O bom humor reduz a pressão sanguínea e o nível de hormônios que afetam nosso sistema imunológico
Você já sorriu hoje? Pergunta simples, mas que muita gente vai parar para pensar. Talvez fique mais fácil arrancar um sorriso do seu rosto se souber que o bom humor, segundo especialistas, reduz a pressão sanguínea e o nível de hormônios que afetam nosso sistema imunológico. É ou não é um bom motivo?
A risada é um importante elemento de combate ao estresse, ligado diretamente ao nosso sistema central, é considerada, ainda, uma válvula de escape às inúmeras pressões do dia a dia e, inclusive, ótima ferramenta no auxílio à recuperação de pacientes internados em hospitais. “Diversas pesquisas comprovam os benefícios do riso e seus efeitos positivos na recuperação do paciente, como diminuição da ansiedade, aumento das defesas imunológicas e relaxamento”, fala a psicóloga da Unimed, Estela Ramires.
O riso é uma ferramenta de comunicação inata ao ser humano e, de acordo com especialistas, entre suas diversas funções está a de auxiliar a produção de células que previnem infecções e de aumentar a produção de endorfina, substância que diminui a dor. “Na psicologia, a relação entre as emoções e a saúde é abordada há bastante tempo e, por causa dela, surgiu o termo psicossomático, ou seja, as emoções afetando o soma (corpo). Muitos conflitos psicológicos encontram no corpo sua forma de expressão. Sentimentos negativos, como tristeza, ansiedade e ódio, têm efeito cumulativo no organismo, podendo causar, com o passar dos anos, problemas sérios de saúde. Algumas doenças bastante conhecidas têm em sua base um importante fator emocional, como as coronarianas e as de pele”, fala a psicóloga Mariana Azevedo.
O riso é uma expressão genuína de alegria desencadeada por nosso sistema nervoso, originada pelo centro imagético, que fica no chamado sistema límbico, localizado embaixo do córtex cerebral. Isso quer dizer que geralmente é estimulado por meio da memória afetiva e não exige compreensão racional, explicado quando rimos espontaneamente de nossos erros. “Acredito que todas as doenças têm uma ligação com o psicológico, mas as pessoas ainda não estão preparadas para lidar com esse lado subjetivo. Muitas vezes não damos, ou não aprendemos a dar valor aos nossos sentimentos, negligenciando ou ignorando nosso próprio estado mental como se o corpo não fosse uma integridade entre físico e emocional. Entrar em contato com nossas emoções às vezes pode parecer aterrorizador, então, passamos a vida ‘jogando a sujeira embaixo do tapete’ e, quando percebemos, estamos acometidos por graves doenças. Vamos buscar o autoconhecimento, entender e tratar nossas emoções para vivermos melhor e mais bem humorados, assim, poderemos rir da vida e de nós mesmos!”, completa a psicóloga Mariana.
Os hospitais e o riso
Riso e hospital. Duas palavras que não combinam entre si, afinal, ninguém vai dar uma “voltinha” por entre macas, remédios, seringas, aparelhos e diagnósticos. Não é mesmo? Para o analista de Marketing Fernando Gardiolo, “passear” pelos hospitais de nariz vermelho e roupas coloridas, é programa fixo aos sábados. “Esse é meu programa desde 2006, das 14h às 17h”, comenta. “Alguns pacientes não recebem visitas e contam com a nossa companhia para ter um momento de conversa e descontração. Nossa presença faz com que eles passem pelo difícil momento com mais facilidade”, completa.
Fernando, assim como muitos outros voluntários, encontrou nos hospitais a alegria que faltava para a sua vida, pois tirar um sorriso de quem está em uma cama de hospital, é uma tremenda alegria para quem se dispõe ao ato. “É uma experiência muito valiosa onde me sinto bem e vejo pessoas muito boas, que apesar de estarem em situações ruins, tiram de letra a fase com alegria e muita força. Faz minha vida valer um pouco mais a pena!”, exemplifica.
A prática de humanizar os ambientes hospitalares tornou-se conhecida no Brasil graças a Wellington Nogueira, que em 1991, fundou o grupo Doutores da Alegria. O médico especialista em besteirol integrou o Clown Care Unit, formado por artistas treinados para levar alegria a crianças internadas em hospitais de Nova York. No Brasil, os Doutores da Alegria se tornaram bastante respeitados e disseminaram o conceito de utilizar a arte do palhaço no processo de recuperação, minimizando os traumas da hospitalização e as dificuldades com as doenças graves, principalmente das crianças.
Com fantoches, histórias, brinquedos, bexigas e muita alegria, diversos grupos similares começaram a surgir pelo país, como é o caso do Hospitalhaços, no qual Fernando faz parte, e o Plantão da Alegria, que visita o Hospital da Unimed Salto-Itu. O cirurgião pediátrico da Unimed, Paulo Roberto Bueno, concorda que o contato entre o profissional e o paciente é vital para que haja cumplicidade e ele se sinta seguro. Para ganhar a confiança das crianças, ele utiliza instrumentos musicais como o pandeiro, que alia cor, movimento e som; violão e flauta. “A gente toca junto até o centro cirúrgico e o adormecer é mais tranquilo”, conta Paulo.
Com brincadeiras, roupas coloridas e criatividade, o ambiente começa a mudar logo que os palhaços entram no ambiente, geralmente branco. Parece que a alegria vai fazendo um rastro por onde a trupe passa, e até os profissionais, tão acostumados a conviverem com a dor do próximo, se sentem bem e esboçam um sorriso. O ambiente fica mais leve, e todos voltam a ser crianças. “Não há como negar que a risada é um elemento importante no combate do estresse, inclusive com função no auxilio à recuperação de pacientes internados em hospitais, e aí temos o belo trabalho dos Doutores da Alegria, por exemplo. Os doentes se tornam mais motivados a lutarem contra suas doenças, mostrando uma resposta melhor ao tratamento”, finaliza Mariana.
E aí, já sorriu hoje?
O limite é a gargalhada
No aspecto físico, o riso mexe com todos os músculos da face e de outras partes do nosso corpo. Provoca contrações que atingem a parede torácica, o abdômen, o diafragma e aumentam o fluxo sanguíneo nos órgãos. Ao acelerar a frequência cardíaca, proporciona a dilatação das artérias, levando também à queda de pressão arterial.
É um verdadeiro exercício, que favorece a descontração e o relaxamento. O limite dessa zona de bem-estar é a gargalhada contínua, que é uma sensação de prazer próxima ao orgasmo. Segundo estudos isso ocorre porque a frequência do coração aumenta em 45%. Em casos extremos, pode provocar desmaios, estado chamado de tetania, em que há uma hiperoxigenação, causando o enrijecimento da musculatura, por isso o sinal de alerta é dado quando o riso começa a causar dor, que pode irradiar da face para o peito, a barriga, fazendo até com que saia urina sem querer.
reportagem de Yara Alvarez
foto: Microfoto