Trocar os motores pelos pedais ajuda o meio ambiente e a saúde
Eles representam um novo modo de viver. Com prazer, trocaram os carros, os transportes públicos, e o trânsito, por uma bicicleta. Com suas “magrelas” vão trabalhar, e ainda se divertem nos finais de semana. Esses são os bikers.
“Há nove anos eu precisava me locomover e não tinha carro, foi aí que vi que a bicicleta, além de ser ecologicamente correta, poderia me proporcionar outros benefícios que envolviam a saúde”, conta a webdesigner Elaine Navarro, que trabalha em Itu.
Mas quem pensa que só nas pequenas cidades é possível andar de bicicleta enfrentando o trânsito está enganado. A gastrônoma Joana Caldas mora em São Paulo, capital, e nem por isso deixou de levar uma vida mais saudável. “Eu economizo com gasolina e condução, não preciso me preocupar com o trânsito, que aqui em São Paulo são todos os dias, e ainda ajudo o meio ambiente. Fico muito feliz quando o trânsito está congestionado, e eu passo no meio dos carros. Dou até tchauzinho!”, brinca Joana, que ainda diz que suas pernas já sentem os resultados das pedaladas.
Os benefícios com a saúde são as principais mudanças que os adeptos da bicicleta sentem, mas silenciosamente, o meio ambiente agradece. De acordo com Sérgio Torrencillas, secretário de Transportes e presidente da Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas), os impactos negativos do crescimento da frota de veículos para os municípios são sentidos diariamente pela população. “São congestionamentos, acidentes, além das questões ambientais como a poluição, que prejudicam a saúde pública e a qualidade de vida das pessoas”, fala.
O presidente da Emdec ainda diz que só em Campinas o número de carros cresceu assustadoramente nos últimos dez anos, passando dos 454.490 veículos licenciados em 2000; para 733.075, em 2010 – dados do Detran/SP (Departamento Estadual de Trânsito). “Se tais projeções continuarem, em pouco tempo a frota licenciada pode ultrapassar o número de habitantes e as soluções possíveis são restritas, pois medidas de alargamento de vias são caras e inviáveis, e as medidas restritivas, como o rodízio, também não são eficientes, porque com o tempo acabam sendo burladas pela compra de um segundo veículo”, pontua.
Devido ao número excedente de carros nas vias públicas, os ciclistas precisam retomar os cuidados na hora de enfrentar o trânsito diário. A paulista Joana diz que com o trânsito, os motoristas perdem a paciência, andam muito rápido e sem olhar para os lados. “Por isso tem que prestar muita atenção”, e se possível usar os acessórios de segurança, como capacete, joelheiras e luvas.
Para a webdesigner, a soma da necessidade com o politicamente correto (já que contribui com o meio ambiente) tornou-se filosofia de vida. “Ainda hoje utilizo a bicicleta como meio de transporte”, diz Elaine.
Querendo abocanhar esses novos atletas, o mercado especializado já criou meios de conquistá-los. Na internet é fácil achar sites dedicados exclusivamente aos amantes dos pedais, com venda de materiais, e até grupos que idealizam viagens exclusivas com suas bikes. Capacetes, prendedores de calça, mochilas, pneus, squeeze, bonés, dentre outros, são alguns produtos que os bikers podem comprar com apenas um click.
Como o esporte até pouco tempo era predominantemente masculino, aos poucos as mulheres começam a ganhar espaço, e vez. A ciclista Elaine idealizou um encontro para as amantes das bicicletas. “Há oito anos criei o Pedalada das Meninas, um projeto pessoal, meu e do meu marido (Cando). O encontro acontece uma vez por ano, em março, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher e tem como principal objetivo apresentar o mountain bike (modalidade do ciclismo praticada em estradas de terra, trilhas e montanhas) e incentivar novas adeptas a praticá-lo. Apesar de o foco estar nas mulheres, homens também participam (desde que acompanhados por uma garota). Isto ajuda a romper barreiras e preconceitos”.
Com iniciativas como a de Elaine e Joana, os problemas no trânsito tendem a diminuir. Para Torrencillas, educação é a palavra-chave. “A Emdec mantém a Campanha Preferência pela Vida, mobilização permanente que envolve toda a sociedade no combate à violência no trânsito e na redução da acidentalidade. Os campineiros são orientados a pensar o trânsito a partir da interdependência entre seus atores, sejam eles motoristas, motociclistas, ciclistas, pedestres ou operadores do transporte público.
Aderir à bicicleta como meio de transporte diário não requer muitas mudanças na rotina. “Não precisei fazer mudanças bruscas. Claro que usar roupas mais confortáveis na hora de pedalar é melhor, mas isto não nos impede de levar uma peça extra numa mochilinha para trocar no trabalho. Quanto aos sapatos, já pedalei de tênis, sapatilhas, sandálias e também de salto alto. Tudo é uma questão de adaptação. Nos dias mais quentes é pouco desconfortável, você transpira mais, então estes cuidados são bem-vindos. No mais é só não ter pressa, pedalar tranquilo, sair de casa mais cedo, assim você consegue chegar ‘quase’ impecável”, ajuda a ciclista.
Handbike
No ano de 2010 o Brasil passou por um novo censo. Após cerca de quatro meses de trabalho de coleta e supervisão, o resultado indica que existem mais de 190 milhões de pessoas no Brasil. Em comparação com o censo 2000, ocorreu um aumento de 20.933.524 pessoas.
Os resultados finais ainda não foram divulgados, fazendo com que alguns dados tenham que ser baseados no censo de 2000, como o número de pessoas com algum tipo de deficiência. Há dez anos, cerca de 24,6 milhões de pessoas se declararam portadoras de alguma deficiência (física, intelectual, visual, auditiva, e múltipla), este número corresponde a 14,5% da população total. Assim é necessário criar mecanismos que facilitem a vida, como as cadeiras de rodas, cada vez mais leves e modernas, as próteses, e as órteses, e os integrar a sociedade.
A handbike, bicicleta adaptada aos deficientes físicos, é um tipo de ajuda que pode contribuir para a qualidade de vida dos cadeirantes. “Conforme vou andando com a bicicleta, sinto todos os meus músculos funcionarem, inclusive os que não estou usando para realizar o esforço. É um excelente exercício!”, fala o publicitário Guilherme da Rocha Leite, tetraplégico.
Os pedais da handbike são movimentados com a força dos braços, e a pessoa fica sentada com as pernas esticadas. O equipamento proporciona bem–estar físico e mental, ajudando em questões posturais, mentais e psíquicas. Prova de que a almejada qualidade de vida é possível em todas as condições. “Após o exercício sinto meu corpo mais leve, com mais força para realizar outras atividades, como empurrar minha cadeira. Sinto também um ganho de autoestima, uma sensação de ‘eu posso’, que aplico em todas as minhas outras atividades”, conta o publicitário.
texto Yara Alvarez
fotos Microfoto