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Post: Rubem Alves em Indaiatuba

Rubem Alves em Indaiatuba

Rubem Alves esteve no dia 19 de outubro em Indaiatuba no projeto “Outubro Literário”, promovido pela Prefeitura

“Arte é comunicar aos outros a nossa identidade íntima”

“Não sei bem o que vou falar, tenho um esboço, mas sempre muda, e não chamo isso de improviso, chamo de repentinamente”. Assim começou a entrevista da Revista Regional com o psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro Rubem Alves, pouco antes de uma palestra na Sala Acrísio de Camargo, no último mês, em Indaiatuba.

E para quem escutou isso, até surgiu uma ponta de dúvida. “Será que a palestra vai ser boa?”. E tem como não ser? Rubem Alves domina a oratória, e mesmo ficando em silêncio na busca por memórias, palavras, nomes, causos e casos, não deixa a plateia perder o foco e o interesse pelo que está falando.

“O prazer da leitura”. Esse foi o tema da palestra, que de acordo com o próprio poeta poderia ser dada de duas formas. “Mas optei por algo mais próximo ao meu coração, pois eu sou o livro a ser lido. Um poema não é feito só de letras no papel, lá tem carne e sangue”, completa.

Com sotaque mineiro, gestos lentos, fala mansa, Rubem Alves, em poucos minutos, nos passa diversos ensinamentos, sem a pretensão de fazê-lo. Como no episódio de um moço que chegou para agradecê-lo sobre seus textos. “Ele me disse que viu um cacho de vaga-lume, e que se não fosse soropositivo, não teria visto beleza naquela cena. Terminou dizendo: Você escreve sobre vaga-lumes?”. Ou de uma mulher que trombou no aeroporto e afobada disse: “Quero agradecer você por ter mudado minha vida com uma crônica”. E sem perceber, ali, naquela sala cheia de jornalistas, câmeras, microfones e máquinas fotográficas, ele mudava mais vidas.

Perceber que as palavras têm esse dom é eminente a qualquer um, pois se um texto não o toca, uma música certamente irá desempenhar esse papel. E além de melodias, ela é feita com letras, estrofes, carne e sangue. Então, para quem tem as palavras como instrumento de trabalho, ouvir “o mestre” falar, notar como os espetáculos da natureza se transformam em contos, poesias e crônicas, como o costurar das palavras parecem fáceis, é enriquecedor. Fora as citações de Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa, que nos fazem sentir os poetas mais próximos de nós, pois o próprio poeta estava ali, em nossa frente, dizendo as maravilhas da arte escrita. “Arte é comunicar aos outros a nossa identidade íntima”, e assim, ele iniciou sua palestra diante dos olhos congelados de seus fãs, que lutam diariamente para que o gosto pela leitura e escrita, não caia no esquecimento, e não seja engolido pelas facilidades do computador.

E as quase duas horas de Rubem Alves só fez aumentar o desejo de viajar cada vez mais pelas páginas, letras e linhas de seus contos, crônicas, livros e estudos. Pois ali, está ele. O homem que fala de Deus, que fala para as crianças, adultos, idosos, sempre com a mesma emoção e certeza. “Quando leio um poema de Vinícius, não estou lendo somente as palavras. Estou lendo ele, pois a poesia é usar as palavras para provocar emoções”, finaliza.

 

texto Yara Alvarez

foto Divulgação

 

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