Jovens levam a Palavra de Deus a comunidades carentes de vários cantos do Brasil e mais 29 países
“Ser um jovem missionário é testemunhar o amor sempre, em qualquer circunstância e lugar. É buscar a santidade como jovem, seja no trabalho, com os amigos, com a família. É testemunhar o Evangelho no dia-a-dia e buscar ‘ser Cristo’ para as outras pessoas”, define Murilo Silveira de Moraes, 20 anos, membro da Juventude Missionária de São José dos Campos. Ele conheceu o movimento da Igreja Católica em maio de 2007, durante a visita do Papa Bento XVI ao Brasil, no Estádio do Pacaembu, enquanto participava como voluntário no evento. Convidado por um missionário, um mês depois ele participou das missões da Semana Santa, realizadas em bairros pobres de São José dos Campos.
“De início eu achei tudo muito estranho, porque eu estava afastado de Deus. Então, nas primeiras casas eu pensei: O que eu estou fazendo aqui? Mas aos poucos eu fui percebendo a necessidade que aquelas pessoas têm de Deus. E eu aprendi muito com elas, e também com os jovens que fazem parte das missões, que estas pessoas precisam experimentar o amor de Deus. Experimentar e chegar à conclusão de que, por mais pecadores e miseráveis que a gente seja, Deus nos ama, independente de qualquer coisa. É um amor que não tem condições, nem limites. Então, quando caiu a ficha disso, foi uma conversão muito grande”, conta.
A Juventude Missionária é uma obra de evangelização da Igreja Católica que teve início em 1986, no México, e desde então vem ganhando novos adeptos ao redor do mundo. Atualmente, as missões ligadas a este movimento já acontecem em 30 países, contando com jovens, famílias e profissionais da área médica que se entregam, de corpo e alma, para pregar o Evangelho a moradores de regiões carentes. O intuito principal das obras missionárias é reavivar a fé e a esperança em Deus, mas alguns grupos prestam um trabalho que vai muito mais além: as Missões Médicas, por exemplo, contam com profissionais da medicina e voluntários que se dedicam a realizar, nas horas vagas, tratamentos e encaminhamentos médicos de pacientes fixados em lugares adversos, muitas vezes sem hospitais ou postos de saúde por perto. Com a Bíblia em mãos, buscam promover mais do que simplesmente a cura física, mas um reavivamento espiritual.
Itu nas missões
No Brasil, a Juventude Missionária já possui diversos núcleos e vem conquistando cada vez mais jovens dispostos a pregar a Boa Nova. As obras de evangelização são comandadas geralmente por sacerdotes, como o missionário inglês Peter Shekelton, pertencente à ordem dos Legionários de Cristo e responsável pela Juventude Missionária de São José dos Campos, que atua em favelas da cidade e região, com a colaboração de aproximadamente 30 jovens missionários de várias cidades paulistas, dentre eles o ituano Murilo Silveira de Moraes.
“A gente reza, lê o Evangelho, medita e tenta reavivar a fé e a esperança das pessoas. E, mais do quer falar, a gente vai muito para ouvir, porque muitas delas são carentes, simples… Então, só o fato de a gente chegar lá, saber que a gente é enviado de Deus, elas abrem o coração, contam a vida inteira delas, falam das dificuldades, pedem para orar. E, em favela a gente encontra de tudo: pobreza, desemprego, violência, tráfico de drogas e todo esse panorama do que pode acontecer de ruim”, relata o missionário ituano, acrescentando que dedica um final de semana por mês para evangelizar, já que tem uma vida de “adolescente normal”, paralela às missões.
Nas casas visitadas pela primeira vez, além do trabalho de evangelização, eles ensinam a rezar o terço e dão um rosário como lembrança pela passagem do grupo. No entanto, Murilo diz que nem sempre as missões fluem naturalmente, seja por causa do tráfico que os impede de adentrar em determinadas regiões ou também por diferenças religiosas: situações comuns a missionários de outras igrejas. “Muitos não nos recebem por serem de outra religião ou simplesmente porque não querem, e falam que estão de saída. Mas a gente respeita, até porque cada um tem seu ponto de vista”, compreende, e diz ainda: “É uma pena, porque a gente só está buscando fazer o bem, independente da religião”, explica, acrescentando que o trabalho de evangelizar promove a união das religiões cristãs, mesmo que de modo passageiro. “Buscamos transmitir que Cristo é o Mestre, o Salvador, que Ele nos ama e está ao nosso lado em cada momento que precisarmos dEle. E, transmitir essa mensagem promove o ecumenismo religioso, digamos que ‘momentâneo’, pois várias vezes somos acolhidos por pessoas que não são católicas e que se unem em oração conosco, que ficam felizes por verem jovens nos caminhos de Deus”, considera.
