>

Post: Brincar. O verbo das crianças

Brincar. O verbo das crianças

Vários estudos comprovam que para o bom desenvolvimento, as crianças precisam de experiências que envolvam novas descobertas, aventuras, natureza e acima de tudo, criatividade. Sujar-se faz parte deste aprendizado!

“O pedaço de pano se transforma na capa do super homem, na toalha da mesa, no vestido da boneca, criatividade que contribui para a construção da autoestima”

Pé no chão, mãos na tinta, blusa branca e um sorriso encantador. Cena que deixaria qualquer mãe de cabelo em pé só de pensar em como tirar a mancha da blusa. Mas que mancha é mais importante do que a felicidade dos pequenos?

Aposto que suas principais lembranças da infância foram as vezes que se lambuzou de sorvete sem medo de sujar a roupa, comeu amora direto do pé sem receio de ficar com as mãos, pés e bocas roxos, ou melhor, brincou de tinta até o cabelo ficar colorido.

Já diziam os publicitários: se sujar faz bem! Frase que os psicólogos também compartilham. “O poder se sujar é a atividade livre, o brincar sem estar direcionado. É correr, pintar, pular, explorar o ambiente e o próprio corpo. E isto é fundamental para a criança, principalmente até os seis anos”, fala a psicóloga Mariana de Azevedo.

Brincar é a maneira como as crianças conhecem, experimentam, aprendem, vivenciam, expõe suas emoções e conflitos e, interagem consigo e com o mundo.

E como balancear as brincadeiras com as obrigações, uma vez que cada vez mais cedo as crianças integram o mundo de afazeres e compromissos?

Elaine Gaziola é uma super mãe. Super com letra maiúscula mesmo. Mãe de três meninas e três meninos, vive a fase de criar crianças, adolescentes, ao mesmo tempo em que vê sua filha mais velha se casar. Várias fases, todas juntas. Mas nem por isso fica imune em perceber que na criação dos filhos não existe regras, cada um é um ser humano diferente, com suas especificidades, mas que o se sujar, e viver as fases no tempo certo, vale para todos. “Meu filho mais novo precisa de atividades extras, o que acaba ocupando quase todo o seu tempo. Houve uma época em que ele ia à psicóloga, na psicopedagoga, na fonoaudióloga, no reforço escolar, na evangelização, e ainda precisava fazer todas as tarefas escolares. Acabava não sobrando tempo nem para bater bola com os colegas no clube. Passado algum tempo, percebi que não estava valendo a pena abraçar o mundo desta forma. Vi o quanto era necessário se sujar”, conta Elaine, que completa dizendo que os pais precisam se atentar aos pequenos detalhes da vida, pois muitas vezes eles passam sem que ninguém perceba.

“Se colocarmos nossa cabeça para pensar, não será difícil nos lembrar dos momentos prazerosos que passamos ao lado dos amigos/colegas, brincando, dando boas gargalhadas e, com certeza, se sujando”, finaliza.

 

Como saber o limite?

A psicóloga Mariana de Azevedo acredita que até os seis anos, uma atividade extracurricular é o suficiente. “A partir dessa idade os pais podem ir acrescentando novas práticas, como esportes, idioma. Claro que isso não é regra, varia conforme a criança e o seu contexto familiar”, completa.

Na hora de escolher uma atividade extra, é importante optar por algo que se encaixe no ritmo da criança, na sua idade, nos seus interesses e nas suas características de personalidade. “Os pais podem e devem incentivar, mas nunca forçar a prática de alguma atividade da qual a criança não goste ou com a qual não se identifique”, pontua Mariana.

E mesmo com energia para dar e vender, é fundamental que as crianças tenham um tempo livre para brincar, pois o excesso de atividades pode causar estresse, agressividade, dificuldade de concentração, comprometimento na aprendizagem, insônia, distúrbios alimentares. “Todos esses sintomas são formas de dizer não, e muitas vezes de que estão infelizes”, completa a psicóloga.

