas e participações na televisão. Eu já trabalhava na TV Globo há quatro anos em “A Turma do Didi” e, depois, fiquei mais um ano no “Zorra Total”, até que, de repente, houve o boom. Você não consegue pensar, vai vivendo. Quanto à minha timidez, eu fui me adaptando: tinha dias que eu estava um pouco mais tímido e era complicado; noutros, estava mais tranquilo. Mas foi tudo bem.
O Morro dos Macacos, comunidade carente onde você foi criado, no Rio de Janeiro, serviu de inspiração para muitos de seus tipos. Ainda como parte de seu processo de composição, você assume que gosta de observar as pessoas, para incorporar trejeitos. Pode-se dizer, então, que um personagem nunca está pronto?
Os personagens são uma reprodução da vida: assim como nós, eles nunca estão prontos. A gente vai morrer em aprendizado, seja lá do que for. A Valéria mesmo é um exemplo: tento dar a ela o máximo de verdade que eu consigo para aquela figura, aproximando-a de um tipo humano. E este humano é passível de aprendizados. Acredito que este é um processo natural. Enquanto eu interpretar a Valéria, ela irá evoluir, assim como eu, Rodrigo, e todos os demais personagens que ganharem vida pelas minhas mãos.
A parceria com a Thalita [Carauta, que dá vida a “babuína” Janete] é antiga, já que ambos os personagens surgiram no teatro, num espetáculo chamado “Suburbanos”. Como essa sintonia contribui para o sucesso e a fluência do quadro?
Eu acredito que a vida é energia. Além de tudo, somos alimentados por energia. O fato de a gente se amar – no sentido de amizade mesmo, pois nos conhecemos há muito tempo – sem dúvida, “fica” e transparece na tela. Lá no quadro, por exemplo, eu fico o tempo todo espezinhando a Janete. Esta atitude poderia ser vista como uma coisa ruim: ela mesma fala “maléfica”. E não é, porque o carinho que a gente sente um pelo outro na vida é muito mais forte do que a situação que acontece em cena. Isso é imprescindível.
Depois de se consagrarem no “Zorra”, muitos atores acabam sendo escalados para novelas ou participações em outros programas da emissora, como é o caso de Katiuscia Canoro [entrevistada por Regional em dezembro de 2008], que passou a integrar o elenco de “A Grande Família”, cuja temporada estreou recentemente. Você tem alguma ambição nesse sentido?
A minha principal ambição é fazer o meu trabalho com qualidade. E aí se eu tiver espaço dentro do “Zorra”, que bom; numa novela, que bom ou num programa solo, que bom. O meu foco é desenvolver um bom trabalho.
No começo da entrevista, você comentou sobre a sua passagem pela “A Turma do Didi”. Que balanço faz desse período?
Foi um grande aprendizado. Por quatro anos, eu tive a oportunidade de estar perto e dividir o espaço com aquele que é um grande gênio do humor, porque para mim o Renato é. Eu tinha a possibilidade de absorver tudo aquilo. Imagine toda essa observação que eu falei que fiz na vida ao lado dessa pessoa que há mais de 50 anos encanta gerações, como o trapalhão Didi Mocó. Era beber daquela fonte ali, do lado.
Falando em gênio, convém relembrar que, em algumas entrevistas, você tornou pública sua admiração pelo humorista Chico Anysio, que nos deixou recentemente. Disse, inclusive, que não conseguiu esconder seu nervosismo quando se encontraram no estúdio certa vez. Como você avalia essa perda?
Certa vez, ele foi assistir ao meu espetáculo, já debilitado, na cadeira de rodas. Ver aquela figura – que representa tudo isso que a gente já sabe – na plateia fez com que meu carinho e admiração por ele só aumentassem. Chico vai ser um exemplo sempre: o fato de ele ter partido para outra esfera não impossibilita que eu continue tendo-o como uma referência.
Para terminar, fale um pouco sobre o que o público de Indaiatuba pode esperar de “Comício Gargalhada”. De que forma surgiu a ideia desse espetáculo?
O meu maior objetivo é fazer rir. Os comícios sempre me chamaram a atenção, pois eu acho surreal a maneira como alguns candidatos apresentam as suas campanhas; na verdade, trata-se de uma grande brincadeira com “n” universos, bastante amplos, uma vez que você encontra todo tipo de político nesse evento. Então, isso me dá a possibilidade de fazer qualquer figura: além do Ademilson e da Valéria, a gente tem uma favelada, Adelaide, que abre o espetáculo, uma cantora de axé, um frango de padaria, um homossexual obeso e um sensitivo: ele acredita que as almas dos personagens de novelas estão transitando pelo mundo, e que isso gera violência. E, entre um personagem e outro, vou contando trechos da minha vida.
MAIS SOBRE RODRIGO SANT’ANNA:
- Rodrigo atraiu a atenção dos produtores de elenco da Globo, que foram assistir a uma apresentação de sua peça, “Suburbanos”. A primeira aparição na TV foi na série “A Diarista”, protagonizada por Claudia Rodrigues;
- Um dos filhos de Renato Aragão assistiu a este episódio e apresentou o trabalho de Rodrigo ao pai. Algum tempo depois, veio o convite para integrar o elenco fixo de “A Turma do Didi”, onde permaneceu por quatro anos, interpretando o personagem Dodô;
- O bordão original de Janete – ‘Ai, como eu to piranha’ – foi atenuado quando as personagens estrearam no ‘Zorra’. Buscou-se um termo de significado semelhante, porém menos agressivo. Depois de uma tarde inteira testando diversos sinônimos, ele e Thalita Carauta chegaram ao “bandida”;
- Nas horas de lazer, Rodrigo gosta muito de ir ao cinema, assistir a filmes de diversos gêneros;
- Em outubro do ano passado, em seu programa especial de Dia das Crianças, a apresentadora Xuxa se caracterizou como Jandira – prima de Janete – e fez uma cena com Rodrigo no estúdio do ‘Zorra’. A esquete, porém, foi exibida apenas no “TV Xuxa”.
- Na internet:
Site: www.rodrigosantanna.com.br
Twitter: www.twitter.com/santanna_ator
Facebook: www.facebook.com/rodrigosantannaoficial
Youtube: www.youtube.com/user/santannaator
MAIS:
Comício Gargalhada em Indaiatuba:
Quando: 15 de abril, domingo, às 19h
Onde: Sala Acrísio Camargo – Indaiatuba
Informações: pelos telefones (19) 3936-3083 / (19) 3834-7837 ou pelo site: www.teatrogt.com.br
entrevista e texto Piero Vergílio
fotos Divulgação