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Mulheres vencedoras

Casos de superação emocionam e mostram o quão grande é a capacidade que uma mulher tem de vencer as dificuldades impostas em seu caminho

Histórias de vida que mostram a força e a capacidade de superação do sexo feminino diante das dificuldades

 

Quanto vale a alma de uma mulher? Com toda sua vitalidade, inteligência e coragem de lutar pelos direitos de uma vida digna e honrada sem perder a delicadeza e a suavidade que a tornam este ser tão especial? Ou como seria o mundo se ela não tivesse enfrentado uma sociedade inteiramente machista em busca de seus sonhos e de sua própria felicidade, seja através da realização pessoal ou da escolha de uma profissão? Se a primeira pergunta remete a algo impossível de se mensurar, a segunda, sem dúvida, é extremamente fácil de ser respondida: vazio. E todos aqueles que amam ou têm o privilégio de conviver com uma mulher que admiram haverão de concordar.

A força, a determinação e principalmente a sensibilidade do sexo feminino mudaram para sempre o rumo de nossa história. Ano após ano, a mulher foi conquistando seu espaço nas mais diversas áreas de atuação em todo o mundo: na arte, na educação, na saúde, na religião, na ciência, no esporte e também na política – como nós, brasileiros, pudemos testemunhar nas últimas eleições presidenciais. Autoritária ou submissa, sentimental ou durona, engraçada ou séria, tímida ou despojada…  Independentemente de sua personalidade, toda mulher merece ser respeitada por sua singularidade e autenticidade, características que, através das histórias que vemos todos os dias, reforçam a tese de que este não é um sexo frágil.

Casos de superação contados nos jornais, na televisão, no cinema ou nos livros que registram nossa trajetória emocionam e mostram o quão grande é a capacidade que uma mulher tem de vencer as dificuldades impostas em seu caminho. Mas será que estas personagens são reais? Muitas vezes elas podem parecer distantes por representarem situações às quais a maioria de nós acredita que nunca estará sujeita. Um equívoco. As entrevistadas desta reportagem trazem consigo o ensinamento de que tudo na vida é vulnerável. Lições que aprenderam com suas próprias histórias e que você, leitor, poderá conhecer no decorrer das próximas linhas.

 

Maria da Penha

Quando se fala em conquista no universo feminino, há um nome que não deve deixar de ser lembrado. Primeiro porque retrata a força da qual falamos até agora e segundo porque sua iniciativa abriu novas perspectivas para milhões de mulheres brasileiras. Já imagina quem seja? Maria da Penha. Um verdadeiro exemplo de que quando se tem coragem é possível dar a volta por cima. Conhecida internacionalmente por ter criado a lei que leva seu nome e garante proteção às mulheres vítimas de violência doméstica, viveu os piores momentos de sua vida dentro de casa, com um drama que, embora superado, levará eternamente consigo.

Quando tinha 38 anos, foi vítima de uma tentativa de assassinato por seu marido. Ela estava dormindo quando foi surpreendida por um tiro de espingarda. Acordou com um forte barulho dentro do quarto, abriu os olhos e não conseguiu se mexer. Logo sentiu o gosto metálico na boca e a dor incontrolável nas costas, onde foi atingida. Custou a acreditar que ele teria sido capaz, mesmo que já tivesse sofrido inúmeras agressões anteriormente. Mas estava consciente quando tudo aconteceu. Depois de falhar em seu plano de matá-la, Marco Antonio forjou uma cena como se o casal tivesse sido vítima de um assalto. E conseguiu se safar naquele momento.

Foram meses de cirurgia e tratamento em hospitais até que Maria da Penha recebesse o diagnóstico de que jamais poderia andar novamente. Como se não bastasse, sofreu mais um golpe quando voltou para casa. Novamente o marido tentou assassiná-la, desta vez eletrocutada no chuveiro enquanto tomava banho. Ao invés de sucumbir e desistir de uma vez por todas, a então bioquímica que já era mãe de três filhos foi à luta e não parou enquanto o criminoso não foi preso. Demorou quase 20 anos, mas ele finalmente pagou pelo que fez. No entanto, para que isso acontecesse, Maria da Penha teve que recorrer a diversas entidades internacionais – uma vez que a justiça brasileira em nada ajudou.

Com a repercussão que seu caso ganhou, conseguiu apoio para a criação da lei que cria mecanismos para coibir a violência familiar contra mulher e prevê que os agressores sejam presos em flagrante ou tenham prisão preventiva decretada. Além disso, também aumenta a pena máxima de um para três anos e acaba com o pagamento de cestas básicas, punição que antes era aplicada aos autores das agressões. Agora, ela dedica praticamente todo seu tempo à luta pelos direitos das mulheres vítimas de violência doméstica através de palestras e projetos que desenvolve em prol desta causa junto ao Instituo Maria da Penha, da qual é presidente.

