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Com a palavra, Lya Luft

Lya está concluindo seu novo romance, “O Espelho me Contempla”, e assina a coluna “Ponto de Vista”, de Veja

Autora do best-seller “Perdas e Ganhos” fala da sua interação com os leitores e conta à Regional o segredo para se chegar à melhor idade com disposição

 

“A vaidade e a ambição excessivas estragam qualquer alegria na vida”. As palavras são de Lya Luft – uma das mais prestigiadas autoras da literatura brasileira contemporânea, consagrada por seus romances, contos e poesias – que começou a escrever para tentar entender as coisas, como ela mesma definiu certa vez, até descobrir que a vida não é para ser entendida. E é justamente isso que a torna uma experiência interessante. Ao contrário do que ela acreditava quando criança, nem todas as respostas estão nos livros.

Estima-se que o seu best-seller “Perdas e Ganhos” (2003) tenha ultrapassado a marca de 1 milhão de exemplares vendidos, em diversos países. Com mais de 20 obras publicadas, a escritora aceitou conversar com a reportagem de Regional por e-mail. Nesta entrevista exclusiva, ela fala de sua relação com os leitores, a quem considera seus cúmplices, por poder dividir suas dúvidas, preocupações ou encantamentos.

Muito ligada à família, Lya acredita que as escolhas podem colaborar com o nosso destino. Embora não tenha a intenção de ser didática, a autora afirma que toda obra de arte é capaz de fazer com que as pessoas reflitam, dando-lhes a possibilidade de corrigir algumas coisas em suas rotas. Por fim, ela fala de suas expectativas para 2012. Descubra estas e outras revelações logo abaixo.

“A vida é um cenário com um palco e muitas portas, e há diversas maneiras de encarar esse jogo: como um trajeto, um naufrágio, um poço, uma montanha”. Como as diferentes escolhas podem contribuir para moldar a personalidade do ser humano?

A gente já nasce com a personalidade, mas as escolhas podem colaborar com nosso destino, isto é, ajudar a construir uma vida. Isso também tem a ver, em parte, com nossa bagagem psíquica, se somos mais pessimistas, mais otimistas, mais contemplativos, etc. Tudo é escolha e construção, com uma faixa de fatalidades.

 

A senhora acredita que envelhecer é a última etapa de um processo que se inicia no nascimento e termina no último suspiro. Em linhas gerais, como encarar essas mudanças de maneira positiva? Qual o segredo para chegar à maturidade com tanta disposição e sabedoria?

A velhice é chata, traz uma série de limites, mas por outro lado, traz certa liberdade. Não precisamos mais mostrar serviço, fizemos a maioria das escolhas fundamentais, podemos ter mais tempo para curtir a vida, os afetos, a natureza, a arte, o que se aprecia mais. As coisas negativas, como limitações físicas, por exemplo, o jeito é enfrentar com algum bom humor e alguma elegância. Do contrário, seremos velhos mal humorados e chatos, consequentemente isolados.

 

A valorização das coisas simples é um comportamento que a senhora sempre incentiva, mas a rotina cada vez mais atribulada muitas vezes impede que as pessoas percebam isto. De que maneira a sua obra ajuda as pessoas a refletirem sobre as suas prioridades? Por que nem sempre é fácil reavaliar nossas atitudes?

Nunca penso se minha obra vai ajudar pessoas a rever atitudes. Mas por outro lado, todo livro pode fazer pensar, e nesse pensar podem ocorrer insights, que nos levam a corrigir certas coisas na nossa rota. Porém, ao escrever não tenho essa intenção, não sou nada didática. Qualquer obra de arte, aliás, pode ter esse efeito, de fazer parar para pensar: uma música, um quadro, ou mesmo um aspecto da natureza.

 

Por diversas vezes, a senhora declarou que os leitores são seus cúmplices. Considera-se privilegiada por dividir suas inquietações com o público? Essa interação, de alguma maneira, lhe inspira a escrever?

Ninguém escreve para não ser lido nem ouvido. Escrevo sim para dividir com leitores possíveis minhas dúvidas, preocupações ou encantamentos. Penso que a maioria dos escritores age assim, dos artistas em geral. Um pintor pinta para que seu quadro seja visto. Isso de certa forma me estimula, o que é natural.

 

Depois do sucesso de seus romances e poesias, a senhora publicou algumas obras para crianças. Por que é tão importante incentivar a leitura nessa faixa etária? Escrever para esse público a revigora?

Escrevi três livros para crianças, “Histórias da Bruxa Boa”, “A Volta da Bruxa Boa” e “Criança pensa” [este último, em co-autoria com seu filho, o filósofo Eduardo Luft]. Foi muito divertido, foi natural, eram coisas que eu contava a minhas netinhas, e acabei registrando, elaborando, e publicando. Nada muito especial. O melhor em escrever para crianças é ser simplesmente natural. Aí fica fácil, divertido, encantador.

 

Quais são suas expectativas para 2012?

Terminar o romance que estou escrevendo, “O Espelho me Contempla”, conviver sempre mais e melhor com família e amigos, mexer no meu hobby que é pintar, e fora de minha vida pessoal, que a gente tenha um país com líderes mais decentes.

 

Mais sobre Lya Luft:

  • Lya Luft começou sua carreira em 1980, aos 41 anos, com a publicação do romance “As parceiras”;
  • Formada em letras anglo-germânicas e com mestrados em Literatura Brasileira e Linguística Aplicada, Lya foi professora titular de Linguística de 1970 a 1980. Depois disso, dedicou-se unicamente a tradução e à sua literatura;
  • Desde os 20 anos atua como tradutora de alemão e inglês, e já verteu para o português obras de autores consagrados, como Virginia Woolf, Günter Grass, Thomas Mann e Doris Lessing;
  • Em 2001, ela recebeu o prêmio União Latina de melhor tradução técnica e científica pela versão de “Lete: Arte e crítica do esquecimento”, de Harald Weinrich.
  • Três anos mais tarde, Lya é convidada a integrar o time de colaboradores da Revista Veja, onde assina a coluna “Ponto de Vista”, publicada até hoje.

entrevista e texto: Piero Vergílio

foto: Divulgação

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