Segundo ele, a Juventude Missionária não tem o objetivo de converter multidões ao catolicismo, mas ensinar os preceitos bíblicos e conduzir à fé em Cristo. “A gente vai para levar essa mensagem de fé e de esperança que Jesus Cristo deixou, e mostrar que a salvação está Nele, que Ele é amor, está vivo e sempre presente. É isso que a gente transmite às pessoas, porque muitas delas precisam disso, pois passam por momentos de dificuldades. Então, reavivar essa esperança que elas precisam ter para enfrentar com maior confiança os problemas”, justifica, afirmando ainda que tudo o que é feito pelo bem do próximo gera um crescimento espiritual. “Eu doo amor, mas também sou acrescentado com isso. A minha felicidade se constrói na felicidade dos outros”, conclui o jovem missionário.
Uma mensagem de esperança
Juventude Missionária ministra os sacramentos em comunidades ribeirinhas da Amazônia
As expedições missionárias realizadas desde 2002 em comunidades ribeirinhas da região amazônica têm demonstrado a expansão dos trabalhos de evangelização da Juventude Missionária em solo brasileiro. Por outro lado, revelam o esquecimento desses moradores por parte dos próprios administradores locais, indiferentes ao descaso e isolamento em que vivem, seja em meio à selva ou às margens de rios, muitas vezes em condições precárias de subsistência.
Em julho de 2007, o missionário ituano Murilo Silveira de Moraes participou das missões na Amazônia e se deparou com situações contrastantes à beleza incomparável do ambiente. “Ao mesmo tempo em que a gente busca fazer o bem às pessoas, acaba aprendendo muito vendo as dificuldades que passam por lá. Há muita pobreza e aonde a gente vai é tudo muito simples. Elas não buscam riquezas e ficam muito felizes ao verem que jovens missionários estão indo visitá-las para falar de Deus”, conta, referindo-se à vida dos ribeirinhos do Rio Arari, na Amazônia.
Assim como o missionário relata, os ribeirinhos levam uma vida simples, moram em casas de madeira e têm de superar diariamente vários problemas comuns à vida na selva como, por exemplo, se deslocar até o município mais próximo para comprar alimentos, estudar ou ir ao médico. O meio de transporte mais utilizado por eles são as embarcações, e a pesca ainda garante o sustento de muitos. A ausência de sacerdotes para ministrar os sacramentos pregados pela Igreja Católica é vista apenas como mais um problema para os moradores, diariamente provados. Por isso, ao ancorar o Silves, barco que durante 12 dias serviu de casa para o padre, um seminarista e nove jovens missionários, Murilo conta que a Juventude Missionária chegou com uma mensagem de esperança e fé aos habitantes das ribeiras do Arari e do interior de Itacoatiara, cidade que fica a quatro horas de Manaus.
Os missionários tiveram de conviver como os próprios ribeirinhos, privados de algumas comodidades que a vida na cidade oferece. Tomaram banho no rio, dormiram em rede e tiveram de se acostumar com a presença nada agradável dos insetos. Nem por isso, a aventura missionária perdeu o sentido de caridade. Pelo contrário, tiveram muito trabalho pela frente, já que estas comunidades recebem um sacerdote apenas uma ou duas vezes ao ano, ou seja, durante as missões, quando muitos sacramentos são ministrados. Em duas semanas, a obra evangelizadora ocorrida em 2007 visitou 15 comunidades, sendo que 86 pessoas foram batizadas, houve 16 matrimônios, várias confissões e unções de enfermos.