 

A coragem para recomeçar

Ao contrário da protagonista da história anterior, Rita de Cássia, 55 anos, nunca foi agredida pelo marido. Pelo menos não fisicamente. Apaixonada, casou aos 17 anos e teve quatro filhos: três homens e uma mulher – que anos mais tarde viriam a se tornar seu porto seguro na hora de tomar a decisão mais difícil de sua vida. Apesar de amar intensamente o marido, que então tinha sido seu primeiro namorado, não teve um casamento nada fácil. Nunca pode trabalhar, sair sozinha ou ter qualquer tipo de independência. O marido não aceitava sequer pensar na hipótese de a esposa trabalhar para ajudar no sustento da casa. Afinal, o que a sociedade ou os amigos poderiam pensar? Puro machismo. Como toda mulher que luta para manter a estabilidade do relacionamento, Rita nunca se importou em abrir mão dos próprios sonhos para se dedicar à felicidade do marido e da família. Queria cuidar de todos. Mas esqueceu de se perguntar quem cuidaria dela. Passava muito tempo sozinha, já que o marido ficava bastante fora de casa por causa do trabalho. Só que não era apenas isso. Ele também sofria com um problema de alcoolismo, que só foi se agravando no decorrer dos anos. E não é preciso passar pela situação para imaginar que quem segura a barra nesses casos é a pessoa que está ao lado de quem apresenta a doença. E Rita foi forte. Ajudou em tudo o que pode, chorou, aguentou noites sem a presença do marido, que por vezes passava o final de semana longe de casa e sem dar notícias. Se não fosse o apoio e o amor dos filhos, talvez não tivesse conseguido suportar. O casamento durou 31 anos e só acabou porque ela descobriu que estava sendo traída. Isso já era demais para quem passou tanto tempo se dedicando a uma pessoa que, no fim, estava a enganando. Foi difícil, mas decidiu que queria o marido longe de sua vida. E agora, o que faria? Sem nunca ter trabalhado, nem cursado uma faculdade, nem mesmo aprendido a dirigir por exigência do marido, Rita podia ter desabado, mas preferiu erguer a cabeça e recomeçar. No dia seguinte ao divórcio, estava matriculada em um curso de manicure e pouco mais de um mês depois já estava trabalhando. A partir daí conquistou a realização que sempre sonhou. Estava livre. Feliz. Em pouco tempo adquiriu uma vasta clientela, que a acompanha até hoje, mudou de casa, abriu seu próprio salão, conheceu pessoas, viajou, enfim, passou a cuidar de si mesma. E assim continua, cercada pelo amor dos filhos e dos três netos que vieram.

 

A vida por um fio

Tânia Ferraz nunca se casou e nem se privou de fazer o que gostava por causa de alguém, mas também teve que recomeçar a vida… e bem no auge de sua juventude. Aos 25 anos, sofreu um grave acidente de carro que a deixou sem andar por quatro meses e gerou sequelas que duram até hoje – três anos depois. Ela voltava de uma festa quando um amigo que dirigia o carro em que estava perdeu o controle da direção e capotou em um barranco em meio à rodovia. Como não usava o cinto de segurança, Tânia foi arremessada do banco do passageiro para o banco traseiro em uma pancada muito forte. Não ficou totalmente consciente, por isso não consegue se lembrar de tudo o que aconteceu. Do momento do acidente ela consegue visualizar um amigo que estava no carro de trás batendo na janela e pedindo que os dois acidentados o ajudassem a abrir a porta para que pudesse retirá-los dali. Mas desmaiou em seguida e as próximas lembranças são de quando já estava no hospital. Ela passou 12 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por causa de um problema no pulmão, que ficou parcialmente comprimido e dificultava a respiração, e mais seis dias internada no quarto. Quando acordou já não conseguia mexer as pernas. Ao invés de desesperar, aceitou imediatamente a recomendação médica de fazer fisioterapia e lutar pela sua recuperação. Foi submetida a duas cirurgias na coluna e depois de medicada foi levada para casa, onde teve que aprender uma nova rotina. Sem poder andar ou fazer qualquer coisa sozinha, contou com a ajuda da família para se reestruturar. Reaprendeu a sentar, a andar, a se movimentar. Foram dois meses até conseguir mexer os dedos do pé. Sempre confiante, nunca pensou que as coisas não dariam certo. Mas foi assustador ver sua vida dar uma “freada” tão brusca de repente. Ela sempre teve uma vida intensa, gostava de sair, se divertir, tinha acabado de começar em um emprego novo e planejava embarcar em um cruzeiro para trabalhar. Só que não deu tempo. Ao contrário do que muita gente pode imaginar, Tânia não entrou em depressão. Algo pior podia ter acontecido. Compreendeu que isso tinha que acontecer e agradece pelas conquistas que vieram depois: descobriu quem eram seus amigos de verdade e quem realmente se importava, se uniu ainda mais com a família, que sempre valorizou, descobriu novas perspectivas de vida. Até hoje não consegue andar por muito tempo porque uma das pernas ficou frágil, não pode dirigir, nem praticar esportes, que tanto gosta. E mesmo assim não tira o sorriso do rosto. Tânia afirma que descobriu uma força que nem imaginava ter. A maior lição aprendida foi que a vida precisa de limites. Agora anseia pela confirmação de um novo trabalho e segue buscando maneiras de ser feliz em sua nova realidade.