“Acho que a maioria das mães acaba ‘pecando’ e enchendo os filhos de tarefas extras, justamente por este mundo competitivo e, acima de tudo, pela violência das ruas. Afinal, como diz o dito popular, ‘cabeça vazia, oficina do diabo’. Mesmo não gostando desta frase, ela é a realidade. Por outro lado, acredito que temos que optar por cursos que as crianças demonstram interesse, habilidade, enfim, nada que possa traumatizá-los”, conta Elaine.

Na criação de seus seis filhos, ela procura seguir a máxima. “Sempre os coloquei, e coloco, em cursos extras, porém, em ‘gotas homeopáticas’, uma de cada vez, nunca obrigando nenhum a fazer nada do que não fosse prazeroso. Sempre avaliando o bem-estar”, completa a mãe.

É preciso que os pais pensem até que ponto essas atividades extracurriculares são formas de complementar a educação de seus filhos e desenvolver potencialidades, ou são meios de lotar a agenda da criançada com a falsa ilusão de controle e proteção, meio de obter mais tempo livre para realizarem suas próprias atividades ou ainda tentativas de aplacar suas culpas pelo pouco tempo que passam com seus filhos.

É possível pensar também nas atividades extracurriculares como apoio importante para o desenvolvimento de certas características de personalidades. Claro que se tratando de aspectos emocionais, é difícil existir regras absolutas, mas para crianças mais retraídas ou tímidas, atividades que incentivem maior exposição, como teatro ou música, são práticas interessantes, assim como os esportes coletivos, onde se pode trabalhar a socialização. “Os esportes coletivos também  são importantes para crianças mais agitadas que possuem dificuldades em aceitar regras, pois estes trabalham a disciplina, a frustração, o ceder, o esperar, a derrota, entre outros”, nos explica a psicóloga.

Asas à imaginação

Nos momentos de brincadeira a criança pode pensar livremente. Ela pode ousar, imaginar, ser livre para criar. “O pedaço de pano se transforma na capa do super homem, na toalha da mesa, no vestido da boneca, e assim vai. Essas atividades contribuem de forma espetacular para a construção de sua auto-estima”, explica a psicóloga.

As crianças não são diferentes dos adultos, assim como nós, elas sentem alegria, tristeza, angústia, ódio, age e reage frente às situações que acontecem em seu cotidiano. Mariana diz que não sabendo como lidar com essas situações, a criança pode se isolar, se fechar, agredir ou adoecer. “Como muitas vezes sua capacidade de verbalização é restrita, acaba mostrando seu sofrimento através de seu comportamento, então, todos os sintomas que apresenta são um pedido de ajuda, como se quisessem dizer: Olhem para mim!”, finaliza.

 

Se sujar faz bem…

Vários estudos comprovam que para o bom desenvolvimento, as crianças precisam de experiências que envolvam novas descobertas, aventuras, natureza e acima de tudo, criatividade. Sujar-se faz parte deste aprendizado!

Nos últimos anos, várias escolinhas de pré-escola, por exemplo, têm dado uma importância muito maior na grade curricular quando o assunto é contato com a natureza. Esse tema tem sido tratado com prioridade por estimular o desenvolvimento infantil e disciplinas como horticultura estão cada vez mais presentes nessas escolas.

Em alguns estabelecimentos, foi criado até o “dia da sujeira”, quando os pequenos podem mexer na grama, rolar na terra, e muito mais. Dessa maneira, criam anticorpos e desenvolvem sua imunidade, construindo um sistema de defesa natural do corpo, garantem os especialistas.

Atitudes que comprovam que se sujar faz bem. Não só nos comerciais de sabão em pó!

 

reportagem de Yara Alvarez

fotos BIRF

# DESTAQUES

Abrir WhatsApp
1
ANUNCIE!
Escanear o código
ANUNCIE!
Olá!
Anuncie na Revista Regional?