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No buraco da crise

“Acreditar que situações como aquelas ocorridas no Brasil no fim da década de 80, ou na Argentina ao término da década de 90 são restritas aos países subdesenvolvidos é ingenuidade. E pensar que nações de primeiro mundo são imunes a crises é, no mínimo, uma bobagem”

Foi-se o tempo em que Europa era sinônimo somente de turismo e glamour. Gastos desenfreados ao longo de anos fizeram com que países do bloco europeu mergulhassem em uma amarga crise – que faz com que agora aquele papo de “luz no fim do túnel” signifique muito mais do que uma mera lamparina da salvação.

Acreditar que situações como aquelas ocorridas no Brasil no fim da década de 80, ou na Argentina ao término da década de 90 são restritas aos países subdesenvolvidos é ingenuidade. E pensar que nações de primeiro mundo são imunes a crises é, no mínimo, uma bobagem.

Se o velho continente é o palco desta situação economicamente macabra, o Lobo Mau certamente é a crise, que se desenrola desde 2008. Vira e mexe o mercado demonstra que o coiote derruba bolsas, índices e notas de classificação de risco – e o temor é que em um desses sopros, a casa de palha da Grécia voe pelos ares, ou a casa de madeira de Portugal e Irlanda vá para o espaço. Parece-me que, ao menos por enquanto, o lar mais seguro é aquele feito por tijolos, da Itália. Mas isso é só porque esses dias o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, amigo de Rapunzeis, Belas Adormecidas e Brancas de Neve, saiu de cena (antes das cortinas se fecharem, ressalto) e trouxe esperança aos italianos.

A situação econômica na Europa é incômoda. Desagradável também é a sigla formada pelos governos em pior situação: PIIGs – ou “porcos”, em inglês – representa Portugal, Irlanda, Itália e Grécia.

Sem dinheiro, esses países se veem agora reféns de determinações da União Europeia que, para salvá-los dos endividamentos (perdoando, por exemplo, até 50% da dívida, como ocorreu na Grécia), estabeleceu algumas medidas de austeridade – que incluem corte de salários e aumento de impostos, entre outros. A população, claro, tem protestado contra as medidas.

Isso tudo é muito delicado e complicado. É mais ou menos como se o síndico do seu prédio torrasse a grana do condomínio e, com a falta de pagamento das contas de luz e água, todos os moradores se vissem obrigados a, de repente, não apenas ficar no escuro e com torneiras secas, mas também a arcar com os prejuízos. Afinal, o preço para sair do buraco da crise compromete diretamente o bolso da população.

Mas, imagine que a situação nesse prédio imaginário, que já está ruim, piorasse quando o comércio ao seu redor, temendo que os moradores não tenham como pagar essas contas em atraso, desconfiasse também da sua capacidade de pagamento para qualquer tipo de compra e batesse em retirada. E se todos os outros virassem as costas, simultaneamente. E se a cidade inteira passasse a desconfiar de todos os moradores, independentemente do fato de que foi o síndico quem deixou a situação financeira do prédio comprometida. O pânico contaminaria a todos. Todos mesmo.

Se os países europeus em crise são os moradores do prédio, a desconfiança do comércio é a desconfiança do mercado e seus investidores. Mercado esse que, vale ressaltar, é bipolar e causa rebuliços diários na região.

O que mais assusta nessa história toda é saber de economistas e especialistas que tudo o que vemos sobre a crise na Europa é apenas a superfície do problema. Falam que o buraco é muito, muito mais embaixo.

 

Alice Vianna é jornalista e colaborou com a seção Plural desta edição.

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