A luta contra o desconhecido

A terceira e última entrevistada desta reportagem também tem uma história emocionante. Giselle Fernandes, 49 anos, foi surpreendida por um câncer de mama quando fazia um exame de rotina sete anos atrás. Ela lembra que foi tudo muito rápido: o médico descobriu o tumor, fez uma série de exames e uma operação para a retirada do cisto – que a princípio não havia sido identificado como maligno. Depois de passar por todas essas etapas e já feliz por acreditar que não se tratava de nada sério, um exame definitivo confirmou a doença. A então proprietária de uma escola de línguas em Itu deu início a uma corrida contra o tempo. Começou a fazer um tratamento de radioterapia que durou aproximadamente três meses e a tomar um remédio que a agrediu de forma física e estética. Algo crucial para a autoestima de qualquer mulher. Perdeu cabelo, ficou fraca e teve uma série de reações na pele. Mas nada a abalou. Giselle afirma que não teve tempo para entrar em depressão. Seu antigo sócio e, na época, namorado, não abandonou somente a ela como a escola também. Diante disso, se viu na necessidade de se manter em pé e levar o trabalho adiante. Sempre sorrindo, escondendo a dor e o medo que sentia. Tinha dois filhos adolescentes que precisavam da mãe. Nathália, com apenas 14 anos, foi fundamental para que ela superasse a má fase. A menina assumiu a escola e ajudava em tudo o que podia. Um verdadeiro orgulho para nossa entrevistada, que percebeu que a vida passa rápido demais e pode não dar tempo de fazer tudo o que almeja. Por isso resolveu aproveitar cada instante e se dedicar aos planos que fazia para o futuro; especialmente ir morar sozinha com a filha, um sonho das duas, que sempre moraram na casa dos pais de Giselle. Foi neste momento que ela decidiu entregar a escola nas mãos do agora ex-namorado, sem levar nada que era seu por direito, para seguir em frente. Há quatro anos entrou para um novo emprego como diretora de uma escola bilíngue de Sorocaba, no qual permanece até hoje. Deu início a uma vida nova, mas nem imaginava que tudo estava prestes a mudar novamente. No final do ano passado, descobriu que estava com uma doença que afeta uma a cada 100 mil pessoas no mundo. Demorou a encontrar um médico que explicasse o que ela tinha, mas depois de passar noites sem resposta no atendimento de seu convênio na cidade foi levada para São Paulo por uma amiga que desconfiava dos sintomas. Giselle tinha muitas dores na garganta e nas costas; além disso, parte do seu corpo ficava amortecido e ela se sentia fraca. Não deu outra. Quando chegou ao hospital, foi internada imediatamente. A doença, denominada Síndrome de Guillain Barré, começava a paralisar seus músculos e se chegasse ao seu pulmão seria fatal. E isso estava prestes a acontecer, pois sua língua já não funcionava direito e ela engasgava muito. Mesmo contra a vontade, já que queria voltar para casa e trabalhar nos projetos de fim de ano da escola, ficou uma semana na UTI. O remédio que precisava tomar para estancar a doença e fazer com que o quadro parasse de evoluir custava R$ 2 mil e Giselle teve que tomá-los por uma semana. Diante disso e dos riscos que corria, aceitou ficar internada. Mal teve alta do hospital e já voltou à rotina acelerada de trabalho, sempre buscando dar o melhor de si em tudo o que faz. Hoje, cerca de três meses depois do último susto, ainda com restrições, vive com a sensação de que nada mais poderá afetá-la. As pequenas chateações e banalidades do cotidiano não significam nada perto da grandeza da vida, por isso não hesita ao dizer que vai aproveitar cada instante como se fosse o último.

 

reportagem de Caroline Rizzi

foto: Microfoto

 

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