“Jesus disse: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mateus 16, 15) e é isso que nós, missionários, fazemos”, afirma o jovem evangelizador, acrescentando ainda: “Eu tenho encontrado em todos esses anos como missionário as oportunidades e o lugar que Deus me chama a amar. Jesus mesmo disse: Amai-vos uns aos outros como eu Vos amo (João 15,12). Então, em cada missão me esforço por fazer o que meu Mestre me pediu e me ensinou: amar ao próximo”, revela. Essas demonstrações inequívocas de amor vão ao encontro da espiritualidade assumida pelos missionários: expressar o amor sem ter vergonha e orgulhar-se ao falar de Deus.
Apesar de essas missões serem uma grande aventura para esses jovens missionários, Murilo descreve que as dores nas pernas e o cansaço físico são inevitáveis depois de um longo dia de pregação, mas insignificantes se comparados à sensação de dever cumprido. Sentimento esse que se renova a cada missão, a cada momento em que levam a fé a lares desconhecidos, dando a seus moradores, se não uma vida mais digna, uma mensagem de esperança e “renascimento” espiritual. É claro que uma batida à porta pode não significar a solução de todos os problemas, mas pode muito bem ser a esperança de um “novo natal” em nossas vidas.
Pescadores de homens
A Juventude Missionária e a Família Missionária são obras de apostolado da Igreja Católica que atuam em diversos países e são formadas por jovens e famílias que buscam responder ao chamado para a Nova Evangelização lançado pelo Papa João Paulo II. “Hoje o mundo necessita de uma Nova Evangelização que espera muito de vosso legado espiritual e de vossa generosidade como jovens, para que nenhuma porta se feche a Cristo e para que todos possam reconhecê-lo como a verdadeira alegria, a fonte de toda esperança e a causa de toda salvação”, pediu João Paulo II, em carta ao movimento de apostolado católico Regnum Christi – Reino de Cristo – e à Juventude Missionária.
As obras missionárias têm o objetivo principal de pregar o Evangelho em comunidades rurais e urbanas, em especial lugares de difícil acesso onde a população é carente. Além de ajudar as pessoas espiritualmente, as missões oferecem assistência sanitária, educativa e outras obras de caridade cristã, como promover a vivência da vida sacramental. Milhares de pessoas já receberam o batismo, regularizaram seus matrimônios e se aproximaram da confissão e da Eucaristia desde as primeiras missões realizadas pela Juventude Missionária, em 1986.
Quando teve início, aproximadamente cem adolescentes participaram das missões de evangelização em Cotija de La Paz, Michoacán, México, cidade natal do padre Marcial Maciel (1920 – 2008), fundador da congregação religiosa Legionários de Cristo e do movimento Regnum Christi, ao qual a Juventude e Família Missionária estão ligadas.
Em geral, missões como essas servem como um fermento evangélico e não se restringem apenas à Igreja Católica, já que outras denominações religiosas cristãs como “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” ou “Igreja Mórmon”, e as “Testemunhas de Jeová”, entre outras, também praticam atos missionários parecidos.
A Juventude Missionária, Família Missionária e Missões Médicas já evangelizam em 30 países: Brasil, México, Argentina, EUA, El Salvador, Venezuela, Chile, Colômbia, Cuba, Costa do Marfim, Polônia, Nova Zelândia, Austrália, Romênia, Hungria, Filipinas, Canadá, Belize, Itália, França, Irlanda, Alemanha, Bósnia, Lituânia, Ilhas Bahamas, Líbano, Inglaterra, Áustria, Espanha e Bélgica. Nos 30 países em que atua, já esteve em mais de 20 mil localidades e visitou mais de 7 milhões de lares para pregar o Evangelho. Capacitou 47 mil catequistas e 750 missionários naturais de comunidades indígenas. As Missões Médicas, iniciadas em 1996, já efetuaram mais de 42.437 consultas e mais de 860 intervenções cirúrgicas gratuitas. Mais de 151.930 jovens e pelo menos 14.350 famílias estão envolvidas em suas missões de evangelização. (fonte: www.demisiones.com/brasil)
MAIS: Se você quer ser um missionário entre em contato pelo telefone: (11) 6906-9029 ou murilo_smoraes@hotmail.com . Com exceção das Famílias Missionárias, os grupos não são mistos. O custeio das missões é por conta própria ou através de patrocínio, sendo eventualmente bancados pela Igreja. Saiba mais sobre a Juventude Missionária pelo site www.demisiones.com/brasil .
reportagem e texto Valdenir Apollo