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Luís Piva: de Salto para o mundo

Piva esteve recentemente se apresentando na TV Globo

Assim como na ficção, a história do bailarino que venceu todos os preconceitos pelo sonho de dançar

Quando se fala em balé, inevitavelmente a primeira cena a que se remete é a da figura feminina em cima de um palco. A delicadeza, a suavidade dos movimentos e o estilo de roupa que essa dança exige fazem com que a atividade seja considerada, ainda por muitos, como específica para as mulheres. Diante desta realidade, todo homem arriscar se tornar um bailarino deverá estar pronto para lutar contra os preconceitos que envolvem este universo tão estigmatizado que é o da dança. Há onze anos, um longa-metragem do cinema inglês mostrou ao mundo a história de um garoto que encontrou no balé a sua verdadeira vocação, para desgosto do seu pai e irmão.

“Billy Elliot” era um menino humilde. Treinava e lutava boxe, mas acabou se envolvendo profundamente com a dança, trocando definitivamente as luvas pelas sapatilhas. Sua maior dificuldade foi expressar sua vontade dentro da própria casa. Com a ajuda da sua professora, que reconheceu o talento do menino e decidiu investir nele, conquistou a admiração e o respeito da sua família, que inicialmente se mostrava contra a decisão do jovem bailarino. Para quem nunca assistiu, é um drama que emociona. Assim como a trajetória do saltense Luís Carlos Piva Junior.

No mês passado, o país inteiro pode conhecer um pouco sobre a vida deste ícone do balé brasileiro que agora se torna o personagem principal desta reportagem. Ele tem apenas 18 anos, mas já coleciona muitas conquistas como bailarino. A mais recente talvez seja a aprovação do seu pai, que nunca apoiou a escolha do filho pela profissão. Luís foi levado ao palco do “Domingão do Faustão”, da TV Globo, para receber uma homenagem dos amigos, professores e familiares. Inclusive do pai, que chorou, emocionado, ao pedir perdão pela falta de compreensão e por tantos anos de ausência.

Quando tinha apenas três anos, Luís se mudou para Blumenau, onde permaneceu por dois anos, retornando a Salto depois que sua mãe e seu pai decidiram se divorciar. Desde então, a relação com o pai ficou estremecida, distante. A paixão pela dança sempre existiu, mas era negada pelo pai. Porém, quando voltou para sua terra natal, com o incentivo da mãe, tratou de investir naquilo que tanto gostava. Entrou para a Academia de Dança Girassol, onde fez suas primeiras aulas e teve a certeza de que queria se tornar bailarino. Foi um pouco mais tarde, na Academia Blow Up, que Luís aprofundou seu conhecimento sobre o balé.

O saltense ganhou reconhecimento nacional

Ele faz questão de mencionar o quanto os professores Marisa Gil e Paulo Matulevicius foram importantes para seu aprendizado de base e técnica. Por muito tempo, Luís foi o único homem a praticar balé em Salto, como lembrado por Marisa no depoimento que prestou para o especial do “Domingão do Faustão”. O bailarino acredita que pode ter se tornado exemplo para outros que têm o mesmo sonho e não tinham coragem de lutar por ele devido aos preconceitos. E olha que são muitos. Luís conta que desde a época da escola sofria com a pressão dos colegas, que não entendiam que o balé é uma profissão e que pode ser seguida tanto por homens quanto por mulheres.

“Esta sempre foi uma das principais dificuldades, porém nada que me fizesse querer desistir. A questão financeira também era difícil, mas minha mãe, minha família e a escola sempre encontraram um jeito de me ajudar com isso; se apertavam em casa para me ajudar com concursos, por exemplo”, revela o entrevistado. Luís se mostra muito grato e se esforça para fazer todo o investimento valer a pena. Depois de anos ensaiando com pouca infraestrutura, acabou se especializando e tendo seu dom reconhecido. Mas não foi fácil. A dança exige muito e, para ser respeitado, principalmente por todo o preconceito que envolve a participação de homens no balé, é preciso ser muito bom. E isso não é problema para o saltense, que tem mostrado ser um excelente profissional.

Piva no clássico "Lago dos Cisnes"

Atualmente, Luís integra um dos conceituados grupos da Petite Danse, renomada escola do Rio de Janeiro, onde vive. O aconchego de casa, o carinho e a comida da mãe são as coisas que mais lhe fazem falta. Mas a luta compensa. O bailarino já foi a Brasília participar de um seminário internacional, já viajou para São Paulo para um curso, através do qual ganhou uma bolsa de estudos para a Companhia Pro Danza, de Cuba, onde ficou por quase um ano e meio. Também ganhou uma bolsa integral para a pré-seleção do Prix de Lauseanne, em Córdoba, na Argentina e, mais recentemente, participou do Youth America Grand Prix, em Nova York, onde ganhou uma bolsa integral para uma importante companhia da Nova Zelândia.

Daqui até o final do ano, Luís não fará mais nenhuma grande apresentação, visando ensaiar para “não fazer feio” na Oceania, como ele mesmo brinca. Essa posição de destaque nos mais importantes concursos da categoria em âmbito mundial mostra o quão significativa é a presença masculina no balé. Luís é a prova de que os homens também têm espaço na dança e que eles fazem por merecer. As barreiras existem, os preconceitos são muitos e as cobranças são extremas. No entanto, se Luís aprendeu uma lição em todos esses anos, foi que é preciso ter foco, seguir os sonhos e permitir que eles se tornem realidade. Como? Indo à luta. “Aos meninos que desejam dançar, aconselho que procurem uma boa escola e que façam muitas aulas, sem desistir diante das dificuldades”, ensina o jovem talento.

texto: Caroline Rizzi

fotos: Arquivo pessoal

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